sábado, 27 de fevereiro de 2010

Comunidades Imaginadas. Nação e Nacionalismos em África Por Luís Reis Torgal, Fernando Tavares Pimenta, Julião Soares Sousa

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Comunidades Imaginadas. Nação e Nacionalismos em África

 Por Luís Reis Torgal, Fernando Tavares Pimenta, Julião Soares Sousa
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Livro : Português em Contato. Por Carvalho, Ana M. (org.)

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Português em

Contato.

 Por Carvalho, Ana M. (org.)




sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

COMO EU ATRAVESSEI ÀFRICA DO ATLANTICO AO MAR INDICO, VIAGEM DE BENGUELLA Á CONTRA-COSTA. A-TRAVÈS REGIÕES DESCONHECIDAS


Mappa 2.--De Benguella ao Bihé

COMO EU ATRAVESSEI ÀFRICA DO ATLANTICO AO MAR INDICO, VIAGEM DE

BENGUELLA Á CONTRA-COSTA.
A-TRAVÈS REGIÕES DESCONHECIDAS;

DETERMINAÇÕES GEOGRAPHICAS E ESTUDOS ETHNOGRAPHICOS.


Por SERPA PINTO.

O LIVRO.



Não tem pretenções a obra de literatura este livro.

Escrito sem preoccupação da forma, é a fiel reproducção do meu diario de viagem.

Cortei n'elle muitos episòdios de caçadas, e outros, que um dia no descanso, produzirám um volume de caracter especial. Busquei sôbre tudo fazer realçar o que mais interessante se tornava para os estudos geogràphicos e ethnogràphicos, e se não me pude eximir a narrar um ou outro dos muitos episòdios dramàticos que abundáram na minha fadigosa empresa, foi quando a êsses episòdios se ligavam factos consequentes, de importancia, ja para alterar o itinerario projectado, já determinando demoras, ou marchas precipitadas, que seriam incomprehensiveis sem a exposição das causas determinantes.

Á Europa, e em geral ao homem que nunca viajou nos sertões do interior d'Àfrica, não é dado comprehender o que se soffre ali, quaes as difficuldades a vencer a cada instante, qual o trabalho de ferro não interrompido para o explorador.

As narrações de Livingstone, Cameron, Stanley, Burton, Grant, Savorgnan de Brazza, d'Abbadie, Ed. Mohr e muitos outros, estam longe de pintar os soffrimentos do viajante Africano. Difficil é comprehendel-o a quem o não o experimentou; áquelle que o experimentou difficil é descrevel-o.

Não tento mesmo pintar o que soffri, não procuro mostrar o quanto trabalhei, que me façam ou não a justiça de que me julgo merecedor aquelles que examinarem os meus trabalhos, hôje é isso para mim indifferente; porque me convenci, de que só posso ser bem comprehendido pêlos que como eu pisáram os longìnquos sertões do continente nêgro, e passáram os maos tratos que eu por lá passei.

Assim como só o homem que, sendo pai, pode comprehender a dôr pungente da pêrda de um filho, assim tambem só o homem que foi explorador pode comprehender as atribulações de um explorador. Ha sentimentos que se não podem avaliar sem se haverem experimentado.

Os factos narrados n'este livro sam a expressão da verdade.

Verdade triste muitas vêzes, mas que seria um crime occultar.

Procurei apresentar nêlle os resultados de um trabalho aturado de muitos mêzes, e garanto o que digo sôbre geographia Africana, porque só eu sou autoridade para falar n'ella na parte respectiva á minha viagem, em quanto outro não houvér seguido os meus passos atravéz d'Àfrica, e não me convencer do contrario.

As minhas opiniões genèricas sôbre um ou outro problema podem ser erròneas, sam sujeitas á crìtica, podem cahir por terra com uma demonstração pràtica das futuras viagens, como tem acontecido a asserções de muitos dos meus antecessores os mais illustres; mas o que não tem nem pode ter contestação, sam os factos que eu vi, sam aquelles que se referem aos paizes que percorri, e que descrêvo n'este livro com a consciencia que deve sempre dictar as acções do explorador.

Não fui á Àfrica ganhar dinheiro. Tive a mesquinha paga de official do exèrcito e não quiz outra.

Abandonei uma familia extremosamente querida; deixei a pàtria e tudo para trabalhar, e só para trabalhar, em cooperação com os outros paizes, na grande obra do estudo do continente desconhecido, e tenho a consciencia de que fiz tanto quanto podia fazer.

Deixo aos homens de sciencia e áquelles que sam autoridades em tal materia o avalial-o.

Ponho ponto n'este assumpto que parecerá filho de um orgulho que não tenho, mas factos insòlitos apparecidos no decurso dos primeiros mêzes da minha residencia na Europa, depois de ter completado a fadigosa jornada d'Àfrica, dictáram as palavras que escrevi.

Ha um anno que principiei a coordenar em livro os resultados dos meus trabalhos Africanos, mas uma pertinaz doença por vêzes interrompeu a vontade que nutria de dar á estampa esses trabalhos.

Principiado em Londres em Setembro de 1879, o meu livro foi quasi tôdo escrito nos mêzes de Setembro e Outubro, de 1880, na Figueira da Foz, em Portugal.

A pressa com que foi terminado contribuirá de certo muito para a incorrecção da forma.

A publicação d'elle é feita em Londres, onde encontrei na grande casa editora Sampson Low, Marston, Searle and Rivington, todas as facilidades que não pude obter fora d'ella.

Estes cavalheiros não recuáram ante a enorme despesa a fazer com uma tão difficil e custosa publicação, e leváram a sua condescendencia a fazer imprimir em Inglaterra a edição Portugueza; trabalho difficilimo, porque a differença das lìnguas dos dois paizes obrigou até á fundição de typo, por causa dos signaes e accentos privativos do nossa idioma.

Devo-lhes a maior gratidão pêlo interesse que t[~e]m dedicado a esta publicação, para o mèrito da qual, se é que ella tivér algum mèrito, elles de certo concorrêram muito.

O S^{nr.} Antonio Ribeiro Saraiva, que, a pesar dos seus trabalhos e da sua avançada idade, me quiz fazer o favor especial de rever as provas do livro; o S^{nr.} E. Weller, o cartògrapho, que se encarregou da gravura das minhas cartas geogràphicas; o S^{nr.} Cooper, que interpretou magnìficamente os meus esbocêtos de viagem nas gravuras que illustram a obra, concorrêram tambem de certo muito para o valor d'ella.

Ahi vai, pois, o livro, e só desejo que elle corresponda e sirva á curiosidade de uns e ao estudo de outros; e venha dar novos incitamentos á grande e sublime cruzada do sèculo XIX., a cruzada da civilisação do Continente Nêgro.

Londres, 61 Gower Street,
5 de Dezembro de 1880.

CONTINUA...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

UM PROJECTO DE COLONIZAÇÃO PORTUGUESA EM ANGOLA NOS FINAIS DO SÉCULO XIX (1884)


Por Maria Teresa Filipe Cirne, Mestranda de História Contemporânea, F.L.U.P., 1996-1998., *

Résumé
À la fin de l'année 1884, Narciso Feyo avait reclamé à la Sociedade
de Geografia Comercial do Porto la protection et le patronne pour
son plan de colonisation africaine. Celle institution là en lui refu-
sant ce que lui avait été sollicité, a montré publiquement les désa-
vantages de tel project contribuiant de cette manière pour nourrir
une énorme controverse que c'est géré autours de la question.

1. Nota introdutória
As questões coloniais marcaram profundamente o quadro político e económico português nos finais do século XIX. Tratou-se de um período de expansionismo industrial europeu, o que implicou a procura de matérias-primas e subsidiárias, de mercados, de mão-de-obra e de locais onde fosse fácil o investimento, isto é, a internacionalização de certos processos produtivos. Tudo isto se saldou numa atenção enorme, por parte das grandes potências europeias, pelo continente africano, originando confrontos de interesses e jogos de poder. Portugal, pequena peça neste tabuleiro internacional, dotado de fracos recursos económicos e com um baixo contingente humano, assistiu quase impassível à concorrência dos outros países que usavam o vasto poder que detinham para lhe subtrair as suas tradicionais possessões e para o constranger a fazer as mais
variadas concessões1. O desprezo a que Portugal estava sendo votado é comprovado pelo facto de não ter sido convidado para a Conferência de Bruxelas (1876), realizada com a participação das varias potências europeias, e onde foram fundados dois organismos de cariz colonialista, a Associação Internacional para a Exploração e a Civilização da Africa Central. Mas foi com a Conferência de Berlim (realizada em 1885, com a participação de representantes portugueses) que o império colonial português recebeu um duro
golpe, nomeadamente com o estabelecimento de um novo direito público colonial que vinha enterrar definitivamente os velhos padrões manuelinos ao substituir o critério do direito histórico pelo critério da ocupação efectiva. Este facto esteve na origem da aceleração do ritmo da corrida a África por parte das potências europeias melhor posicionadas económica e demograficamente, colocando Portugal numa posição de arranque francamente negativa2.

2. Acção e projectos portugueses em África
A corrida a África contribuiu para acelerar o ritmo e a intensidade das expedições científicas feitas naquele continente. A par de Brazza, de Cameron e de Standley, é de salientar o papel desempenhado pelos exploradores portugueses, como Lacerda e Almeida, Pedroso Gamito, Silva Porto, Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo, Roberto Ivens e Henrique de Carvalho que, no seguimento de uma tradição nacional, lograram alcançar inúmeros êxitos nas travessias cientificas que realizaram, apesar da grande carência de
meios .

UM PROJECTO DE COLONIZAÇÃO PORTUGUESA EM ANGOLA
Por outro lado, a atitude política liberal portuguesa face a África foi a de pugnar pelo desenvolvimento e pela modernização das colónias, advogando que tal se saldaria num recrudescimento da economia nacional. Mas este projecto liberal vai sendo obrigado a recuar ante as resistências da burguesia colonial e mercantil metropolitana e perante a inexistência de uma verdadeira revolução industrial operada em Portugal4. Assim, incapazes de elaborar um plano promotor das potencialidades africanas e proporcionador de segurança económica colonial, os portugueses de Oitocentos apenas se limitaram a ocupar reduzidas parcelas territoriais no Litoral, estabelecendo pequenas explorações agrícolas com base no trabalho nativo e um rudimentar contacto comercial com os autóctones. No intuito de se fazerem respeitar pelos indígenas que estavam sob o
domínio português, os representantes de Lisboa cobravam múltiplos impostos. Mas muitas eram as carências e os problemas da África portuguesa em finais do século transacto consubstanciados na indefinição quase total de fronteiras, na avidez particular dos funcionários coloniais, na incapacidade de proceder à ocupação
total dos territórios, na debilitada situação económica nacional e consequentemente na marginalização que a Europa lhe votava.

Dotado de parcos recursos financeiros e militares, e consciente da imperiosa necessidade de lutar para manter as suas possessões africanas através de uma ocupação cada vez mais efectiva, única via de
possibilitar o desenvolvimento económico colonial e simultaneamente único meio de se afirmar perante os adversários imperialistas, Portugal encetou uma peleja alicerçada no velho sonho, agora renascido, de ligar Angola a Moçambique. No dizer de Arnaldo Madureira, o país, após Berlim, «galvanizava-se» sob a égide do instinto «sobrevivência-ambição», tudo fazendo no sentido de efec-
tivar o «mapa cor-de-rosa».

Mas este entusiasmo precede 1885 estando patente não apenas no empenho oficial votado às expedições científicas e na inserção política e comercial portuguesa em zonas onde a sua presença era diminuta ou estava ausente, como era também visível em iniciativas de carácter particular. Com efeito, o Porto, em 1884, vai ser palco do desenrolar de um projecto ambicioso vocacionado para a criação de estações civilizadoras em África, mais concretamente no planalto de Huíla, em Angola, gerando grande controvérsia no círculo por-
tuense que debateu, apaixonadamente, aquele plano expedicionário

3. Um projecto de colonização 

Nos inícios de Novembro de 1884 a Sociedade de Geografia  Comercial do Porto recebeu uma carta de um indivíduo chamado  Narciso Feyo, «português e trabalhador», nas palavras do remetente, solicitando o apoio e a protecção para a organização de uma  colónia portuguesa que ele próprio, juntamente com mais 34 pes-
soas (as quais ele, aliás, nunca identifica) projectava estabelecer em Africa. Este empreendimento foi publicitado por um diário portuense, O Comércio do Porto, onde se pode 1er que «a sympathica e patriótica ideia de fomentar a colonisação portugueza na Africa  Occidental captivou já, como não podia deixar de ser, numerosas e decididas adhesões», tendo-se inscrito, até à data, 8 de Novembro de 1884, cerca de 70 pessoas.
O projecto de Narciso Feyo foi sendo exposto e publicitado em  diferentes conferências apresentadas em diversas regiões do país;  Lisboa, Porto, Póvoa de Varzim e Penafiel são algumas das cidades que se sabe terem sido contempladas neste périplo evangelizador.

A conferência realizada no Porto no dia 18 de Novembro de 1884, no salão da Sociedade Nova Euterpe, foi proferida por aquele entusiasta da colonização africana, patenteando aspirações  patrióticas num discurso nacionalista consentâneo com a sua índole apaixonada pelos problemas da África portuguesa. Explicava então que esse projecto de colonização da África Ocidental se devia à sua «decidida vontade de levantar o nome nacional nas nossas colonias». Evocou as gloriosas conquistas dos nossos antepassados as  quais, na sua opinião, tinham sido votadas a «um descuramento tão criminoso que dava o direito á Europa de fazer d'ellas o que nunca  nós conseguimos, pois em vista de tal abandono não nos assistia de modo algum o direito de continuar a conservar centenas de hectares de terreno por cultivar e milhares de cerebros por civilizar»

CONTINUA... 
Texto integral:

UM PROJECTO DE COLONIZAÇÃO PORTUGUESA EM ANGOLA NOS …

unirioja.es [PDF]

A Sociedade de Geografia e a política colonial de Angola desde o último quartel do século XIX ao princípio do século XX,

 
«...A observação das sociedades em presença leva‑nos a defender que o motor do advento dos portugueses, como minoria dominante da história do Kongo ao Kunene desde o último quartel do século XIX ao princípio do último quartel do século XX, foi caracterizado por desníveis de tecnologia, em especial pela invenção e operacionalidade da mais mortífera arma de guerra de então: a metralhadora3. Acrescente‑se ainda o sistema de comunicação morse, que abalou profundamente a supremacia e eficácia da comunicação Kongo (em geral pelo tambor e estafetas) e a fotografia, enquanto nova fonte de informação militar.
No início do século XX, a Sociedade de Geografia de Lisboa pretendia inculcar, na política colonial portuguesa, uma maior racionalidade e até cientificidade que pudesse assegurar e salvaguardar os interesses nacionais nas colónias, tal como Ângela Guimarães (1984: 226) afirma:
“Uma administração cientificamente organizada, dirigida por funcionários de elevado nível cultural e participada pela adesão de determi­nadas camadas da população africana chamadas a um nível superior. Os restantes elementos das populações dominadas, depois de afeiçoados à propriedade e ao trabalho livre deveriam tornar‑se competentes produtores e consumidores prevendo‑se uma estratificação com uma elevada média de técnicos auxiliares e uma vasta população de trabalhadores braçais. Uma exploração económica de tipo moderno, tendo por base a realização de infra‑estruturas necessárias […] Defendia intransigentemente a integridade de todo o território nacional e o controlo pelo Estado de todas as grandes empresas e empreendimentos.”
De um lado, estavam os colonizadores imigrantes, mais ou menos integrados na civilização da técnica e da ciência aplicada, dominados pela economia monetária e largamente dependentes dos investimentos exteriores. Estes tentavam mobilizar os recursos locais para a construção de infra‑estruturas inexistentes e para colectar ou produzir não só os produtos para exportação, mas também aqueles destinados ao incipiente mercado interno. Do outro lado, estavam os kongo, divididos em subgrupos com estruturas políticas de tipo tradicional e organizados predominantemente para a auto‑suficiência. Os seus membros utilizavam técnicas agro‑pecuárias meramente empíricas, baseadas sobretudo no esforço físico humano. A colecta e a produção destinavam‑se, na sua quase totalidade, ao consumo, num tipo de economia classificada de ‘subsistência’.
A organização social dos kongo não favorecia a diferenciação, já que o lugar e a função que o indivíduo ocupava na comunidade eram geralmente determinados pelo nascimento e pela tradição4. O desenvolvimento geral das comunidades tradicionais enfrentava obstáculos não só de cariz económico, social e político, mas também mágico‑religiosos. Graças à magia e aos rituais, fórmulas, amuletos e talismãs procurava levar‑se as forças sobrenaturais a agir em determinado sentido. Isto verificava‑se, sobretudo, no caso da guerra. O facto do indivíduo se habituar a tudo e de esperar pela eficácia da prece, da súplica, do objecto mágico ou do capricho dos espíritos dos antepassados adormecia o seu sentido crítico e constituía causa de estagnação intelectual.
 
Antes da remodelação radical introduzida nos métodos de ocupação do Congo e iniciada em 1911‑1912, a tolerância relativamente à intromissão portuguesa nos negócios da região era conquistada através de presentes, de aguardente e de transigências de toda a espécie face à real autoridade exercida pelos potentados locais. Contudo, e face à nova situação introduzida por essa mesma remodelação dos métodos de ocupação, a colonização portuguesa em Angola vinha agora opor‑se à tolerância do indígena para com a autoridade portuguesa. Porém, a carência de efectivos humanos para exercer essa mesma autoridade e para concretizar a ocupação efectiva é assim apreciada por António Jorge Dias (1957: 71):
“Infelizmente a falta de gente mantinha‑se, porque a emigração para o Brasil continuava e continua ainda hoje a levar‑nos uma grande parte dos nossos excedentes demográficos metropolitanos. Só casos excepcionais, como a colonização de Moçamedes feita por elementos portugueses repatriados de Pernambuco contrariam a regra. A nossa ocupação em África pode dizer‑se que era só costeira, pois as explorações levadas a cabo por alguns exploradores não tiveram repercussão nenhuma. A supressão das ordens religiosas, que se seguiu à revolução de 1820, impediu que as missões continuassem a exercer a sua acção civilizadora […] Pode dizer‑se que a exploração sistemática dos territórios africanos do interior, sob o ponto de vista agrícola e comercial, só começou a fazer‑se a partir do fim da 1ª Grande Guerra. […] Em Angola, a ocupação tem‑se feito aos arrancos segundo a iniciativa dos governos. Algumas dessas tentativas falharam em parte, por falta de estudo, como foi a fixação dos madeirenses agricultores na Huíla, sem terem mercados que lhes comprassem a produção. Esta população acabou por se degradar social e economicamente e hoje ocupa um status social semelhante ao do indígena. Outras foram bem sucedidas e serviram de estímulo a novas tentativas.”
Este conjunto de situações adversas aos intentos da administração colonial portuguesa justificava‑se por uma conjuntura, especialmente de ordem geopolítica internacional, nomeadamente a questão do Mapa Cor‑de‑Rosa e da “Batalha do Congo” (a luta entre as grandes potências pela ocupação da Bacia Convencional do rio Zaire ou Kongo)5. Para além do mais, toda a situação nos remete para o principal acontecimento político do primeiro quartel do século XX: a Primeira Guerra Mundial. Nesta altura, Portugal, um país pequeno e essencialmente agrícola, foi confrontado, nas suas colónias, com uma situação profundamente adversa a que não eram alheias mudanças constantes de ministros do ultramar (mais de cinquenta ministros foram entretanto nomeados). Armando Cortesão dirigia a Agência Geral das Colónias, quando pronunciou, na Sociedade de Geografia de Lisboa, em 1925 o discurso O Problema Colonial Português, do qual Pierre Daye (1929:60) destaca “(…) cette interrogation effarante: «Comment peut‑on admettre qu’un pays de l’importance coloniale du nôtre ait vu se succéder, en quatorze ans, cinquante et un ministres des colonies?»”. Não nos admiremos pois da constante mudança de Governadores‑gerais em Angola.
É neste oceano nebuloso que a nova administração colonial tenta navegar. Os seus denodados esforços esbarravam com profundos entraves, nomeadamente as mudanças ministeriais que implicavam a política das colónias e obrigavam a uma constante rotação de Governadores‑Gerais. Citamos, de seguida, alguns dos factos enumerados por Roberto Correia (2000 e 2001) relacionados com os kongo e que, naturalmente, afectavam os zombo.
 Texto completo:

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Os Zombo na Tradição, na Colónia e na Independência (I Parte)

 
Professor Doutor José Carlos de Oliveira*




Do Advento da Civilização Técnica e da Ciência Aplicada à Consequente ‘Situação Colonial’

Sempre que duas sociedades entram em contacto, existe certamente, de ambas as partes, um aperfeiçoamento de que ambas virão a comungar. Todavia, o nosso caso tem a ver com sociedades detentoras de níveis tecnológicos distintos. Este desnível tecnológico acarreta grandes perigos, de vária ordem, para a plena realização deste tipo de contacto de culturas. Cabe aqui citar Neto (1964:18) quando este afirma:
“Os exemplos de contacto em causa nas sociedades modernas mostram‑nos que os grupos intervenientes têm, além de desiguais níveis tecnológicos, desiguais expressões demográficas, coincidindo, normalmente, a menor expressão demográfica com o mais aperfeiçoado índice tecnológico.”

No caso das relações seculares entre os zombo e os portugueses, também tal se verificou: os portugueses sempre foram uma minoria detentora de outro tipo civilizacional e de conhecimentos técnicos mais aperfeiçoados que lhes permitiram obter resultados favoráveis aos seus propósitos.

Relativamente ao conceito ‘situação colonial’, este deverá ser aqui entendido tal como Coissoró (1957:12/13) o define:
“O fenómeno colonial, hodiernamente, torna‑se assim objecto de uma investigação particular, de que a nossa boa doutrina já deu conta quando, abstraindo‑se do binómio puramente formal «Metrópole‑Império colonial» procura fracturar a realidade colonial – por si polimórfica – alicerçando‑se nas estruturas básicas de cada relação colonial, terminologicamente definida por situação colonial.”

CONTINUA...

domingo, 7 de fevereiro de 2010

.Acordos de alvor não previa eleições em Novembro de 1975 -

Acordos de alvor não previa eleições em Novembro de 1975 - Video

 

VER AQUI
Lisboa - O português mas poderoso em Angola durante o período de (des) "colonialização" (1974 e 1975) Rosa Coutinho “Sabia perfeitamente que não se realizaria eleições livres e justas em Angola. “A realização de eleições em Novembro de 1975 em Angola seria uma fantasia”, assegurou o líder português que coordenou os acordos dos Alvores.dos Alvores.
Fonte: CS ETV Network/Clubk
Rosa Coutinho participou em encontros clandestinos em Cuba

Os dados acima referenciados constam numa longa reportagem de jornalistas investigativos de origem canadiana na qual se confirma que os representantes norte americanos da CIA por desconhecerem a realidade angolana na altura foram facilmente “driblados” por Sousa Continho em parceria com Cuba e a extinta União Soviética.
É assim, que o historial do MPLA em termos de incumprimento e desrespeito a temas atinentes a eleições não é de hoje. Como prova carregue o vídeo em anexo na qual confirmará que a pretensão das eleições “atípicas” advogado pelo MPLA nos últimos tempos faz parte do seu perfil obscuro em “fazer” política.

Ultimos dias em Malanje quartel 1975 (video)