quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Descolonização de Angola - uma visão


25 de Abril - «olhares» - «entrevistas» - «verdades» (1)

O Almirante Vermelho
era e ainda é a criatura mais execrada
pelos portugueses de Angola.

O "almirante vermelho" Rosa Coutinho.


"Rosa Coutinho, oficial superior da Marinha de Guerra Portuguesa - e não..."Almirante" até ao "25 de Abril de 1974"- anos antes havia sido capturado no rio Zaire, onde a sua vedeta fazia patrulhamento das águas territoriais, por forças da FNLA, o ELNA (Exército de Libertação Nacional de Angola). Fora levado para o campo de treinamento militar do ELNA em Kinkuzu, na República Democrática do Congo, depois "do Zaire"; ali ficou meses detido, constando que o seviciaram, sujeitando-o a diversas humilhações, até ser libertado na fronteira de Angola, após negociações aturadas, a nível internacional, com intervenção de Mobutu Seseko, presidente "zairense" que também armava, financiava e cedia soldados ao ELNA da FNLA e, segundo rumores, era cunhado (o que não confirmamos), de Holden Roberto. É evidente que Rosa Coutinho não podia ter qualquer simpatia ou indiferença por quem o capturara e maltratara".

"Uma carta do almirante Rosa Coutinho, (ver cópia do original) quando era presidente da Junta Governativa de Angola, está a provocar polémica em Angola. A carta, em papel timbrado do gabinete do Governo-Geral e com a assinatura de Rosa Coutinho, era dirigida a Agostinho Neto e nela se pode ler: «Após a última reunião secreta com os camaradas do PCP resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à 2ª fase do plano.(...) Dê por isso instruções secretas aos militantes do MPLA para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando a fim de provocar a sua debandada de Angola». Holden Roberto, presidente da FNLA, que cedeu uma cópia da carta ao EXPRESSO, garantiu a sua autenticidade, acrescentando: «Um homem que escreveu uma carta destas é um criminoso». Rosa Coutinho, reconhece a veracidade da assinatura. Entretanto, a polémica prossegue em Angola, com o MPLA a dizer que a carta «nunca existiu e foi forjada pelos serviços secretos portugueses ou pela própria FNLA, que a divulgou» e Holden Roberto, da FNLA, a agitar o documento".

http://www.cabinda.net/rosacoutinhoFDP.html

Infelizmente o que Rosa Coutinho escreveu aconteceu mesmo. O MPLA fez guerra aos outros partidos em todas as cidades provocando o caos para afugentar os brancos. Mas não foi só o MPLA porque os outros fizeram todos o mesmo nas diversas cidades, saqueando estrupado e matando. Em Luanda a FNLA queixa-se que foi o MPLA que começou a hostilidades mas a verdade jamais se saberá.

O VILÃO COM A VARA NA MÃO

"Por essa altura já o Almirante Vermelho era a criatura mais execrada pelos portugueses de Angola. O seu riso era uma mistura de ódios recalcados, íntimos complexos e vaidades grotescas. E ria por tudo e por nada, só para ficar bem no retrato. Gostava imenso de falar na rádio e apressou, quanto pôde, a instalação da televisão em Luanda, sonhando com a presença da sua cara nos televisores dos luandenses.

Medroso como um rafeiro cabiri, transformou o Palácio do Governo Geral numa caserna com homens armados a circular em todos os corredores, fuzileiros especiais nos terraços do edifício e, quando o seu medo era maior, com um aparatoso dispositivo militar, que cercava toda a zona, desde a Avenida Álvaro Ferreira até ao Largo do Baleizão. No entanto, sempre que os brancos ainda residentes nos bairros suburbanos reclamavam protecção, respondia que Angola não era para timoratos.

Foi, em Angola, a sinistra figura do vilão com a vara na mão. Logo à chegada a Luanda, como presidente da Junta Governativa a que os luandenses chamavam «o quinteto de cordas», quando os jornalistas lhe perguntaram quando voltaria o general Silvino Silvério Marques, respondeu brutalmente:

- Já não é governador geral de Angola. Era um malcriado.

Interrogado, na mesma ocasião, se a independência de Angola estava para breve, declarou que esse era um assunto a decidir por todas as populações, e perguntou, com o seu risinho alvar:

- As populações já decidiram?
Mentia com cínico descaramento. E, ao regressar da Cimeira do Alvor, em que o não deixaram participar, teve a incrível atitude de pretender passar por alto comissário. À pergunta sobre quem seria nomeado para o novo cargo, insinuou ambiguamente:

- Por enquanto sou eu o alto comissário.

Procedia como um insuportável fanfarrão. No entanto, o Gouveia, coerente com as suas tendências políticas, ainda tentava defendê-lo.

- Governar Angola, nesta fase da transição, é uma empreitada do inferno - dizia ele. - O almirante faz o que pode.

- Faz asneiras aos montes - arrematou o engenheiro Balanta, que andava de um terrível mau humor.

- Falei há dias com um oficial dos «comandos» que quase chorava de raiva. A tropa foi proibida de entrar nos musseques, porque esse malvado careca tem um plano diabólico. Vai deixar armar o «poder popular» e, entretanto, já mandou tirar as armas aos brancos".

http://www.macua.org/livros/resvaladouro.htm

"Entretanto a violência e insegurança alastravam em Luanda, criando um clima de instabilidade, em especial na comunidade branca a que muitos atribuíam a sua causa. Em 5 de Agosto, pouco depois da chegada de Rosa Coutinho, o Major Mariz Fernandes, secretário de Estado da Comunicação Social e Turismo, é demitido das suas funções embora fosse elemento do MFA. Na altura afirmou que os incidentes em Luanda se deviam, não a um problema rácico, mas a uma luta desenfreada entre militantes do MPLA e da FNLA na conquista de posições de força na capital do território. Mas, o já Presidente da Junta Governativa, tinha trazido consigo o comandante Correia Jesuíno para essas funções que passou desde logo a exercer, como delegado da Junta, mesmo antes de tomar posse, tendo o Rosa Coutinho afirmado: «A informação em Angola, se não mudasse dentro de um período de oito dias, os angolanos poder-se-iam queixar na mesma".

"E tinham razões para se queixar, logo que tomaram consciência de que o novo responsável por este sector governativo, da maior importância na conjuntura do momento, orientou toda a sua política para um descarado apoio ao MPLA e quem não colaborasse era considerado militante ou simpatizante da FRA, reaccionário perigoso, preso e escorraçado de Angola. Foi mesmo o Correia Jesuíno que impediu o Rosa Coutinho de ser linchado dentro do Palácio por um numeroso grupo de brancos que, completamente descontrolados e enfurecidos com a política seguida pelo Almirante Vermelho, irromperam pelo palácio durante mais uma manifestação dispostos a tudo. Rosa Coutinho que se encontrava em reunião numa sala próxima, saiu de imediato e foi encontrá-los num pequeno compartimento procurando saber o que pretendiam e tentar acalmá-los. No entanto os ânimos exaltaram-se, os homens foram apertando o cerco e o Rosa Coutinho teve que subir para cima duma mesa, procurando escapar à sua fúria. Nesta altura apareceu o Correia Jesuíno que conseguiu pôr um pouco de ordem na situação e chamar à razão aquela gente constituída essencialmente por camionistas e comerciantes, tendo tudo acabado em bem".

In ANGOLA, ANATOMIA DE UMA TRAGÉDIA, General Silva Cardoso, Oficina Livro.

A BATALHA DE LUANDA

O programa da semana de Unidade Nacional não se concluiu nem teve lugar a reunião que trouxera o Ministro Melo Antunes a Luanda.

De um dia para o outro, é a expressão exacta, e sem que nada o fizesse prever, desabou sobre Luanda uma brutal onda de violência armada, ultrapassando em duração e intensidade todas as anteriores erupções de fogo quer de armas automáticas, quer de armas pesadas.

Na tarde de 9 de Julho de 1975, iniciara-se, no desconhecimento de todos excepto dos seus fautores, a "batalha de Luanda". Quando se supunha já tudo ter visto (e ouvido) descobria-se que ainda havia muito para ver (e ouvir). A fuzilaria irrompeu, infernal, acompanhada do estrondear de granadas a que os luandenses se haviam habituado (de morteiros e lança--foguetes) e de outras que, pelo som cortante e agressivo, se ouviam pela primeira vez, as dos canhões sem recuo, arma construída para deter ou destruir viaturas blindadas e carros de combate, mas ali utilizadas contra instalações ocupadas pelo "inimigo".

O Tenente-Coronel Heitor Almendra e as forças de que dispunha - algumas centenas de militares portugueses, organizados num número reduzido de unidades, por se haverem eclipsado na sua prática totalidade os elementos dos três Movimentos que integravam as FMM - voltaram a andar numa azáfama frenética, de ponta a ponta de Luanda, tentando reduzir focos de violência e proteger, na máxima medida do possível, pessoas que clamavam por socorro e os respectivos bens. O esforço, exaustivo, era acompanhado de apelos, emitidos inclusive por via da rádio oficial, aos comandos militares do ELNA, das FAPLA e das FALA para se reunirem no COPLAD na mira de plataformas que, no mínimo, sustivessem o inferno de fogo que devastava Luanda. Mas as respostas foram nenhumas e os resultados da acção abnegada e de alto risco das forças sob o comando do Almendra ficavam sempre aquém do que se desejaria. A frustração decorrente daquelas missões impossíveis, já que passavam por não tomar partido por nenhum dos Movimentos, em pleno caos de ferro e fogo, só era comparável ao esgotamento físico dos militares que se desdobravam, ininterruptamente, num sem número de saídas de interposição ou de socorro.

As delegações, os escritórios e os quartéis dos três Movimentos haviam--se multiplicado pelos subúrbios e também ao longo de vias importantes da capital, como as avenidas do Brasil ou dos Combatentes, donde serem inúmeros os alvos de todas as armas que desenfreadamente disparavam, num desprezo completo pelos milhares de pessoas inocentes que viviam naqueles locais; por outro lado e sempre que a violência armada era despoletada, sucediam-se os saques, os ajustes de contas, as detenções arbitrárias e os maiores atropelos à integridade física individual, perpetrados indiscriminadamente por combatentes, militantes, bandos de marginais ou simples cidadãos comuns, estes últimos tentados pela impunidade que o fragor dos combates lhes conferia.

Ao princípio da noite, num ambiente pesadíssimo e envolvidos pelo som do tiroteio e do deflagrar das granadas, encontrávamo-nos reunidos na biblioteca do Palácio o General Silva Cardoso, o Ministro Melo Antunes, o Tenente-Coronel Firmino Miguel, eu próprio e julgo que o Brigadeiro José Valente. Sentíamo-nos esmagados. Nakuru e as esperanças dali renascidas, se bem que mitigadas, eram letras mortas. Escritas há menos de três semanas! Quatro longos meses escoar-se-iam até ao momento da independência de Angola. Que mais estaria reservado àquele desgraçado povo? E à sua componente de raiz portuguesa?

O rebentamento de uma granada ouviu-se, pareceu-nos, a poucos metros. Os vidros da porta envidraçada que dava para o exterior estremeceram. De costas para esta última havia um sofá onde se encontrava o Tenente-Coronel Firmino Miguel. Instintivamente, deslizou um pouco pela cadeira. Já não havia zonas seguras em Luanda, se bem que o Palácio nunca viesse a ser atingido por qualquer impacto directo, até ao momento da independência.

Os contactos que se tentavam estabelecer, sem descanso, com dirigentes dos três Movimentos não resultavam. As lucubrações sucediam-se num quadro de impotência opressiva. Portugal não podia assistir, impávido e neutral, ao rasgar de dois Acordos e, pior, ao descalabro, agora irreversível, do processo de descolonização. Havia que assumir responsabilidades e atentar na tragédia do povo angolano e de muitas dezenas de milhares de portugueses cujo único anseio era já e apenas o regresso ou a partida para Portugal.

Reconheceu-se, ainda, ser importante e urgente reunir a Comissão Nacional de Defesa para se tentar apurar a origem e as consequências dos combates assanhados que se sentia estarem ocorrendo um pouco por toda a cidade.

Como era de esperar e a ninguém surpreendia, começaram, logo no dia seguinte, os ataques verbais e os comunicados de uns Movimentos contra os outros e de todos contra o Alto-Comissário e as Forças Armadas Portuguesas, esquecendo-se aqueles da formidável autocrítica confessada pelos seus dirigentes máximos no texto já morto, mas inapagado de Nakuru.

A FNLA acusava o MPLA de lançar ataques, recorreo a armas de todo o tipo para destruir as suas instalações em Luanda com especial destaque para a sede da direcção política do Movimento na Avenida do Brasil.

O MPLA fazia saber que "Angola está outra vez a ferro e fogo e, mais uma vez também, por iniciativa da FNLA que, desesperada pela falta do apoio popular, pretende conquistar posições de força recorrendo a todos os meios".

A FNLA, em novo comunicado, apontava o dedo às Forças Portuguesas, responsabilizando-as pela ajuda prestada ao MPLA.

A UNITA dirigia apelos desesperados ao Governo Português, ao Alto--Comissário e às Forças Armadas Portuguesas para que assumissem as responsabilidades que continuavam a deter em relação ao povo angolano.

O resultado visível daquela autêntica batalha que assolou Luanda e desfez inelutavelmente as parcas esperanças de imensa gente num futuro em terras de Angola, foi a conquista de uma posição dominante do MPLA na capital, doravante não mais contestada, pois a FNLA, no termo dos combates, via-se escorraçada de delegações, escritórios ou quartéis, totalmente destruídos pelas FAPLA, enquanto os seus combatentes e simpatizantes vagueavam pelos subúrbios procurando refugio ou passar despercebidos e muitos convergiam para o largo do Palácio buscando a protecção do Alto-Comissário. Outros acolheram-se num local ainda sob controlo de forças do ELNA nos arredores de Luanda, a Fortaleza de S. Pedro da Barra, localizada numa área de depósitos de combustível sobranceira ao mar e adjacente à refinaria da Petrangol.

Nos dias seguintes, aproveitando um curto período de acalmia, entabularam-se conversações entre os dois Movimentos de que resultou a evacuação de muitos daqueles desalojados(?), deslocados (?) com destino ao norte de Angola, sob a protecção do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), que chegara a Luanda em finais de Junho, ou das Forças Armadas Portuguesas.

A 12 de Julho, com imensas dificuldades e ainda sob o estrondo das granadas ou o crepitar das armas automáticas, foi possível reunir de emergência à CND sem a presença de representantes do MPLA.

O General Silva Cardoso teve que ouvir e, frequentemente, interromper, chamando à razão, o Ministro Ngola Kabangu (FNLA), exaltadíssimo e atacando tudo e todos, profundamente afectado, melhor dizendo, destroçado pela virulência dos combates e seu desfecho, este traduzido numa esmagadora derrota militar do seu Movimento na batalha iniciada, e ainda não terminada em Luanda.

A FNLA revelara-se um tigre de papel e claudicara irremediavelmente em três ou quatro dias de luta armada, mau grado a jactância do seu poderio militar e as ameaças de, se necessário, tudo desfazer.

Ao fim de algumas horas, ouvido o Tenente-Coronel Heitor Almendra, que fez um relato circunstanciado dos acontecimentos e serenados os ânimos, aprovou-se o habitual comunicado nos habituais e inócuos termos condenatórios da violência e apelativos à intervenção dos Presidentes dos três Movimentos, mas registando algumas notas específicas sobre aqueles dias de luto e dor para tantos angolanos: "Responsabilizava-se o MPLA pela generalização e magnitude dos combates que decorriam em Luanda; verberava-se este Movimento por se furtar à discussão dos problemas não comparecendo na reunião da CND; anunciava-se que o Alto-Comissário, nos termos do Acordo do Alvor, chamara a si a tutela da CND sobre as Forças Militares Mistas até ao momento em que a Comissão voltasse a funcionar com normalidade e na presença de todos os seus membros".

A resposta do MPLA ao teor deste comunicado não se fez esperar.

No dia seguinte ao da sua publicação, o Dr. Agostinho Neto voltava a acusar a FNLA de ter violado o Acordo de Nakuru e reagia às referências feitas ao seu Movimento, nos seguintes termos: "O MPLA continua a constatar, por declarações da parte portuguesa no seio da CND e fora dela, uma falta de isenção sistemática quer na apreciação dos acontecimento, quer na oportunidade dessa apreciação".

A onda de choque da batalha iniciada em Luanda repercutiu-se por toda a Angola até aos confins do território. Onde os outros dois Movimentos tinham a supremacia, nomeadamente da parte da FNLA, iniciou-se uma descontrolada caça ao homem em que eram envolvidos todos os que fossem ou se supusesse que seriam militantes e / ou simpatizantes do MPLA. Destes, muitos refugiaram-se nas matas; outros buscaram refúgio no interior de quartéis do Exército Português.

As relações da FNLA com as unidades portuguesas ainda aquarteladas na região norte de Angola passaram de tensas a explosivas. Produtos alimentares e bens de primeira necessidade escasseavam ou pura e simplesmente desapareciam do mercado.

A Cruz Vermelha Internacional fazia o que podia e, em Luanda, organizava, desde fins de Junho de 1975, a distribuição de grandes quantidades de alimentos e também vestuário e medicamentos a habitantes dos musseques, a desalojados e a hospitais, socorrendo-se de pessoal voluntário que minha Mulher integrou, acompanhada da Luísa Cardoso, da Teresa Almendra e da Maria da Piedade Alves Cardoso, até à partida para Lisboa.

A população portuguesa vivendo, como a esmagadora maioria dos angolanos, num meio de insuportável violência e de todos os desmandos que lhe estavam associados, passou também a sentir carências de toda a ordem até ao limite da falta de alimentos. Com o quotidiano devastado, refeições esporádicas e esperanças anuladas, aquela comunidade começou a sentir-se enclausurada, em especial nas terras do interior, e deu início a um movimento sem retorno quer para Luanda na procura de avião ou barco, quer para fora de Angola. Esta última opção traduziu-se em aventuras verdadeiramente épicas das gentes do sul ou que para o sul convergiram, mesmo a partir de Malange, que se foram integrando em colunas de viaturas, as mais diversas, e por entre controlos, exigências e chantagens de pessoal armado do Movimento dominante nas áreas atravessadas, se escoaram até à Namíbia, enquanto os camionistas de Luanda, da faixa litoral e do centro não desistiam do seu propósito, que muitos deles concretizaram, de chegar a salvo a Portugal levando por terra os seus camiões!


Estes últimos haviam-se a pouco e pouco organizado tendo a comissão que os representava sido recebida pelo Alto-Comissário em 18 de Julho. Os motivos alegados não surpreenderam, girando em torno da insegurança alastrada à totalidade do território que os obrigara a parar; na altura e mau grado "o muito que queriam a esta nossa querida Angola" tinham desistido de circular saturados de "pilhagens, espancamentos e incêndios nas próprias viaturas".

As intenções eram homéricas. Pretendiam, apenas, "constituir uma caravana, integrando no mínimo l 000 viaturas entre ligeiras e pesadas, e partir para Portugal, por via terrestre dadas as dificuldades financeiras e também de transporte marítimo".

Solicitavam protecção das Forças Armadas Portuguesas até à fronteira; uma autorização para levantarem certa quantia em dólares para despesas da viagem; e permissão para alguns dos seus membros se deslocarem a Portugal nos aviões da FAP, por ser mais rápido e sentirem necessidade de contactar as autoridades portuguesas, com a maior urgência possível, nomeadamente quanto à circulação através dos países por onde a coluna teria que passar. (...).

A Vertigem da Descolonização, General Gonçalves Ribeiro, Edições Inquérito.

UMA ÚLTIMA MENTIRA

"Pequeno quartel da UNITA na capital angolana ser atacado pelas FAPLA. A situação deteriora-se tão seriamente que o presidente do Quénia, Jomo Kenyatta, convoca para Nakuru uma cimeira de emergência. Após quase uma semana de discussões - para as quais Portugal não é convidado -, a 21 de Junho, os três movimentos fazem uma autocrítica, reconhecem ter dificultado a actuação do Governo de Transição, ter apelado ao tribalismo e ao racismo, armado a população civil, e comprometem-se a acabar com a violência e a intimidação, a integrar os seus exércitos numa força armada única e a desarmar os civis. Poucos dias depois, a 9 de Julho, após três semanas de violentos combates, a FNLA é expulsa de Luanda, e Savimbi pede protecção ao Exército português e ordena aos seus apoiantes que deixem a capital. Raul M. tem depois uma última recordação. "Quando já tinha mudado para uma casa no Bairro Salazar, lembro-me que houve uma altura em que só se ouvia martelar: pá, pá, pá". E do porto, cheio de caixotes".

qui 17-04-2008 23:15
Publicação in e destaques da responsabilidade do PortugalClub (VN)
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