Alcançado pela polêmica que, atravessando o Atlântico, o pegou em Londres, Rudyard Kipling, que vivera alguns anos em Vermon, nos Estados Unidos, resolveu compor um poema especialmente para a ocasião. Intitulou-o The white man´s burden, o fardo do homem branco - imediatamente reproduzido no McClure´s Magazine dos Estados Unidos em fevereiro de 1899 - onde, em sete estrofes, exortou os norte-americanos, tal como os ingleses, de quem eles descendiam, a assumirem o seu papel histórico de povo imperialista. "Enviem para lá", para as colônias, conclamou ele, "os melhores de vocês. Dêem seus filhos para o exílio para que eles sirvam às necessidades dos cativos, mantendo-os, tal povo confuso e selvagem, nos arreios". Que eles tivessem paciência em suportar e travar "as selvagens guerras pela paz", pois este é o fardo do homem branco. E, como agradecimento por esses anos todos de sacrifício, frios, disse ele, apenas contem com a opinião judiciosa dos seus pares. Kipling, dessa forma, transformava as conquistas coloniais na grande missão da raça caucasiana, tarefa nobre da qual ela bem pouco poderia esperar algo em troca - visto que era um fardo que a Providência determinara que os brancos assumissem. Simbolicamente, ele metamorfoseava uma política de agressões e rapinas praticadas pelos europeus colonialistas, numa incumbência tão meritória como a de Atlas, o titã grego punido por Zeus para sustentar o mundo às costas."
O fardo do Homem Branco (1899)
Tomai o fardo do Homem Branco -
Envia teus melhores filhos
Vão, condenem seus filhos ao exílio
Para servirem aos seus cativos;
Para esperar, com arreios
Com agitadores e selváticos
Seus cativos, servos obstinados,
Metade demônio, metade criança.
Tomai o fardo do Homem Branco -
Continua pacientemente
Encubra-se o terror ameaçador
E veja o espetáculo do orgulho;
Pela fala suave e simples
Explicando centenas de vezes
Procura outro lucro
E outro ganho do trabalho.
Tomai o fardo do Homem Branco -
As guerras selvagens pela paz -
Encha a boca dos Famintos,
E proclama, das doenças, o cessar;
E quando seu objetivo estiver perto
(O fim que todos procuram)
Olha a indolência e loucura pagã
Levando sua esperança ao chão.
Tomai o fardo do Homem Branco -
Sem a mão-de-ferro dos reis,
Mas, sim, servir e limpar -
A história dos comuns.
As portas que não deves entrar
As estradas que não deves passar
Vá, construa-as com a sua vida
E marque-as com a sua morte.
Tomai o fardo do homem branco -
E colha sua antiga recompensa -
A culpa de que farias melhor
O ódio daqueles que você guarda
O grito dos reféns que você ouve
(Ah, devagar!) em direção à luz:
"Porque nos trouxeste da servidão
Nossa amada noite no Egito?"
Tomai o fardo do homem branco -
Vós, não tenteis impedir -
Não clamem alto pela Liberdade
Para esconderem sua fadiga
Porque tudo que desejem ou sussurrem,
Porque serão levados ou farão,
Os povos silenciosos e calados
Seu Deus e tu, medirão.
Tomai o fardo do Homem Branco!
Acabaram-se seus dias de criança
O louro suave e ofertado
O louvor fácil e glorioso
Venha agora, procura sua virilidade
Através de todos os anos ingratos,
Frios, afiados com a sabedoria amada
O julgamento de sua nobreza.
ver também: http://historiacontemporaneaufs.blogspot.com/2010/10/o-fardo-do-homem-branco-1899.html
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