quarta-feira, 13 de julho de 2011

POEMA P’RA MINHA MÃE ÁFRICA , de H. Nascimento Rodrigues



  POEMA P'RA MINHA MÃE ÁFRICA


Minha Mãe África,
finalmente tu vieste.
Tu vieste como me fizeste:
Sem distância, horizonte sem fim,
O ar calmo, quase parado
Cheio de luar.
Ouço nos teus longes
O silêncio
O silêncio leve e sereno
Do reencontro comigo.
O silêncio que diz mil coisas,
Que são as mil coisas
Que eu digo a mim próprio.
Tu não tens fronteiras, Mãe África:
Mas tu estás aqui,
Aqui ao pé de mim,
Aqui dentro de mim.
És tu, sim,
Mãe África.
És tu como te conheci,
És tu como me fizeste.
Na noite que já caiu,
Noite longa e silenciosa,
Não fala homem,
Não ladra cão,
Não muge vaca,
Não chora cabrito.
Apenas este grilar,
Das centenas de cigarra,
Ou de formiga,
Ou de grilo,
Que me dizem que tu estás a viver.
E a tua vida entra dentro de mim,
E a minha fica maior,
E fico com mais vida para dar aos outros
E para dar a ti, também
Minha Mãe África.
Oh, minha Mãe África:
Eu não vou voltar,
De vez,
Nunca mais.
Mas eu quando volto assim,
Um bocadinho,
Para te ver e encontrar-
É como se fosse
Aquele dia
Em que eu voltasse de vez
É como se fosse aquele dia
Em que eu tinha o mundo dentro de mim,
Porque tu me davas o mundo
-Aos outros e a mim.
Nunca mais
Nunca mais,
Minha Mãe África.
Poderá voltar a ser assim,
Assim quando era ontem, que já não é hoje
E não será amanhã.
Mas deixa este bocadinho
De hoje:
-Como se fosse ontem
-E como se viesse a ser
AMANHÃ
H. Nascimento Rodrigues, S. Tomé e Príncipe, 6 de Dezembro 1984

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