Entre os homens que por qualidades de mando avultam nas gerações passadas, encontra-se um, cujo nome, pelo seu desprendimento de vaidades e pompas, é do vulgo pouco conhecido, o general e ministro de estado Sebastião Lopes de Calheiros e Menezes.
A sua vida, desde a adolescência é de uma larga acção, foi bastante preenchida; como soldado, como engenheiro, governador de provincia ou ministro, distingui-se sempre pelo seu valor pessoal, decisão energica, sábia administração e incontestável rectidão de carácter.
O seu governo da provincia de Angola, de 1861 a 1862, é uma página brilhante. Encontrando a provincia na mais desastrosa situação,conseguiu, em tão curto prazo, transforma-la militar e civilmente, corrigindo abusos, reorganizando as forças, melhorando as povoações, animando a agricultura e o comercio, e impondo o respeito ao gentio (aquele que professa a religião pagã) e aos estrangeiros, fazendo inteira justiça.
Um facto notável do seu governo, foi o incidente Birnie, basta para demonstrar a energia desassombrada deste homem e quanto dessa qualidade importa reter aos que dispõem do superior mando.
Navegava por aqueles mares uma esquadra Norte Americana, que foi aportar à nossa costa ocidental de África, onde o comissário americano, Eduardo Birnie cometeu um crime punível pelo direito comum, sendo preso e entregue à autoridade judicial de Luanda.
O Almirante ao saber da prisão do comissário, reclamou-o energicamente ao governador, o qual respondeu com uma formal recusa da sua entrega.
Então o almirante retorquiu a ameaça de que libertaria Birnie pela força, e que, sendo necessário, bombardearia a cidade.
Sebastião de Calheiros não se atemorizou, dispôs tudo para a recepção do terrível hospede, e mandou-lhe repetir que por forma alguma entregaria Birnie, pois que este tinha sido justamente preso, e, quanto à violência podia empregar a que quisesse, mas que à primeira bala disparada contra a cidade mandava enforcar o comissário na praia em frente da esquadra.
O almirante em vista da destemida resposta de Sebastião de Calheiros e dos preparativos de defesa fez-se ao largo, sendo Birnie pouco depois julgado e segundo as nossas leis condenado.
Soube o governo dos Estados Unidos justamente apreciar este enérgico acto do governador de Angola, e mandou a corveta de guerra Mohican dar-lhe uma satisfação, oferecendo-lhe um festivo banquete a bordo.
O comandante da esquadra francesa, naquelas paragens por ocasião do incidente, felicitou o corajoso governador pela firmeza com que soube manter os direitos do seu pais, manifestando-lhe o alto apreço e grande estima que o seu carácter e o seu valor lhe mereciam, e que iriam reflectir-se na nação tão dignamente ali por ele representada.
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