domingo, 29 de janeiro de 2012

A África Negra Hoje



A África Negra é hoje o continente mais pobre do planeta, com a generalização da miséria e da fome, o aumento da mortalidade infantil e do genocídio provocado pelas rivalidades tribais. Segundo dados do Banco Mundial, um em cada três habitantes da África Negra vive em estado de pobreza absoluta, não conseguindo atender às necessidades mínimas de alimentação e saúde; a produção de alimentos no ano de 1994 foi 20% menor do que a de 1970. Os dados da saúde pública africanos desse mesmo ano são alarmantes: quase um terço das crianças da África Negra sofre de desnutrição grave e 4 milhões daquelas nascidas nesse ano morreram antes de completar 5 anos de idade. Epidemias de malária, tuberculose, diarréia, cólera e meningite estão voltando, e faltam médicos, hospitais e remédios.

O mais grave é que dos 14 milhões de pessoas do mundo infectadas com o vírus da AIDS, 9 milhões estão na África e encontram-se na idade mais produtiva. Na educação, a situação também é gravíssima: os investimentos em escolas e educação declinam; a evasão escolar, em todos os níveis, aumentou de forma alarmante; e um terço de todos os diplomados em cursos superiores deixa o continente negro. As divisões étnicas desencadeiam conflitos separatistas ou massacres tribais, que matam milhões de pessoas, como em Ruanda e na Etiópia. Mas a situação dos países africanos independentes nem sempre foi tão grave assim. Nos anos posteriores à independência, essas nações eram dirigidas por ditaduras militares ou homens fortes, os chamados presidentes vitalícios, que, embora falassem em democracia, governavam por intermédio da censura, do assassinato dos opositores, das polícias secretas e outros meios violentos.

Nos países socialistas, havia a ditadura do partido único ou do líder, que silenciava os adversários. Mas, com o uso da força, esses regimes continham as rivalidades entre as diferentes etnias de seus países. As nações da África Negra, recém-libertadas, investiam maciçamente em educação, saúde e agricultura. Em quase todas elas, os indicadores sociais melhoraram nas décadas de 1960 e 1970: o analfabetismo e a mortalidade infantil decaíram e a expectativa de vida aumentou devido às melhorias na alimentação, na saúde e no saneamento básico. A Guerra Fria estava em andamento e americanos e soviéticos precisavam ampliar suas áreas de influência. Por isso, nessa época, os países socialistas, capitalistas, asiáticos e a ONU investiram na melhoria da qualidade de vida dos países da África Negra. Os problemas da África Negra agravaram-se nos anos 80, que foi a década perdida para esse continente. Uma violenta recessão mundial derrubou os preços dos produtos primários africanos  como o cacau, o cobre e o café  no mercado externo. Com a queda das exportações, os países africanos viram-se impossibilitados de pagar sua dívida externa e não receberam mais dinheiro do exterior, o que contribuiu para sucatear a infra- estrutura desses países. Por outro lado, guerras civis decorrentes de rivalidades tribais, desgovernos e corrupção também liquidaram os Estados africanos e afastaram os investimentos estrangeiros.

Esses países foram obrigados a recorrer a órgãos internacionais de crédito, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que exigiram reformas políticas e sociais, segundo o figurino desses organismos: eleições livres, pluripartidarismo, desvalorização das moedas, fim dos subsídios aos alimentos, à saúde, à educação e aos transportes e abertura econômica aos mercados internacionais. Todos os líderes africanos esbravejam em público contra suas imposições, mas têm cumprido seus desígnios. Nenhum líder africano se diz socialista ou nacionalista, e sim democrata e liberal, pois deseja receber os dólares do Banco Mundial e do FMI.

A África Negra conhece hoje eleições, disputas entre partidos e liberdade às oposições, fatos raros em toda a sua história. Mais da metade dos 48 países que a compõem realizaram ou prometer ar terá realizar eleições livres em 1994, mas a democracia autêntica ainda não chegou à região. As velhas ou as novas elites continuam dominando o poder, embora tenha desaparecido a figura do ditador vitalício ou do partido único. A abertura política exacerbou as rivalidades étnicas, visto que a etnia que perde as eleições revolta-se e passa, ou se dispõe, a lutar contra o governo, enquanto aquela que assume o poder acaba por dominar os antigos dominadores. A democracia ocidental não tem funcionado na África Negra, onde as rivalidades étnicas não respeitam qualquer lei. Com sua política de cortar gastos públicos para estabilizar a economia, muitos governos africanos estão dispensando funcionários e investindo menos em educação e em saúde, medidas que têm penalizado os mais pobres, os quais acabam morrendo de fome ou de doenças. Os especialistas do FMI argumentam que os pobres serão os favorecidos quando essas medidas drásticas surtirem efeito e os países africanos retomarem o crescimento; entretanto, esses próprios especialistas admitem que, se tudo correr bem, só daqui a meio século os países africanos voltarão a ter os padrões de vida da década de 1970.
 http://www.clickescolar.com.br/a-africa-negra-hoje.htm

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