Poema da manhã
Os nossos filhos
Negra
hão-de trazer as ambições estampadas
nos olhos claros.
Os nossos filhos
Negra
hão-de trazer a vida à flor da pele escura.
Os nossos filhos
Negra
hão-de gargalhar o seu desprezo pelas Universidades da Europa
e hão-de rir-se dos que ficarem atrás nas classificações.
Os nossos filhos
Negra
hão-de ser belos
hão-de trazer nas veias o sangue mais puro e mais vermelho
das raças de Angola
e os seus peitos
hão-de chegar primeiro nas competições desportivas
da América, da Europa e do Mundo.
Os nossos filhos
Negra
serão os construtores, os engenheiros, os médicos, os
[cientistas do Mundo que vem
Eles pisarão quem se lhes atravessar na frente
Eles hão-de fazer soar os "Boogie-woogies" de
[Armstrong e Peters
nas "boites" de Paris, Londres, Moscovo e Nova Iorque
e não mais terão lugares secundários nas bichas de autocarros de Joburgo.
E principalmente
Negra
os nossos filhos
chegarão sempre primeiro
nas competições espirituais e desportivas
da Europa
da América
e do Mundo.
E principalmente
Negra
eles serão
OS NOSSOS FILHOS
Quando eu morrer
(para o Aniceto Vieira Dias e "Liceu" de "N'Gola Ritmos")
Quando eu morrer
eu quero que o N'Gola Ritmos
vá tocar no meu enterro.
Como Sidney Bechet
como Armstrong
eu gostarei de saber
que vocês
tocaram no meu enterro.
Lá no céu também há "angelitos negros"
e eu gostarei de saber
que vocês
me tocaram no enterro.
Se não puder ser
deixem lá
tocarão noutro lado qualquer
com lágrimas nos olhos
como naquela noite
em casa do Araújo
lembrarão o companheiro
das noites de Luanda
das noites de boémia
das tardes de moamba.
Ah! Quando eu morrer
já sabem
quero que o meu caixão
vá no maxibombo da linha do Cemitério
quero que toquem
a Cidralha
ou convidem a marcha dos Invejados.
É assim que eu quero ir
acompanhado da vossa alegria
bebedeiras seguindo o enterro
as velhas carpideiras de panos escuros
quero um kombaritókué dos antigos
que vai ser muito falado.
Não convidem mulatas
que sempre estragam tudo
Se vierem
não lhes vou rejeitar.
Cantem apenas
alguns dos meus poemas
até enrouquecer.
Ah! quando eu morrer
eu quero o N´Gola Ritmos
tocando no meu enterro.
que sempre estragam tudo
Se vierem
não lhes vou rejeitar.
Cantem apenas
alguns dos meus poemas
até enrouquecer.
Ah! quando eu morrer
eu quero o N´Gola Ritmos
tocando no meu enterro.
Picada de marimbondo
(Para o Pila – companheiro de infância)
Junto da mandioqueira
perto do muro de adobe
vi surgir um marimbondo
Vinha zunindo
cazuza!
Vinha zunindo
cazuza!
Era uma tarde em Janeiro
tinha flores nas acácias
tinha abelhas nos jardins
e vento nas casuarinas,
quando vi o marimbondo
vinha voando e zunindo
vinha zunindo e voando!
Cazuza!
Marimbondo
mordeu tua filha no olho!
Cazuza!
Marimbondo
foi branco que inventou...
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