CEI em Coimbra
DE "UM TESTEMUNHO PARA A HISTÓRIA DE ANGOLA": Do Huambo ao Huambo por Sócrates Dáskalos
Capítulo VIII: A grande debandada: retornados e adidos............................................................ 107
...Mas,
logo após a tomada de posse do Governo de Transição, em 31 de Janeiro
de 1975, as coisas começaram a complicar-se para os funcionários do
Quadro Administrativo. Os administradores da Ganda, Cubal, Balombo,
Chongoroi, Bocoio e Baía Farta que me tinham dado um apoio leal e que
tinham, quase todos uma boa aceitação por parte das populações negras
dos seus territórios, quando começaram a aparecer os ministros e
delegações dos movimentos emancipalistas fazendo exigências
despropositadas e ameaças veladas de prisão e despedimento, começaram a
vacilar nas
suas intenções de ficar depois da independência. E quando o Governo Português inventou o Quadro de Adidos para nele integrar
os funcionários do Q.A das colónias, garantindo-lhes em Portugal emprego e reforma, aumentaram as hesitações que, depois de ter sido propalado que o “MPLA iria julgar todos os funcionários do Q.A depois da independência” se transformaram em desejo ansioso de partir o mais depressa possível.
Além do Q. Adidos o governo português também criou o Instituto de Auxílio aos Retornados Nacionais (IARN) e como na altura os naturais de Angola brancos, mestiços e assimilados eram considerados portugueses, este Instituto alargou ou restringiu a sua acção como muito bem entendeu, dando ou negando auxílio de acordo com os interesses dos dirigentes.
Em consequência criou-se em Angola um ambiente de tal ordem que até o branco mais pobre que no interior do país ou na periferia das cidades tinha sempre vivido e convivido com a comunidade negra, se deixou contaminar pela histeria do medo sem razões válidas que o justificassem, excepto em Luanda e no Huambo onde as refregas armadas entre movimentos eram aproveitadas para molestar e até, às vezes, vitimar elementos brancos e não brancos, perante .a passividade das forças armadas portugueses que, dizendo-se neutras, deixavam-se influenciar quando se tratava de combater os “comunistas angolanos” ou seja os amigos, simpatizantes e militantes do MPLA.
suas intenções de ficar depois da independência. E quando o Governo Português inventou o Quadro de Adidos para nele integrar
os funcionários do Q.A das colónias, garantindo-lhes em Portugal emprego e reforma, aumentaram as hesitações que, depois de ter sido propalado que o “MPLA iria julgar todos os funcionários do Q.A depois da independência” se transformaram em desejo ansioso de partir o mais depressa possível.
Além do Q. Adidos o governo português também criou o Instituto de Auxílio aos Retornados Nacionais (IARN) e como na altura os naturais de Angola brancos, mestiços e assimilados eram considerados portugueses, este Instituto alargou ou restringiu a sua acção como muito bem entendeu, dando ou negando auxílio de acordo com os interesses dos dirigentes.
Em consequência criou-se em Angola um ambiente de tal ordem que até o branco mais pobre que no interior do país ou na periferia das cidades tinha sempre vivido e convivido com a comunidade negra, se deixou contaminar pela histeria do medo sem razões válidas que o justificassem, excepto em Luanda e no Huambo onde as refregas armadas entre movimentos eram aproveitadas para molestar e até, às vezes, vitimar elementos brancos e não brancos, perante .a passividade das forças armadas portugueses que, dizendo-se neutras, deixavam-se influenciar quando se tratava de combater os “comunistas angolanos” ou seja os amigos, simpatizantes e militantes do MPLA.
No seio da comunidade branca gerou-se uma histeria de fuga a qualquer preço que o estabelecimento de pontes aéreas e de carreiras marítimas levou ao paroxismo. Esta histeria deu origem a uma “música” jamais ouvida nesta terra: a “música” das marteladas nos caixotes ouvia-se noite e dia, monótona e enervante. Nos caixotes metiase tudo o que era possível, até as garrafas de gás e os panos de cozinha! No porto do Lobito, extensas bichas de viaturas esperavam longas horas aguardando embarque. Esta ânsia de partir, em Benguela, contrastava com a atitude de alguns portugueses e angolanos que se preocupavam mais em resolver os problemas do
quotidiano do que pensar nos problemas futuros. São prova disso os episódios que vou contar.
Vindos
da Ganda, apresentaram-se no meu gabinete dois casais de portugueses
acompanhados de cinco meninos e de uma senhora ainda nova. As senhoras e
meninos estavam lacrimejantes e os dois homens faziam cara de mártir
olhando fixamente para baixo. Quando lhes pedi para explicar a razão que
os trouxera até mim, falaram as duas senhoras com ar de queixume
dizendo que os maridos tinham sido maltratados pelos pretos até ao ponto
de terem levado uma carga de porrada. Pediam a minha protecção e a
correcção dos atrevidos. Como eu não percebera a causa da maka e como os
dois homens se conservassem calados, perguntei-lhes como é que
explicavam a razão das cargas de porrada que tinham levado. Então um
deles começou; “sabe, eu tinha um camião de fuba para vender e como o
não conseguisse, fiz constar que, se me comprassem toda a fuba, então
cairia a chuva que não vinha há muito tempo. Eles compraram a fuba
toda, a chuva não veio e eles deram-me uma carga de porrada”. E o
senhor? - perguntei ao outro português. “Eu tinha fuba na loja que nunca
mais vendia porque a seca continuava e o povo estava com falta de
lombongo (dinheiro). Para conseguir vendê-la resolvi fazer um feitiço:
arranjei uma panela velha, ossos, pêlos e rabos de boi e uns pauzinhos e
fui para o quintal consultar os cazumbis (almas do outro mundo).
Cercado de muito povo, fiz as minhas consultas com os ritos
convenientes e anunciei que os cazumbis mandariam a chuva dois dias
depois de eu ter vendido a fuba toda. A fuba foi vendida, passaram dois
dias, a chuva não veio e eu levei uma grande carga de porrada...ainda
tenho aqui algumas manchas...”. Eu fiquei perplexo, quase que não
continha o riso e tive que recorrer ao Camões dos varões assinalados que
conquistaram mundos ao mundo sem um tostão na algibeira para poder
responder condignamente a estes lusíadas perdidos nas matas da Ganda. e
com ar convicto e um tanto protector garanti-lhes que podiam regressar à
Ganda sem receio algum. E eles regressaram ao som da música dos
caixotes.
Um
outro exemplo revelador do clima em que se vivia foi o que descrevo
adiante. Uma manhã, quando saía do palácio para o meu gabinete,
encontrei no jardimem frente deste, cerca de cinco dezenas de mucubais,
homens e mulheres, que logo se acercaram de mim com atitudes decididas
mas não agressivas e um deles explicou-me que queriam apresentar-me
uma reclamação. Vinham todos tradicionalmente meio vestidos, as mulheres
exibindo anéis, argolas e cabeleiras que eram pouco vulgares em pleno
centro da cidade. Disse ao emissário que não podia receber tanta gente e
que escolhesse um grupo de dez para falar comigo. Depois de estarem
todos sentados à volta da mesa do comissariado, verifiquei que alguns
deles estavam de cócoras em cima da cadeira.(Não estranhei nem tive
vontade de rir porque me lembrei de uma velhota portuguesa que eu vira
há bem pouco tempo lá na terra civilizada dos portugas, “sentar-se”,
também de cócoras, no assento de um automóvel) Percebi que o grupo
estava satisfeito mas um tanto constrangido. Explicaram-me a razão da
sua vinda: “lá para as bandas do Dombe Grande, um comerciante tinha-lhes
comprado algumas cabeças de gado para pagar, em parte, com mercadorias.
O prazo já tinha passado e ele não pagava. Pediam a minha intervenção
para resolver a maka. Antes de lhes dar uma resposta consultei os meus
funcionários e um deles disseme que conhecia o assunto e que podia ser
facilmente resolvido. Assim pude assegurar aos reclamantes que o assunto
estaria resolvido dentro de um prazo de oito dias e que podiam
regressar às suas terras. Mas os amigos mucubais, em vez de retirarem,
preferiram acampar ali mesmo e esperar pela solução da maka. Ali
ficaram os oito dias, durante os quais todas as manhãs eu correspondia
aos seus cumprimentos com o “V” da vitória que se reflectia nos seus
alvos e largos sorrisos
À
medida que se aproximava a data da independência crescia a azáfama dos
caixotes e o número dos transportes, aviões e barcos, para a debandada
que tomava cada vez mais o aspecto de uma fuga desenfreada. Em Julho e
Agosto, aviões da TAP e da Suisse Air, transportavam diariamente cerca
de mil passageiros para Lisboa. Mas o afluxo a Luanda de refugiados
vindos das terras do interior em aviões da Força Aérea e de outros
vindos via marítima das províncias do litoral era de tal ordem que
tiveram que ser utilizados transportes cedidos pelos Estados Unidos da
América e pela União Soviética. No início de Setembro participaram na
ponte aérea aviões da França, Alemanha Federal, RDA, Grã Bretanha e
URSS. Chegou a haver 15 voos diários para Lisboa. Só entre 1 de Agosto a
31 de Outubro calcula-se que foram transportados pela ponte aérea cerca
de 230.000 pessoas das quais cerca de 54.000 foram transportadas por
aviões estrangeiros, com os E.U.A à cabeça. Esta fuga dos portugueses de
Angola começou em Maio e terminou em 9 de Novembro, dois dias antes da proclamação da independência.
A partir de Maio de 1975 a população branca do Huambo viu-se entre dois fogos, MPLA e UNITA, esta procurando assanhadamente os comunistas, isto é, todos os que cheiravam a MPLA. Os homens armados da UNITA entravam nos aviões à busca de comunistas ante o olhar pasmado das sentinelas portuguesas que não sabiam ou não queriam intervir face à tácita aceitação dos seus oficiais que colaboravam assim na caça aos comunistas. Os dirigentes do EME, Machado e Kapango foram arrancados da aeronave pronta a arrancar para Luanda, nas referidas condições, isto é, diante da passividade dos oficiais portugueses que preferiram “lavar as mãos” como Pilatos, em vez de usarem da sua autoridade.
A partir de Maio de 1975 a população branca do Huambo viu-se entre dois fogos, MPLA e UNITA, esta procurando assanhadamente os comunistas, isto é, todos os que cheiravam a MPLA. Os homens armados da UNITA entravam nos aviões à busca de comunistas ante o olhar pasmado das sentinelas portuguesas que não sabiam ou não queriam intervir face à tácita aceitação dos seus oficiais que colaboravam assim na caça aos comunistas. Os dirigentes do EME, Machado e Kapango foram arrancados da aeronave pronta a arrancar para Luanda, nas referidas condições, isto é, diante da passividade dos oficiais portugueses que preferiram “lavar as mãos” como Pilatos, em vez de usarem da sua autoridade.
Naquela
altura estavam em Angola cerca de 30 mil militares portugueses,número
mais que suficiente para manter a ordem e a disciplina evitando que as
populações, os habitantes civis, fossem molestados pelos militares dos
movimentos rivais.
Do Magazine n.º 277 de 2 de Julho de 1995, de cuja publicação é responsável o jornal português “O Público”, extraímos do artigo aí publicado sob o título “Há vinte anos, de Angola a Lisboa - A maior ponte aérea do História” os elementos que comprovam a tese que sempre defendi de que “esta fuga massiva de residentes de Angola, poucos meses antes da proclamação da sua independência, se não foi preparada, foi pelo menos habilmente aproveitada pelas potências interessadas em fazer de Angola mais um país africano independente, mas obrigado a obedecer aos seus protectores para manter essa independência”, ou melhor utilizando uma linguagem política em vias de ser esquecida, “pelas potências interessadas em substituir o colonialismo português pelo neocolonialismo”.
Do Magazine n.º 277 de 2 de Julho de 1995, de cuja publicação é responsável o jornal português “O Público”, extraímos do artigo aí publicado sob o título “Há vinte anos, de Angola a Lisboa - A maior ponte aérea do História” os elementos que comprovam a tese que sempre defendi de que “esta fuga massiva de residentes de Angola, poucos meses antes da proclamação da sua independência, se não foi preparada, foi pelo menos habilmente aproveitada pelas potências interessadas em fazer de Angola mais um país africano independente, mas obrigado a obedecer aos seus protectores para manter essa independência”, ou melhor utilizando uma linguagem política em vias de ser esquecida, “pelas potências interessadas em substituir o colonialismo português pelo neocolonialismo”.
Assim, extraímos do referido artigo as seguintes passagens:
“Houve brancos que foram mortos, outros que foram alvo de sevícias, afirma Vasco Vieira de Almeida (ministro da economia do governo de transição) e contínua: “não se pode dizer que a guerra era dirigida contra a população branca. Só que, numa cidade ocupada por homens armados, todos se sentiam alvos potenciais. Mesmo em casa, tínhamos medo. Havia sempre o perigo de balas perdidas.” São ainda de Vieira de Almeida, cidadão português, com raízes afectivas e familiares ligadas a Angola, com grande simpatia por Angola mas sem ligações partidárias, as seguintes afirmações: “A desmotivação era total no seio das forças armadas portuguesas. O governo de transição não passava de uma farsa trágica. Os efectivos das forças armadas portuguesas e os meios de que dispunham eram mais que suficientes para impedir a escalada da guerra civil” “faltava contudo vontade par tal e faltavam também orientações inequívocas de Lisboa”... .Não são de espantar estas afirmações de Vieira de Almeida. São verdadeiras, reflectem a realidade, o que não sucede com as afirmações que no mesmo artigo são feitas por grandes responsáveis pela descolonização, que decidiram então muita coisa mas que não tiveram até agora a honestidade de reconhecerem os erros que cometeram. Assim, o que era nesse tempo ministro da administração do território depois de ter transferido a sua fortuna de Moçambique para Lisboa, afirma: “Os civis tinham deixado de encarar a presença dos 30 mil militares portugueses como uma
protecção...Havia alguma, diz Almeida Santos. “Mas as tropas portuguesas estavam desmotivadas. Muitos dos militares iam já na terceira, quarta e até quinta comissão de serviço, o significava que estavam a abeirar-se de uma situação de exaustão. Com o “25 de Abril” gerou-se a convicção de que a guerra acabara, de que já tinham cumprido a sua missão O atraso nas negociações com os movimentos de libertação levou a que se continuasse a lutar e a morrer tanto ou mais, nos tempos seguintes ao “25 de Abril”, do que antes. E era incompreensível para as tropas, chegando mesmo a gerar uma situação de indisciplina militar”. Mas vinte anos passados, Almeida Santos, um dos responsáveis pela descolonização, não tem a certeza das causas que originaram a ponte aérea pois afirma: “a ponte aérea resultou de uma decisão conjunta do Governo e da Presidência da República”, mas acrescentou: ”eu diria que o Conselho da Revolução também teve alguma coisa a ver com isso...”. E para cúmulo ainda acrescentou:” Este era um capítulo que o governo procurava evitar: escaldava e já havia problemas de sobra a nível interno!”. E para prova do desencontro de opiniões dos políticos portugueses, oiçamos Melo Antunes, uma das cabeças da descolonização: “a perspectiva do governo português não era estimular o regresso da população branca, e sim, ajudá-la a continuar no território. Mas era tarde demais...” (porquê, pergunto eu). “Por essa altura, em Julho, a população branca de Angola só pensava em rotas de fuga, deixara de acreditar nos bons ofícios de Lisboa; mais de 2.500 veículos partiram, por terra até Marrocos e, em meados de
Agosto, 2 mil portugueses tinham cruzado a fronteira a caminho da África do Sul”.
“Houve brancos que foram mortos, outros que foram alvo de sevícias, afirma Vasco Vieira de Almeida (ministro da economia do governo de transição) e contínua: “não se pode dizer que a guerra era dirigida contra a população branca. Só que, numa cidade ocupada por homens armados, todos se sentiam alvos potenciais. Mesmo em casa, tínhamos medo. Havia sempre o perigo de balas perdidas.” São ainda de Vieira de Almeida, cidadão português, com raízes afectivas e familiares ligadas a Angola, com grande simpatia por Angola mas sem ligações partidárias, as seguintes afirmações: “A desmotivação era total no seio das forças armadas portuguesas. O governo de transição não passava de uma farsa trágica. Os efectivos das forças armadas portuguesas e os meios de que dispunham eram mais que suficientes para impedir a escalada da guerra civil” “faltava contudo vontade par tal e faltavam também orientações inequívocas de Lisboa”... .Não são de espantar estas afirmações de Vieira de Almeida. São verdadeiras, reflectem a realidade, o que não sucede com as afirmações que no mesmo artigo são feitas por grandes responsáveis pela descolonização, que decidiram então muita coisa mas que não tiveram até agora a honestidade de reconhecerem os erros que cometeram. Assim, o que era nesse tempo ministro da administração do território depois de ter transferido a sua fortuna de Moçambique para Lisboa, afirma: “Os civis tinham deixado de encarar a presença dos 30 mil militares portugueses como uma
protecção...Havia alguma, diz Almeida Santos. “Mas as tropas portuguesas estavam desmotivadas. Muitos dos militares iam já na terceira, quarta e até quinta comissão de serviço, o significava que estavam a abeirar-se de uma situação de exaustão. Com o “25 de Abril” gerou-se a convicção de que a guerra acabara, de que já tinham cumprido a sua missão O atraso nas negociações com os movimentos de libertação levou a que se continuasse a lutar e a morrer tanto ou mais, nos tempos seguintes ao “25 de Abril”, do que antes. E era incompreensível para as tropas, chegando mesmo a gerar uma situação de indisciplina militar”. Mas vinte anos passados, Almeida Santos, um dos responsáveis pela descolonização, não tem a certeza das causas que originaram a ponte aérea pois afirma: “a ponte aérea resultou de uma decisão conjunta do Governo e da Presidência da República”, mas acrescentou: ”eu diria que o Conselho da Revolução também teve alguma coisa a ver com isso...”. E para cúmulo ainda acrescentou:” Este era um capítulo que o governo procurava evitar: escaldava e já havia problemas de sobra a nível interno!”. E para prova do desencontro de opiniões dos políticos portugueses, oiçamos Melo Antunes, uma das cabeças da descolonização: “a perspectiva do governo português não era estimular o regresso da população branca, e sim, ajudá-la a continuar no território. Mas era tarde demais...” (porquê, pergunto eu). “Por essa altura, em Julho, a população branca de Angola só pensava em rotas de fuga, deixara de acreditar nos bons ofícios de Lisboa; mais de 2.500 veículos partiram, por terra até Marrocos e, em meados de
Agosto, 2 mil portugueses tinham cruzado a fronteira a caminho da África do Sul”.
Face
a tantas opiniões desencontradas e da consequente falta de coordenação e
de decisão é fácil compreender porque é que Vieira de Almeida acabou
por afirmar: “Nunca mais vi as pessoas do mesmo modo. Nem este país
(Angola) Foi absolutamente incrível a cobardia colectiva de que então se
deu provas”. Face ao que atrás se disse torna-se fácil compreender
porque é que a tal “comissão de descolonização” de que fiz parte tivesse
sido completamente inoperante e inútil. Mas no artigo em referência, “A
maior ponte da história ”citam-se duas conclusões “históricas” que
parecem querer interpretar para a posteridade o que foi a descolonização
de Angola. Lê-se no artigo em referência: Hoje, no último volume da
colecção de História coordenada pelo professor José Matoso pode ler-se: A
atitude das autoridades portuguesas acabou por favorecer objectivamente
a estratégia do MPLA (...) mesmo o fenómeno do retorno da população
branca através de uma ponte aérea cujo terminal era Luanda favoreceu
essa coexistência” . E ainda no mesmo artigo: ”Numa outra colecção de
história dirigida pelo professor João Medina, Melo Antunes escreve: em
Agosto de 1975, face à situação crítica que se vivia em Luanda, já
ameaçada a Norte pelas forças da FNLA, dei instruções precisas, logo em
seguida confirmadas pelo Presidente da República para que as forças
portuguesas defendessem a todo o custo a cidade (...)!!! (os pontos de
admiração são do autor). As decisões foram tomadas com inteira
consciência de que, objectivamente, naquele momento, se fazia o jogo da
MPLA.
Ora
os factos demonstraram que a atitude portuguesa nunca favoreceu a
estratégia do MPLA mesmo com as “instruções precisas” dadas por Melo
Antunes, simplesmente porque essas instruções não chegaram cá ou não
foram cumpridas, nem tão pouco podiam favorecer a estratégia do MPLA
porque grande parte dos oficiais do exército português era furiosamente
anti comunista, assim como alguns comandos a alto nível...que para
cumprir essas ordens, nas vésperas da independência, deitaram ao mar
milhares e milhares de culatras das armas que eles não queriam que
caísse nas mãos do
MPLA e que pouco antes das zero horas do dia 11 de Novembro convocara os jornalistas para fazer a entrega de Angola ao Povo Angolano, ali representado por...ninguém! E falta acrescentar nessas duas referências históricas que, às zero horas do dia 11 de Novembro, o Presidente da República Popular de Angola não permitiu que a bandeira portuguesa fosse queimada pelos exaltados que não aceitavam a maneira inqualificável de proceder...entregando Angola ao Povo Angolano...sem um representante daqueles que dizem ter favorecido! Não restam dúvidas de que alguns dos adeptos do MPLA, com as suas atitudes extremistas e por vezes racistas, também contribuíram para a fuga dos portugueses, muitos deles já indecisos face às ameaças de nacionalizações sem compensação. Mas também não restam dúvidas de que, apesar da propalada ajuda portuguesa, se não fora a presença, embora tardia, dos cubanos e soviéticos, o MPLA não teria saído triunfante do caos dos últimos dias do colonialismo e dos primeiros dias da independência apesar das “decisões do governo português tomadas com plena consciência de que, objectivamente, naquele momento se fazia o jogo do MPLA”.
MPLA e que pouco antes das zero horas do dia 11 de Novembro convocara os jornalistas para fazer a entrega de Angola ao Povo Angolano, ali representado por...ninguém! E falta acrescentar nessas duas referências históricas que, às zero horas do dia 11 de Novembro, o Presidente da República Popular de Angola não permitiu que a bandeira portuguesa fosse queimada pelos exaltados que não aceitavam a maneira inqualificável de proceder...entregando Angola ao Povo Angolano...sem um representante daqueles que dizem ter favorecido! Não restam dúvidas de que alguns dos adeptos do MPLA, com as suas atitudes extremistas e por vezes racistas, também contribuíram para a fuga dos portugueses, muitos deles já indecisos face às ameaças de nacionalizações sem compensação. Mas também não restam dúvidas de que, apesar da propalada ajuda portuguesa, se não fora a presença, embora tardia, dos cubanos e soviéticos, o MPLA não teria saído triunfante do caos dos últimos dias do colonialismo e dos primeiros dias da independência apesar das “decisões do governo português tomadas com plena consciência de que, objectivamente, naquele momento se fazia o jogo do MPLA”.
Outra
opinião que ainda persiste e é afirmada por muitos dos que tudo
perderam, é de que “as forças armadas portuguesas deram um importante e
significativo apoio ao MPLA”. É uma opinião redondamente errada pois a
grande maioria dos oficiais e soldados das FAP eram figadais inimigos do
comunismo para eles representado em Angola pelos, como já disse,
militantes, simpatizantes e amigos do MPLA. Alguns dos acontecimentos a
seguir relatados são prova disso.
Continua in
Um testemunho para a História de Angola Do Huambo ao Huambo por Sócrates Dáskalos
INDICE
Preâmbulo de Adelino Torres........................................................................................ I
Prefácio de Manuel Rui................................................................................................. 1
Introdução.................................................................................................................... 4
Capítulo I - Das brumas da meninice ao alvor da juventude....................................8
Capítulo II - Na capital dos “Heróis do Mar”......................................................... 21
Capítulo III - Regresso à terra natal....................................................................... 30
.. - Na cidade das acácias rubras................................................................................. 35
Capítulo IV - A Frende de Unidade Angolana (FUA)..............................................37
... - Advertência........................................................................................................... 37
... - Gestação e nascimento.......................................................................................... 38
... - Nas prisões do colonial-fascismo........................................................................... 43
... - Residência fixa na capital do Império.....................................................................47
... - O salto: fuga e primeiros passos na capital da liberdade.........................................51
... - No labirinto do socialismo “sem véu” e “com véu”................................................53
... - Argel, capital da “revolução africana”....................................................................60
... - O ocaso da FUA................................................................................................... 64
... - O General Humberto Delgado na capital argelina...................................................70
... - Uma república socialista nas montanhas de Angola................................................72
... - Um golpe de Estado.............................................................................................. 74
Capítulo V - Na República Popular da China..........................................................
76
... - Na Guiné Conacri.................................................................................................. 83
... - Na Costa do Marfim............................................................................................. 87
Capítulo VI - Treze anos depois............................................................................... 90
... - Regresso do exílio................................................................................................. 90
... - Na Comissão de Descolonização enviada por Portugal
... à 29ª Assembleia Geral das Nações Unidas............................................. 91
Capítulo VII - A evolução sócio-económica do Huambo
... nas últimas décadas da colonização................................................ 93
... - O Ensino e a saúde no Huambo nas vésperas da independência.............................97
... - As congregações religiosas e a emancipação dos angolanos..................................99
Capítulo VIII - No governo da Província de Benguela......................................... 105
... - A grande debandada: retornados e adidos............................................................ 107
... - A corrida aos confiscos e nacionalizações............................................................ 111
... - O Gabinete de Estudos........................................................................................ 112
... - A visita do Presidente do MPLA a Benguela........................................................ 113
... - A primeira visita oficial do Presidente da UNITA à Província de Benguela.........114
... - A fuga dos dois barcos bacalhoeiros em construção na SOREFAME de
Angola..................................................................................................................... 115
... - O regicídio falhado - Início das confrontações armadas........................................ 116
... - O comboio fantasma............................................................................................ 118
... - O hastear da bandeira de Angola independente na Província de Benguela........... 120
Capítulo IX - No comando dos estaleiros navais do Lobito.................................. 123
... - Nos organismos políticos da Província de Benguela..............................................128
Capítulo X - Angola no coração.............................................................................. 132
... - A casa................................................................................................................. 133
... - A ferro e fogo...................................................................................................... 137
... - Angola ferida no coração: sangue e lágrimas enxutas............................................141
Capítulo XI - O lobo e o cordeiro........................................................................... 146
... - A Terra em que nascemos................................................................................... 149
... - Quando as acácias murcham................................................................................ 154
... - A homenagem..................................................................................................... 157
... - Epílogo................................................................................................................ 161
... - Posfácio ............................................................................................................. 165A
Preâmbulo de Adelino Torres........................................................................................ I
Prefácio de Manuel Rui................................................................................................. 1
Introdução.................................................................................................................... 4
Capítulo I - Das brumas da meninice ao alvor da juventude....................................8
Capítulo II - Na capital dos “Heróis do Mar”......................................................... 21
Capítulo III - Regresso à terra natal....................................................................... 30
.. - Na cidade das acácias rubras................................................................................. 35
Capítulo IV - A Frende de Unidade Angolana (FUA)..............................................37
... - Advertência........................................................................................................... 37
... - Gestação e nascimento.......................................................................................... 38
... - Nas prisões do colonial-fascismo........................................................................... 43
... - Residência fixa na capital do Império.....................................................................47
... - O salto: fuga e primeiros passos na capital da liberdade.........................................51
... - No labirinto do socialismo “sem véu” e “com véu”................................................53
... - Argel, capital da “revolução africana”....................................................................60
... - O ocaso da FUA................................................................................................... 64
... - O General Humberto Delgado na capital argelina...................................................70
... - Uma república socialista nas montanhas de Angola................................................72
... - Um golpe de Estado.............................................................................................. 74
Capítulo V - Na República Popular da China..........................................................
76
... - Na Guiné Conacri.................................................................................................. 83
... - Na Costa do Marfim............................................................................................. 87
Capítulo VI - Treze anos depois............................................................................... 90
... - Regresso do exílio................................................................................................. 90
... - Na Comissão de Descolonização enviada por Portugal
... à 29ª Assembleia Geral das Nações Unidas............................................. 91
Capítulo VII - A evolução sócio-económica do Huambo
... nas últimas décadas da colonização................................................ 93
... - O Ensino e a saúde no Huambo nas vésperas da independência.............................97
... - As congregações religiosas e a emancipação dos angolanos..................................99
Capítulo VIII - No governo da Província de Benguela......................................... 105
... - A grande debandada: retornados e adidos............................................................ 107
... - A corrida aos confiscos e nacionalizações............................................................ 111
... - O Gabinete de Estudos........................................................................................ 112
... - A visita do Presidente do MPLA a Benguela........................................................ 113
... - A primeira visita oficial do Presidente da UNITA à Província de Benguela.........114
... - A fuga dos dois barcos bacalhoeiros em construção na SOREFAME de
Angola..................................................................................................................... 115
... - O regicídio falhado - Início das confrontações armadas........................................ 116
... - O comboio fantasma............................................................................................ 118
... - O hastear da bandeira de Angola independente na Província de Benguela........... 120
Capítulo IX - No comando dos estaleiros navais do Lobito.................................. 123
... - Nos organismos políticos da Província de Benguela..............................................128
Capítulo X - Angola no coração.............................................................................. 132
... - A casa................................................................................................................. 133
... - A ferro e fogo...................................................................................................... 137
... - Angola ferida no coração: sangue e lágrimas enxutas............................................141
Capítulo XI - O lobo e o cordeiro........................................................................... 146
... - A Terra em que nascemos................................................................................... 149
... - Quando as acácias murcham................................................................................ 154
... - A homenagem..................................................................................................... 157
... - Epílogo................................................................................................................ 161
... - Posfácio ............................................................................................................. 165A
Nota:
Sócrates Dáskalos, enquanto estudante de engenharia no Instituto
Superior Técnico foi um dos inspiradores da criação da Casa do
Estudantes do Império, e já nos anos 40 era um oposicionista ao regime
de Salazar. Mais tarde em Angola foi professor do Liceu de Benguela, e
conjuntamente com Fernando Falcão, Luís Portocarrero, Carlos Costa,
Manuel Brazão Farinha, Carlos Morais e outros, fundou a FUA, Frente de
Unidade Angolana o que lhe valeu a prisão e a expulsão de Angola com
residência fixa em Lisboa, acabando por fugir para o estrangeiro com
outros companheiros. Viveu no exílio durante vários anos - França, a
Argélia, a China, a Costa do Marfim e a Guiné-Conacry- e regressou a
Angola em 1974, onde foi nomeado membro da Comissão de Descolonização
nas Nações Unidas e, algum tempo depois, Governador da Província de
Benguela onde viverá momentos conturbados. Mais tarde assumirá a
direcção dos estaleiros navais do Lobito e aí termina a sua carreira
profissional activa.
Os Dáskalos da vida não eram apenas contra o o regime de Salazar, eram e são e serão uns complexados que nem são aceites pelos pretos nem pelos brancos que os conheçam.
ResponderEliminarAntes de serem contra Salazar, eram contra os portugueses.
Aliás, os Dáskalos vão desaparecer de Angola sem nunca serem aceites com a dignidade como foram tratados os mais humildes comerciantes portugueses, pelos povos angolanos.