sábado, 16 de outubro de 2010

O descasque do café na Fazenda Quimbanze - Alfredo Baeta Garcia


Nos anos 50 a produção indígena era ainda descascada segundo o método tradicional no pirão, pois os comerciantes só compravam café limpo, que era ensacado em  sacos de juta de 80 Kg. Em algumas sanzalas foram instalados, mais tarde, descascadores mecânicos accionados por motores de explosão que tornam a tarefa mil vezes mais rápida.

Nas fazendas dos europeus, as maiores áreas de cultivo, aliadas à maior capacidade financeira e empresarial, possibilitaram a introdução rápida dos métodos mecânicos.

Na Fazenda Quimbanze o equipamento para descasque e beneficiação do café começou com um simples descascador que funcionava movido por um tractor Volvo que tinha uma transmissão para esse efeito.

Uns anos depois, por volta de 1956/57, compramos ao  Ferreira Lima uma máquina que trabalhava no Pumbaloge, marca ANDREIA, fabricada em Limeira - Estado de S. Paulo - Brasil, composta, à entrada por uma tarara que fazia a limpeza dos objectos estranhos e mais volumosos e, seguidamente, por meio de elevadores, enviava a Mabuba (café seco por descascar) para o descascador que funcionava como um moinho de martelos e não por aperto num sem-fim, como os descascadores primitivos. Uma potente ventoinha expelia para o exterior toda a casca, sendo o produto do descasque levado para um peneiro que com vários movimentos separava o café completamente descascado dos bagos por descascar e os reconduzia ao descascador.
O café limpo, saído deste peneiro, era distribuído por dois classificadores para tamanhos, cada um com quatro seleccionadores com a sua bica que deitavam, cada um, para sua tulha. Era uma máquina muito interessante, quando em funcionamento, movida por um motor diesel que antes estava na cerâmica.

Um ano depois, como deixou de ter interesse a classificação que se fazia, esta ANDREIA foi substituída por uma máquina idêntica, mas sem classificador e de maior rendimento, fabricada em Angola pela SOTECMA, Sociedade Técnica Cardoso de Matos do Amboím.


No ano de 1970 a colheita foi de tal maneira atacada pela “broca”, que furava os bagos ainda verdes na árvore, que, depois de seco e descascado, rigorosamente classificado, o café não iria além de resíduos. Tentando minorar essa calamidade pela escolha, comprámos em Luanda à pressa, uma máquina brasileira marca MOREIRA que fazia essa selecção. Funcionava por meio de um motor eléctrico, pelo que tínhamos que por a trabalhar durante o dia o gerador da iluminação eléctrica. O resultado foi pouco animador, pois como sabíamos, a maior parte dos bagos estava furada reduzindo a colheita desse ano para um terço.
Depois do primeiro choque, de que os exportadores se aproveitaram para comprar aos produtores pelo preço que entendiam, a situação quase normalizou, deixando o bago furado de ser considerado defeito com a importância que vinha tendo.


Pouco tempo depois comprámos um secador que se destinava a retirar a humidade do café quer já descascado, quer, principalmente, em mabuba, que por qualquer acidente como uma chuvada no terreiro onde esta secava ou por motivos de espaço, de onde era retirada mal seca.
Esta máquina compunha-se de um enorme cilindro metálico que rolava sobre si e tinha umas saliências interiores para misturar o seu conteúdo, onde era injectado ar quente e seco proveniente de uma caldeira tubular. No interior dos tubos circulava ar, em vez de água, a temperaturas convenientes e saía, depois, com a humidade tirada ao café ou mabuba. Este secador foi comprado e construído em Luanda numa firma onde entrava o nome Antão.

Nessa altura começou um novo processo de descasque chamado de “via húmida” que apenas a Companhia do Pumbassai utilizava, não por ser mais caro, mas apenas diferente, que requeria um terreiro pavimentado, de preferência. O café, colhido em cereja e maduro, era facilmente despolpável numa espécie de descascador, parecido com os antigos, onde era prensado com bastante água, pelo que, assim lavado, secava no terreiro mais facilmente. Este processo implicava que a colheita tinha que ser feita com mais cuidado de maneira a não levar bagos verdes que, depois de secos, ficavam negros prejudicando a classificação do café.

Em 1975 a Fazenda Quimbanze era uma das mais bem equipadas não só no sector do descasque e beneficiação, mas também nas restantes estruturas.

A sua produção era a de uma fazenda média, podendo em 1975 e, a partir daí, chegar às 500 toneladas / ano.

Origem

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