domingo, 23 de janeiro de 2011

Povos pastores no Sul de Angola : N'guendelengos e cubais 1935-1939






N'guendelengos, seu gado e seu habitat no Deserto do Namibe 1935-39




Cuvales seu habitat e seu gado no Deserto do Namibe 1935-39

ICTT. Fotos de Elmano Cunha e Costa

OCUPAÇÃO PECUÁRIA DE ANGOLA

                                            
Povos pastores
Apesar do contacto com outros povos e das influências que devem ter sofrido, os povos pastores mantiveram os hábitos e formas de sobrevivência, continuando intimamente ligados à utilização do leite e, por vezes, do sangue dos seus animais, para a satisfação das necessidades alimentares, raramente abatendo bovinos, a não ser em ocasiões excepcionais de motivação social, como óbitos ou casamentos, aproveitando, até há pouco, as peles para vestuário, e exibindo as cabeças como troféus, espetadas em paus, como testemunho do evento. Em regra, a carne não era consumida, mas abandonada e aproveitada por povos considerados inferiores, como os Vátuas ou Mucuisses, que ainda recentemente ali acorriam, entretanto. A carne que consomem provém do abate de caprinos ou ovinos que detêm em razoável quantidade e que vendem para fazer face à aquisição de outros produtos. Só muito recentemente praticam uma incipiente actividade agrícola, com a utilização de sorgo ou painço, mais resistentes à carência e irregularidade das chuvas nos territórios que ocupam.

Os povos pastores, apesar dos contactos com outros povos, evitavam, e evitam, a miscigenação. Porém, a sua língua original foi assimilando vários dialectos, tendo-se integrado na cultura linguística bantu, invasão a que não puderam resistir.

Os bois de cornos muito longos também foram desaparecendo das manadas mucubais de Angola, por várias razões, entre as quais o cruzamento com outros bovinos, embora mantendo as pelagens, talvez por selecção, uma vez que as manadas originais foram dispersas, bem como as gentes, por uma intervenção colonialista, como a que aconteceu em 1940, na chamada “guerra dos mucubais”. Ao fim de 20 anos, conseguiram refazer as manadas e regressar às terras donde tinham querido afastá-los, depois de se terem sujeitado a trabalhos que sempre tinham desprezado, demonstrando a vitalidade herdada dos seus antepassados, que há mais de um milénio tinham partido das inóspitas terras do Sahara. Gente que não tem chefe político, nem soba, e sempre viveu e vive exclusivamente para o seu gado, o que lhes causou problemas com as diferentes autoridades coloniais; que possui uma compleição física atlética, que lhes permite, em corrida, derrubar um boi, por mais corpulento que este seja. Quando vão para a pastagem, os bois seguem o pastor e se algum se afasta, basta um assobio característico, modulado por uma palheta de latão que o pastor traz sempre na boca, para que o fugitivo regresse à manada…

Os bois de cornos longos, como o que se pode observar na Figura 1, já eram raros. Este fazia parte de uma manada que adquiri nos arredores de Silva-Porto (continua...)
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