quinta-feira, 14 de julho de 2011

Literatura Colonial Portuguesa: Artur Augusto, A Grande Aventura




Artur Augusto [da Silva] (1912-1983), A Grande Aventura (1941).
Capa de Luís Dourdil (1914-1989).

Tendo nascido em Cabo Verde, Artur Augusto da Silva veio a passar a sua infância e adolescência entre Portugal e a Guiné. Alguns anos depois de concluir o curso de Direito, em Lisboa, partiu para Angola. Aí permaneceu durante o final dos anos trinta e início dos anos quarenta, radicando-se na Guiné no final dessa mesma década.

O percurso literário do autor iniciou-se em 1931 com o volume de poesia Mais Além e ficou marcado pela censura ao seu segundo livro, Sensuais / Helena Maria (1933), assinado com o pseudónimo Júlia Correia da Silva, um livro apreendido e destruído pela polícia.

Para além de outras obras de ficção e ensaio, Artur Augusto publicara já antes deste romance duas monografias sobre artistas portugueses – António Soares (1937) e Jorge Barradas (1938), a que se seguiu em 1944 novo volume – João Carlos: um artista do livro, uma monografia sobre o escritor e ilustrador João Carlos Celestino Gomes (1899-1960) [ver alguma da sua arte gráfica em http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/150192.html]. O interesse do autor pela pintura e ilustração não seria estranho ao facto de ser irmão de João Augusto da Silva (n. 1910), que havia escrito e ilustrado o volume Grandes Chasses [cf. http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/323322.html] para a exposição de Paris de 1937. Já depois de radicado na Guiné, Artur Augusto da Silva dedicou particular atenção às tradições e leis dos seus povos, tendo publicado, entre outros estudos, Usos e Costumes Jurídicos dos Fulas da Guiné Portuguesa  (1958) e Usos e Costumes Jurídicos dos Felupes da Guiné (1960).

Enquanto poeta, o autor colaborou com a revista Claridade, de Cabo Verde, e com as revistas Seara Nova e Vértice, entre outras.

O romance A Grande Aventura relata a viagem de um jovem para Angola, onde vai exercer um cargo administrativo, e a sua descoberta da vida em Luanda e no interior. Conclui-se com a decisão do jovem de permanecer no território, mesmo depois de a sua colocação ter sido cancelada. Aí, no final da narrativa, começa a sua grande aventura.

Pela obra perpassa a evocação directa da obra de João Augusto da Silva, no episódio da caçada, e a emoção da descoberta da grande África por um jovem. A tudo isto se sobrepõe o sentimento de dever colonial, bem expresso na dedicatória do romance – "Aos colonos d'África a quem devo a maior lição que um homem pode tomar: a de que não há merecimento na vida quando não sabemos conquista-la, hora a hora, com o nosso próprio sangue. A êsses homens obscuros que para ali vão, e morrem sem terem regressado a suas casas, como se cumprissem um destino."

In © Blog da Rua Nove

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