Mário Mota (1916-1981), Angola, Eu Quero Falar Contigo (1962).
Poeta e ensaísta, Mário Mota começou por publicar o conjunto de canções Traço-de-União e os poemas Retrato e Três Tábuas, de que se desconhecem as datas. Seguiram-se-lhes os volumes de poemas Dom Alentejo (1939), Os Troncos e as Raízes (1954), Gonga: Poemas de Angola (1962), Humanidade (1977), Poemas para Florbela d'Alma (1979) e Verdura:Poemas a Sintra (1979).
O presente volume anuncia a publicação do livro de poemas Dança Negra, da colectânea Vida Poética e do conjunto de contos Estrada de Catete, mas não se encontram registos da publicação dessas obras sob estes títulos. É muito provável, no entanto, que Dança Negra corresponda ao livro Gonga: Poemas de Angola, pois o subtítulo é comum.
Na senda do que já tinha sido feito por outros autores, durante as décadas de 1930 e 1940, na revista O Mundo Português, Mário Mota publicou também como separata da revista Gil Vicente o seu contributo para uma lista da literatura colonial, intitulado Uma Bibliografia de Literatura Ultramarina (1969).
Seguindo embora uma carreira na aeronáutica civil, o autor colaborou na imprensa e na rádio, particularmente em Angola. O seu poema mais conhecido, A Palavra, foi traduzido em várias línguas e incluído nas antologias Phalanstere de la Poesie (Bélgica) e International Anthology (Reino Unido).
Do presente volume transcrevem-se o poema O Menino e um excerto de um poema evocativo do escritor são-tomense Costa Alegre (1864-1890; cf. http://literaturacolonialportuguesa.blog s.sapo.pt/7316.html ):
O MENINO
A preta lavadeira já é mãe
e a sua primeira preocupação
foi mostrar o seu menino preto
ao patrão
e à senhora do patrão...
O seu homem veio também.
Ela vestiu panos estampados, novos, era mãe,
Ele trazia o menino ao colo, aconchegado.
Vinham contentes, ela gesticulando.
Por fim chegaram.
E discutiram entre os dois qual o primeiro a falar.
E sorriram para o seu menino preto.
Abriu a porta a senhora do patrão.
E os dois apenas disseram:
O menino!
Estava feita a apresentação.
COSTA ALEGRE
(...)
O poeta era negro
e tinha pena de ser negro
este poeta negro de São Tomé!
Mas só a sua pele luzidia
era negra,
escura,
sombria como o negrume da noite.
Tudo o mais se expandia
e refulgia no poeta em grandeza
numa indiferença pela cor
(...)
Que tinha que fosse negra a sua cor
e luzidia sua pele?
Não era a sua poesia de frescor
não era cristalina a sua ansiedade?
Porque odiaria o poeta a sua cor?
Que tem que ver a cor
de cada um
se é igualmente humano
o seu amor
e igual a mesma dor
seja qual for a cor?
(...)
In © Blog da Rua Nove
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