domingo, 16 de outubro de 2011

Um pouco de História de Angola:

Debruço-me hoje sobre a eventual perspectiva da existência de um bastião branco em África, no século XX, como há dias foi aqui aflorado. É o direito de uma opinião e alguma gente concorda com ela, especialmente alguns que se sentem derrotados pelo Império. Mas mais uma vez, pela premissa de considerar que o outro império, o império da opinião é igual para todos, não estando eu condicionado ou diminuído pelo papel da liberdade que me assiste para apontar o dedo a quem não gosta que se lho aponte, digo que essa perceptiva foi uma verdadeira idiotice. No mínimo!... Pois nem os ultras da direita do regime que apoiavam Salazar defendiam essa tese, pois já esperavam o nosso desastre em África. Eles sabiam que era só uma questão de tempo.

Bastaria tão só aos copistas estudarem, mesmo superficialmente, um pouco da História de Angola e da própria África, para se convencerem que não era possível a criação de um bastião branco a Sul do continente africano.

Para aqueles que no passado tiveram alguma pretensão nesse sentido, recordem-se dos exemplos dos rodesianos de Ian Smith ou dos sul-africanos de John Voster ou de Pick Botha. Basta olhar para o estado caótico em que o primeiro país se encontra e no actual charco onde chafurda o segundo. Onde mora o tal bastião branco?

A única verdade existente e que mundo ocidental aceitou desde o século passado, é amplamente redutora: África para os africanos.
Mas vamos incidir o nosso olhar apenas na história de Angola para percebermos onde ela nos conduz e perceber também a posição e o estado do leuconacionalismo angolano o qual vem demonstrar que a tese proposta para a implementação de um bastião branco em África não tinha qualquer viabilidade.
Após 500 anos Diogo Cão ter aportado em território angolano, é um facto indesmentível que deixámos um país de que os angolanos se podiam orgulhar.

No entanto, esses 500 anos não representam de maneira nenhuma uma efectiva colonização. E é esta tese que tenho defendido publicamente e não vi ninguém contrariá-la com bases sustentáveis.

Mas quais cinco séculos de colonização? Esta é outra grande mentira, explorada não só em Portugal pelos partidos e políticos pantrampistas, que desconhecem a verdadeira História de Angola e que a maioria da populaça, ignorante, subserviente, encaixou.

Quando referem os 500 anos de exploração colonialista em Angola, esquecem-se que a verdadeira colonização só teve lugar a partir dos finais do século XIX e apenas nalgumas zonas litorais desse vasto território. Como falar de “cinco séculos” de colonização/exploração em que o colonizador não aparece, senão na viragem do século XIX para o século XX? Antes, existiam apenas algumas feitorias a longo da costa de África, para darem apoio aos descobrimentos, complementados por mais meia dúzia de presídios militares. Todo o interior encontrava-se abandonado. E é preciso não esquecer os anos que entretanto os holandeses governaram Luanda. Para além disso, é uma evidência que para haver colonização tinham que existir colonos e ocupação territorial.

Porque eles não dizem a verdade?

Até ao ano de 1914, a administração portuguesa estava apenas instalada em duas cidades do litoral, Luanda e Benguela. Por isso eram considerados apenas dois reinos em Angola: o reino de Luanda e o reino de Benguela, este último estendia-se à Catumbela, que durante dois séculos foi o maior entreposto comercial do reino de Benguela

No interior do território a acção reduzia-se a uma política que dependia das alianças frágeis, ambíguas, com os chefes locais. E esta cambada de pantrampistas, intelectualmente desonestos, fala de 500 anos de colonização porque são gente ignorante que não conhece o mínimo de História daquele país. Angola nunca foi o Jardim do Éden, mas foi muito pior nas outras colónias europeias. A grande diferença é que as suas metrópoles nunca reivindicaram nem cinco, nem quatro, nem três séculos de colonização, excepto o caso da África do Sul.

Até 1914, o país Ovambo no Sul era totalmente independente. A Leste, na Lunda, as terras Tshokwe, só foram ocupadas em 1920 A Norte, entre os Congo, a oposição durou até 1919, enquanto que os Dembos só foram pacificados em 1918. A verdadeira colonização só começou a partir de 1945 e a partir das terras do Sul, do Cuamato, Huíla, Humpata, etc., o resto, são tretas desses ignorantes. É preciso não esquecer também a utilização, ocupação e exploração do interior do território, pelos ingleses, holandeses, alemães durante a nossa administração.

Agora tudo, mas tudo, tem de girar à volta de tudo isso que é o enquadramento da independência. A menos que se diga de caras, como dizem alguns, que o outro tempo era melhor. Então aí a conversa é outr
É preciso que se saiba, que os brancos do antigamente, tanto colonos como filhos de colonos, desempenharam um papel de relevo no seio do fenómeno nacionalista angolano. Primeiro foi um protesto autonomista nas primeiras décadas do século XX e depois, promovendo uma corrente nacionalista própria, com os seus movimentos e organizações partidárias, com os seus presos e exilados políticos, vítimas da violência e do autoritarismo do colonialismo português.

Naquele tempo havia três correntes; a progressista, a liberal e a conservadora. A corrente progressista defendia uma independência sob o governo de maioria negra considerando o respeito do princípio de “uma cabeça, um voto”. Depois existia a liberal, que propunha uma independência conduzida por uma minoria branca mas integrando politicamente as elites mestiças e negras europeizadas, os tais chamados assimilados e propunha também a abolição das estruturas de exploração colonial, tendo como modelo o Brasil. Por último, tínhamos a corrente conservadora, que apontava para uma independência selectiva sob o domínio, ou pelo menos, a hegemonia da minoria branca e a manutenção das estruturas de exploração económica que recaíam sobre a população negra, a exemplo do que se passava ao lado na África do Sul onde existia um regime de supremacia branca.

No entanto o nacionalismo dos brancos angolanos foi rejeitado pelas elites negras e mestiças dos três movimentos de libertação, tendo assim contribuído fortemente para essa mesma rejeição a instrumentalização da ideia de raça.

Em Angola, a ideia de raça teve um papel importante no duplo processo de exclusão política do branco e de identificação do negro e do mestiço com o africano. Este processo teve as suas raízes no próprio sistema colonial português, pois durante a dominação colonial, a ideia de raça foi utilizada como elemento para se distinguirem os ditos “civilizados” dos “indígenas”. Para isso contribuiu um instrumento jurídico que foi por excelência o mecanismo mais evidente do racismo português, o chamado Estatuto do Indigenato, abolido em 61, que determinava que os brancos, só porque eram brancos, eram automaticamente considerados civilizados, enquanto os negros, e até certo ponto os mestiços, tinham de provar a sua civilização, através de testes estabelecidos pelas autoridades coloniais, e se fossem aprovados, tornar-se-iam “assimilados”. Isto porque os colonialistas portugueses entendiam que os negros, que eram 95% da população, eram à priori incivilizados, sendo por isso remetidos para a categoria de indígenas. Assim, as diferenças entre civilizados e indígenas eram enormes: os primeiros eram cidadãos portugueses, os segundos meros sujeitos colonizados, sem direitos cívicos e políticos e compelidos ao trabalho obrigatório.

Mas no movimento nacionalista angolano procedeu-se a uma inversão de posições. O negro era entendido como o homem autenticamente africano, o colonizado, enquanto o branco era considerado um elemento estranho a África, o colonialista europeu. A raça serviu assim, novamente, de elemento de distinção e de exclusão. Distinguiu os brancos dos negros e mestiços e legitimou a africanidade dos dois últimos, da qual os brancos foram quase sempre excluídos. Por outras palavras, o branco não podia ser africano porque era branco, enquanto o negro era africano só porque era negro. Assim, segundo os pensadores da época, cabia ao negro exclusivamente a missão histórica da libertação dos povos africanos. Libertação essa que em Angola foi pensada sem a participação dos brancos, como também à custa da sua expulsão.

Muitos dos que se proclamavam anti-racistas, tinham dificuldade em aceitar os brancos na luta nacionalista, como se temessem a sua concorrência numa futura nação independente.

Resumindo: foi a cristalização duma forma de racismo anti-racista ou do racismo dos anti-racistas. Aliás, isso já tinha sido bastante notório quando em finais dos anos 50, o Cadima, o Manuel Dores, mais um operário português, criaram no Huambo a primeira célula do Partido Comunista Angolano. Eram todos os quatro “branquinhos” da Silva. Um engenheiro, dois doutores e um operário. Claro que não durou muito tempo, porque os mentores europeus dos partidos comunistas não queriam brancos nos PC africanos. Inclusive, o Partido Comunista Português que até era o seu mentor, só reconheceu os direitos dos povos colonizados à independência apenas em 1957. Até aí, os comunistas sempre defenderam a política colonial de Salazar.

Os tipos defendiam o princípio de que os nacionalistas tinham de ser todos negros ou árabes. Mais tarde quando estavam no exílio em Paris, aquele grupo já organizado como FUA, tirando uma jovem mulata, era constituído por brancos, o que causava grande confusão aos comunistas franceses que davam apoio à sua rede, pois tal como já acontecera com os comunistas portugueses, também pensavam que os comunistas angolanos só podiam mesmo ser negros. Por essa razão nos seus apoiantes começavam a criar-se dúvidas o facto desse grupo ser todo constituído por brancos. Mas eles conseguiram demonstrar que não eram um grupo de ignorantes políticos, mas sim pessoas honestas, obstinados, sacrificados e bem organizados, pois já dispunham de uma rede clandestina de ligações muito eficazes com Portugal e Angola, Assim não convinha à rede francesa cortar o seu apoio, pelo menos enquanto não conseguissem entrar no esquemas destas ligações.

Faziam parte desse grupo, Ernesto Lara Filho, Avidago, Mário Nobre João, Maria do Céu Carmo Reis, Artur Pestana (Pepetela), Adelino Torres, Sócrates Dáskalos, João Mendes, Adolfo Maria, entre outros.
Durante o processo de transição para a independência, as elites brancas, foram as primeiras a ficarem de fora da corrida pelo poder, pois eram a que menos argumentos nacionalistas podiam apresentar no quadro da luta pela independência. Os brancos, após reduzidos ao seu significado étnico, foram publicamente apresentados como os principais agentes e beneficiários da exploração colonial portuguesa, retomando-se argumentos anteriormente avançados durante o genocídio no Norte de Angola em 1961. Convém não esquecer que nós brancos totalizávamos apenas 4% da população angolana e existiam apenas cerca de 1% de mestiços.

No último censo devidamente organizado com pés e cabeça, feito em 1970, a minoria branca angolana totalizava apenas 290.000 pessoas ou seja, 5,1% efectivos numa população total de 5.673.050 habitantes. Mas se verificarmos, antes disso éramos muito, mas mesmo muito menos: em 1930 - 30.000 brancos; em 1940 - 44.083 pessoas brancas; em 1950 - 78.826 e em 1960 - 172.529 brancos, crescendo nesta década fruto do conflito de 61 e da abertura que o mesmo obrigou e gerou.

Politicamente estávamos limitados e quase não se reconhecendo na nossa própria nacionalidade, nós, brancos angolanos, servimos de bode expiatório, quer aos anos de exploração colonial portuguesa, quer às limitações e desinteligências do nacionalismo angolano. Face a isto, tornam-se menos obscuras as causas do êxodo dos brancos angolanos, durante o período de transição para a independência do país. Ou já se esqueceram do velho deitado: quem tem cu tem medo?
O colonialismo português tinha uma originalidade que era ser mais centralizado e arcaico de todos, de tal modo que os próprios brancos angolanos se encontravam totalmente subjugados aos interesses de Lisboa e, em especial, aos interesses da burguesia portuguesa, que além de ser atrasada, vivia parasitariamente do sistema colonialAo contrário do que acontecia noutras colónias europeias, os brancos em Angola nunca dispuseram de influência efectiva sobre a colónia pois a governação estava solidamente nas mãos dos ministros de Lisboa, devendo nós em Angola, obedecer cegamente e integralmente às ordens que vinham do Terreiro do Paço. E essas ordens foram sempre contrárias aos interesses dos angolanos e frequentemente aos dos próprios brancos metropolitanos instalados na colónia. E isso traduzia-se em leis e práticas administrativas e económicas. Por exemplo, o branco natural de Angola não tinha o direito de passar do posto de capitão no exército e não tinha o direito também de desempenhar os mais altos cargos na administração pública e nem sequer tinha direito a licença graciosa como os restantes brancos. Os brancos de Angola eram preteridos nos empregos a favor dos brancos metropolitanos, sendo mesmo relegados para uma posição não muito diferente da compartilhada pelos mestiços. Existia mesmo uma descriminação no trabalho, na escola e na vida social e cultural. Aliás, nós filhos daquela terra, tínhamos plena consciência que tanto o governo português como uma grande parte da malta da metrópole, nos consideravam como “brancos de segunda”.


Oficialmente até éramos considerados como euro-africanos. Por outro lado, temos que considerar que a comunidade branca angolana, socialmente estava bem dividida, geograficamente muito dispersa e além do mais, mais ou menos fracturada. E essa fractura era bem acentuada entre os brancos naturais, já angolanizados, e os indivíduos recém-chegados do continente.

De facto, até 1961, a gula do governo português e de uma meia dúzia de famílias poderosas seus aliados foram insaciáveis. Eles levavam dali pelos preços mais irrisórios que entendiam pagar, tudo o que Angola produzia de bom. Em sentido contrário, os tipos enviavam toda a trampa da sua arcaica produção industrial e agrícola. E isso motivou tensões entre a nossa burguesia e a portuguesa. Habilmente, os tipos submeteram o nosso mercado de exportação a uma escassa meia dúzia de famílias poderosas que a exploraram até ao tutano com o alto patrocínio dos próprios governantes, muitos deles com interesses nesses mesmos grupos financeiros. O governo português até 1961 nunca permitiu que Angola progredisse. Proibiu-nos sempre de lançarmo-nos livremente no caminho da industrialização. Para além do facto de todo dinheiro gerado pela riqueza ali foi produzida, que seria lógico e legítimo que ali ficasse para beneficiar quem a produzia, esse dinheiro era todo transferido para os cofres dessa meia dúzia de grandes famílias e para o Banco de Portugal.

A vida naquele tempo era de facto uma puta muito explorada que dava muito dinheiro aos seus “chulos”. Disso, não tenho a mínima dúvida!

Por exemplo: eles deviam contar, a nós que somos "ignorantes", como é que o Banco de Portugal em princípios dos anos 70 possuía a maiores reserva de ouro do mundo, (700 Ton.) só ultrapassado pelos EUA. Onde é que foram buscar todo aquele ouro? Falam muito em transparência, mas essa não contam eles, que esse bagulho todo resultou do aproveitamento de escravos moçambicanos que aos milhares foram trabalhar nas minas sul-africanas. E já agora que falamos em poderosas famílias, são essas quase sempre as mesmas que hoje continuam a ter o poder financeiro, tanto lá, como cá e, estão a voltar para Angola, em peso, agora com investimentos de outra ordem. É vê-los!

Angola sempre foi uma árvore das patacas, explorada por esses capitalistas de sempre que só levavam e nada traziam. Hoje lixam-se, começam por entrar com as massas, depois passam a ficar com fifty-fifty ou com a maioria do capital, depois numa segunda fase, passam a minoritários e um dia destes se não se põem a pau ficam a olhar para o ar e tornam a levar com um pontapé no mataco. A verdade é que já existem alguns exemplos desses.
Voltemos então novamente à História do passado. É isso que aqui interessa.
Os nacionalistas brancos sempre tiveram pouco peso dentro do nacionalismo angolano. Por outro lado, a acção desses brancos recebia mais hostilidade e indiferença do que simpatia, da maior parte dos membros da população branca.

Apesar desse pouco peso dos brancos, temos que acabar com esse mito de que o nacionalismo angolano foi apenas resultante da acção da maioria negra. Claro, hoje contrariar essa tese não é conveniente nem é politicamente correcto. Disso estou bem ciente. Mas não podemos esquecer o nacionalismo dos brancos e também dos mestiços, filhos dos colonos. Por isso deixem de continuar a manipular a História para tentarem justificar a legitimidade de uns e a qualidade da acção nacionalista de outros. Os brancos angolanos foram os primeiros a contribuir para a criação de uma identidade nacional angolana. A construção de uma cultura nacional e a consciencialização política de muitos nacionalistas negros e mestiços foi a maior herança que nós, apenas uma minoria de brancos angolanos, deixámos em Angola. Essa questão do nacionalismo dos angolanos brancos é propositadamente de há muito ignorada pelos historiadores e políticos, tanto angolanos como portugueses. Mas tal não aconteceu por parte de historiadores estrangeiros consagrados, tais como Jonh Marcum, Thomas Okuma, Douglas Wheelen ou do mais conhecido, o francês René Pélissier, que teve a experiência de conhecer a realidade angolana pois andou por lá, no terreno, nos anos 60 e 70.
Existe um velho provérbio que diz tudo: a História é feita pelos vencedores, comprovado com a ideia mais comum de que o nacionalismo angolano se resume à velha história das lutas de negros contra brancos. É do mais falso que existe. Só mesmo de ignorantes, esquecendo-se deliberadamente do fenómeno nacionalista dos africanos brancos.
É um facto histórico, na constituição do nacionalismo angolano, que foram os brancos os primeiros a manifestarem-se contra Portugal, com o objectivo de obterem, primeiro a autonomia e depois a independência. Por exemplo, em Benguela em 1823 foi criada a chamada "Confederação Brasílica", cujo objectivo mais que transparente era conseguir a independência de Angola no quadro de uma relação federal com o Brasil, que tinha ascendido à sua independência em 7 de Setembro de 1922, o que poria termo dos dois lados do Atlântico à dominação da burguesia portuguesa da Europa. O apoio que foi dado aos independentistas brasileiros conheceu em Benguela, com o contributo importante da Maçonaria, a forma de revolta aberta contra o domínio português, a qual só foi debelada com o envio e ocupação da cidade por três companhias militares de infantaria, enviadas propositadamente de Portugal.
Mais tarde, em 1891 foi encenado um golpe de estado militar também em Benguela que terá falhado, sobretudo, devido a uma burguesia demasiado frágil. A constituição de lojas maçónicas, a militância nos ideais republicanos, assim como a promoção de uma imprensa de brancos radicais, foram instrumentos utilizados por uma burguesia angolana principalmente de Benguela, Catumbela, Huila e Moçâmedes. Foi nestas regiões onde despertou o autonomismo e nacionalismo branco e se desenvolveu um conjunto de protestos e reivindicações económicas suportado pelas lojas maçónicas ali existentes. A maçonaria angolana tradicionalmente identificada como uma organização secreta denominada pelo termo ovibundu, Kuribeka, o que só por si já representou um elemento de diferenciação e de autonomia em relação a Portugal. ( Kuribeka significa “apresentar-se”; oferecer-se”; vir sem ser chamado ).
A Kuribeka era um importante grupo de poder como instituição organizada, a maçonaria , e existia em Angola pelo menos desde 1860. Tinha apenas “lojas” em Benguela, Catumbela e Moçâmedes. Por via disso, em Janeiro de 1906 foi criada na Catumbela a Associação Beneficente dos Empregados do Comércio, cujos membros pertenciam todos à loja maçónica local, assim como todos os membros que nesse mesmo ano fundaram a Associação Comercial de Benguela. Foram instituições económicas das mais importantes em Angola em todo o período colonial, tendo tomado posições muito polémicas, em momentos cruciais da vida política angolana.

Em Dezembro de 1906 foi fundada na Catumbela o Grémio Pró-Pátria, loja maçónica de inspiração republicana e autonomista que perdurou até finais dos anos sessenta. Não esqueçamos que Benguela e, na altura, o concelho da Catumbela, foram dos três municípios angolanos (o outro foi o de Novo Redondo), em que o Partido Republicano ganhou as eleições autárquicas em 1906.



Em 1918/1920 houve um enorme e violento protesto organizado em Benguela, no qual se incluiu o bloqueio de estradas, destruição de pontes e uma greve de trabalhadores que teve forte impacto na economia. A partir de 1923, as manifestações e protestos conheceram uma violência invulgar, inclusive, uma greve de trabalhadores do Caminho-de-Ferro no Lobito teve de ser dominada pelos militares e em 1926 outra greve de trabalhadores brancos paralisou a economia de todo o território. Em resultado disso, nasceu em Benguela e com filial na Catumbela, a UDA – União dos Defensores de Angola. Fica assim demonstrado a importância da corrente autonomista que segundo o historiador René Pélissier, terá assumido laivos de separatismo nos finais da 1ª República, quando a actividade económica está semi-paralisada e quando a crise financeira atinge o ponto mais alto. Foi um grupo de elementos da UDA, que olhos nos olhos, deixaram bem claro ao presidente Carmona aquando da sua vista em 1938, que “Angola não pode continuar a ser uma quinta de luxo, gerida à distância, a bel-prazer de quem desconhece as suas ansiedades”.
Já em 1940 apareceu um movimento em Angola com o fim de promover a emancipação da colónia. Chamou-se OSA, ou seja, Organização Socialista de Angola. De que foi secretário-geral Sócrates Dáskalos, figura que se vem a destacar na oposição angolana.

Foi esse o maior despertar que levou a juventude angolana a um profundo anseio pela liberdade. A OSA teve uma vida muito breve, pois foi violentamente suprimida através de uma vaga de prisões e de deportações, feita pela Polícia de Segurança Pública, o que levou toda uma geração de nacionalistas angolanos à primeira fase do protesto dos brancos angolanos. Nessa altura ainda não existia a PIDE em Angola. (nem bufos informadores, nem legionários e seus quejandos. A PIDE só se instala em Angola em 1957). Assim, foi graças a esse sentimento de revolta que resultou a ideia da criação da FUA - Frente para Unidade dos Angolanos. Apesar disso, a OSA foi uma vitória política dos angolanos brancos face ao despotismo do governo português, tendo sido um movimento percursor do nacionalismo branco angolano no Centro e Sul de Angola

A OSA tinha objectivos bem precisos e o principal era de por qualquer meio, alcançar a independência de Angola. A expansão da OSA foi facilitada pelo descontentamento que começou a alastrar-se entre a juventude, filhos de europeus, nados e criados ali, que sofriam restrições impostas por Lisboa. Por exemplo, antes de 61 nenhum de nós podia ser oficial do exército ou ter a veleidade de ascender a cargos importantes na administração pública. Embora não existissem leis escritas, existia uma enorme barreira invisível a marcar a nossa exclusão. Éramos tratados como portugueses e brancos de 2ª, euro-africanos, colonizados, ainda que não fossemos tão descriminados como a população negra.

Em 1943 quando estudavam em Lisboa foi fundada, por iniciativa do Sócrates Dáskalos e do Fernando Falcão e outros mais, (acima referidos) a CEA – Casa dos Estudantes de Angola, mas só após 1948 surgem os primeiros africanos negros na CEA bem como um número relevante de mestiços. É aí que se vê surgir pela primeira vez um negro, o Agostinho Neto e dois mestiços, o Mário Pinto de Andrade e o Lúcio Lara. Estes dois últimos como não conseguiram dominar a CEA, acabaram por criar organizações paralelas como por exemplo o Centro de Estudos Africanos, que durou pouco tempo após Mário Pinto de Andrade partir para Paris em 1954.
Até que chegamos à década de 60.

Em Maio desse ano, no Lobito e em Sá da Bandeira, o Américo de Carvalho, o Aires de Almeida Santos e o João Mendes presidiram à formação da Frente Unida de Libertação de Angola – FULA que deu em nada. Então em Janeiro de 1961, Sócrates Dáskalos, o Luis Portocarrero, o Fernando Falcão, o Carlos Costa e o Manuel Farinha, meteram-se num carro e segundo eles, tomaram a picada que ligava a estrada de saída para a Catumbela ao aeroporto. (contado por Sócrates Dáskalos no seu livro “Um Testemunho para a História de Angola do Huambo ao Huambo” / editora Vega / 2000”: «Foi ali, numa tarde que apresentava um lindo pôr de sol que demos à luz a FUA, Frente de Unidade Angolana, que veio a tornar-se num movimento político bastante importante».

Chegaram a publicar um jornal com o título de Kovaso, que em língua umbundu significava Avante.

Em Angola sempre foi diferente a situação a Sul, particularmente em Benguela, onde Sócrates e tipos como o Portocarrero, o Farinha, o Mira Dores e o Falcão, encontraram uma mínima margem de manobra para actuarem.


Só após os acontecimentos do Norte em 61, a FUA, entrou em contacto com membros da Sociedade Cultural e com alguns elementos da burguesia liberal de Luanda, chegando a realizarem-se reuniões com eles em Abril de 61. A FUA procurava apoios em Luanda, a fim de acabar com a repressão colonial e apresentar uma solução ao Governador-Geral para o problema imediato da guerra.

No Sul, estavam organizados e acalentavam a ideia da independência de Angola que fosse precedida de um período de transição, na qual gozaríamos do estatuto de autonomia. Já em Luanda, não existia uma organização da burguesia branca pronta a actuar. Nem em Luanda e muito menos nos outros centros populacionais. Somente nos já citados: Benguela Catumbela, Huíla, Moçamedes e acrescente-se, Nova Lisboa. Para agravar a situação, os liberais luandenses consideravam que só uma pequena parte da população angolana é que contava, isto é, os brancos, os mestiços e uma minoria de negros já considerados assimilados. Era no fundo, a continuação da política existente.
No entanto, houve membros da burguesia de Angola que pareciam ter compreendido a mudança dos tempos. Um deles, o grande industrial Manuel Vinhas, em 1961, fez uma viagem de Lisboa a Luanda passando por Leopoldville. Ali, procurou contactar pessoal nacionalista, nomeadamente o MPLA. Parece que sem êxito, pois nessa altura ainda esse partido era um pouco incipiente. No regresso, quando chegou ao aeroporto de Luanda, o senhor Manuel Vinhas foi preso e interrogado pela PIDE durante várias horas antes de ser posto em liberdade.

Na época, o MPLA era quase emblemático, ou mesmo inexistente. Essa a razão , técnicamente sustentável, porque se pode afirmar que a ligação do MPLA aos acontecimentos do 4 de Fevereiro em Luanda não é verdadeira. Segundo o testemunho do companheiro de Neto no exílio, Adolfo Maria, no livro “Angola No Percurso de Um Nacionalista – Edições Afrontamento / 2006 ou também como escreve Iko Carreira no seu livro “O Pensamento Estratégico de Agostinho Neto / publicações D. Quixote / 1996, a sua formação como movimento nacionalista tinha acabado de se dar em 1960 durante a 2ª Conferência Pan-Africana de Tunis. O 4 de Fevereiro não foi mais que um golpe de nacionalistas desesperados, comandados por um antigo membro do Conselho Legislativo de Angola, o velho cónego Manuel das Neves. Apenas isso! Tudo o resto foi oportunismo político.
Continuando: após o genocídio de Março e Abril provocado pelos Bacongos da UPA o terror instalou-se nos muceques da capital quando centenas de brancos num acto de vingança, invadiram os bairros populares, matando indiscriminadamente todos os “suspeitos” que encontravam pela frente. O caos e o medo instalaram-se em todo o Norte e as autoridades portuguesas foram incapazes de parar os tipos da UPA e reporem a ordem pública.

A FUA, em Benguela, na Catumbela e no Lobito, organizaram-se e comandaram milícias compostas por negros, brancos e mestiços com a finalidade de impedir a repetição dos massacres da capital. Foi graças a essa organização paramilitar que conseguiram controlar a situação, pois no distrito as forças policiais da PSP eram bastante exíguas. Foi logo nessa altura, finais de Abril, que resolveram lançar o Manifesto Político dirigido à população de Angola, onde apelavam ao seu apoio para a causa da emancipação, para a imediata autonomia de Angola, o direito dessa mesma população dispor do seu próprio destino. Esse Manifesto foi recebido pela população com grande entusiasmo, resultando logo daí num abaixo-assinado subscrito por mais de seis mil e quinhentas pessoas. Este abaixo-assinado foi logo aproveitado para ser dirigido ao Ministro do Ultramar a pedir a autodeterminação.

Mas acontece que as elites brancas de Luanda, recusaram reconhecer o princípio de independência sob o governo da maioria, recusando mesmo colaborar com a FUA. Concluindo: apenas no Centro e o Sul existia um protesto nacionalista branco. Perante esta situação, a dimensão e a força das actividades nacionalistas entre a população branca a Sul, o governo de Lisboa enviou a Benguela o Adriano Moreira, que tinha sido empossado recentemente como Ministro do Ultramar, sendo ele nessa altura um acérrimo defensor do luso-tropicalismo.

Houve uma reunião com o dito ministro em Benguela, que antes foi precedida de uma gigantesca manifestação de trabalhadores negros, brancos e mestiços frente ao palácio do Governador, convocada pela FUA através do Rádio Clube de Benguela. Nessa reunião o ministro Adriano Moreira ouviu atentamente os dirigentes da FUA, concordando várias vezes gestualmente com a cabeça e no final pediu-lhes que elaborassem um documento em pormenor em que se debatessem os objectivos a atingir e os meios que julgassem necessários para esse fim, que o entregaria depois a Salazar. Esse documento foi de imediato preparado e foi-lhe entregue no jantar que o obsequiavam nessa mesma noite na Associação Comercial de Benguela

Só que a sua simpatia durante a reunião e o constante gesticular da sua cabeça em sinal de concordância com o que ali foi exposto, foi um enorme engodo. Passados poucos dias, chegou a Benguela um contingente militar que ocupou logo os pontos estratégicos necessários ao controlo e domínio da cidade, se necessário fosse. Depois em princípios de Junho de 61 foi a vez da PIDE entrar em acção, lançando uma vasta operação que resultou na prisão de quase todos os dirigentes da FUA.

A fúria da repressão salazarista abateu-se como uma bomba sobre toda a FUA, tanto em Benguela, como na Catumbela e no Lobito. Incapazes de se organizarem em tão pouco tempo, politica e militarmente contra as forças colonialistas, adicionado ao facto da existência de traição duma minoria da população de Luanda que preferiu a ilusória segurança de um regime colonial, reaccionário e antidemocrático, levou a FUA a desmoronar-se rapidamente.
A PIDE continuou a fazer prisões em massa. No Sul foram presos e deportados para Portugal vários membros da FUA: o João Mendes, o Fernando Falcão, o Carlos Morais, o Adolfo Maria, o Luis Portocarrero, o poeta Aires de Almeida Santos entre muitos e muitos outros. Outros fugiram para o exterior e foram-se juntar ao pessoal que já se encontrava em Argel, cidade onde se começaram a levantar problemas de racismo por parte de uns quantos negros, segundo Sócrates.

Logo de seguida a Ditadura fascista, acirrou a legislação racista e a separação entre brancos, negros e mestiços com o objectivo de sempre: dividir para reinar, evitando assim qualquer aliança política entre as três comunidades. E o genocídio cometido pela UPA em 61, contribuiu ainda mais para afastamento de muitos brancos da causa nacionalista porque chegaram à conclusão, logo naquela altura, que não tinham lugar numa Angola governada por uma maioria negra. E isso ficou provado em 1975 com o êxodo dos brancos antes da data da independência. Foi principalmente esse o motivo: o medo e a incerteza, que nos levou (a maioria) a abandonar o país.
Em 1961, já existiam no seio do MPLA problemas do foro racial chegando ao ponto de Viriato da Cruz, ter proposto que a direcção fosse composta exclusivamente por negros, afim de dar credibilidade internacional ao movimento na sua luta política e diplomática, contra a UPA de Holden Roberto, enquanto os mestiços deveriam permanecer na retaguarda dessa direcção. Isso gerou mesmo um enorme mal-estar entre eles.

O aparecimento em Paris de brancos de Angola, refugiados políticos, exercendo actividades em prol do nacionalismo angolano, causou perturbações em vários meios. Para os sectores políticos e humanitários franceses ligados ao apoio a movimentos anti colonialistas, foi grande a novidade da existência de brancos nacionalistas em Angola. Só conheciam nacionalistas negros e era assim que concebiam África.

De facto, a presença de brancos no nacionalismo angolano era então uma surpresa nos meios intelectuais e políticos europeus. Mas foi uma surpresa positiva, à medida que se aprofundavam os contactos com os brancos no exílio, pois verificaram que eles tinham uma total identificação com o nacionalismo progressista negro. Naquela altura, 1961, o branco ou mesmo o mestiço, não podiam continuar a sua luta política a não ser aderindo à FUA, pois era impossível um branco ou mestiço serem militantes do MPLA.

A FUA nunca foi um entrave para o MPLA, antes pelo contrário, foi um apoio seguro. E isso provou-se durante todo o exílio, pois após a repressão, todos os elementos activos da FUA acabaram por se identificar com o MPLA que, na época, era quase só emblemático. Assim a decisão de ir para Argel foi motivado quer pelos contactos que a FUA mantinha com as organizações nacionalistas e progressistas das colónias portuguesas, quer pelo simbolismo da própria cidade, a qual era considerada a “capital” da Revolução Africana.

Certamente que o governo argelino não os teria acolhido se o MPLA se opusesse à sua ida. Quando chegaram a Argel, era delegado do MPLA o doutor Eduardo dos Santos, não este actual presidente, mas sim um grande intelectual, que logo se mostrou preocupado com a possibilidade da imagem do MPLA ser afectada se existissem relações estreitas com membros da FUA, tendo dado indicação para esses militantes serem discretos.

Mas a FUA durou pouco tempo. A FUA saiu moribunda da reunião de Blida na Argélia em Agosto de 1963, embora a sua dissolução só ocorresse oficialmente em 1964, pela mão de João Mendes, mantendo-se algumas células adormecidas, como o caso do Lobito. Ali no Lobito, voltou a renascer já em 1974, após a revolução em Portugal, mas pareceu-me terem acordado tarde para denunciarem a traição que envolveu o processo de descolonização, que eram confirmadas pelas falsas declarações dos principais responsáveis quanto à participação de outras forças políticas. Só em princípio de Dezembro de 1974, o Fernando Falcão tomou consciência do logro em que tinha caído, com as falsas promessas de Rosa Coutinho, do Pezarat Correia e do Melo Antunes.
Falcão agora reside em Portugal (ainda quarta-feira passei ao lado da sua quinta perto de Setúbal). Falcão foi o verdadeiro líder da FUA. O verdadeiro motor. Foi um homem flexível, um reformista, mas não um revolucionário. Assegurou as ligações do movimento com as actividades económicas quando pensámos no movimento como plataforma para a independência multirracial de Angola.

De referir Mário Soares que, mesmo antes do enunciado dos princípios que deviam presidir a descolonização de Angola pela Junta de Salvação Nacional, já afirmava que os únicos e legítimos representantes das suas populações eram os movimentos de libertação. Foi essa a razão. Como o cozido à “portuguesa” já estava há muito mais que cozinhado, que em finais de Janeiro de 1975 a FUA emitiu um comunicado a informar que iam suspender toda a sua actividade política, decorrente da marginalização a que tinham sido votados em todas as negociações para a independência de Angola. Todos esses grandes homens que desde 1961 lutaram ao lado do MPLA, no exílio tiveram esse castigo, embora alguns voltassem a Angola e desmpenharam lugares de destraque. Agostinho Neto pelos menos não se esqueceu desses companheiros de exílio.
Depois daquela infâmia, aqueles energúmenos irresponsáveis viraram-nos as costas. De Lisboa, nem Presidente da República, nem Governo, nem Comissão Nacional de Descolonização nem Conselho da Revolução, nem Mário Soares, nem Rosa Coutinho, nem Pezarat Correia, nem toda a sua escumalha de acólitos, tiveram a coragem de se fazerem representar no arrear da Bandeira no dia da Independência de Angola. Ninguém assumiu. Os magnatas, traidores, cobardes, gasoseiros, chulos, parasitas políticos, fugiram todos. Nem um só esteve presente. Após criarem o monstro, foi aquela a solução encontrada pela grande maioria dos seus promotores. Muitas vezes pus-me a magicar com os meus botões o que pensariam eles naquele momento, quais os sentimentos que mantiveram afastados aquela escumalha daquele momento tão grande para Angola e para o seu povo? Era simplesmente o remorso, a vergonha, o medo, a cobardia e o sentimento de traição! Isto tudo e muito mais. São verdades que a História e o Tempo vão dando a conhecer aos dois povos irmãos: angolanos e portugueses. Da parte dos socialistas e dos comunistas, nunca houve qualquer preocupação com os povos ultramarinos, fossem eles, brancos, negros ou mestiços. As lamentações hipócritas desses políticos, não têm outro objectivo do que dissimular o verdadeiro carácter de maquinação mundial cuja cobertura ideológica serviam e asseguravam. E o povo angolano? Ao povo angolano apenas haviam prometido a independência a 11 de Novembro de 1975. A felicidade ou tragédia não faziam parte dos seus compromissos. Essa corja de traidores, ficaram com a “consciência bastante tranquila” podendo assim continuarem a passearem-se pelo mundo, amealhando fortunas de duvidosa origem, sempre com um sorriso imbecil nos lábios, com que marcaram o seu gigantesco crime, que depois resultou num crime ainda maior que foram os vinte cinco anos de guerra e o genocídio do povo angolano. Uma luta feroz entre irmãos do mesmo país. Foi um absurdo incompreensível.

Na minha óptica!... Evidentemente.


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