MAKÈZÚ
— «Kuakié!... Makèzú, Makèzú...»
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O pregão da avó Ximinha
É mesmo como os seus panos,
Já não tem a cor berrante
Que tinha nos outros anos.
Avó Xima está velhinha
Mas de manhã, manhãzinha,
Pede licença ao reumático
E num passo nada prático
Rasga estradinhas na areia...
Lá vai para um cajueiro
Que se levanta altaneiro
No cruzeiro dos caminhos
Das gentes que vão p'ra Baixa.
Nem criados, nem pedreiros
Nem alegres lavadeiras
Dessa nova geração
Das «venidas de alcatrão»
Ouvem o fraco pregão
Da velhinha quintadeira.
— «Kuakié!... Makèzu, Makèzu...»
— «Antão, véia, hoje nada?»
— «Nada, mano Filisberto...
Hoje os tempo tá mudado...»
— «Mas tá passá gente perto...
Como é aqui tás fazendo isso?»
— «Não sabe?! Todo esse povo
Pegô um costume novo
Qui diz qué civrização:
Come só pão com chouriço
Ou toma café com pão...
E diz ainda pru cima,
(Hum... mbundo kène muxima...)
Qui o nosso bom makèzú
É pra véios como tu».
— «Eles não sabe o que diz...
Pru qué qui vivi filiz
E tem cem ano eu e tu?»
— «É pruquê nossas raiz
Tem força de makèzú!...»
in Poemas,
Colecção Autores Ultramarinos,
Casa dos Estudantes do Império, Lisboa, 1961
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