terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Angola colonial: A igreja na luta pela instrução e a independência

 

Foto/Angop
<b>O músico, compositor e poeta Filipe Zau</b>
Filipe Zau |* - 29 de Março, 2011
Quando a administração colonial, após o início da luta armada em Angola, pôs fim à Lei do Indigenato, incrementou a rede de escolas públicas e procurou aumentar o número de professores, alterou de forma significativa o índice de escolarização na colónia, sem que essa evolução positiva tivesse satisfeito as necessidades de aprendizagem da maioria da população angolana, nomeadamente, em áreas rurais.
Entre 1964 e 1969, formavam-se, em média por ano, nas escolas do magistério existentes, cerca de cem professores primários, o que era manifestamente insuficiente.
Em 1973, o número de alunos, em todo o ensino primário, correspondia a 512.942, um terço dos quais portugueses. Apesar do enorme esforço levado a cabo pela administração colonial, de um momento para o outro tornava-se impossível recuperar o tempo perdido. Para além disso, os sistemas educativos são incapazes de dar respostas imediatas e eficientes às expectativas políticas de curto prazo. A formação de professores e gestores educacionais de qualidade é sempre demorada e, como refere António Nóvoa, “não há ensino de qualidade, nem reforma educativa, nem inovação pedagógica, sem uma adequada formação de professores”.

Um ensino religioso

Salvo as iniciativas levadas a cabo pelo manicongo Mvemba-a-Nzinga de formar núcleos escolares no reino do Congo, em Angola não havia uma tradição de ensino sistematizado e o número de pessoas cultas ou que desejavam cultivar-se era ínfimo. A maior parte dos portugueses residentes em Angola passava os anos a amealhar um pecúlio que lhes permitisse viver desafogadamente na metrópole, de onde, muitas vezes, não saíam as mulheres, nem os filhos.
No início do século XIX, as missões encontravam-se em franca decadência, sendo, em 1834, extintas as ordens religiosas. Por essa altura, em Luanda, só havia um padre capuchinho e um carmelita.
Antes da primeira metade do século XIX, o ensino estava entregue aos jesuítas e o esforço para estabelecer o ensino público foi infrutífero. De recordar que, pela Lei de 3 de Setembro de 1759, o marquês de Pombal mandou extinguir a Companhia de Jesus, o que colocava, desde logo, os ensinos primário, industrial e agrícola sem mestres e ao abandono. O decreto de 15 de Dezembro de 1856 abriu novas oportunidades aos sacerdotes europeus para paroquiar nas igrejas de Angola e Moçambique, proporcionando, entre outras regalias, passagens, ajudas de custo, aumento de gratificações e um excedente para o serviço de ensino.
No dia 7 de Abril de 1857, o Conselho Ultramarino, que havia incluído o apostolado missionário nas suas actividades, abriu concurso para o provimento das diferentes igrejas de Angola. Os párocos serviam durante oito anos, eram colocados em freguesias do litoral e do sertão angolano e, cumulativamente, exerciam o ensino primário.
Em resultado deste concurso chegaram a Angola, em 1858, os primeiros oito párocos europeus para serem colocados nas paróquias do Bembe, S. José do Ambriz (cuja ocupação militar se havia confirmado, apenas, em Maio de 1855), Huíla e Cassange, nas freguesias de S. João Baptista de Gazengo, Santo Hilarião do Golungo Alto, Benguela e Pungo Andongo. No novo concelho de Malange foi colocado um cónego africano, de nome Necessidades, que ali veio a falecer em Junho seguinte.
No dia 14 de Abril de 1861, tomou posse da Diocese de Angola o Bispo D. Manuel de Santa Rita Barros, que desembarcou em Luanda, no dia 2 de Setembro, trazendo consigo párocos, cónegos, professores e 12 ordinandos, uns do Seminário Patriarcal e outros do Seminário de Cernache do Bonjardim, com destino à frequência do Seminário Diocesano, que, nos princípios de Novembro, abriu no Edifício do Paço, antigo Colégio de Jesus. Em relatório apresentado pelo padre José Maria Antunes, em 1 de Dezembro de 1894, levado ao exame da Junta Geral das Missões, estas deviam distanciar entre si, em média um grau no sentido ocidente-oriente e dois graus no sentido norte-sul.
Havia, à época, ainda segundo Martins dos Santos, quatro centros de missões já solidamente estabelecidos: Malange e Caconda, desde 1890, Cassinga (1886), e Huíla (1881). Malange era a missão central e dali irradiaram os missionários para fundarem as missões do Libolo (1893), Mussuco (1900), Bângalas (1913), Cacuso (1925), Minungo (1929), Saurimo (1930), Mussolo (1937), Salazar (Ndalatando) (1937), Dembos (1938), Dundo (1940), Cazanga (1941), Lombe (1946), Chiengue (1950) e Quibala (1951).
De Caconda irradiaram para estabelecer as missões de Cachingues (1892), Bailundo (1894), Vila da Ponte (1894), Huambo (1910), Sambo (1912), Cúchi (1912), Galangue (1922), Mupa (1923), Ganda (1927), Omupanda (1928), Bimbe (1929), Quipeio (1933), Balombo (1933), Andulo (1933), Silva Porto (Cuito) (1934), Nova Lisboa (Huambo) (1935); Caála (1935), Nova Sintra (1936), Entre-Rios (1939), Cuamato (1940), Caiundo (1940), Vila Junqueiro (1940), Baixo Cubango (1940), Chinguar (1942), Canhe (1942), Mungo (1948), Bela Vista (1948), Bundas (1950) e Nharea (1950).
Da Huíla, as missões do Jau (1889), Chivinguiro (1892), Quihita (1894), Gambos (1897), Munhino (1898), Chipelongo (1902), Vimania (1902), Chiúlo (1916), Sá da Bandeira (Lubango) (1935) e Quilengues (1938).  De Lândana, as missões de Cabinda (1891), Luáli (1890-1892), Lucula (1893), Lunuango (1902), Maiombe (1922), Santo António do Zaire (1930) e Ambrizete-Tomboco (1935).
Em 1901, destacavam-se os padres do Espírito Santo, que tinham a seu cargo, na então colónia de Angola, as missões seguintes: Lândana, Cabinda, Luáli, e Lucula, no distrito do Congo. Luanda e Libolo, no distrito de Luanda. Malange, Canâmboa e Mussuco, no distrito da Lunda. Caconda, Bailundo, Bié, Catoco, Cassinga e Massaca, no distrito de Benguela. Huíla, Munhino, Chivinguiro, Jau, Quihita, Gambos, Cubal e Cuanhama, no distrito de Moçâmedes.

O clero nativo

Afirma também Martins dos Santos, que as tentativas para remediar o défice de missionários com a ordenação de um maior número de sacerdotes africanos, acabaram por não corresponder às expectativas, uma vez que eram considerados incapazes de exercer a influência necessária junto dos seus compatriotas. “Estes viam-nos com certa desconfiança, considerando que fossem mandatários servis dos brancos, membros renegados e degenerados da sua raça ou da sua tribo”. Os europeus não aceitavam a orientação religiosa dos padres nativos, consequentemente, os seus ensinamentos eram menosprezados.
De facto, a preparação eclesiástica do clero nativo era deficiente, já que as aulas e os próprios cursos não funcionavam com regularidade, uma vez que não existia seminário. Chegou-se a acusar o bispo de ordenar padres que liam mal e compreendiam o latim litúrgico com dificuldade. Os sacerdotes africanos eram pura e simplesmente considerados analfabetos, o que os fazia sentir diminuídos face aos seus colegas europeus. Estes, por sua vez, não se mostravam razoáveis e compreensíveis. Bem pelo contrário, acentuavam mais as diferenças que os separavam dos sacerdotes africanos que sentiam ainda a dificuldade de se divorciar dos seus hábitos e costumes culturais, alguns deles, incompatíveis, na altura, com a forma de estar exigida pela Igreja Católica. Como Angola não possuía condições que permitissem a preparação intelectual e religiosa dos candidatos ao sacerdócio, procurou-se ultrapassar este obstáculo enviando jovens seminaristas para a Europa e Brasil.
O decreto de 23 de Julho de 1853 criou o Seminário Episcopal de Luanda com o fim de apoiar as dioceses de Angola e S. Tomé, servir de hospício aos missionários e suprir a falta de liceu e demais aulas públicas. Mas apenas no dia 29 de Junho de 1910, D. João Evangelista de Lima Vital conferia ordens de presbítero a dois alunos do seminário diocesano, ambos negros, os primeiros de um primeiro viveiro eclesiástico. Em 50 anos, apenas cinco padres tinham sido ordenados em Angola.

Acordo missionário

Em 7 de Maio de 1940 foi assinado na cidade do Vaticano, pelos plenipotenciários do Pontífice Pio XII e do Presidente da República Portuguesa, a Concordata, para a metrópole e, integrada nela, o Acordo Missionário, para o Ultramar. Este nos seus artigos 3º, 6º, 66º-69º e 81º fala de “indígenas”, “população indígena”, “pessoal indígena”. O artigo 66º estabelece que o “ensino especialmente destinado aos indígenas deverá ser inteiramente direccionado ao pessoal missionário e aos auxiliares”. Permite o uso da “língua indígena” somente no ensino da religião (Art.69º). A Concordata tolerava, de “harmonia com os princípios da Igreja”, o uso da “língua indígena” no ensino da religião católica (Art.16º). A mesma Concordata discriminava escolas para os indígenas e europeus (Art. 15º) e destacava a “evangelização dos indígenas” (Art.º 19). Mais tarde, a Lei do Indigenato entendia o uso dos “idiomas nativos” no ensino somente como instrumento de difusão da língua portuguesa: “O ensino a que se refere este artigo procurará sempre difundir a língua portuguesa, mas, como instrumento dele, poderá ser autorizado o emprego dos idiomas nativos». [LEI DO INDIGENATO, Decreto-Lei nº 39.666, suplemento ao Bº 22, 1ª série, de 31/05/1994, art. 6º, § 1].
Estes e outros factos tiveram influência na posição pró-independentista de uma parte do clero africano: o cónego Manuel das Neves e os padres Joaquim Pinto de Andrade, Martinho Samba Lino Alves de Guimarães e Domingos Gaspar, que foram presos pela PIDE. Igual destino teve o cónego Manuel Franklin da Costa e os padres Vicente José Rafael e Alexandre do Nascimento, que também foram nesse ano exilados para residirem em instituições religiosas na metrópole.
A prisão do cónego Manuel das Neves, no dia 21 de Março de 1961, deixou o Arcebispo de Luanda, D. Moisés Alves de Pinho, bastante preocupado: “Para os africanos, tudo o que não seja protestar contra a prisão de padres nativos e de numerosos leigos detidos pela PIDE, tudo o que não seja reconhecer-lhes direito à independência, e isso já, sem demora, desagradará. Quanto ao elemento europeu, por sua vez, desejará a afirmação sob o ponto de vista governamental, desejará a consagração da política de integração. Não o fazendo vamos passar por estar incondicionalmente ao lado dos africanos e contra o Governo.”
Os sacerdotes exilados entregaram ao Núncio Apostólico em Lisboa, em Outubro de 1963, uma missiva onde diziam o seguinte: “nós sabemos que a emancipação de Angola se há-de efectivar, cedo ou tarde, com ou sem a Igreja. Porém, ­perante este dilema, sem deixarmos de ser angolanos, o nosso sacerdócio não tolera a indiferença, tanto mais que a perspectiva “sem Igreja” facilmente se converte em “contra a Igreja”, quando em situações idênticas, a Igreja não se insere, no momento devido, mediante os seus cristãos nos “ventos da História”. Neste espírito de apostolado, sofremos a prisão, o exílio, as torturas físicas e morais, as incompreensões, o desprezo, as acusações tão falsas como ignóbeis, as difamações mais maquiavélicas, o abandono e as restrições nas próprias liberdades sacerdotais. E esta situação eterniza-se sem esperança de solução.”
  
O ensino público


Complementarmente aos 100 professores primários anualmente formados, eram, também, em cada ano, preparados 200 “monitores escolares”, que tinham como habilitações literárias apenas a 4ª classe. Em 1971, estes “formadores” correspondiam a mais de dois terços de todos os docentes existentes nas zonas rurais. Um pouco melhor preparados para a docência estavam os “professores de posto”, que também eram escassos para cobrirem as necessidades da instrução primária em Angola. Nesta conformidade, facilmente se reconfirma que, desde a implantação do ensino oficial em Angola, a 14 de Agosto de 1845, até ao início da luta armada em 1961, o ensino primário não estava dirigido às populações africanas, salvo para os que estivessem minimamente associados a uma matriz cultural urbana.
Durante o Governo de Transição, através do decreto de 25 de Junho de 1975, foram revistos os vencimentos do pessoal docente do ensino primário em Angola. Segundo Martins dos Santos, “(…) deu-se satisfação a velhas aspirações, aumentando o vencimento a auferir e subindo estes servidores públicos na escala do funcionalismo. A publicação deste diploma era a prova cabal de que, até então, se não tinha querido a sério resolver certos problemas, mantendo um sistema injusto e revoltante, que de algum modo contribuiu para o desprestígio e aviltamento da classe. Merecem ser fixados os nomes dos governantes que intervieram na elaboração do decreto e que o subscreveram: Johnny Pinnock Eduardo, primeiro vogal do Colégio Presidencial; Lopo Fortunato Ferreira do Nascimento, membro do Colégio Presidencial; José N’Dele, também membro do Colégio Presidencial; Jerónimo Elavoco Wanga, titular do Ministério da Educação e Cultura; Saidy Vieira Dias Mingas, do Ministério do Planeamento e Finanças; António da Silva Cardoso, Alto-Comissário de Portugal em Angola”.

*Ph. D. em Ciências da Educação e Mestre em Relações Interculturais

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A CIA CONTRA ANGOLA" - de JOHN STOCKELL



A CIA CONTRA ANGOLA" - de JOHN STOCKELL

Transcrições recolhidas em : "A CIA CONTRA ANGOLA" - de JOHN STOCKELL, ex. Chefe da Força de Intervenção da CIA em ANGOLA )-- pgs.31- 39 - 44 - 46 - 47/8 - 49 -- (1ª edição - Setembro de 1979) --


-- "...Os soviéticos estão a rondar em Angola e pensa-se que a agência tem de impedi-los. Estamos a programar em conjunto a forma de dar apoio a Savimbi e Roberto. Isto é em grande, a maior coisa da Divisão para África desde o Congo. Temos 14 milhões de dólares e já começámos a enviar algumas armas por via aérea. Estamos a enviar armas apenas para Kinshasa a fim de substituir o equipamento que Mobutu está a enviar para Angola dos seus próprios stocks. A ideia é neutralizar militarmente o MPLA, até à realização das eleições em Outubro."...(afirmações de GEORGE COSTELLO, chefe de operações da Divisão da CIA para África ) --
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..."As relações turvas dos Estados Unidos com o Zaire também estimularam o desejo de Kissinger em actuar em Angola. Tanto o Zaire como a Zâmbia receavam a perspectiva de um governo apoiado pelos soviéticos nos seus flancos, controlando o Caminho de Ferro de Benguela.O Presidente Mobutu receava, particularmente,os soviéticos. Por duas vezes desde 1960 que rompeu as relações com a União Soviética e, embora as relações tivessem sido restabelecidas de cada uma das vezes,mais recentemente ele andara a fazer a corte aos Chineses, à custa tanto dos Soviéticos como dos Americanos. Na primavera de 1975 os problemas internos do Zaire tinham-se agravado e o regime de Mobutu tinha sido ameaçado pelo descontentamento.
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..."Eu estava familiarizado com a colónia portuguesa da costa Atlântica no Atlântico Sul através de viagens feitas na infância e na idade adulta. Nós visitámos os portos angolanos de Luanda e do Lobito e tivéramos encontros com missionários americanos que contavam histórias alarmantes sobre as autoridades portuguesas no interior de Angola. Em 1961 um navio da marinha norte-americana, no qual eu me encontrava como elemento da informação dos Fusileiros Navais aportou em Luanda para uma breve visita. Tarefas e missões de serviço temporárias da CIA tinham-me levado para perto de Angola, por exemplo, Lubumbashi, no Zaire, em 1967, quando o grupo de Bob Denard, composto de 16 mercenários invadiu a partir da fronteira angolana.
A minha última experiência directa com as questões angolanas tinha sido em Fevereiro de 1969 quando me dirigi de automóvel de Lubumbashi para visitar um acampamento da FNLA perto da fronteira com Angola. Constatar a indolência e indisciplina e talvez a experiência me tivesse levado a subestimar a tenacidade do movimento nacionalista Angolano, alguns anos mais tarde. Alguns soldados sem líder, fardas esfarrapadas e mulheres e crianças semi-nuas arrastavam-se por entre edifícios de tijolos delapidados, os quais eram o resto de um acampamento da Force Publique colonial belga. Sem instalações nem condições sanitárias, pouco diferia de uma aldeia africana primitiva, com as pequenas casas de tijolo a substituir as palhotas de colmo e espingardas ferrugentas a substituirem armas ainda primitivas."...
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..."Durante muitos anos os Portugueses propagandearam um sucesso exemplar na assimilação de negros para uma sociedade colonial dita isenta de barreiras raciais. Até 1974 eles pareciam acreditar que mantinham uma relação permanente com as colónias. Nos serviços clandestinos da CIA, estávamos inclinados a aceitar as declarações dos portugueses, de uma sociedade aberta, do ponto de vista racial,em Angola e aceitava-se tacitamente que a agitação comunista era em grande parte responsável pela resistência contínua dos negros ao governo português. A razão era de base. Sendo uma organização essencialmente conservadora, a CIA mantém ligação secreta com serviços de segurança locais onde quer que actue"...
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"...Em relação a Angola dizíamos normalmente... "os Portugueses estabeleceram uma sociedade anti-racial,miscegenaram-se"..."Na realidade, o papel dos Portugueses em Angola foi historicamente o da exploração e brutal repressão. Tendo iniciado em 1498, Portugal conquistou e subjugou os três reinos tribais dominantes : -- os Bakongo, os Mbundu e os Ovimbundo -- e exportou mais de três milhões de escravos, deixando vastas extensões da colónia sub-povoada. A sociedade colonial achava-se dividida em seis categorias raciais definidas pela quantidade de sangue branco em cada uma delas, com duas categorias de pretos puros, na base da escala. Os privilégios de cidadania, económicos e legais, resultavam apenas a favor dos 600.000 brancos, mulatos e assimilados ou pretos legalmente aceites entre a elite da sociedade. Os 90% da população classificados de indígenas sofreram todo o tipo de discriminação -- incluindo trabalho forçado,pancada,prisões arbitrárias e condenações sem julgamento às mãos das autoridades coloniais."...
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..."A desintegração da sociedade tradicional levou ao aumento da desorientação, desespero, e à preparação para um protesto violento"... "Por volta de 1961, Angola era um barril de pólvora negra com três grupos étnicos mais significativos organizados para a revolta.
..."A 15 de Março de 1961 as guerrilhas da FNLA realizaram um ataque em 50 pontos ao longo do rio Congo, numa frente de 640 kms., matando indiscriminadamente tanto homens Africanos e Portugueses, como mulheres e crianças.Imediatamente aviões da Força Aérea Portuguesa trouxeram reforços, utilizando armas da NATO, destinadas à defesa da área do Atlântico Norte, e começaram a atacar com uma fúria indiscriminada, bombardeando mesmo áreas que não tinham sido afectadas pela sublevação nacionalista. A política portuguesa prendeu nacionalistas, protestantes, comunistas e eliminou sistematicamente líderes negros executando-os ou utilizando métodos terroristas. Ao reagir e reprimir indiscriminadamente, os Portugueses ajudavam a garantir que a insurreição não seria localizada ou suprimida"...
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..."O golpe do 25 de Abril de 1974 em Portugal apanhou os Estados Unidos
de surpresa, sem alternativas políticas à altura e sem contacto com os revolucionários africanos. A CIA não actuava no interior de Angola desde o final dos anos 50, até 1975."...
..."Apenas em Março de 1975, quando os portugueses estavam a desligar-se e a perder o controle, é que finalmente reabrimos a delegação de Luanda . Antes disso, a maior parte das informações locais da CIA sobre o interior de Angola vinham de Holden Roberto que era o líder, desde 1960, do movimento revolucionário Bakongo, chamado FNLA. Operando a partir de Kinshasa (então chamado Leopoldville), estabeleceu laços com a CIA"...
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-- Transcrições recolhidas em : "A CIA CONTRA ANGOLA" - de JOHN STOCKELL, ex. Chefe da Força de Intervenção da CIA em ANGOLA )-- pgs.31- 39 - 44 - 46 - 47/8 - 49 -- (1ª edição - Setembro de 1979) --

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Do blog ANGOLABRASIL

domingo, 29 de janeiro de 2012

A África Negra Hoje



A África Negra é hoje o continente mais pobre do planeta, com a generalização da miséria e da fome, o aumento da mortalidade infantil e do genocídio provocado pelas rivalidades tribais. Segundo dados do Banco Mundial, um em cada três habitantes da África Negra vive em estado de pobreza absoluta, não conseguindo atender às necessidades mínimas de alimentação e saúde; a produção de alimentos no ano de 1994 foi 20% menor do que a de 1970. Os dados da saúde pública africanos desse mesmo ano são alarmantes: quase um terço das crianças da África Negra sofre de desnutrição grave e 4 milhões daquelas nascidas nesse ano morreram antes de completar 5 anos de idade. Epidemias de malária, tuberculose, diarréia, cólera e meningite estão voltando, e faltam médicos, hospitais e remédios.

O mais grave é que dos 14 milhões de pessoas do mundo infectadas com o vírus da AIDS, 9 milhões estão na África e encontram-se na idade mais produtiva. Na educação, a situação também é gravíssima: os investimentos em escolas e educação declinam; a evasão escolar, em todos os níveis, aumentou de forma alarmante; e um terço de todos os diplomados em cursos superiores deixa o continente negro. As divisões étnicas desencadeiam conflitos separatistas ou massacres tribais, que matam milhões de pessoas, como em Ruanda e na Etiópia. Mas a situação dos países africanos independentes nem sempre foi tão grave assim. Nos anos posteriores à independência, essas nações eram dirigidas por ditaduras militares ou homens fortes, os chamados presidentes vitalícios, que, embora falassem em democracia, governavam por intermédio da censura, do assassinato dos opositores, das polícias secretas e outros meios violentos.

Nos países socialistas, havia a ditadura do partido único ou do líder, que silenciava os adversários. Mas, com o uso da força, esses regimes continham as rivalidades entre as diferentes etnias de seus países. As nações da África Negra, recém-libertadas, investiam maciçamente em educação, saúde e agricultura. Em quase todas elas, os indicadores sociais melhoraram nas décadas de 1960 e 1970: o analfabetismo e a mortalidade infantil decaíram e a expectativa de vida aumentou devido às melhorias na alimentação, na saúde e no saneamento básico. A Guerra Fria estava em andamento e americanos e soviéticos precisavam ampliar suas áreas de influência. Por isso, nessa época, os países socialistas, capitalistas, asiáticos e a ONU investiram na melhoria da qualidade de vida dos países da África Negra. Os problemas da África Negra agravaram-se nos anos 80, que foi a década perdida para esse continente. Uma violenta recessão mundial derrubou os preços dos produtos primários africanos  como o cacau, o cobre e o café  no mercado externo. Com a queda das exportações, os países africanos viram-se impossibilitados de pagar sua dívida externa e não receberam mais dinheiro do exterior, o que contribuiu para sucatear a infra- estrutura desses países. Por outro lado, guerras civis decorrentes de rivalidades tribais, desgovernos e corrupção também liquidaram os Estados africanos e afastaram os investimentos estrangeiros.

Esses países foram obrigados a recorrer a órgãos internacionais de crédito, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que exigiram reformas políticas e sociais, segundo o figurino desses organismos: eleições livres, pluripartidarismo, desvalorização das moedas, fim dos subsídios aos alimentos, à saúde, à educação e aos transportes e abertura econômica aos mercados internacionais. Todos os líderes africanos esbravejam em público contra suas imposições, mas têm cumprido seus desígnios. Nenhum líder africano se diz socialista ou nacionalista, e sim democrata e liberal, pois deseja receber os dólares do Banco Mundial e do FMI.

A África Negra conhece hoje eleições, disputas entre partidos e liberdade às oposições, fatos raros em toda a sua história. Mais da metade dos 48 países que a compõem realizaram ou prometer ar terá realizar eleições livres em 1994, mas a democracia autêntica ainda não chegou à região. As velhas ou as novas elites continuam dominando o poder, embora tenha desaparecido a figura do ditador vitalício ou do partido único. A abertura política exacerbou as rivalidades étnicas, visto que a etnia que perde as eleições revolta-se e passa, ou se dispõe, a lutar contra o governo, enquanto aquela que assume o poder acaba por dominar os antigos dominadores. A democracia ocidental não tem funcionado na África Negra, onde as rivalidades étnicas não respeitam qualquer lei. Com sua política de cortar gastos públicos para estabilizar a economia, muitos governos africanos estão dispensando funcionários e investindo menos em educação e em saúde, medidas que têm penalizado os mais pobres, os quais acabam morrendo de fome ou de doenças. Os especialistas do FMI argumentam que os pobres serão os favorecidos quando essas medidas drásticas surtirem efeito e os países africanos retomarem o crescimento; entretanto, esses próprios especialistas admitem que, se tudo correr bem, só daqui a meio século os países africanos voltarão a ter os padrões de vida da década de 1970.
 http://www.clickescolar.com.br/a-africa-negra-hoje.htm

Salazar e a definição de colonialismo



 Salazar  encarregou-se de definir e caracterizar o colonialismo, ressaltando sempre a natureza económica e a discriminação como variável necessária:
 «O colonialismo exige essencialmente o desnível das raças e das cultu­ras, um objectivo de exploração económica pela dominação política, a qual geralmente se exprime pela diferenciação entre cidadão e súbdito. Não há colonialismo onde nenhum benefício estrangeiro ou financeiro se tira (...) Não é possível conceber este estatuto ou condição de colónia quando é semelhante o nível de vida, idêntica a cultura, indiferenciado o direito pú­blico, igual a posição dos indivíduos perante as instituições e as leis. Não pode haver colonialismo onde o povo faz parte integrante da Nação, onde os cidadãos colaboram activamente na formação do Estado, em termos de igualdade com todos os de mais, onde os indivíduos exercem funções públi­cas e se movem e trabalham no conjunto dos territórios. E tudo isto não de agora, estabelecido ou legislado à pressa, mas cimentado pêlos séculos, quase podemos dizer desde sempre» (II AL: 315/316) 

Dois anos mais tarde, afirmaria na revista Foreign Affairs, de Abril de 1956: 

«O colonialismo é um regime económico e político susceptível de exame objectivo. Passa-se na ordem real; pode dizer-se que é redutível a números concretos, a estatutos legais. Tem-se admitido que subentende um poder soberano estranho ao território submetido, uma exploração económica em benefício maior ou menor do colonizador, uma vantagem política ou militar, uma distinção entre cidadãos e súbditos, com sua diferenciação de direitos, e sobretudo a inexistência de direitos políticos dos povos coloniais e a impos­sibilidade de interferência nos negócios metropolitanos» (idem, p. 332).

 Em discurso de 1 de Novembro de 1957, Salazar proferia a sua declaração de fé colonial:

 «Acreditamos que existem raças decadentes ou, se preferem, atrasadas, a quem sentimos ter o dever de conduzir para a civilização — tarefa esta de formação de seres humanos que deve ser levada a cabo de maneira huma­na...» (idem, p. 343).

http://www.macua.org/livros/AEDUCAAOOCOLONIALFRENTECULTURADOCOLONIZADO.htm

A especificidade da colonização portuguesa

“Não deixeis que ninguém toque no território nacional – conservar intactos na posse da nação os territórios de além-mar é o vosso principal dever. Não ceder, vender ou trocar ou por qualquer forma alienar a menor parcela de terri­tório, tem de ser sempre o vosso man­damento fundamental.
Se alguém passar ao vosso lado e vos segredar palavras de desânimo, procurando convencer-nos de que não podemos manter tão grande império, expulsai-o do convívio da Nação”
(nota final)
Norton de Matos
Recaem sobre dois aspectos: a terminologia empregue para designar os territórios da expansão; e a especificidade da colonização portuguesa.
Vejamos o primeiro. Uma reflexão sobre a semântica, impõe-se por causa das conotações políticas que os termos “colónias vs províncias” passaram a ter entre nós após o 25 de Abril de 1974.
De facto, do anterior, sempre se encararam naturalmente os termos que foram utilizados ao longo dos séculos para designar os territórios que foram sendo agregados à comunidade nacional, sem embargo de alguma adequação a modismos políticos de determinadas épocas. Os reis de Portugal acrescentavam os seus títulos em função do que a coroa portuguesa tomava posse;
Todas as Constituições portuguesas desde 1822, discriminavam a totali­dade dos territórios como fazendo parte do todo nacional atribuindo-lhes diferentes dignidades e regulamentavam o estatuto social da respectiva população e sua representatividade, face ao grau civilizacional em que se encontravam.
Nos documentos oficiais, na fala do dia a dia, vários foram os termos usados consoante as épocas.
Assim apareceram os termos “praças”, “feitorias” e fortalezas”. De um modo geral os documentos anteriores ao século XIX, referiam-se aos territórios, como “domínios ultramarinos”, ou “conquistas”.
A Índia e, mais tarde, o Brasil e Maranhão, constituíram-se em “Estados”. E o Brasil, em 1815, foi elevado à categoria de “reino”, como era o Algarve desde a sua incorporação em Portugal ao tempo do senhor rei D. Afonso III.
Às grandes circunscrições administrativas chamavam-se “Capitanias Gerais” e atribuía-se amiúde, às feitorias e bases navais o nome de “estabelecimentos”.
A designação de “colónia” encontra-se já no século XVII e XVIII e o termo “província” entrou na linguagem do século XIX por via legislativa. A Constituição de 1822 já fala em “Ultramar” e “Províncias Ultramarinas”.
Não havendo representação ultramarina nas Cortes (antes da 1ª Consti­tuição, nem uma formulação, digamos, jurídica do território), cedo houve preocupação em se estabelecer um órgão estatal para tratar especificamente dos territórios de além-mar. Foi assim que surgiu o Conselho Ultramarino, criado por D. João IV, em 1643, e que se manteve até ao fim do Estado Novo.
Em termos constitucionais a designação “províncias”, perdurou de 1822 a 1911, durante a Monarquia e de 1911 a 1920, na I República e de 1951 a 1974, na II República, num total de 121 anos; enquanto que o termo “colónia” foi empregue durante 6 anos na I República, de 1920 a 1926, e 21 anos no Estado Novo, de 1933 a 1951, num total de 24 anos.
Pode-se pois, concluir que todas estas designações nunca tiveram a ver com regimes ou formas de governo, mas apenas com o interesse nacional. O termo “província” foi usado também por vários autores desde o século XVI. E fosse quais fossem os termos usados, nunca ninguém os entendeu pejorativamente, mas antes tendo em mente o que seria melhor para o desenvolvimento harmonioso das diferentes parcelas de Portugal. De facto, as palavras têm a sua época. Província, tinha a ver com a tradicional tendência da diáspora portuguesa em se manter ligada à mãe Pátria e em considerar a Nação portuguesa como um todo; “colónia” foi a expressão da política autonomista que o regime republicano trouxe no seu programa; com o golpe de estado de 28 de Maio de 1926, deu-se início a um movimento de cariz nacionalista e o termo colónia é ultrapassado, ou englobado no termo “Império”. Após a II Guerra Mundial, deu-se início a uma fortíssima campanha anti‑colonialista, onde os termos “colónia” e “colonialismo” foram diabolizados, tornando-se conveniente abandonar uma terminologia que se prestava a equívocos. E foi essa a razão fundamental para que os termos fossem abandonados na revisão constitucional de 1951, retomando-se os tradicionais “ultramar” e “províncias ultramarinas”.
Afigura-se assim, já ser tempo de se olhar para estes aspectos, através de uma correcta apreciação histórica, desapaixonada e sem intenções malévolas de oportunismo politico-partidário; de ataque à memória de antago­nismos políticos e de personalidades que lhe foram suporte; ou da denegrição abusiva da memória colectiva, antipatriótica e lesiva do interesse nacional.
Esta, a segunda reflexão que vos deixo.
“A acção colonizadora tem um duplo fim, o qual deveria ser exercido no interesse dos povos colonizados e ao mesmo tempo no interesse da comunidade internacional e do seu progresso”
Lord Lugard
Militar e alto funcionário colonial inglês do inicio do século XX, na sua obra “Dual Mandate”.
Considerava a colonização portuguesa “Avant la lettre” e que pendia mais para a segurança político-militar da cristandade e do seu alargamento geográfico.
Para se entender melhor o que se vai dizer a seguir convém-nos tecer algumas considerações sobre as características da colonização portuguesa, que a individualizam muito positivamente no concerto das nações.
Adiantemos, para melhor nos situarmos, uma definição de colonização: “o conjunto de relações entre dois povos, um mais desenvolvido que o outro”. No seu sentido etimológico, “colonizar” vem do latim e significa cultivar, valorizar, fazer render, tornar melhor...
Podemos distinguir três tipos de colonização: na primeira, um grupo de colonizadores chega a um território escassamente povoado cujos indígenas se encontram num estádio de desenvolvimento muito atrasado. Os novos senhores apoderam-se da terra e consideram-na como sua. Os autóctones refugiam-se em locais de difícil acesso tentando a sobrevivência. Mas vão morrendo e desaparecendo aos poucos. Os sobreviventes são agrupados em reservas, chegando os seus descendentes, nos dias de hoje, a serem objecto de curiosidade turística. Durante algum tempo estes novos territórios dependem e estão ligados à mãe pátria. Mas a pouco e pouco, por métodos pacíficos ou pela via revolucionária, ganham a independência. Foi o caso, entre outros, dos EUA, da Austrália e da Nova Zelândia.
No segundo tipo de colonização, um determinado país, através da guerra, de negociações ou de acordos internacionais, consegue introduzir-se e dominar um outro país, cujos habitantes são já numerosos e detêm um grau civilizacional elevado, mas cuja sociedade contém numerosas assimetrias de vária índole. O povo colonizador instala-se, explora a terra e suas riquezas; constitui-se em comunidade à parte, cultivando o seu modo de vida, estendendo-o apenas a pequenas elites autóctones. A sua presença é fundamentalmente económica, visando também objectivos político-estratégicos. À medida que estas elites, na maioria formadas fora da sua terra, começam a ter consciência dos seus conhecimentos e a ter ambições de mando, tentam a autodeterminação, com a expulsão, em maior ou menor escala, do colonizador.
Nos dois casos citados a divisão política e social entre os povos coloni­zados e colonizadores é total, sendo assumida com maior ou menor clareza. De um modo geral, o povo colonizador vê-se como “superior” ao colonizado, não se mistura, nem está muito interessado em qualquer nivelamento, ou em puxar os mais atrasados para um estádio superior. Estas são causas remotas do racismo, cujos contornos se foram desenvolvendo até aos nossos dias. Os povos colonizadores que assim procederam, na sua maioria cristãos, esqueceram os princípios do cristianismo no que concerne ao mandamento de amor pregado por Jesus Cristo.
Ao nível religioso, estes povos “colonizadores”, ofereciam a sua religião, mas fazendo a sua evangelização algo moldada aos evangelizados. A religião assim entendida, assemelhava, mas não igualava; é como que um cristianismo de segunda. O factor nascimento estava sempre presente, a fim de evitar veleidades igualitárias. Ao nível do desenvolvimento, o povo colonizador não nega a sua necessidade aos colonizados e até o fomenta, mas fixa-lhe fronteiras próprias e específicas. É a teoria do desenvolvimento separado e como este se pretendia em paz, inventou-se a coexistência pacífica. Vejamos as exigências sociológicas. Aos povos mais atrasados bastava-lhes a família, evoluindo a seguir para o clã e a tribo dentro duma determinada etnia. Quando se ganha maturidade e organização social e política suficiente, chega-se ao Estado e, mais tarde, à Nação, constituindo uma Pátria. Toda esta evolução carece de acompanhamento e de dádiva.
Nos dois exemplos de colonização apontados, os países que os desenvolveram poderiam respeitar as famílias, os clãs, as tribos e até o estado, mas não iam além disso. Não se davam, não ofereciam, não integravam. Recusavam ou resistiam o mais possível a outorgar o seu estatuto de nacionalidade aos colonizados. Ora, a existência de nações é um desejo natural dos povos. E se o povo colonizador não lhe dá uma nação, serão as populações colonizadas a procurar uma, surgindo desse modo o nacionalismo. Tudo o que se passou no subcontinente indiano, à excepção do Estado Português da Índia, é disto um bom exemplo.
É sabido que não foram estes os caminhos seguidos por Portugal e pelos portugueses. A “maneira portuguesa de estar no mundo” constitui o terceiro exemplo considerado e pode ser descrito em poucas palavras.
Os portugueses tinham um modelo político e estratégico baseado em três pilares: o religioso, o comercial e o militar. O terceiro era suporte imprescindível dos outros dois, mas apenas se aplicava em autodefesa, salvo em relação ao Islão, por este se encontrar em guerra com a cristandade. Este modelo serviu, devidamente adaptado, a todos os povos com os quais os portugueses contactaram: selvagens, semicivilizados e civilizados. E tão diferentes como as quatro partes do mundo onde chegaram. A capacidade de adaptação dos portugueses a todas as situações é, pois, uma constante. Feitos os primeiros contactos, logo começava de imediato a acção evangelizadora. Os portu­gueses não usavam tanto o método das conversões em massa ou à força, mas mais o dom da palavra e a persuasão. Na maioria dos casos, os membros do clero e das ordens religiosas integravam-se nas diferentes comunidades indígenas, estudavam a sua língua, os usos e costumes e, a pouco e pouco, iam passando a doutrina cristã. Não há memória de portugueses entretidos a destruírem povos ou culturas. E nem no auge da Inquisição a acção do Santo Ofício se fez sentir muito fora da parte europeia de Portugal (com alguma excepção para a Inquisição de Goa), dado que se dirigia primeiramente contra o judaísmo. A conversão do rei do Congo, logo a seguir à chegada de Diogo Cão, pode ser considerada paradigma da nossa acção.
O cristianismo que levámos estava, por outro lado, eivado de lusitanidade e oferecia a salvação de todas as pessoas, sem distinção de cor, raça ou nascimento. Todos eram chamados a ser filhos de Deus, desde que fosse esse o seu desejo de ascensão e de resgate. O facto de os portugueses (ao contrário de todos os outros povos europeus, que por razões de segurança não o faziam) terem instalado desde muito cedo arsenais, fundições e estaleiros em pontos avançados nos seus domínios é prova da confiança que tinham nas populações dos locais onde se radicavam, da visão superior em termos estratégicos de que dispunham, da sua autoconfiança e motivação e, ainda, da sua vontade de ficar.
Os portugueses deram-se e misturaram o seu sangue com todas as gentes que contactaram. Se é certo que em muitos casos essas ligações tiveram causa natural ou de volúpia, também é certo que não eram, de um modo geral, renegadas pelos próprios nem o Estado as condenava ou a Igreja as verberava, tentando, outrossim, enquadrá-las no sacramento do casamento. E foi Afonso de Albuquerque, que se saiba, a incentivar os casamentos mistos, já lá vão quinhentos anos. Não se pode dizer que os portugueses tenham acordado para esta realidade tardiamente ou copiado modelos alheios...
Os portugueses não se limitaram, portanto, a “coexistir”. Conviveram, e essa é uma maneira superior de entender as relações entre os povos. O corolário lógico de tudo isto é a oferta e a assimilação da própria orgânica nacional. Ou seja, Portugal ofereceu-se a si próprio a todos os povos com quem contactou, dando-lhes os seus elementos constitutivos mais vitais: sangue, família, sociedade, nação. É este o “segredo” da acção portuguesa no mundo, que muitos teimam em não entender, e do qual os próprios portugueses se deixaram afastar.
Ficamos assim, perante duas correntes definidoras de “colonização”. Para o caso português, “colonização é o conjunto de relações entre dois povos de desigual cultura em que um vai à procura do outro a fim de lhe oferecer tudo quanto tem, integrando desse modo a sua vida familiar, social, económica, política e nacional”.
Para a corrente oposta, colonização “é o conjunto de relações entre dois povos de desigual cultura, baseado no interesse comum das duas comuni­dades, principalmente daquela que foi procurar a outra”.
Os princípios enformadores que os portugueses usaram podem resumir‑se no seguinte:
– Unidade política do todo nacional;
– Adopção do cristianismo templário, até D. João III, e do catolicismo após essa época, como orientadores das relações entre os povos e cimento dessa relação;
– Uso da língua portuguesa como factor unificador e cultural;
– Implementação de modelos de administração pública e judicial decal­cados dos da metrópole;
– Acção baseada no humanismo e universalismo que terão a génese na cultura greco-romana e que aparecem tão bem retratados n’Os Lusíadas de Luís de Camões;
– Por fim, uma mística, uma fé, um espírito de missão, que tantas vezes fez os portugueses ultrapassarem-se a si próprios e que possivelmente levou Zurara a referir a “inclinação das rodas celestes”, como uma das razões que levaram o Infante D. Henrique à empresa dos Descobri­mentos.
Todos estes princípios tiveram uma génese genuinamente portuguesa e começaram a ser aplicados e experimentados na colonização dos arquipé­lagos atlânticos, todos eles encontrados desabitados. Desde o início, moldou‑se um espaço que se pretendia uno e que explica que após o 1º de Dezembro de 1640, todas as praças portuguesas espalhadas pelo mundo aclamassem, de imediato, o rei D. João IV, com excepção de Ceuta, cujo governador era castelhano. Percebe-se a ajuda mútua que os portugueses de todas as latitudes se dispensavam entre si; foi do Brasil que partiu a reconquista da costa ocidental de África tomada pelos holandeses, de Goa partiu auxílio para todo o Oriente e até para a costa africana do Índico; em Moçambique preparou‑se a expedição para libertar Timor no fim da II Guerra Mundial; da metrópole sempre saiu auxílio em maior ou menor escala para todo o lado. É por isso que ainda hoje a vida nos antigos territórios quase pára quando jogam o Benfica ou o Sporting.
Mas teriam os portugueses estado isentos de erros ou pecados durante todos estes séculos? Efectivamente, não estiveram. Mas nunca o pecado perdeu o seu nome para assumir outro qualquer. E as consciências, por vezes obnubiladas, nunca o esqueceram. O mal nunca se arvorou em bem; o pecado nunca teve coragem para se transformar em sistema; a injustiça nunca se confundiu com a equidade e houve sempre quem tivesse coragem nas atitudes e chamasse nomes às coisas e hipocrisia à hipocrisia. E se alguns, no campo individual, assassinaram, maltrataram e roubaram outros seres humanos, nunca a pesada mão da justiça os deixou de perseguir, nem o Estado decretou leis iníquas ou princípios imorais. Há muita documentação escrita, de D. Manuel I ao Marquês de Pombal, do Infante D. Henrique a D. Sebastião, de D. João II ao Marquês de Sá da Bandeira, que prova isso mesmo. Até as presas tomadas aos “infiéis” obedeciam ao especificado nas bulas pontifícias e eram feitas em boa guerra como ensinavam as leis da cavalaria.
Por tudo o que foi dito podemos e devemos considerar que a colonização portuguesa foi inspirada muito mais por factores de ordem espiritual e humanista do que materialista. E sabe-se como os ganhos comerciais e a arquitectura económica e financeira deixaram sempre muito a desejar e ficaram muito aquém das necessidades. Mas, sendo espiritual, não deixava de estar subjacente a uma ideia política. O todo nacional entretanto constituído gerou, porém, um considerável potencial geoestratégico, essencial à sobrevivência política do estado e da nação portuguesa. Este potencial foi sendo, ao longo dos tempos, alvo de ataques continuados de potências poderosas e de organizações diversas que foram desgastando, pilhando e conquistando sucessivas parcelas de territórios pertença de Portugal. Os portugueses sempre resistiram, melhor ou pior, conforme a visão e determinação dos seus governantes e dos meios disponíveis, mas acabaram por soçobrar nos anos setenta deste século, ficando o país praticamente confinado ao que era antes da arrancada para Ceuta. Aquelas terras que eram, simplesmente, Portugal mais longe. E aqui fica a terceira reflexão.


In "A Colonização Portuguesa no Século XIX à Luz da Estratégia", pelo Tenente‑Coronel PilAv João José Brandão Ferreira.  Revista Militar.
Parte de um texto retirado da net que pode ser lido na íntegra, clicando aqui:

sábado, 28 de janeiro de 2012

Poesia angolana : COSTA ANDRADE


COSTA ANDRADE

COSTA ANDRADE
 

AUTOBIOGRAFIA

Não existe mais
a casa onde nasci
nem o meu pai
nem a mulambeira

da primeira sombra.
Não existe o pátio 
o forno a lenha
nem os vasos 
e a casota do leão.
Nada existe
nem sequer ruínas
entulho de adobes e telhas
calcinadas.

Alguém varreu o fogo
da minha infância 
e na fogueira arderam
todos os ancestres.

Livro: Comunidades imaginadas: nação e nacionalismos em África


Luís Reis Torgal, Luís Reis Torgal, Fernando Tavares Pimenta, Julião Soares Sousa, Fernando Tavares Pimenta, Julião Soares Sousa.
Imprensa da Univ. de Coimbra, 2008 - 237 páginas

Postais da acção missionária na Angola colonial: Congregação de S. Joseph de Cluny


Créditos: Postais de DelCampe


Em Janeiro de 1883, aportaram a Landana, as primeiras religiosas das irmãs da Congregação das Irmãs de S. José de Cluny. Foi o princípio de uma presença continuada de 125 anos de uma Congregação, iniciada em França, mais propriamente em 11 de Novembro de 1789, na esteira da vitória dos republicanos e jacobinos na revolução francesa.

A história da fundação desta Ordem, tem origem precisamente num episódio, relacionado com uma pretensa perseguição a membros do clero por parte dos republicanos franceses, o que leva a que a bretã Ana Maria Javouey, tenha feito voto para se dedicar ao missionarismo, tendo sido a sua primeira Madre Superiora.

Segundo o professor Martins dos Santos no seu excelente trabalho “Cultura, Educação e Ensino em Angola” diz a páginas tantas “No dia 15 de Maio de 1885, embarcaram em Lisboa, com destino a Angola, a bordo do vapor África, três religiosas de S. José de Cluny, que nos aparecem no documentos da época sob a designação de Irmãs Educadoras, por se dedicarem especialmente à obra educativa e às actividades escolares. Destinavam-se às colónias do planalto sul. O governador do distrito de Moçâmedes, Sebastião Nunes da Mata, empregou toda a sua influência para as reter na cidade, demovendo-as de se transferirem para o interior. Conseguiu os seus intentos e as religiosas estabeleceram-se ali, abrindo pouco depois a sua primeira escola. Segundo certas indicações que conseguimos obter, foi no dia 8 de Julho desse ano de 1885 que se fixaram em Moçâmedes. Foi a primeira povoação angolana a aproveitar-se da meritória acção das Irmãs Educadoras, se exceptuarmos a missão de Lândana, onde se estabeleceram em 1883, portanto dois anos mais cedo.”

Ainda se podia ler mais: “ No decorrer de 1897, chegaram a Angola algumas religiosas de S. José de Cluny, que se destinavam a Moçâmedes. O governador-geral António Duarte Ramada Curto, com o apoio de outros elementos de influência na cidade, instou com elas para se fixarem em Luanda. Desejava que abrissem uma escola, o que efectivamente fizeram; começou a funcionar no dia 1 de Dezembro desse ano, na Rua da Misericórdia.”

“Ainda a propósito dos referidos exames, o governador-geral Ramada Curto louvou, por portaria de 16 de Maio de 1900, as Irmãs Educadoras, nos termos seguintes: "Tendo eu confiado, em Dezembro de 1897, às Irmãs Educadoras, da Congregação de S. José de Cluny, a regência da cadeira de ensino primário, do sexo feminino, da cidade de Luanda, fechada por falta de alunas, e tendo presenciado o aumento sempre crescente do número de crianças matriculadas, vistas as informações prestadas com respeito à competência das professoras e aproveitamento das alunas, hei por conveniente louvar as Irmãs Educadoras, da referida congregação, que têm regido a escola, e em especial a superiora, Ir. Antónia Maria George, pelo zelo, competência e inteligência que têm demonstrado na regência da escola que lhes confiei". As Irmãs Educadoras agrupavam os seus alunos em cinco classes, conforme o seu adiantamento escolar. Por curiosidade, inserimos aqui o esquema do estudo ministrado: —Leitura, escrita e rudimentos de doutrina cristã; —Prática de ler, escrever e contar, e doutrina cristã; —Ler, escrever e contar, doutrina cristã e trabalhos manuais; —Gramática portuguesa, tabuada, aritmética, doutrina cristã e trabalhos manuais.”
Esta foi de uma forma sintética a relação das “madres” com a educação em Angola até à assinatura da Concordata de 10 de Julho de 1940, entre Portugal e a Santa Sé, onde se anexava o Acordo Missionário, que deu à Igreja Católica todas as facilidades e mordomias várias no ensino nas colónias, em detrimento de muitas outras confissões religiosas que ao tempo já trabalhavam na colónia, com algum empenho, tendo algumas sido perseguidas e os seus pastores e missionários presos ou expulsos dos territórios.

No fim dos anos 40, tendo em conta a exiguidade das instalações na Misericórdia, e com grande empenhamento do Monsenhor Alves da Cunha (aproveito para lembrar que parte das letras da peanha da sua estátua caíram, pelo que não seria mau que fossem lá colocadas de novo), foi-lhes dado um terreno na Rua do Kafako, que é nem mais nem menos que o nome muito antigo da rua que desemboca na Rua da Missão.

Ali se construiu um edifício de gosto revivalista-classizante, exemplar de “Arquitectura do Estado Novo”, vulgarmente conhecida pelo gosto “Português Suave”, que dada a sua volumetria, os seus portais, arcadas, frontões, torreões e pináculos é um edifício marcadamente matizado na paisagem urbana.

Desde 1953 até 1975, no colégio de S. José de Cluny em Luanda leccionou-se a raparigas desde a instrução primária até ao 5º ano do liceu, como era costume dizer-se ao tempo, em regime de externato, havendo também algumas alunas internas.

Esse edifício, que foi a seguir à Independência do País o Instituto Pré-Universitário de Luanda, foi entregue à Igreja Católica, aquando dos acordos entre o governo e o Papa Woityla, na sua passagem por Luanda no início dos anos 90.

Desse acordo, surgiu a possibilidade da instalação da Universidade Católica no edifício que sofreu para o efeito inúmeras obras de reparação e beneficiação.

No Huambo também foi criado no fim dos anos 50 um colégio com as características do de Luanda, também orientado pelas” irmãs de Cluny”, que para além destes colégios mais emblemáticos, tinham outros espalhados pelo território de Angola, como por exemplo em Cabinda, Namibe e Malange.
Muitas alunas passaram pelos colégios e internatos da “Congregação das Irmãs de S. José de Cluny”, o que não deixa de ser relevante em trabalhos futuros que se façam sobre o ensino em Angola, pois a sua presença durante 125 anos, perpetuou uma obra que merece cuidado respeito.

Fernando Pereira
7/05/07
Do site Recordações da Casa Amarela

A exploração de Angola colonial: conclusões da Comissão Especial das Nações da O.N.U.

Amigo Brasileiro 2006

Este é um pequeno extracto das conclusões da Comissão Especial das Nações da O.N.U.

O capital estrangeiro, principalmente investido na indústria, detém direitos exclusivos de prospecção e disposição sobre os diamantes, minério de ferro e bauxite.

Portugal reservou para si todos os direitos de propriedade sobre as imensas riquezas minerais de Angola – diamantes (5º produtor mundial), ferro, petróleo e manganês.

Os interesses económicos estrangeiros e o governo português são legatários de um sistema de recíprocas vantagens. De um lado, a sociedade mineira encontra uma mão-de-obra barata, procurada com assistência da administração, sendo aquela isenta de qualquer imposto, podendo exportar o produto mineral para a Grã-Bretanha, Alemanha Ocidental, EUA, França, Portugal.

Por outro lado, o lucro que a sociedade mineira deixa em Portugal, ajuda-o a manter o seu jugo e concorre para o financiamento das operações militares.

Os interesses estrangeiros apoiam directa e indirectamente o colonialismo português, que permite desfrutar os recursos humanos e materiais deste território extorquindo lucros.

Numa guerra, como a do Iraque por exemplo, aqueles que não beneficiavam desta exploração, acabam sempre por apoiar a parte contrária na mira de mais tarde as posições se inverterem. Passarão eles a beneficiar desses recursos, em "pagamento" da sua ajuda "desinteressada".

OS INTERESSES NÃO PORTUGUESES NA ECONOMIA de Angola e Moçambique:

Diamantes: Anglo-American Corporation of South Africa, Banco Morgan, Grupo Oppenheimer, De Burs, Gunggenheim, F.F. Ryan, Forninderl, Union Minère du Haut-Katanga, Garan y Trust Banc, Societé Genérale de Belgique.

Petróleo: Compagnie Finaciére Belge dês Petroles (Petrofina), Chase National Bank, National City Bank of New York, Cabinda Gulf Oil Company.

Alumínio: Pechiney (accionista de Alumínio Português – Angola).

Bauxite: Billinton Maatshappy.

Mica: Standar Oil (representada em Angola pela União Comercial de Automóveis).

Café: Banco Rallet (accionista da Companhia Agrícola de Cazenga, da Companhia Agrícola de Angola e da Companhia Angolana de Agricultura).

Açúcar: Ban Ton Mayhew & C. (accionista da Sociedade Agrícola da Cassequel).

Algodão: Societé General de Belgique (representada pela Companhia Geral de Algodões), Banque Belge d'Afrique, Compagnie Cotonière Congolaise, La Luinna – Societé Anonyme Agricole & Industrielle.

Palma: La Luinna – Societé Anonyme Agricole & Industrielle.

Pesca: Societé dÉxpansion Comerciale (accionista da Companhia da Baía Farta).
Comércio: Anglo-American Corporation (representada em Angola pela sociedade Luso-Americana), DEVON ESTATES, LUANDA TRADING C.º, ROBERT HUDSON and SONS, LA LUINNA.

Transportes: Anglo-American Corporation of South Africa, Westmins ter Bank, British South Africa Company, Cooper Brothers C.º, The Angola Coaling C.º, Tanganica Concessions.

Obras hidráulicas: Hidrotechning Corporation of New York.

Pesquisa Mineira: E.J. Longyer C.º, Remina, Aero Service Corporation, Bettlem Steel, Carbide, Mutual Securiut Agency.

Além disto, há uma complexidade de sociedades, cada vez mais intrincada e com ramificações por todo o mundo. Como é óbvio estas multinacionais tinham imenso poder persuasivo sobre os governantes portugueses, até ao ponto de algumas delas formarem, quase, um estado dentro do Estado, com completa autonomia em áreas reservadas em que as próprias autoridades portuguesas precisavam de um salvo-conduto para entrar.

A "verdadeira" história, as manobras de bastidores e técnicas de persuasão, vou-te contando por e-mail, se estiveres interessado.

Ruca
 Estratos do relatório da Comissão de Descolonização da O.N.U. (cont)

"… Em Angola os capitais estrangeiros são principalmente investidos na indústria. Empresas estrangeiras ou com participação estrangeira detêm direitos exclusivos de prospecção e de exploração de diamantes, petróleo e minerais de ferro e de bauxite. A DIAMANG detém até 1971 os direitos exclusivos de prospecção e exploração dos diamantes numa zona que ronda 1 milhão de quilómetros quadrados, podendo conservá-los mesmo depois dessa data: a PETRANGOL (dominada pela Petrofina) detém os direitos exclusivos de prospecção e de exploração do petróleo em amplas regiões de Angola, incluindo uma parte do subsolo continental, e a CABINDA GULF OIL COMPANY, americana, detém os mesmos direitos sobre uma parte de Cabinda. A Petrangol detém os mesmos direitos exclusivos de refinamento de petróleo. As SOCIEDADES DO LOBITO E LOMBIGE, que obtiveram a assistência financeira de um consórcio de que fazem parte a KRUPP, grupo alemão ocidental, e a sociedade JOJGAAD e SCHULTZ de Copenhague, detêm concessões exclusivas nas regiões dos mais importantes filões de ferro.

Estes interesses estariam conectados, tanto em Angola como em Moçambique, a outras sociedades internacionais que controlam várias actividades económicas nestes territórios e outras regiões. Entre elas, a ANGLO AMERICAN CORPORATION OF SOUTH AFRICA, e a DE BEERS, e a sua filial, a SOCIETÉ GENERALE DE BELGIQUE, a FOREMINÉRE DE BELGIQUE, o BANCO BURNAY, o BANCO NACIONAL ULTRAMARINO, a GULF OIL CORPORATION, americana, o trust francês PECHINEY e FRIED KRUPP, alemão ocidental.

O facto de a sociedade financeira sul africana FEDERAL MYMBON BEPERK, ligada à ANGLO AMERICAN CORPORATION, ter adquirido uma participação na industria petrolífera de Angola, e de a ANGLO AMERICAN CORPORATION, através da sua filial de BEERS CONSOLIDATED MINES, ter criado uma sociedade para a prospecção de diamantes em Moçambique é um índice da crescente influência da África do Sul no território administrado por Portugal.

Os principais beneficiários (concessionários) da terra são a Companhia de Açúcar de Angola, Companhia Angolana de Agricultura (CADA), Sociedade Agrícola da Cassequel, Companhia da África Ocidental Portuguesa, A Companhia de Cabinda e a Companhia Geral dos Algodões de Angola ".

Hoje, o panorama deve ser o mesmo, com algumas pequenas alterações, porque o novo Estado de Angola não tem meios materiais, saber ou quadros, para explorar directamente as suas riquesas, e ainda tem de "pagar" as ajudas que recebeu e recebe.

A única diferença é que no tempo da Administração de Portugal, a percentagem dos produtos saídos de Angola, eram pagos em Lisboa, que depois de se cobrar das taxas (elevadas) a que se achava no direito por ser a potência colonizadora, enviava o pouco que restava para a tesouraria da Província ao câmbio estipulado. Ou seja, esses escudos Portugueses que deveriam seguir para Angola ainda eram desvalorizados para o escudo Angolano.

Angola, hoje recebe directamente a percentagem devida por todas essas companhias que exploram a sua riqueza sem ter que a repartir com Lisboa.

By Ruca

O processo de descolonização de Angola e os primeiros anos da Angola independente (1975-1979) ...

Tese: "A Revolução dos Cravos e seus dilemas na hora da descolonização de Angola. 1974-1975 "


"...do outro lado, o MPLA acusava a FNLA de receber armas ... FNLA e UNITA preparavam-se para lançar uma ofensiva militar e política ... São Salvador, Lobito, Benguela, Silva Porto, Moçâmedes, Sá Bandeira, Serpa Pinto e Luso. ... o governo da Zâmbia expulsa a UNITA e proíbe quaisquer atividades ...


CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

LIVRO: História Geral da África



 

 

 

História Geral da África – 8 Vols. I –

Para lêr, clicar AQUI