Aqueles que leram o meu trabalho, Tchicapa, o final da viagem, certamente deram conta de algumas críticas e comentários.
Independentemente do juízo feito, procurei ser justo, e evitei a ficção.
Neste segundo trabalho, Conversas, com Sá Moço, elas vão voltar a aparecer, aqui e acolá, sempre sem intenções políticas ou de rancor.
As reflexões, deixo-as a outros mais doutos.
Como
no primeiro trabalho, apresento-me tal como sou, com defeitos e a
virtude de ser sincero e interessado com quanto se passou na nossa
passagem por África, por vezes com desgraçados dias.
Os
meus próximos textos, evitando a fixação psico-traumática, vão abordar a
singeleza da vida, não esquecendo que sou, somente, um dos muitos
militares milicianos que passaram por Angola e que a tais memórias
dedica um olhar calmo e enternecido.
Em consequência, tratarei, a partir de hoje, de rebuscar recordações e conversas com um homem natural da região do Tchicapa, para, ao mesmo tempo que as partilho, lhes devolver alguma da antiga e perdida clareza.
Nas minhas muitas vidas (não de nascimento), entre sonhadas e verdadeiras, nos distantes anos da década de 1970, encontrei o Sá Moço, um homem katchokwe (quiôco) com cerca de 40 anos de idade. Um ser humano, auto-suficiente, que tinha falta de tudo, mas não sentia falta de nada
Recordo-o com admiração.
Sem
o ser, era engenheiro, médico, psicólogo, pisteiro, e… na maior das
calmas e com muita inocência lá ia dizendo que o IN (inimigo) também
precisava de ajuda, quando aparecia na aldeia.
Quem,
algum dia, foi militar, costuma ser um pródigo contador de histórias,
umas ligadas à guerrilha e outras, de coisas mais singelas, no entanto,
nos textos que se seguem, vou escrever sobre a vida de um povo que foi
importante na minha formação e me transformou num eterno enamorado da
natureza e das coisas belas e boas que ela nos proporciona.
Enfim, vou escrever sobre, as minhas vivências com o Sá Moço, a vida no quimbo,
as festas, os modos de vida e de figuras típicas que por lá encontrei,
das muitas pessoas, boas e interessantes que conheci, e ainda, só um
pouco, dos seres francamente racistas, grosseiros, brutos e porcos, que
também os havia, e… que hoje, em 2009, à sombra da democracia e
aproveitando a ingenuidade de muitos, aparecem, ora disfarçados de
rambos ora de defensores da verdade, que lhes convém.
Termino com a seguinte frase: Em Portugal, cada ex-combatente que morre é uma biblioteca que se queima.
Carlos Alberto Santos
Capítulos:
1.-Coisas e sensações do leste de Angola
2.-Formação do povo Quiôco
3.-Contador de histórias
4.-Batuque do Samunge
5.-Mulheres de fogo
6.-Batuque dos Muquixes
7.-Medos e feitiços
8.-A doença
9.-A Mahamba
10.-A morte
11.-O fim do luto
12.-As núpcias
-A iniciação das raparigas
13.-O nascimento
14.-A poligamia
15.-Adultério
16.-A mulher quiôca
17.-A alimentação
18.-Afrodisíacos
19.-O homem
-A iniciação dos rapazes
20.-O Pensador
21.-Notas soltas
22.-Sá Moço
CONTINUA.... (CLICAR AQUI)
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