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Maria do Céu Carmo Reis, Ernesto Lara, Mário Nobre João, Avidago, Adolfo Maria, Sócrates, Artur Pestana (Pepetela) e Adelino Torres (Paris. 1962)
Poema sem nome
...ou sonhos de outros tempos!
Meus Amigos,
Lembrei-me hoje de aqui inserir um poema que gosto, algo “duro”, mas que reflecte o sentimento de então da pessoa que o fez: Maria do Céu Carmo Reis.
Este poema não tem nome e, do que julgo saber (Um Testemunho para a História de Angola -do Huambo ao Huambo-, do neolisboeta Sócrates Dáskalos), nunca foi sequer publicado.
Maria do Céu Carmo Reis, na altura uma mulher jovem, bonita e culta, materialista apenas sob o aspecto político, foi militante do movimento Frente de Unidade Africana (FUA), ela mesmo companheira de percurso de alguns dos fundadores deste movimento de cidadania, entre eles Fernando Falcão, Sócrates Dáskalos, Luís Portocarrero, Carlos Costa, Manuel Brazão Farinha e Carlos Morais.
De uma maneira sucinta, direi apenas que este movimento surgiu em 1961 e, desde logo se identificou com as teses universalistas e progressistas do MPLA, tentando igualmente um acordo formal onde, por exemplo, as questões raciais não fizessem parte da prática que o mesmo movimento nacionalista já condenava e criticava em teoria. É evidente que a PIDE desde logo se encarregou de desmantelar este novo movimento, prendendo muitos deles e “obrigando-os” a procurarem o exílio em França, Argélia, Costa do Marfim e Guiné-Conacry, como foi o caso de Maria do Céu.
E foi num dia de frustração e de algum desânimo pelo impasse das negociações que então se desenrolavam com dirigentes do MPLA, que esta militante, entendendo a amargura de Sócrates Dáskalos, fez este poema, à mesa de um café em Paris (1962) e os ofereceu ao companheiro de jornada, de luta política e de ideais.
Terminando esta resenha informativa, direi apenas que na altura os Países que apoiavam as teses independentistas dos movimentos nacionalistas de África, como o bloco soviético (defensor acérrimo dos ideais leninistas) e os próprios Estados Unidos da América (na altura defendendo o denominado “Black Power”), não conseguiam entender, nem apoiavam sequer a tese que pessoas de pele mais clara fizessem parte da fileira dirigente dos partidos nacionalistas.
Aqueles irmãos brancos
que como tu irmão negro
traziam no coração
uma Angola mutilada e ensanguentada
chorando ódios, dores e humilhações
corpo em chagas sob a bota do inimigo
mas sentido nas veias latejar
raivoso, um sangue escarnecido e desprezado
mas sangue!
Aqueles irmãos brancos
que sentiram doer na consciência
o chicote no dorso do contratado
que como tu gemiam aiué
que como tu gemiam aiué
quando a palmatória gemia nos teus dedos
que choravam com a mamã negra
o drama do filho parido futuro escravo
não homem
que cantavam contigo
a triste canção de asas infinitas
numa gaiola fechada
sonhando a liberdade
que um dia gritaram com tu: Basta!
Aqueles irmãos brancos
irmão negro
ecos do teu grito
olhos brilhantes e punhos cerrados
deixaram a terra
por ti
pés exangues subiram montanhas
e atravessaram fronteiras
por ti
sofreram cansaços e humilhações
por ti
choraram lágrimas e foram sangue
por ti
foram morte para ser vida
por ti
foram tudo, tudo, tudo!
por ti
compreendes agora irmão negro
compreendes porque grito
e porque lhes chamo irmãos?
Um abraço do
Carlos Loureiro
(cauita)
1 comentário:
Descobri meio sem querer, o teu cantinho lindo, ele me levou a terra que eu amo Angola, lá me fiz mulher, esposa e mãe. Lá deixei os meus sonhos, uma filha e parte de mim mesma.Só te poço dizer bem vindo a blog-esfera. Obrigado por existir.
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