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Francisco Félix de Souza, o Chachá
Chachá - O baiano que fez fortuna na África vendendo escravos
Em sua mais recente obra, o africanista Alberto da Costa e Silva realiza, segundo ele mesmo, um sonho dos tempos de adolescência: escrever a biografia daquele que é tido como um dos maiores – senão o maior – mercadores de escravos do século XIX – Francisco Félix de Souza, o Chachá. Quase desistiu, devido a um artigo recente de Robin Law – que, segundo Costa e Silva, é “quem mais sabe... da história da Costa dos Escravos” (p. 06) – e que também tratava do Chachá. Prevaleceu, no entanto, o desejo de ver seu sonho realizado. Melhor para os estudiosos e todos aqueles que nutrem interesse pela história da África, pois fomos todos agraciados com um livro profundo, mas de leitura aprazível.
Não busca Costa e Silva fornecer-nos um retrato definitivo de Francisco Félix de Souza. Este é, segundo ele, o seu retrato do Chachá. Para tanto, o autor valeu-se de documentos escritos por pessoas que tiveram contato com Francisco Félix, mas também de depoimentos orais dos inúmeros descendentes do Chachá. Não nos esqueçamos que Costa e Silva é, além de historiador, diplomata, e sua profissão levou-o a conhecer de perto o cenário onde Francisco Félix deixou de ser um anônimo para se tornar um riquíssimo mercador de escravos. Assim, é com propriedade que o autor descreve a geografia da antiga Costa dos Escravos e, mais especificamente, do antigo reino do Daomé. De como esta geografia facilitava ou dificultava as guerras entre os reinos africanos, o transporte dos escravos e o seu embarque nos portos de Ajudá, Badagry ou Lagos. E, se nos fala de Singbomey, a casa-grande que o Chachá mandou erguer em Ajudá, é de dentro do casarão que o faz.
Tumba do Chachá, no interior de sua casa, Singbomey, no atual Benin
E é exatamente com esta descrição que Costa e Silva começa o primeiro dos 16 capítulos que compõem seu livro de 208 páginas. Somos convidados a compartilhar da intimidade do biografado, pois nos encontramos no quarto do Chachá, onde a mobília portuguesa se confunde com costumes africanos e brasileiros. É neste quarto que Francisco Félix se encontra sepultado, “dentro de casa, à daomeana” (p. 12). Sobre sua vida, segundo o autor, as dúvidas são muitas. Se há certeza quanto à data de sua morte – 08 de maio de 1849, em Ajudá – a maior parte de sua vida é cercada de incertezas. Sabe-se que nasceu em Salvador, segundo depoimento de próprio punho do Chachá, mas o ano é incerto (1754 ou 1768?). Sabe-se ainda que foi guarda-livros do almoxarife e escrivão do forte luso de São João Batista de Ajudá, mas não exatamente quando começou a prestar seus serviços. Sobre os motivos que o levaram à costa africana os documentos mais confundem que informam. Para Costa e Silva, Francisco Félix provavelmente era um degredado, cujos serviços foram aproveitados pela Coroa portuguesa. Segundo a tradição oral em Ajudá, em algum momento do final do XVIII Francisco Félix teria desistido do forte português e partido em direção a Badagry, atraído pelo lucro do comércio de escravos.
O capítulo seguinte narra a transformação de Badagry, de mero vilarejo a centro comercial de escravos no século XVIII. Foi no movimentado porto de Badagry, como vimos acima, que Francisco Félix teria buscado oportunidades como mercador de escravos, em fins do Setecentos. Depois de três anos em Badagry, Francisco Félix teria voltado à Bahia e, em 1800, retornado novamente à África, em Popô Pequeno (também chamada de Anexô). Lá, após se casar com a filha de Comalangã, rei da ilha de Gliji, teria recebido terras para fundar seu entreposto comercial, Adjido. Segundo outra versão, esta talvez teria sido a primeira vez que Francisco Félix pisava em solo africano, e ele só seria empregado no forte português de Ajudá algum tempo depois. De qualquer maneira, segundo Alberto da Costa e Silva, Francisco Félix já estava na Costa dos Escravos no começo do Oitocentos, fosse em Badagry ou Popô Pequeno, a comerciar gente.
No capítulo 3 o autor tenta explicar como Francisco Félix, um homem que chegara pobre, conseguiu se tornar um riquíssimo mercador de escravos. Conforme relato do próprio baiano, ele sobrevivera furtando a moeda local, os cauris, ou búzios, ofertados nos santuários dos voduns, divindades fons. É possível. O autor nos informa que os alimentos eram muito baratos naquela região do litoral africano, e mesmo com poucos cauris ninguém morreria de fome. Mas daí a tornar-se comerciante de escravos? Os escravos eram mercadoria cara, que não podia ser adquirida sem ouro, cauris, tecidos de luxo, tabaco baiano, aguardentes, armas de fogo, pólvora, contas, facas, cobre e latão, “produtos que, na maioria dos casos, não custavam barato em sua origem e viam o preço aumentado pelos riscos e as distâncias do transporte até o golfo do Benin” (p. 32). Neste momento a erudição de Costa e Silva orienta as hipóteses que ele levanta para explicar o sucesso de Francisco Félix de Souza: como os navios negreiros nem sempre encontravam sua mercadoria quando chegavam à Costa dos Escravos, às vezes era necessário comprar cativos a crédito, com pagamento adiantado. Ao que parece o baiano deve ter se beneficiado desse sistema de crédito após ter granjeado a confiança de algum mercador. Além disso – conjectura Costa e Silva – Francisco Félix provavelmente tinha facilidade em aprender idiomas, e deve ter trabalhado também como intérprete nas transações comerciais. O certo é que já tinha prestígio por ter se casado com a filha de um rei local. Amizades com pessoas influentes junto ao dadá (rei do Daomé) Agonglo também foram importantes para a ascensão econômica de Francisco Félix. Por tudo isso se tornara um influente mediador no comércio, entre europeus e brasileiros, de um lado, e os chefes africanos, de outro. Com seus ganhos teria Francisco Félix comprado seus primeiros escravos, sempre aguardando o melhor momento para vendê-los.
O capítulo 4 trata dos motivos que levaram Ajudá a se tornar o principal centro exportador de escravos do Golfo do Benin no início do século XVIII. Apesar de não ser bem localizada geograficamente para o embarque de escravos, Ajudá situava-se numa região densamente povoada, com muitos estados em conflito, o que garantia o fornecimento de cativos. Os comandantes dos navios negreiros preferiam os riscos oferecidos pelas ondas enormes, bancos de areia e tubarões de Ajudá, do que se demorarem em outros portos africanos à espera da mercadoria. Ademais, somos informados que a neutralidade de Ajudá nos conflitos entre estados próximos tornava seu comércio seguro. Vemos ainda que em Ajudá, no Setecentos, predominaram os negreiros oriundos do Brasil, pois detinham a moeda mais apreciada naquele parte da África: o tabaco baiano e o ouro das Minas Gerais.
O reino do Daomé, em suas guerras, produzia muitos escravos que eram vendidos ao reino de Aladá, que por sua vez revendia-os aos comerciantes de escravos de Ajudá; estes negociavam com os traficantes europeus e baianos. Conforme Costa e Silva nos mostra no capítulo 5, o dadá queria vender seus escravos diretamente aos traficantes, sem intermédios. Por isso – mas também porque tinha uma “ideologia da expansão militar permanente” (p. 51) – invadiu os reinos de Aladá (1724) e Huedá, ou Ajudá (1727). Estavam os daomeanos interessados em trocar seus escravos principalmente por armas de fogo, a fim de ampliarem sua superioridade bélica para levarem adiante sua expansão e obterem mais escravos, num círculo infindável. O porto de Ajudá, agora sob o monopólio comercial do dadá, perdeu sua neutralidade e a insegurança se espalhou. Como o dadá só vendia em Ajudá os escravos que obtinha nas guerras, o fornecimento de escravos passou a depender do bom sucesso do Daomé nas suas investidas, o que gerava períodos de escassez de cativos. Além disso, o dadá preferia os traficantes brasileiros, que pagavam em ouro. Tudo isto acabou afugentando os traficantes europeus e, posteriormente, até mesmo os brasileiros do até então movimentadíssimo porto de Ajudá.
No capítulo 6 vemos como sucessivos dadás (Agaja, Tegbesu, Kpengla, Agonglo e Adandozan) tentam devolver o vigor comercial ao Porto de Ajudá durante o Setecentos. Mas os constrangimentos que o dadá impunha aos comerciantes estabelecidos em Ajudá, como se apossar das propriedades (inclusive esposas) daquele que morria ou regressava a seu país, afastou-os de Ajudá. Estes passaram a preferir outros portos, especialmente os aparelhados por libertos brasileiros que retornaram à África, como os de Porto Novo e Lagos.
No capítulo 7, a propósito do primeiro encontro entre Francisco Félix de Souza e o então dadá Adandozan, Alberto da Costa e Silva relata como teria sido a viagem que Francisco Félix teria feito entre Ajudá e a capital daomeana, Abomé. É quando conhecemos um pouco do cotidiano do povo fon no começo do século XIX. De Ajudá, Costa e Silva fala das residências, do forte, dos mercados e das vestimentas dos diversos grupos sociais. A caminho de Abomé, ficamos sabendo da excelente qualidade da Estrada Real do Daomé, elogiada por europeus devido à sua largura e à boa manutenção. Na chegada a Abomé, Francisco Félix deve ter se deparado com uma cidade protegida por um fosso e abastecida com as águas de um riacho próximo. O autor retrata ainda as profissões e os palácios de Abomé, além da intimidade do dadá, suas esposas e seu quarto. Por fim, imagina, com base na cultura daomeana, como teria sido o encontro entre Francisco Félix de Souza e Adandozan: as reverências e os ritos da audiência.
Palácio dos dadás, ou reis, do Daomé
No capítulo oitavo encontramos Francisco Félix já comerciante de gente, exercendo seu ofício na fortaleza lusa de Ajudá, e a fornecer mercadorias em créditos ao dadá para obter seus escravos. Quando Adandozan deixa de efetuar um pagamento, Francisco Félix queixa-se e é preso. Seu infortúnio, entretanto, acabaria por favorecê-lo. Isto porque o rei Adandozan já não agradava mais nem à elite daomeana nem aos comerciantes com quem tinha tratos, e um golpe pelo trono parecia iminente. O príncipe Gapê, meio-irmão de Adandozan, procura Francisco Félix na prisão e faz com ele um pacto de sangue, à maneira dos fons. Gapê providencia a fuga de Francisco Félix, e este em troca consegue para Gapê armas e outros bens. Ajudado também por nobres, Gapê é bem sucedido no seu golpe, e se torna dadá por volta de 1818 com o nome de Guezo. O novo dadá convida Francisco Félix, que morava em Anexô, a se mudar para Ajudá. Segundo seus descendentes é nomeado chefe dos brancos e vice-rei de Ajudá, com o título de chachá. Francisco Félix conseguiu tornar-se então um importante agente comercial, com o direito de primazia na venda de seus escravos, o que lhe permitia escolher as melhores mercadorias de troca. Obteve o Chachá muito poder em Ajudá e grande influência sobre Guezo, de quem era “primeiro amigo”, conforme a tradição fon.
No capítulo 9 vemos o auge do prestígio do Chachá. Prestígio como amigo do dadá e responsável pelo forte português de Ajudá. Mesmo o tratado feito entre Portugal e Inglaterra em 1815, que proibia o tráfico de escravos ao norte do Equador (o que incluía o golfo do Benin), não foi empecilho ao sucesso comercial de Francisco Félix, que soube driblar a marinha inglesa. É certo que o Chachá teve de se adaptar ao tráfico clandestino, e seu negócio se tornou ainda mais arriscado. Mas ele contava com o privilégio da primeira escolha, e podia vender seus escravos rapidamente. Ademais, deixou de depender de terceiros para alimentar sua escravaria e passou a utilizar os cativos para produzir seu próprio alimento enquanto aguardavam o embarque. Fez alianças com portos fora dos domínios do Daomé para garantir o suprimento de mercadoria humana. Quando as disputas políticas ameaçavam seus negócios, o Chachá interferia. Por tudo isso, Francisco Félix tornou-se o maior mercador de escravos do Golfo do Benin, admirado na Europa e na América. Tanto era assim que o dadá Guezo tentou se valer do prestígio do Chachá para encontrar sua rainha-mãe, Nã Agontimé, que havia sido vendida como escrava quando Adandozan subira ao poder.
O décimo capítulo trata das conseqüências da Independência do Brasil na Costa dos Escravos. Para o Chachá era mais conveniente permanecer português, embora o grosso de seus negócios se dessem com a Bahia. Mas Costa e Silva afirma que Francisco Félix manteve as duas nacionalidades, a portuguesa e a brasileira, que eram usadas conforme suas conveniências. Entre os comerciantes brasileiros e portugueses que viviam na Costa dos Escravos não houve divisões, pois os interesses de ambos continuavam os mesmos: comerciar escravos. O Levante dos Malês, ocorrido em 1835, na Bahia, levou o governo baiano a expulsar os revoltosos libertos, e muitos foram recebidos pelo Chachá. Esses passaram a ser conhecidos na África como agudás. Embora viessem também de outras partes do Brasil, provinham, em sua maioria, da Bahia. Ao chegarem à África, não se sentiam mais ijexás, huedás, hauçás, ou jejes, ou não eram mais vistos assim pelos que imaginavam ser seu povo. Sentindo-se estrangeiros, o Brasil era um ponto em comum, e passaram a morar juntos. Os que se fixaram em Ajudá ergueram suas casas ao redor da casa do Chachá, a quem viam como protetor e líder. Isto era bom para Francisco Félix, pois ao aumentar o número de dependentes e agregados, reforçava sua riqueza e seu poder. O capítulo 11 traz alguns casos de agudás que enriqueceram como mercadores de escravos.
O capítulo 12 trata das conseqüências do Equipment Act, de 1839, através do qual a Inglaterra reservava-se o direito de prender qualquer navio que transportasse escravos. Este capítulo mostra ainda as estratégias de sobrevivência do maior mercador de escravos do golfo do Benim diante da vigilância britânica.
No capítulo 13 aproximamo-nos um pouco mais do cotidiano do Chachá. Ficamos sabendo de sua numerosa prole com as suas esposas africanas. Criados segundo a cultura de suas mães (que podiam ser fons, guns, hulas, minas, nagôs ou mahis), seus filhos eram instados a se comportarem como europeus a partir da adolescência. Alguns foram estudar na Bahia. “E a quase todos, transmitiu o que pôde de seus saberes de traficante” (p. 136). Vestia-se como europeu, morava e comia como brasileiro, e agia como chefe daomeano. Católico “à baiana”, cultuava os voduns fons. O Chachá era um excelente anfitrião, pois tratava bem até mesmo os visitantes que se opunham ao tráfico, e era por eles muitíssimo elogiado. Chegou a receber, entre os fons, louvações, à maneira dos orikis iorubás.
O ocaso do Chachá nos é apresentado nos capítulos 14 e 15 do livro. Em seus últimos anos, Francisco Félix de Souza passou a ter prejuízos devido à intensificação da repressão inglesa. Com isso, deixou de honrar os créditos que recebera antecipadamente de Salvador e de Havana. Já não podia contar muito com o dadá Guezo, que passara a enviar escravos para outros portos menos vigiados que o de Ajudá. O Chachá acabou perdendo sua condição de único agente comercial de Guezo, ainda que continuasse com alguns privilégios. Se diminuía a demanda de escravos, crescia a de azeite-de-dendê, utilizado na Europa para produzir velas e sabão. Muitos traficantes tornaram-se então senhores de dendezais, sem deixar o comércio de escravos. Quando este finda, os personagens continuam os mesmos, mudando apenas a mercadoria: de gente a azeite-de-dendê, ainda que com lucros menores. Ao contrário dos traficantes britânicos, que garantiram sua sobrevivência financeira através da diversificação de investimentos, Francisco Félix, de mentalidade luso-brasileira, preferia “investir” seu dinheiro em doações à Igreja, no luxo, na ostentação e no desperdício. Certamente – pensa Costa e Silva – , o Chachá já antevira o declínio do tráfico, mas não sabia fazer outra coisa que não vender gente. E gostava de sua vida. “Encontrara a sua Pasárgada, e não tinha por que afastar-se dela” (p. 169).
O último capítulo narra brevemente a festa de “posse” do novo Chachá, o VIII, Honoré Feliciano Julião de Souza, em 1995, acompanhada pelos Souza e muitos agudás de Ajudá. Os atuais descendentes de Francisco Félix esquecem, de acordo com o relato de Costa e Silva, o que consideram condenável na vida de seu antepassado: o ofício de mercador de escravos. Preferem lembrar dele como patriarca e protetor dos ex-escravos regressados do Brasil. É o que o historiador inglês Peter Burke chama de “uso da amnésia social”: indivíduos ou grupos buscam tirar da memória “um passado que as pessoas por um ou outro motivo não desejam conhecer, embora talvez fosse melhor para elas se o fizessem”[1]. Mas como o esquecimento nunca é completo, ou pelo menos nem todos preferem esquecer, no meio da festa um beninense chama Costa e Silva à parte e cochicha em seu ouvido “que Francisco Félix de Souza não foi aquele grande homem a quem cantam loas, mas a principal personagem de um medonho pesadelo” (p. 175).
O Rei do Daomé (sentado, sem camisa) saúda Mitô Honoré Feliciano de Souza, o Chachá VIII, vice-rei de Uidá.
Chachá VIII demonstra orgulho por sua ascendência brasileira
Desta maneira, percebemos que a ambigüidade prevalece deliberadamente no retrato do Chachá que Alberto da Costa e Silva busca nos apresentar em seu mais recente livro. Um retrato que às vezes aparenta estar embaçado, indefinido. E nem poderia ser diferente, já que, com sua honestidade característica, em diversos momentos Costa e Silva reconhece que apenas especula, em vez de afirmar. E lamenta que não haja, “semelhante ao de exclamação, um ponto de dúvida” para encerrar os períodos onde as incertezas abundam (p. 14).
Em outros momentos, porém, conseguimos visualizar mais nitidamente o Chachá retratado por Alberto da Costa e Silva. Onde os documentos escritos ou a memória coletiva silenciam, o autor enriquece a biografia de Francisco Félix com sua erudição acerca da geografia, dos costumes, do cotidiano, das culturas e da história dos habitantes do golfo do Benin. É inegável que ter convivido de perto com a realidade da África confere-lhe um conhecimento de causa que se torna um diferencial em relação a obras de outros historiadores que tratam do continente africano.
Francisco Félix simplesmente escapole de qualquer tentativa de um parecer definitivo sobre sua pessoa. Sendo ele um homem de mentalidade luso-brasileira colonial, que teve de se adaptar às cosmovisões dos povos que habitavam a Costa dos Escravos, especialmente dos jejes, podemos afirmar que Francisco Félix se integra, juntamente com os lançados portugueses na Senegâmbia dos fins do século XV[2], a um grupo que Costa e Silva chama de “centauros culturais: africanos entre africanos, europeus ou europeizados quando em contato com europeus” (p. 35). Tal maleabilidade cultural foi imprescindível para que Francisco Félix sobrevivesse em terra estranha e se tornasse o maior negociante de almas que o tráfico já produzira até então.
O diplomata, poeta, ensaísta, memorialista e africanista brasileiro Alberto da Costa e Silva, autor do livro resenhado
Resenha de: SILVA, Alberto da Costa e. Francisco Félix de Souza, mercador de escravos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: EdUERJ, 2004.
[1] BURKE, Peter. Variedades de história cultural. Trad. Alda Porto. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000, p. 88.
1 comentário:
Poderiam ao menos ter indicado a fonte do texto, que é de minha autoria e foi publicado originalmente no meu blog, no seguinte endereço: http://oritameji.blogspot.com.br/2010/05/chacha-o-baiano-que-fez-fortuna-na.html
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