MPLA
O Movimento Popular pela Libertação de Angola (MPLA) tem governado Angola desde a independência. As suas raízes estão no movimento crescente pela independência de Angola, que se desenvolveu na clandestinidade em Luanda na década de 1950 e entre estudantes angolanos que estudavam em Lisboa. Há quem afirme que Ilídio Machado, Viriato da Cruz, Matias Migueis, Higino Aires e André Franco de Sousa formaram o MPLA a partir de grupos pré-existentes (de que se destacam o Partido da Luta Unida dos Africanos de Angola e o Partido Comunista de Angola) em Dezembro de 1956. Mas outros questionam se é possível afirmar-se que o MPLA teria verdadeiramente existido enquanto tal antes de 1960.
O MPLA começou verdadeiramente a desenvolver a sua actividade depois da irrupção de violência a partir de Fevereiro de 1961, quando uma prisão de Luanda em que estavam detidos prisioneiros políticos foi atacada. O MPLA reivindicou depois ter estado envolvido na preparação do ataque, embora seja hoje considerado mais provável que o ataque tenha sido executado por elementos estranhos ao movimento.
Em 1962, o MPLA estabeleceu a sua primeira sede no exílio na cidade de Leopoldville no Zaire (hoje Kinshasa na RDC). No mesmo ano, Viriato da Cruz foi substituído como Secretário-Geral por Mário Pinto de Andrade, que cedeu a presidência a Agostinho Neto, que tinha já estabelecidas credenciais nacionalistas e populistas ajudado pelo facto de ser negro e não mestiço. Em meados de 1963, Viriato da Cruz tinha liderado uma dissidência do MPLA aderindo à Frente Nacional para a Libertação de Angola (FNLA), o que provocou confrontos entre os partidários de ambas os movimentos nas ruas de Leopoldville. Estas tensões contribuíram para o facto da Organização de Unidade Africana (OAU) reconhecer em 1963 o auto-denominado Governo Revolucionário no Exílio (GRAE) do líder da FNLA, Holden Roberto, como o único reprensentante legítimo do movimento independentista angolano, o que resultou na expulsão do MPLA de Leopoldville. Usando Brazzaville (Congo) como base, o MPLA foi-se re-organizando gradualmente. Em 1964, a OAU reconheceu o MPLA como movimento legítimo e gradualmente suspendeu o seu apoio ao GRAE. O apoio cubano e soviético ao MPLA começou na década de 1960.
Os problemas internos do MPLA ressurgiram em 1973-74. A Revolta do Leste, liderada pelo comandante Daniel Chipenda, desafiou sem sucesso a liderança de Agostinho Neto, resultando na adesão de Chipenda ao FNLA acompanhado pelas suas forças. Um tipo diferente de revolta deu-se no ano seguinte: a Revolta Activa, que foi uma crítica política à liderança de Agostinho Neto, uma tentativa sem violência de Mário de Andrade e outros intelectuais para mudar o rumo do movimento. Muitos dos protagonistas foram encarcerados ou exilados até a amnistia em 1978.
Com o conflito com Portugal a passar para segundo plano depois da revolução portuguesa em 1974, o MPLA assinou os Acordos de Alvor com os seus rivais em Janeiro de 1975. Porém, as tensões entre os diferentes movimentos de libertação exacerbaram-se logo em seguida, e o MPLA durante o ano de 1975 lutou para obter o controlo do país. O apoio cubano e soviético ajudaram o MPLA a conseguir o controlo da capital na data da independência. Em 1976, a OAU e a ONU reconheceram o MPLA como o governo legítimo de Angola.
Em Maio de 1977, Nito Alves comandante militar carismático e ministro de governo com apoio militante nos musseques (bairros populares) de Luanda liderou um sangrento golpe de estado contra a liderança do MPLA. A facção de Nito Alves mostrava-se favorável a dar ao partido uma orientação mais africana contrariando a alegada dominação dos mulatos. A purga desta facção e a re-estruturação do partido resultou no desmantelamento de estruturas democráticas populares em desenvolvimento. A liderança montou um sistema político centralizado em torno do Comité Central e do presidente do partido.
No primeiro congresso do MPLA, em Dezembro de 1977, o partido transformou-se num partido marxista-leninista de "trabalhadores, camponeses e intelectuais revolucionários" e a sua denominação foi alterada para MPLA-Partido do Trabalho (MPLA-PT). Organizações de massa, como a Organização de Mulheres Angolanas (OMA) e a União Nacional dos Trabalhadores Angolanos (UNTA) tornaram-se o elemento principal da sua organização. Ao mesmo tempo, a quantidade de membros do partido diminuía e concentrava-se principalmente em Luanda e noutras regiões kimbundu. À época em que José Eduardo dos Santos sucedeu a Agostinho Neto, após a sua morte em 1979, o número total de membros tinha declinado de 60.000 em 1975 para 16.500.
Na segunda metade dos anos 80, Eduardo dos Santos começou a consolidar seu poder pessoal sobre o partido e o governo. Mas apesar disso, na assinatura de um acordo em Gbadolite em 1989, ele não contou com o apoio de figuras importantes do partido que se recusavam a reconhecer a necessidade de negociar com a UNITA.
Com o fim da guerra fria e a onda de democratização em África, o MPLA promoveu numerosas reformas na década de 1990. Em 1990, abandonou o marxismo-leninismo em favor da social democracia. Em 1991, as organizações da sociedade civil exteriores ao partido foram legalizadas e um congresso extraordinário procurou ampliar o apelo do partido. Marcolino Moco, um ovimbundu, e o reformista Lopo do Nascimento foram eleitos para posições destacadas. Em Maio desse ano, os Acordos de Bicesse puseram oficialmente fim ao regime de partido único.
UNITA
A União Nacional pela Independência Total de Angola (UNITA) foi formada em 1966 depois do fundador, Jonas Savimbi, ter abandonado a FNLA. Savimbi, que era um ovimbundu, estava descontente com o controlo da FNLA pelos bakongos, com a sua ineficácia militar, com a influência americana e com a liderança autoritária do fundador do partido, Holden Roberto. A UNITA surgiu como um partido 'africanista', dando ênfase aos elementos étnicos e rurais em contraste com a perspectiva urbana e 'ocidentalizada' do MPLA. O apoio internacional da UNITA variou desde a China até à África do Sul, do Zaire até aos Estados Unidos. Nos primeiros anos, o carisma de Savimbi e sua imagem de defensor dos oprimidos permitilharam-lhe conquistar um apoio significativo no centro e no sul de Angola, especialmente entre os ovimbundu que constituem 40 por cento da população angolana.
Depois de assinar o acordo de cessar-fogo com Portugal, em Junho de 1974, Savimbi estabeleceu o seu quartel general em Nova Lisboa (hoje Huambo) e começou a criar a estrutura local do partido. Criou uma rede de apoiantes, inclusive alguns colonos brancos. Diversas reportagens da imprensa estrangeira, repetidas pelo MPLA, afirmam que, durante a primeira metade da década de 1970, a UNITA tinha cooperado com o exército português no leste de Angola, assim como com comerciantes brancos de madeira e o serviço secreto português. Porém, acima de tudo, Savimbi previa que o apoio em massa dos ovimbundu seria a base para uma vitória eleitoral depois da independência. A sua promoção da consciência étnica ovimbundu tornou-se mais pronunciada à medida que a sua base de apoio se tornava mais regionalizada no conflito entre os movimentos de libertação. Savimbi cultivou um relacionamento com a liderança protestante e co-optou muitas organizações ovimbundu acentuando a divisão entre as elites ovimbundu e o estado.
Quando os Acordos de Alvor fracassaram e o país mergulhou na guerra civil, a UNITA recebeu o apoio da África do Sul, mas foi expulsa de Luanda e perdeu a iniciativa. Na sequência da vitória do MPLA, a UNITA inicialmente retirou-se para a sua base no Huambo. Depois, reorganizou-se e começou uma campanha de sabotagem económica em 1977, que se expandiu com o apoio directo da África do Sul, depois de 1983, e dos Estados Unidos.
A partir de 1979, a UNITA estabeleceu uma auto-denominada 'região autónoma', baptizada de Terras Livres de Angola tendo na Jamba a sua capital. Esta região teria em 1989 uma população entre 800 mil a um milhão de habitantes a quem assegurava serviços de educação e saúde. Enquanto o MPLA centralista 're-educou', a UNITA mobilizou as comunidades de vilas por via dos líderes 'tradicionais'. No entanto, a UNITA também podia ser muito brutal, aterrorizando as populações rurais e impedindo as cidades sitiadas de receber alimentos.
A UNITA tinha as características de um partido, com um comité central, um secretariado político, um secretário-geral e 'organizações de massa' para mulheres e jovens. Como organização de combate, a UNITA e a sua ala militar, as FALA, mantinham laços estreitos e os oficiais de patente mais elevada integravam os orgãos de direcção política. No entanto, a característica mais importante da UNITA era a concentração do poder na pessoa de Savimbi, presidente do movimento e também comandante-em-chefe das FALA. Ele mantinha um controlo apertado do poder e era impiedoso no seu exercício. Havia purgas regulares na liderança, afastando-se as figuras mais antigas, que por vezes eram torturadas e assassinadas.
Alguns membros de origem étnica diferente da maioria ovimbundu ressentiram-se do poder do círculo íntimo desta etnia, leal a Savimbi, especialmente dos membros de sua família (por exemplo, seu sobrinho o general "Ben-Ben") ou dos originários de Andulu, a sua região natal (por exemplo, o general "Bock"). Houve algumas facções dissidentes na metade da década de 1980 que o acusavam de se ter vendido à África do Sul. Antigos líderes destacados, como António da Costa Fernandes, acusaram Savimbi de valer-se de feiticeria em julgamentos, esquartejando, afogando e queimando dissidentes políticos como feiticeiros. Por outro lado, a sua manipulação das crendices populares, especialmente no que diz respeito à feiticeria, reforçou o seu apelo entre os camponeses. Contudo, o seu apoio internacional foi prejudicado, especialmente depois de alegações que Savimbi estaria por detrás do assassinato de Tito Chingunji (um dos negociadores dos Acordos de Nova Iorque em 1988), Wilson dos Santos, comandante António Vakulukutu, e outros.
A estratégia da UNITA para as eleições de 1992 foi a campanha de 'nós' contra 'eles' (camponeses pobres contra cidadãos urbanos com formação), que não deu bons resultados em cidades politicamente mais sofisticadas como Luanda, Malanje e Benguela. Contudo, a UNITA demonstrou que poderia organizar uma campanha, propor candidatos em todo o país, e ganhar maiorias consideráveis em províncias de grande importância. Ao mesmo tempo, o MPLA pode desenvolver uma campanha mais inclusiva, acolhendo Fernandes e um outro dissidente, Miguel N'zau Puna (que havia abandonado a UNITA acusando Savimbi de planejar secretamente o regresso à guerra caso perdesse). Tendo ganho o MPLA, Savimbi alegou que as eleições haviam sido fraudulentas e, num quadro de violência em larga escala nas ruas, a UNITA voltou à guerra. Rapidamente assumiu o controlo de boa parte do país, mas ficou cada vez mais isolada internacionalmente e foi sendo forçada a recuar, tendo acabado por ser levado a assinar o Protocolo de Lusaka em Novembro de 1994.
A natureza do envolvimento da UNITA em iniciativas de paz, como as negociações de Lusaka, refletia o estilo de liderança de Savimbi. A posição protocolar dos negociadores mudava frequentemente, já que Savimbi manobrava constantemente procurando maximizar a sua influência e punir as pessoas que não fossem consideradas absolutamente leais. As principais figuras destas equipas negociais eram principalmente oriundas das forças armadas da UNITA, nomeadamente, no caso de Lusaka, o Vice-Presidente António Dembo, chefe do Estado-Maior, General Arlindo Pena "Ben Ben", General Paulo Lukamba "Gato", Jorge Valentim, Eugénio Ngolo "Manuvakola", mas também representantes no exterior (por exemplo, Isaías Samakuva de Londres) e um advogado português, António Oliveira. Savimbi não assinou pessoalmente o Protocolo de Lusaka, deixando a tarefa para Manuvakola (que mais tarde foi encarcerado por Savimbi durante três anos). Os 70 deputados da UNITA não tomaram assento no parlamento, já que Angola mais uma vez acabou por regressar à guerra.
Com muitos dos seus membros cada vez mais desiludidos, a UNITA fracturou-se. O núcleo da organização (os seguidores de Savimbi) continuou a lutar de 1998 até 2002. Um grupo baseado em Luanda auto-intutitulado UNITA-Renovada criou uma dissidência em Setembro de 1998 sob a liderança de Manuvakola e Valentim. O governo considerou a UNITA-R como o único interlocutor legítimo para a finalização do processo de paz, mas muitos viram o grupo como um fantoche do MPLA. 54 deputados da UNITA deixaram claro que não reconheciam a UNITA-R, e confirmaram Abel Chivukuvuku (antigo enviado pessoal de Savimbi ao Presidente Dos Santos) como seu líder.
A capacidade da UNITA para resistir militarmente ao governo entrou em colapso gradualmente nos anos entre 1998 e 2002, em que perdeu cada vez mais território e partidários. O retorno a táticas de guerrilha não inverteu o fluxo da maré, já que as sanções da ONU começaram a atingir as suas redes logísticas.
Por fim, Savimbi foi morto em Fevereiro de 2002. O Vice-Presidente Dembo morreu dias depois, alegadamente de causas naturais. O Secretário-Geral Lukamba Gato assumiu então a chefia do movimento. O Chefe do Estado-Maior Abreu "Kamorteiro" assinou o Memorando de Luena em Abril de 2002. A desmilitarização deu-se de forma rápida, a partir de Agosto de 2002 com a integração dos soldados da UNITA nas FAA e a sua desmobilização, com excepção de 5.000.
Em Julho de 2002, as diferentes facções da UNITA reunificaram-se e aceitaram a direcção de uma nova 'Comissão Política'. Em Junho de 2003, durante o primeiro congresso do partido depois da morte de Savimbi, Isaías Samakuva derrotou facilmente Gato e foi eleito líder da UNITA.
FNLA
Na década de 1950, os emigrantes bakongo originários do noroeste de Angola fundaram a União dos Povos do Norte de Angola (UPNA), que depois se tornou a União dos Povos de Angola (UPA), à medida que a organização procurou orientar-se mais para uma posição de nacionalismo angolano. No início da década de 1960, o líder Holden Roberto tinha estabelecido um perfil internacional bem mais destacado do que as lideranças mais difusas do MPLA, e tinha estabelecido ligações com os EUA. Ele também se tinha voltado para a resistência armada e, nos últimos anos da década de 1950, a UPA era um nome conhecido entre os militantes jovens em muitas regiões do país. Depois de o MPLA ter reivindicado com sucesso (embora dubiamente) a responsabilidade pelo ataque de 4 de Fevereiro de 1961 à prisão em Luanda, a UPA liderou ataques armadas no norte em Março. A partir da base da UPA em Kinshasa, Holden Roberto fundou a Frente Nacional pela Libertação de Angola (FNLA) em 1962. Ele também foi o primeiro a estabelecer um Governo Revolucionário de Angola em Exílio (GRAE), no mesmo ano.
Apoiado pelo Presidente do Zaire Mobutu Sese Seko, a FNLA travou uma discreta guerra de guerrilha no noroeste de Angola. O seu apoio internacional diminuiu nos últimos anos da década de 1960 e início da década de 1970, quando a OAU transferiu o seu reconhecimento para o MPLA. Pareceu receber um segundo fôlego no início da década de 1970 com o apoio renovado do Zaire e dos EUA, mas a ajuda das forças militares do Zaire e África do Sul não foi suficiente durante a guerra civil de 1975-76, e a FNLA foi virtualmente destruída como uma força militar.
Holden Roberto exilou-se em Paris em 1979 e embora alguns milhares de soldados tenham permanecido no norte de Angola, não se mostraram capazes de controlar esse território. Em 1984, muitos deles aceitaram uma amnistia do governo. Holden Roberto regressou a Angola e concorreu à eleição presidencial de 1992, tendo obtido apenas 2,1 por cento do voto, enquanto que a FNLA ganhou cinco assentos na Assembleia.
Hoje em dia, a FNLA é em grande parte irrelevante. Em Setembro de 1998, uma comissão de gestão de 51 membros proeminentes removeu publicamente Holden Roberto da presidência, substituindo-o por Lucas Ngonda. Em resposta, Roberto expulsou os membros da comissão de gestão e declarou as suas acções ilegais. Depois de várias tentativas fracassadas de mediação, o partido logrou a sua reunificação em Abril de 2004.
FLEC
A Frente pela Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) foi formada em 1963 reunindo algumas organizações mais pequenas que lutavam pela independência de Cabinda de Portugal, inclusive o Movimento pela Libertação do Enclave de Cabinda (MLEC) e a Aliança de Mayombe. A FLEC foi liderada por Luís Ranque Franque e criou um Governo de Cabinda no Exílio em 1967.
Portugal recusou reconhecer a FLEC em 1974, a qual respondeu desenvolvendo uma ala militar. Excluída das conversações de Alvor em 1975, a FLEC tentou assumir o controlo de Cabinda em Novembro com o apoio do Zaire. O MPLA e as forças cubanas derrotaram os separatistas, que passaram desde então a desenvolver uma guerra de guerrilha, que incluiu o rapto de trabalhadores estrangeiros empregues no território na indústria petrolífera, da construção e da extração de madeira.
A insurreição em Cabinda tem sido caracterizada pelo faccionismo e a FLEC tem vivido inúmeras cisões. Em 1977, uma cisão levou à criação de um Comando Militar pela Libertação de Cabinda (CMLC). Em 1984, a FLEC dividiu-se em FLEC-FAC (Forças Armadas de Cabinda) liderada por Henriques Nzita Tiago e FLEC-Renovada (FLEC-R), liderada por António Bento-Bembe. Outras facções incluem a Frente Democrática de Cabinda (FDC), a UNCL (baseada em Libreville, Gabão), a UNALEC e FLEC-Lubota (liderada por Francisco Xavier Lubota). Todas as tentativas de reagrupar estes movimentos fracassaram.
As sedes de todas estas facções ficam fora de Cabinda. A FLEC-FAC em Paris é mais militante e conta com mais combatentes do que a FLEC-R. Os números não são mais do que estimativas, mas pensa-se que a FLEC-FAC teria entre 600 e 1.000 homens em armas em meados da década de 1990. Esta organização reivindica uma República Federal de Cabinda sob a presidência de Tiago, que, no entanto, parece existir apenas no papel e na internet.
A FLEC-FAC intensificou suas actividades depois das eleições de 1992, assumindo o controlo de boa parte do interior rural, enquanto que o governo aumentou a quantidade de soldados em Cabinda para 15.000 em meados de 1993. A UNITA apoiou os rebeldes durante o período 1993-94. O governo anunciou conversações com a FLEC-FAC em Março de 1994, mas estas nunca se realizaram. Recentemente, surgiram novas divisões sobre se se deveria discutir um estatuto de autonomia em vez de reclamar independência total.
A FLEC-R de Bembe tem uma história de tentativas de negociação, como o cessar-fogo que assinou com o governo em Setembro de 1995. Este facto levou a um acordo adicional em Maio de 1996, mas a condições deterioraram-se entretanto, já que as FAA prosseguiram a guerra com a FLEC-FAC, e em resposta à falta de interesse do governo a FLEC-R retomou a luta armada com numerosos ataques em 1997.
A FLEC-R dividiu-se novamente, com a Plataforma FLEC de Bembe reivindicando ser a sucessora natural da FLEC original de Franque. Franque terá participado em conversas exploratórias com o governo de Luanda em Agosto de 2003.
A FLEC-R, agora reclamando a sigla FLEC, estabeleceu um governo em exílio com sede em França. Como todas as FLECs, a FLEC-R considera o território como sendo formalmente um protetorado português que foi integrado illegalmente com Angola e, em 2003, apelou a Portugal para ajudá-lo a realizar um referendo sobre o seu futuro.
Desde que o governo lançou uma ofensiva importante no final de 2002, alguns oficiais da FLEC desertaram aderindo publicamente às FAA, mas os rumores sobre o fim da FLEC ainda não se traduziram numa realidade concreta, e os grupos secessionistas armados continuam activos. Os grupos da sociedade civil em Cabinda e Luanda têm-se movimentado em torno da denúncia de abusos aos direitos humanos durante a campanha das FAA.
Envolvimento internacional
Portugal
A posse da colónia de Angola foi reconhecida a Portugal na Conferência de Berlim de 1884-85, 400 anos depois do primeiro contacto com os povos da bacia do Congo. Com o crescimento do número de colonos, Portugal não tinha qualquer intenção de aceitar a independência angolana até ao golpe de estado sem derramento de sangue, de Abril de 1974, em Lisboa, executado por elementos esquerdistas das forças armadas portuguesas.
O novo regime negociou em Janeiro de 1975 os Acordos de Alvor entre os diferentes movimentos de libertação. Os simpatizantes do MPLA no governo de transição eram hostis a determinados colonos brancos, que consideravam a pior face do colonialismo português, e verificou-se uma crise profunda de autoridade na colónia. Existiam, porém, ligações antigas em Portugal entre as forças da oposição, sobretudo do Partido Comunista Português (PCP) e o MPLA.
As relações entre Portugal e Angola foram tensas na década a seguir à independência, já que Angola suspeitava que o antigo poder colonial, e especialmente o Primeiro-Ministro socialista Mário Soares (um dos arquitectos dos Acordos de Alvor), encorajava os Estados Unidos a não reconhecer o MPLA e a apoiar a UNITA. Também havia em Portugal muitos retornados (colonos brancos refugiados) descontentes com a descolonização e com o regime marxista do MPLA. De forma que cada vez mais Lisboa se tornou a segunda base da UNITA.
As relações com o MPLA começaram a melhorar depois de Cavaco Silva se ter tornado Primeiro-Ministro em 1985, o que possibilitou a Portugal assumir o papel de mediador. Cavaco Silva começou por procurar ganhar a confiança do MPLA, cujos líderes, por sua vez, consideravam Lisboa como um veículo importante de reaproximação aos EUA numa época em que a continuação do apoio soviético parecia cada vez menos garantida. A resistência de Cavaco Silva ao forte lobby favorável à UNITA em Lisboa alcançou essse objectivo, mas depois do fracasso das conversações de Gbadolite em 1989, tornou-se óbvio que o governo português também teria de melhorar as suas relações com a UNITA, se quisesse assumir um papel de mediação. Foi então permitida a visita de Savimbi a Lisboa no início de 1990 e as restrições à sua actuação cessaram.
Com a 'solução africana' preferida do MPLA esgotada após Gbadolite, o MPLA via como cada vez mais provável ter de negociar com a UNITA sob a mediação dos EUA, o que não lhe agradava de todo. A alternativa, igualmente aceitável pelas duas superpotências, era mediação de Portugal, que não tinha condições de influenciar a vida internacional, nem interesses óbvios na vitória de qualquer dos beligerantes.
Os portugueses, sob a liderança do Secretário de Estado Durão Barroso, organizaram diversas rondas negociais entre Abril de 1990 e Maio de 1991, que resultaram na assinatura dos Acordos de Bicesse. Portugal foi um dos membros da Troika de países que mediava e monitorizava a implementação do processo de paz angolano. Portugal continua a manter relações mais estreitos com Angola do que outros países europeus.
Estados Unidos da América
Da década de 1960 até o início da década de 1990, o envolvimento dos Estados Unidos em Angola foi orientado por considerações derivadas do clima de Guerra Fria. Atraídos pela abundância de petróleo e diamantes, os EUA apoiaram Portugal na sua luta pelo controlo de Angola durante a maior parte da década de 1960. No entanto, durante algum tempo sob a presidência de John F. Kennedy, também houve um certo apoio ao anticolonialismo, bem como ao anticomunismo, o que conduziu ao estabelecimento de vínculos com a FNLA.
Os Estados Unidos deram ajuda aos movimentos anticomunistas em Angola durante a guerra civil de 1975-76. No entanto, numa fase decisiva, em Dezembro de 1975, o Senado aprovou a Emenda Clark que decretou o fim da assistência clandestina às forças anticomunistas em Angola. Com a FNLA efectivamente derrotada e perante a impossibilidade de aceitar um regime marxista, os EUA começaram a voltar-se para a UNITA por volta de 1977 e em 1985, com a revogação da Emenda Clark, enviam uma ajuda substancial através do Zaire.
Com o enfraquecimento da União Soviética, os EUA aproveitaram a oportunidade para exercer o papel de mediador, sendo o anfitrião das conversações entre Angola, Cuba e África do Sul, em Nova Iorque, em Dezembro de 1988. Entretanto, a política dos Estados Unidos continuava a ser fortemente favorável à UNITA e este apoio atingiu um valor próximo dos 90 milhões de dólares em 1990. Apesar de os Estados Unidos apoiarem um fim negociado para a guerra, argumentavam que uma UNITA mais forte seria necessária para a transição para o pluralismo político. Os Estados Unidos ajudaram a orientar as partes rumo aos Acordos de Bicesse em 1991 e parecem ter estado plenamente confiantes de que a UNITA venceria as eleições de 1992. A decisão da UNITA de regressar à guerra, depois da sua controversa derrota, foi o começo do fim da sua relação próxima com os Estados Unidos e após o fracasso das conversações de paz em Adis Abeba e Abidjan, em 1993, os Estados Unidos decidiram estabelecer, pela primeira vez, relações diplomáticas plenas com o governo do MPLA.
Os Estados Unidos ainda desempenharam um papel importante no regresso da UNITA à mesa de negociações em Lusaka, mas com o aproximar do final da década, tornaram-se aliados cada vez mais importantes do governo do MPLA, em parte por causa da importância crescente do petróleo angolano.
URSS/Rússia
A concessão de ajuda financeira, diplomática e de material militar pelos soviéticos ao MPLA começou na década de 1960, permanecendo entretanto clandestina e insuficiente para permitir que o MPLA desafiasse Portugal. O apoio atingiu o seu ponto mais baixo em 1973, num contexto dominado por duas revoltas contra a liderança de Agostinho Neto, e foi retomado apenas quando a situação de Neto se consolidou. Durante a guerra civil de 1975-76, a URSS enviou por avião armamento pesado para o MPLA nos meses decisivos, imediatamente antes e depois da independência, ajudando assim a garantir o triunfo dos seus aliados. Com a superpotência rival ainda em crise por causa do Vietname, a URSS estabeleceu relações estreitas com o MPLA através da assinatura em 1976 de um Tratado de Amizade e Cooperação.
A URSS forneceu apoio financeiro e militar essencial ao governo angolano durante toda a década de 1980. As relações com o regime do MPLA nem sempre foram fáceis, com suspeitas de apoio soviético à tentativa de golpe de Nito Alves em 1977 e a purga das figuras mais pró-soviéticas no congresso do partido em 1985.
Nos últimos anos da década de 1980, tornou-se óbvio que o governo do MPLA não podia contar com o apoio soviético indefinidamente, já que a URSS procurava um entendimento com os EUA. A URSS (e mais tarde a Rússia) assumiram o seu lugar como um dos países da Troika que acompanhou os acordos de paz de 1991 e 1994, um papel que manteve até ao Memorando de Luena de 2002.
Outros
Os vizinhos de Angola desempenharam papéis de grande importância. Os laços étnicos e políticos entre os povos bakongo de ambos os lados da fronteira foram uma das razões que levaram o Presidente Mobutu do Zaire (hoje a República Democrática do Congo) a apoiar a FNLA. A influência de Mobutu sobre outros líderes africanos, como Kaunda de Zâmbia e Nyerere da Tanzânia foram decisivos no ressurgimento da FNLA no início da década de 1970. Holden Roberto também utilizou o apoio de Zaire para reforçar os laços com a China e mesmo para controlar divergências internas na FNLA quando o Zaire enviou tropas para sufocar um motim nas forças armadas da FLNA em 1973. Mobutu interveio directamente na guerra civil angolana em 1975, enviando tropas para apoiar a FNLA contra o MPLA. O Zaire proporcionou também uma via para tranferir o apoio dos EUA para a FLNA e ajudou a atrair a África do Sul, que aproveitou a oportunidade de ser vista a lutar ao lado de uma nação africana negra.
Depois de efectivada a sua derrota na guerra civil, Mobutu logo se entendeu com o governo do MPLA, o que significou o desaparecimento de Holden Roberto como protagonista sério nas lutas pelo poder em Angola. As relações com Angola declinaram novamente depois de 1981, já que Mobutu começara a apoiar as políticas de desestabilização dos EUA e o Zaire tornou-se uma 'base de retaguarda' importante para a UNITA, especialmente depois de 1986, quando serviu de canal para a venda ilegal de diamantes e via de entrada de equipamento. Mobutu aproveitou a oportunidade para assumir o papel de mediador, em 1989, quando foi o anfitrião das conversações de Gbadolite, mas Portugal assumiu esta posição nos Acordos de Bicesse. A queda de Mobutu em 1997 foi um golpe importante para Savimbi.
O Zaire deu igualmente apoio considerável à FLEC, como também o fez o Congo (República do Congo Brazzaville), já que ambos aspiravam a controlar uma Cabinda independente, se não mesmo anexá-la. Ambos os países reagiram positivamente à proclamação da independência da 'República de Cabinda' emitida pela FLEC baseada em Kinshasa, na cimeira da OAU em Agosto de 1975. Contudo, Brazzaville apoiava uma facção rival FLEC de N'Zita Tiago, e o MPLA, que era anti-secessionista (um regime também apoiado pelos soviéticos, e igualmente rival do Zaire, que apoiava a FNLA). Ambos os países acabaram por abandonar publicamente os seus apoios à independência de Cabinda e às diversas facções da FLEC.
A África do Sul do apartheid também interveio contra o MPLA em diversas ocasiões, motivada pelo desejo de ter um regime amistoso e não-comunista em Luanda que negasse santuário aos guerrilheiros da Organização do Povos do Sudoeste Africano (SWAPO), o movimento de libertação da Namibia. O seu envolvimento começou com uma intervenção militar de pequeno escala em 1975 em nome da proteção de seus investimentos no projeto hidroelétrico do rio Cunene, mas empenhou-se cada vez mais no treino de forças da UNITA e FNLA. Em Outubro de 1975, tropas das Forças de Defesa Sul-Africanas (SADF) juntaram-se à ofensiva da UNITA/FNLA. Primeiramente, a estratégia era ajudar a UNITA a reivindicar tanto território quanto possível na corrida para possíveis negociações e então retirar-se; entretanto, o foco se transformou, ao invés disto, em atacar para cima até Luanda, já que o Zaire e a FLNA atacavam para baixo partindo do norte (preocupando Savambi que temia uma conspiração para colocar a FNLA no poder). A operação não conseguiu impedir que o MPLA conservasse o controlo de Luanda e solapou decisivamente o apoio geopolítico aos rivais do MPLA.
A SADF retirou-se em Março de 1976, mas a África do Sul manteve durante os anos que se seguiram uma política agressiva de baixa intensidade, e voltou a ser um protagonista importante na guerra durante a década de 1980. A pressão da ONU levou ao Acordo de Lusaka de 1984, em que os sul-africanos concordaram em retirar se os angolanos cortassem a sua ajuda à SWAPO, mas a SADF regressaram em 1985 em apoio às forças da UNITA contra uma grande ofensiva das FAPLA com apoio cubano. Em 1987-88, a luta no sul de Angola culminou no cerco de Cuito Cuanavale por forças sul-africanas e da UNITA. O brutal impasse militar que se seguiu foi um golpe fatal nas suas esperanças de vitória militar em Angola. Os Acordos de Nova Iorque de Dezembro de 1988 puseram-lhe termo definitivo e resultaram na independência da Namibia.
No lado oposto na maior parte das intervenções da África do Sul, estava Cuba. O interesse cubano no MPLA começou com a visita de Che Guevara à África Central em 1964-65. Na guerra civil de 1975, Cuba interveio ao lado do MPLA enviando primeiro conselheiros militares e, em seguida, tropas pretensamente como resposta à intervenção da África do Sul, embora a decisão de avançar fosse provavelmente anterior, tal como os pedidos de ajuda do MPLA. Os efectivos cubanos, que seriam cerca de 1.000 em Outubro de 1975, aumentaram para 14.000 no período até Fevereiro de 1976. As tropas de elite enviadas logo no início ajudaram a defender Luanda no momemento da independência a 11 de Novembro de 1975. O apoio cubano também ajudou a reforçar o envolvimento da URSS.
Nos anos a seguir à independência, Cuba forneceu também apoio não-militar indispensável ao regime do MPLA, enviando arquitectos, engenheiros, professores, médicos, funcionários civis e outros para construir o novo país. A presença militar de Cuba ganhou maior importância para o governo do MPLA, de novo, na década de 1980, quando as forças cubanas se envolveram frequentemente na luta contra os sul-africanos e os seus efectivos chegaram a atingir os cerca de 50.000 homens.
Na década de 1990, Cuba deixou de ter grande utilidade para o MPLA. A mudança nas prioridades do MPLA ficou claramente marcada quando a partir de Dezembro de 1995 Angola, paradoxalmente, deixou de votar na Assembleia Geral das Nações Unidas contra o bloqueio de Cuba, o que enfureceu o Presidente Fidel Castro. (continua)
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