terça-feira, 10 de março de 2009

Segunda viagem a sul do Equador pelo Navegador Diogo Cão Em 1485

Autor: Amade . Mata

Réplica Caravela Bartolomeu Dias
D. João II, desejoso de apertar relações com o rei do Congo, Nzinga-a-Kuvu, de fazer regressar os indígenas de lá trazidos, de recolher os emissários e de prosseguir na descoberta do caminho marítimo para a Índia, enviou no segundo semestre de 1485, Diogo Cão nesta segunda viagem, com duas caravelas. Para o rei do Congo, Nzinga-a-Kuvu, uma embaixada com ricas prendas ofertas de amizade, seguiriam também recomendações para renegar aos ídolos, feitiçarias e abraçar a religião cristã.
Dirigiram-se para a Mina (S. Jorge da Mina), como era habitual.

Castelo de S. Jorge da Mina (Ghana – África)
Depois seguiram para o estuário do Zaire, onde aportou a M’Pinda, 10 Km da ponta do Padrão, residência do Manisoyo Dois meses era o tempo necessário para chegar ao Rio Poderoso (Zaire ou Congo), depois de ter sido aparelhado na Mina, chegou em Outubro. Tendo-se apercebido que os emissários anteriormente enviados ao Rei do Congo, ainda não se encontravam em M’Pinda, e também de suspeitar que por esta via poderia ter acesso mais rápido ao Índico, já que na exploração anterior não fora mais além das imediações de Nóqui, decide zarpar rio acima. O Mito de Diogo Cão “...Um guia acompanhou, pois, a expedição portuguesa rio acima, até Noki, onde desembarcaram. O navio ficou fundeado no sítio chamado Nsuku a Nsambi a Nzombo, onde havia uma grande pedra com uma mulembeira que lhe crescera no topo. Desse modo evitava-se subir até Matadi, "por causa dos ventos violentos da região, originados pelas montanhas". Prosseguiram a viagem por terra ao encontro do Nekongoe da sua corte, que lhe ofereceram um grande banquete. Note-se que o Nekongo, avisado por mensageiros, já sabia da chegada dos portugueses e já os esperava. O visitante deu ao Ntotila como presente um rico pano que se chamou Nkampa. O mito de Diogo Cão parece, enfim, pôr em relevo algumas particularidades da consciência solongo. Nele se recorda com especial vigor a dependência do rei do Soyo para com o rei do Kongo, seu soberano. Este aspecto não tem porém uma intenção didáctica pura, mas ele é, muito mais, o resultado do movimento de aproximação com Mbanza Kongo e portanto com o poder central por tradição, que crescia no Soyo à data da recolha do mito (1990). Contudo sabe-se pertinentemente pela documentação existente , que os contactos de Diogo Cão com o dito "Mani Soyo", foram numerosos e até frutuosos, pois inclusive o chefe solongo fez-se baptizar. Além disso a narração pretende mostrar através dum contorno simbólico que o culto actual (e bastante antigo) de St. Maria, surge da igreja católica (vem com Diogo Cão), mas em oposição a ela. Recordemos que a santa, devendo ter "regressado" com o navegador como sucedeu a St. António, preferiu ficar no Soyo. Enfim, para o historiador, há neste mito numerosos elementos significativos inspirando um mínimo de segurança que lhes permita serem tratados como factos históricos, quer pelo número muito elevado de informantes que os reconheceram -- o que dá fixidez a uma cultura histórica envolvente -- quer pela sua semelhança com a realidade concreta conhecida. No episódio histórico de Diogo Cão fala-se de uma "pedra" (na ocorrência, o Padrão); essa "pedra", de que, no mito, o Navegador é miticamente (e não explicitamente) portador (ou criador) contém dois santos da religião católica: St. António e St. Maria, o primeiro, tanto na versão antonina do Soyo como na do Kongo desaparece, abstratiza-se e só se manifesta indirectamente através da sua eleita, a santa; o itinerário mítico da expedição pelo rio Zaire conduzindo a uma "pedra" que evoca a descoberta de Yelala, facto histórico e por fim um Senhor do Soyo, um "Mani Soyo" que na narração mítica se chama Ndom Malele Kya Nsi e na narração histórica toma o nome de D. Manuel da Silva. O que é pois o dito "Mito de Diogo Cão", senão a representação que o povo solongo se faz do facto histórico, modelado pela linguagem mítica local e pela ideologia dominante? Assim sendo é também uma das fontes da história do Soyo cuja leitura implica a descodificação de um mito. Devemos notar que durante a época dos Descobrimentos houve 3 períodos de marcação das terras descobertas a favor de Portugal: No Primeiro Período usou-se a Cruz de Madeira Alta para os descobrimentos do Porto Santo, Madeira, Cabo Verde e Açores. Mas estas cruzes apodreceram. No Segundo Período compreendeu fazeram-se gravações em pedras ou rochas à beira dos rios ou nas praias- Pedras de Ielala na África e a Pedra de Dighton na América do Norte. No Terceiro Período compreendeu a colocação de Padrões. O Diogo Cão executou o Segundo e Terceiro Períodos.

Itinerário do curso superior Rio Zaire ( Cataratas de Ielala ) – 92 milhas náuticas da foz
Viajando até 170 Km da foz ( 92 milhas náuticas) dá com as cataratas de Ielala, onde acaba a navegabilidade do Zaire. Entre recifes, na margem esquerda, adiante de Matádi, e a montante de Vivi, num sítio chamado Nsadi- Qumbidinga (rio de peixe ), chegaram a uma ponta que fica a uns duzentos metros dos rochedos onde haveriam de efectuar a gravação, desembarcaram, e descalços por ser completamente impossível seguir calçados por sobre pedras escorregadias, de onde, caíndo, inevitavelmente iam ao rio, onde a morte seria certa.
Os nautas com enormes dificuldades conseguiram andar alguns metros, até que chegaram a um ponto onde a todos faltou o ânimo para continuar. Tinham na sua frente, por único caminho, um despenhadeiro de alguns metros de altura, cortado a pique sobre o rio, sem outra cousa a que se segurassem, que não fosse alguns fios de erva ( capim ) e as raízes de uma árvore (lianas)! Houve alguém que se arrojou a transpor aquele precipício e os que seguiam foram atras. Ao fim de algum tempo encontravam-se sobre o rochedo onde iria ficar a inscrição. Ali, em frente de tamanho espectáculo, vendo o rio, em baixo soltando rugidos de leão, é que avaliaram a intrepidez de tamanha façanha que acabavam de efectuar. De seguida gravaram as armas de Portugal, o escudo usado naquela época, a cruz de Cristo e nomes de vários nautas deixando para a posteridade a permanência dos portugueses naquele lugar. O escudo, os castelos, as quinas gravadas revelam que são posteriores à reforma decretada por D. João II (Março de 1485).
D. João II (1481-1495)
D. João II (1485-1495)
De Março de 1485
D. João II retirou das armas reais os remates flores-de-lis (pontas da cruz verde floretada da Ordem de Avis). Fundo branco. Cinco quinas azuis dispostas em cruz (as laterais apontam para baixo, como as do centro). As quinas possuem cinco besantes brancos (dois pontos – um ponto – dois pontos) Bordadura vermelha. Sete castelos dourados na bordadura (por vezes oito castelos). Caption??? Goes where ??
Gravação nas pedras de Ielala – Rio Zaire ou Congo ( a 92 milhas náuticas da foz).

Nas gravações dos rochedos de Ielala, na margem esquerda do rio vê-se o seguinte:
O Escudo português, constituído por cinco quinas todas viradas para baixo e uma cruz da ordem de Cristo e a inscrição “Aqui chegaram os navios do esclarecido rei D.João II de Portugal – Diogo Cão, Pero Anes, Pero da Costa”.
As Inscrições nos rochedos das cataratas de Ielala – Rio Zaire (Out/Nov de 1485)
Noutro rochedo dois nomes – Álvaro Pires, Pero Escolar e uma sigla . Noutro rochedo os nomes João de Santiago, Diogo Pinheiro (por cima do D, o sinal de uma cruz reduzida), Gonçalo Álvares e Antão e outra sigla. Nesta pedra lêem-se também as palavras “ da doença”, precedidas de uma cruz ┼,
seguida do nome João ou (Gonçalo) Álvares !?, o que quer dizer que o nauta morreu por doença. O estudo epigráfico desta inscrição revela ser posterior às outras inscrições. A letra (grafia) utilizada é diferente. Há uma opinião sobre este assunto no capítulo das “curiosidades”. O sinal de uma cruz reduzida por cima do D de Diogo Pinheiro, significaria que o nauta se encontrava afectado pela doença?! Diogo Cão, explorou o Rio Poderoso (Zaire ou Congo) até Ielala, não foi mais adiante pelo facto de ter notícias desoladoras de que o rio era intransponível, das muitas cachoeiras no percurso superior, encontrar uma rota por esta via até ao Índico, estava fora de questão. PEDRA DE IELALA, com a incrição deixada por Diogo Cão, c. 1485.

Na foto um oficial da marinha Portuguesa, finais da década de 60, princípios de 70, séc. XX.

O limite de navegabilidade do rio Zaire ficou assinalado com o marco simbólico
do ponto a que puderam chegar os navios « do esclarecido
Rei Dom João o segundo». Encontrando-se próximos da residência (M’Banza) do rei do Congo, Manicongo, cerca de 100 Km para sudeste, Diogo Cão, enviou 2 dos 4 negros agora chegados de Portugal, bem vestidos e a falar a língua portuguesa a comunicar a chegada dos portugueses, para uma futura amizade e aliança a encetar com o rei de Portugal. Esta embaixada teve também como objectivo a recuperação dos 2 emissários anteriormente enviados e que ainda não tinham sido recuperados. Ficou o monarca do Congo encantado, ao ouvir da boca dos seus súbditos, já um pouco aportuguesados, notícias precisas a respeito dos portugueses. Os recém chegados causaram admiração, respeito e alegria na corte congolesa. Segundo o cronista Garcia de Resende, o rei do Congo viajou até Nóqui, o qual “hindo polla dita cofta com assaz perigo, e trabalho, foi ter com a dita armada ao rio de Manicongo”. (Itinerário de M’Manza Congo a Nóqui a tracejado vermelho) Como exemplo cita-se o trecho seguinte no qual o cronista narra o acontecimento. “ O qual hindo polla dita cofta com affaz perigo, e trabalho, foy ter com a dita armada ao rio de Manicongo, (…) o qual rio, e terra de Congo he de Portugal mil e fetecentas legoas, onde por fer tão lomge da outra terra de Guiné já defcuberta não fe poderão entender com a gente da terra, e levando muytas lingoas nenhua entendia, nem fabia aquella lingoagem”. (Garcia de Resende, Crónica de D. João II e Miscelânea, Lisboa:INCM, 1991, pág. 221) Deste modo, Diogo Cão não foi à residência do Rei do Congo (Banza Congo- ex - S.Salvador), como quis pretender o cronista João de Barros. Os capitães não se ausentavam dos navios por longos períodos. Para se encontrar com o Rei do Congo era necessário percorrer de Nóqui até M’Banza Congo, aproximadamente 20 léguas ( 100 Km ), uma caminhada a 5 dias de distância por lugares desconhecidos dos portugueses, e tanto mais os emissários enviados dois anos antes (um dos quais Martim Afonso e outro Fernão Martins?) ainda não tinham regressado da M’ Banza (residência) do rei . Alguns dias de caminho em assaz perigo e trabalho, foi ele (rei do Congo), Nzinga-a-Kkuvu, ter com a dita armada ao rio do Manicongo, onde os navios se encontravam fundeados (ancorados) perto de Nóqui, lugar de melhores acessos. Rio Zaire, perto das pedras de Ielala Ofereceu ao rei do Congo um rico tecido de damasco e outros objectos, a mando de D. João II, servindo de intérpretes os negros agora chegados, porque os portugueses não se “ entendiam com a língua da gente da terra “. O rei por sua vez, ofertou peças de marfim e objectos de arte e peles, como sinal de futura amizade a encetar com o Rei de Portugal. Deu-se assim, início à duradoura aliança entre os reis do Congo e de Portugal. Os dois emissários regressaram às caravelas e houve contentamento de todos. Martim Afonso, já conhecedor da língua congolesa trouxe conhecimentos das gentes e das terras da região. Diogo Cão saiu das cataratas em Novembro de 1485, partido para Sul em busca da passagem para o Índico, dois anos antes Setembro de 1483 estavam convencidos que tinham atingido a proximidade do Promontório Prassum, onde começa o Golfo Arábico! Passando o cabo do Lobo, e chegando ao cabo Saco, ultimo ponto atingido na viagem anterior, verificaram com muita surpresa, a entrada de uma angra cuja trajectória seguia para Sul.

Baía de Moçâmedes (conhecida por Angra de João de Lisboa )
“Com efeito, enquanto os nautas seguiam em direcção a Sul, em Roma, pelo resultado alcançado por Diogo Cão na viagem anterior (1482-1484), na Oração de Obediência que o Rei D. João II envia ao papa Inocêncio VIII e que é lida pelo embaixador Vasco Fernandes de Lucena em 11 de Dezembro de 1485, afirma, que no ano anterior tinham os portugueses chegado até perto do “ Promontório Prasso”, onde começa o Golfo da Arábico. Tendo feito uma larga exposição dos serviços prestados pelos nautas na expansão da fé cristã, o Dr. Lucena continuou: « A tudo isto acresce a esperança bem fundada de explorar o Golfo Arábico, onde reinos e povos que habitam a Ásia, mal conhecidos de nós por notícias muito incertas, praticam escrupulosamente a fé santíssima do Salvador, dos quais, a dar crédito a experimentados geógrafos, já a navegação portuguesa se não encontra senão a alguns dias de viagem. Efectivamente, descoberta já uma parte enormíssima da costa africana, chegaram os nossos no ano passado até perto do Promontório; foram explorados os rios, praias e todos os portos que desde Lisboa, numa extensão de mais de 45 centenas de milhares de passos, estão enumerados com exactíssima observação do mar, das terras e dos astros ( o texto latino destas afirmações ocupa, na 1ª edição da Oração de Obediência – Roma, 1485, as últimas linhas da 10ª página e as primeiras da 11ª ) 1486 Iludidos por aquela orientação da costa, ilusão que certamente não foi só sua, seguiu mais adiante. A 16 de Janeiro de 1486, Diogo Cão e os nautas , dão com um cabo a que chamaram de Cabo Negro, 15º 42´ lat. sul, onde ergueram o Padrão do Cabo Negro, seguida de celebração de missa. Visão da costa angolana, perto do Cabo Negro, onde foi implantado o Padrão do Cabo Negro A seguir entram na Angra das Duas Aldeias ( Porto Alexandre, actual Tombua), a que foi posto este nome por nela os nautas terem achado duas grandes aldeias de negros, gente pobre que se mantinha de pescarias, única riqueza da terra, “ nesta terra nam há proueyto “ , nesta terra não há proveito.

Padrão do Cabo Negro e angra duas aldeias, actual Tombua – Porto Alexandre -Angola

(Padrão do Cabo Negro, Sociedade de Geografia Lisboa),
O Padrão do Cabo Negro, encontra-se em mau estado de conservação, as inscrições são iguais ao Padrão do Cabo (Cape Cross).?, a inscrição nela gravada, está quase completamente destruída. Os vestígios dessa inscrição estão no fuste e no capitel. Este facto e a feição geral do monumento – o corpo superior do padrão aproxima-o ao Padrão do Cabo da Serra (Cape Cross) Trecho da costa angolana a Sul da Baía de Moçâmedes (Namibe) à Baía dos Tigres Porto Alexandre – actual Tombua - Angola Navegando à vista duma costa baixa e correndo nordeste sudoeste com a Angra das Aldeias, a quinze léguas, os nautas acharam uma enseada, a que deram o nome de Manga das Areias (Baía dos Tigres), e que se estendia por terra a dentro cinco ou seis léguas, com doze a quinze braças de fundo. A terra continuava sem qualquer espécie de arvoredo, estendendo-se o areal a perder de vista. Os negros miseráveis, que viviam do peixe, aproveitavam as costelas das baleias que davam à costa para com elas construírem abrigos cobertos de seba do mar e das próprias areias. Não era possível encontrar água ou qualquer abastecimento, além do peixe, em que a costa era riquíssima.

Foto Satélite – Costa de Angola – de Porto Alexandre à Baía dos Tigres
A navegação a partir de agora tornava-se difícil, por causa da calema larga que ia quebrar-se contra a costa, tornando cada vez mais penoso o trabalho de bordo. Prolongando a marcha para sul, passaram sem darem por isso a foz do rio Cunene. Rio Cunene – Sul de Angola Depois mais para sul , reconhecem sucessivamente a Ponta Verde e o Golfo das Baleias. Trecho da costa da Namíbia a Sul do rio Cunene De seguida, á latitude 21º 47’ sul, atingem um cabo, chamado de Cabo do Padrão da Serra, onde ergueram outro padrão, o mais meridional de todos, num sítio que hoje se chama Cape Cross, sinalizando o último ponto e a primeira presença europeia, em terras situado a cerca de 130 Km de Swakopmund de hoje (Namíbia). Cabo do Padrão da Serra, modernamente Cape Cross - Namíbia

Cabo do Padrão, modernamente Cape Cross - Namíbia

Cabo do Padrão da Serra, actual Cape Cross –Namíbia
Depois, ainda percorreram mais 50Km de costa para Sul do Cabo do Padrão da Serra, até à ponta dos Farilhões, Hentiestbaai de hoje e foi aí que a expedição terminou. O termo exacto da viagem, deve-se a uma legenda de um mapa de 1489 de Martellus, cujo texto sugere que Diogo Cão aí terá morrido. Se assim aconteceu, poderá ter sido essa a razão porque os navios não avançaram mais para sul ?

Padrão do Cabo (Cape Cross) museu do Institut fur Deutsche Geschichte, Berlim-Leste
O Padrão do Cabo é constituído por uma peça do calcário vulgar das pedreiras dos arredores de Lisboa, com a forma de uma coluna sobrê-punjada de um cubo. Numa das faces do cubo encontra-se o escudo nacional português, mas já com as modificações nele introduzidas por D.João II- supressão da Cruz de Avis, redução do número de castelos a sete, modificação da posição dos escudetes laterais, que deixam de ser apontados ao centro, para o serem a baixo como os três restantes. Há duas inscrições: Uma em latim, outra em português. Foram lidas pelo Prof. Scheppig que comunicou o seu teor a Luciano Cordeiro. Este publicou-as na sua monografia. O texto latino é o seguinte: A mundi creatione fluxerunt ani 6684 et a Christi nativitate 1485 quum excelentissimus serenissimusque Rex d. Johanes secundus portugaliae per iacobum canum ejes militem colunam hic situari jussit O Texto português é o seguinte: Era da criação do mundo de bjm bjc lxxxb e de xpto de IIIclxxxb o eycelente esclarecido Rei dom Jº s.º de Portugal mandou descobrir esta terra e poer este padram por dº cão cavº de sua casa. Correntemente: “Era da criação do mundo de 6685 e de Cristo 1485 o excelente esclarecido Rei D. João II de Portugal mandou descobrir esta terra e pôr este padrão por Diogo Cão cavaleiro de sua casa”. Da inscrição em latim, o Professor Scheppig teve dúvidas, quanto ao último algarismo do ano da era cristã, em virtude de estar muito mal conservado, podendo ser 4 ou 5 Luciano cordeiro entendeu que “ esse algarismo embora parecido aos que têm evidentemente o valor de 4…, deve considerar-se como uma das variantes que até ao séc. XV se encontram na maneira de escrever o algarismo 5 “. E estabelecendo a relação entre datas da criação do mundo e do N. de Cristo achou: 6 684 – 5 199 = 1485 Partindo deste cálculo considerou errada a data 6 685, da era da criação, que se encontra na inscrição em português. Ravenstein, estudando novamente este assunto “ The voyages of Diogo Cão and Bartolomeu Dias, no Geographical Journal de Dezembro de 199 ( Vol. XVI, pág. 625- 665” , considera errada a data da inscrição latina, 6684, estabelecendo as datas 6685 e 1485 da inscrição em Português – as quais de facto, coincidem desde 1 de Setembro a 31 de Dezembro – e conclui que só dentro deste lapso de tempo teria Diogo Cão partido : “ Como a ano 6685 da era Eusebiana começa a 1 de Setembro de 1485, Cão deve ter partido depois deste dia e antes do fim do ano”… Uma análise da inscrição latina e portuguesa do Padrão do Cabo do Padrão: O ano de 6684, pelo cômputo da era Eusebiana começou no dia 1 de Setembro de 1484 e terminou em 31 de Agosto de 1485. Ao analisar-se as inscrições em latim como em português no padrão, elas correspondem ao que o Prof. Scheppig comunicou a Luciano Cordeiro, isto é, na inscrição latina a criação do mundo é o ano de 6684, e a era cristã o ano é 1485. Na inscrição portuguesa a criação do mundo é o ano de 6685 e era cristã, o ano de 1485. Porque razão o ano da criação do mundo, tanto da inscrição latina como da inscrição portuguesa não coincidem?!... De facto a inscrição latina foi efectuada ou gravada antes do dia 31 de Agosto de 1485 ou mesmo nesse dia, o que coincide com o ano de 6684 da criação do mundo. Na inscrição portuguesa, o ano da criação do mundo é 6685, pelo motivo desta inscrição ter sido gravada após o dia 01 de Setembro de 1485, ou mesmo nesse dia. Embora, o ano da criação do mundo, não sejam coincidentes, tanto numa como noutra inscrição, o que é certo, é que o ano da era cristã da inscrição latina 1485? é mesmo o ano de 1485, o que valida igualmente o ano da era cristã da inscrição portuguesa, que se encontra bem legível 1485. Dá-se assim crédito ao ano de 1485, por motivo de D. João II ter decretado a modificação do escudo, a partir de Março. Assim sendo, a 2ª viagem de Diogo Cão, teve início após o dia 1 de Setembro de 1485 e antes do fim do ano (conclusão de Ravenstein), que se aceita como correcta. Em 1884 a Namíbia foi proclamada por Bismarck, protectorado da Alemanha, após o fim da 1ª guerra (1914-1918), passou a ser um protectorado da África do Sul. No tempo da Alemanha de Bismarck, em 1893, Beder, comandante do cruzador alemão Falte, recolheu num cabo que algumas cartas antigas chamam Cabo do Padrão, e modernamente tem o nome de Cape Cross, um padrão que levou para a Alemanha. Encontra-se no museu do Institut fur Deutsche Geschichte, Berlim-Leste, sendo o único de todos os Padrões de Diogo Cão que conserva a cruz como cimeira original. A cruz de pedra que o descobridor português colocou na actual (Costa do Esqueleto) em 1486, foi assim no final do século 19 retirada para Berlim, pela então potência colonial, a Alemanha, e mais tarde substituída por uma imitação (réplica).

Réplica do Padrão do Cabo da Serra em Cape Cross Namíbia

Uma lápide comemorativa em (Português, Alemão e Inglês),
junto à réplica do Padrão em Cape Cross
Em 1998, o governo da Namíbia (Sudoeste Africano), pediu às autoridades alemãs a devolução do padrão erigido há 512 anos, no litoral daquele país africano por Diogo Cão, para poder exibi-lo na Expo-98, em Lisboa, o que nunca chegou a concretizar-se. Em plena Costa dos Esqueletos, no local que hoje a cartografia refere como Cape Cross, surge uma réplica do padrão que ali foi deixado em 1486 por Diogo Cão, o primeiro navegador europeu a chegar à Namíbia e atingir as proximidades do Trópico de Capricórnio ( 23º e 27’ Lat. Sul). Para o visitante, será difícil de imaginar a reacção da armada de Diogo Cão ao encontrar uma colónia de focas que chega a reunir cerca de 100 mil animais.

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Foto satélite – A costa desértica da Namíbia – Deserto do Calaári. Seta a tracejado deserto de Moçâmedes a vermelho Cape Cross
A costa da Namíbia é uma terra inóspita que se esparrama por 1600 Km ao longo da sudoeste da África. O mar de dunas, a névoa desorientadora, a falta de água, os horizontes intermináveis e os leões estão sempre à espera de uma presa indefesa. O deserto da Namíbia ocupa uma faixa litorânea que chega até 50 Km de largura, depois surge uma vasta região semi-árida e montanhosa, igualmente remota e hostil. É um dos desertos mais antigos do mundo. Há 80 milhões de anos, a areia vem sendo pacientemente depositada ao longo da costa. Quase toda a areia da Namíbia vem do mar, carregada pelo aluvião do Rio Orange, ao sul, até o Oceano Atlântica, e daí levada pela corrente marítima e pelo vento até ao litoral da Namíbia. O resultado deste longo trabalho é um interminável manto de dunas que se debruça sobre as águas frias do Atlântico e redesenha o mapa da Costa do Esqueleto a cada dia. Praias, baías e ilhas que os navegadores portugueses mapearam já não existem mais. Algumas das dunas chegam até 300 metros de altura. São, pelo que se diz, as mais altas do mundo. Isso tudo seriam belas praias tropicais se chovesse mais do que os 15 milímetros por ano que gotejam sobre a Costa do Esqueleto (a precipitação anual da Amazónia é de 2500 milímetros por ano). No lugar da chuva, quem dá as caras por ali é uma névoa espessa que, toda manhã, invade o deserto e se alastra por até 50 Km sobre o continente. Obra do singular encontro da fria Corrente de Benguela com o ar quente do deserto, a névoa, em seu caminho, vai se depositando nas poucas espécies de plantas que vivem no deserto. Plantas essas que servem de alimento a animais como elefantes, girafas e antílopes. È assim que a vida se sustenta no Namibe. Uma das plantas vem se alimentando dessa forma há milhares de anos.
É a Welwistschia mirabilis, apelidada por Charles Darwin de “ ornitorrinco do reino vegetal”. A planta, endêmica do Namib, é um milagre da evolução. Só com a névoa matinal, cada exemplar pode viver cerca de 2 mil anos. Por causa da sua estranha forma – apenas duas folhas rígidas e fibrosas acopladas a um caule grosso e achatado – os botânicos consideram a Welwitschia uma espécie de árvora anã.

Welwistschia mirabilis do deserto do Calaári - Namíbia
Outra planta que sobrevive bem às duras condições do deserto é o melão !nara ( o ponto de exclamação significa um estalido com a língua no idioma falado pela tribo nama). Com sua raiz de 40 metros de profundidade, a planta tira do lençol freático toda a água de que precisa para viver. Névoa pode ser bom para insectos e plantas, mas para quem está disposto a tentar escapar das armadilhas do deserto pode ser o fim. Imaginemos alguèm perdido no meio de uma névoa costeira que não lhe permite ver um palmo adiante e que, para piorar, vem acompanhada pelo ronco gelado do vento sodoeste que sopra sobre as dunas. Agora imagine-se como seria para os antigos navegantes enfrentar um mar revolto repleto de recifes e bancos de areia- e no meio da neblina. É fácil supor por que a Costa do Esqueleto era considerada um dos litorais mais traiçoeiros do planeta. O litoral inteiro da Namíbia está tomado pelo deserto. Não se espere encontrar a foz de um rio derramando água fresca e farta sobre o oceano. O litoral da Namíbia tem apenas dois rios perenes: O Cunene, ao norte que faz fronteita com Angola, e o Orange, ao sul, que delimita a divisa com a África do Sul. Entre ambos, só o deserto e o seu punhado de rios sazonais. O que já basta. Os especialistas chamam a esses rios de “ oásis lineares”, responsáveis por abrigar quase toda a vida do Namib. Também aparecem leões, vieram do semi-árido, caminhando lentamente pelo leito dos rios até chegar à costa. E, como a vida animal não é tão abundante como a da savana, tiveram de se adaptar ao cardápio disponível. E acabaram descobrindo uma nova fonte de alimento nas focas e nas baleias encalhadas que ocupam as praias da costa do Esqueleto. Refeição que eles compartilham com hienas e chacais, Ali em Cape Cross os leões vão à praia. Defendida por um mar turbulento que atira qualquer barco contra a costa, tem sido ao longo dos séculos cenário de vários naufrágios, que hoje são recordados pelos muitos restos de navios que surgem presos nas armadilhas da areia da praia. É a presença destes destroços que dá origem ao nome desta longa linha de areia que se estende até Angola : Costa dos Esqueletos. Mais a sul fica a serra Parda, (22º 10’ S )e foi a aí que a expedição terminou, depois de ter atingido a ponta dos farilhões. O MAPA DE HENRICUS MARTELLUS GERMANUS 1489 É a seguinte a legenda da carta de Henricus Martellus, de 1489, da qual consta que Diogo Cão, tendo colocado um padrão no Monte Negro ( o actual Cabo Negro ) seguiu avante mais mil milhas, até à Serra Parda e ali morreu: “ ad hunc usquemontem qui vocatur niger pervenit classis secudi regis portugalie cujus classis prefectus erat diegus canus qui in memoriam rei erexit colunam marmoreã cum crucis in signe et ultra processit usque ad Serram Pardam que distat ab mõte nigro mille miliaria et hic moritur”. Correntemente: “ Até este monte que se chama Negro chegou a armada do rei de Portugal [ João ) segundo, da qual armada era comandante Diogo Cão, que erigiu uma coluna de mármore com o sinal da cruz e seguiu avante até à Serra Parda, que dista do Monte Negro mil milhas e aqui morre “. Esta interpretação tem a seu favor certas afirmações contidas num parecer de peritos espanhóis apresentada na conferência luso-espanhola de 1524, reunida em Badajoz « .... Diogo Can .... em outro viagem desel dicho Monte Negro pasó á Sierra Parda, donde muerio » Publicado por Navarrete ( Coleccion de los viages Y descubrimientos, tomo IV, pág. 343 a 355 ). Mas outros aceitaram a leitura, segundo a qual a frase quereria dizer que aí acabava a serra. O conhecimento de um mapa do cartógrafo veneziano Pietro Coppo, datado de 1520, terá resolvido a questão ?!: aí está escrito “reversus est in regno”, aludindo ao navegador, que assim volveu ao reino mas do qual nunca mais houve notícia. Pietro Coppo, terá mesmo resolvido a questão? Se Diogo Cão volveu ao reino, porque motivo desaparecem todas as menções oficiais do navegador? E com ?!: aí está escrito “reversus est in regno”, aludindo ao navegador, que assim volveu ao reino mas do qual nunca mais houve notícia.


in "A História das viagens e morte de Diogo Cão no contexto dos descobrimentos portugueses" com a autorização do Autor: Amadeu F. Mata


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