quarta-feira, 27 de maio de 2009

Tentativas para o alojamento dos judeus em Angola.

AS TENTATIVAS DE UMA POSSÍVEL
COLONIZAÇÃO EM ANGOLA

TENTATIVAS
O FRACASSO DA COLONIZAÇÃO EM ANGOLA

TENTATIVAS DE COLONIZAÇÃO

Houve muitas tentativas para o alojamento dos judeus em Angola. A primeira tentativa foi de W. Terlo, um enólogo israelita que no dia 15 de Junho de 1912 conseguiu que fosse aprovado por unanimidade no Parlamento português um projecto-lei chamado "Projecto Bravo". Este projecto previa uma colonização de uma área de 45000 Km2 no planalto de Benguela. Depois de ter sido aprovado no Parlamento o "Projecto Bravo" tinha que ser integrado na Constituição.

Mas a Jewish Territorial Organisation (ITO), uma organização israelita que se dedicava principalmente à procura de um refúgio para o povo judeu em qualquer parte do mundo, recusou o "Projecto Bravo" que foi apresentado em Viena (27 a 30 de Junho de 1912).

A ITO considerava as concessões feitas pelo governo português insuficientes. Criticava as condições económicas que limitavam as concessões de terrenos a colonos individuais, que retiravam desta forma investimentos de empresas ou sociedades de colonização. Exigia também que houvesse uma área para formar uma "nova pátria judaica".

O projecto Bravo designado mais tarde por "200 B" apresentava no primeiro artigo que os colonos deviam-se tornar portugueses para usufruir dos terrenos. Para além disso exigia também o uso exclusivo nas escolas publicas de ensino elementar e como toda a correspondência respeitante aos serviços públicos.

A ITO organizou uma expedição sobre a orientação de um cientista inglês J. W. Gregory aos terrenos em Angola. Depois de percorrer 3000 milhas quadradas, concluiu que era muito difícil colonizar.

Em 20 de Janeiro de 1934 existiu uma nova tentativa para colonizar Angola. Passado um ano depois de Hitler chegar ao poder um embaixador português em Londres, Ruy Ennes Ulrich, refere no seu relatório habitual que houve uma visita de dois judeus alemães, Dr. Fritz Seidler (antigo secretário do ex-presidente alemão, Streseman) e Dr. Ernest Meyer (membro da Federação Internacional dos jornalistas), diziam que andavam à procura de território para se estabelecerem.

Dr. Fritz Seidler tentou persuadir o governo português a aceitar os judeus dando o exemplo do rei da Prússia. Seidler quando falava ou se referia aos seus protegidos nunca os chamava "judeu" mas sim "emigrantes" ou "alemães instruídos".

No dia 24 de Fevereiro de 1934, Ulrich aconselhou o Palácio das Necessidades a desiludirem os israelitas a se estabelecerem em Angola "pois o silêncio pode ser interpretado como um acolhimento favorável".

Numa nova carta, Seidler informou que uma comissão cientifica internacional, Sociedade De Acordo De Refugiados, sediada em Paris, começava a formação do banco para a colonização que já se encontravam à disposição da sociedade.

Um mês mais tarde, o jornal inglês "Daily Herald " publicou em 30 de Abril de 1934 um artigo com o seguinte título: "Nova casa para 5 000 000 judeus. Projecto de acordo para o oeste de África. Portugal oferece-se para dar terra". Nesta notícia dizia que havia negociações secretas entre a delegação israelita e o Governo português acerca da fundação de um Estado autónomo em angola.

Este seria colonizado por 5 milhões de judeus provenientes da Alemanha, Áustria e dos Estados da Europa oriental que ficaria sob presidência da Sociedade das Nações. O governo português e o Private Inquiries (inquéritos privados) do governo britânico teriam aprovado o plano e apenas teriam imposto algumas condições.

Muitas delegações diplomáticas e consulares portuguesas ficaram alarmadas e foram ao palácio das Necessidades pedindo esclarecimentos. Com esta notícia o ministro das colónias viu-se obrigado a desmenti-la ao representante da agência Reuter e também o jornal judeu "Jewish Chronicle". Assim, o jornal "Daily Herald" fez várias investigações de várias personalidades e concluiu que a única verdade era a seguinte: "... alguns meses atrás, alguns judeus alemães tentaram com insucesso negociar com o governo português o pedido de terra em Angola, considerando, entre outros continentes para uma possível imigração para o oeste de África para Angola":

Em Dezembro de 1938, Jacques Politis veio a Portugal para negociar um certo número de colonos judeus. Este projecto era unicamente para encontrar um refúgio seguro para centenas de milhares de pessoas em risco de vida. Portugal tinha benefícios, ou seja as empresas portuguesas adquiriam o monopólio tanto no comércio como dos transportes necessários para o empreendimento. Finalmente se Angola fosse atacada cada colono era obrigado a defender o território lutando lado a lado com as forças militares portuguesas.

Uma das condições colocadas por parte do governo português tanto no projecto "Bravo" como no projecto de Jacques Politis era o uso exclusivo da língua portuguesa tanto nas escolas como na correspondência oficial, mas o projecto de Jacques Politis ia muito mais longe, ou seja o uso de português fosse obrigatório dentro das próprias famílias judias.

No ano de 1938 houve uma conferência chamada a Conferência de Évian que se dedicou à questão dos judeus residentes em territórios. Dos 32 países que participaram nenhum estava interessado em aceitar refugiados judeus. Mas esta conferência nem de todo foi inútil pois nela se criou uma nova organização internacional, a Comissão Intergovernamental (IGC). Esta organização tinha como missão negociar com as autoridades do Reich para a saída organizada de centenas de milhares de judeus residentes em território alemão.

Nos fins de Outubro de 1938 Hitler mostrou-se disposto a negociar com a IGC e, em Dezembro o presidente do banco central alemão e ex-ministro das finanças, Hjalmar Schacht, deslocou-se pessoalmente a Londres e apresentou um projecto para a saída de judeus em etapas e apenas exigia uma compensação financeira.
a fraca colonização de portugueses em Angola

Em Janeiro de 1939 Roosevelt, Presidente dos Estados Unidos, queria albergar centenas de milhares de judeus alemães em Angola. Roosevelt achava que o chefe do governo português seria incapaz de recusar esta proposta porque além de ter uma oportunidade única de ficar na História, também recebia montantes anuais provenientes directamente dos cofres do novo Estado israelita.

Os ingleses, em 1939, não ficaram muito contentes com estas propostas feitas ao governo português.

Em fins de Janeiro do mesmo ano, Myron Taylor, escreveu um ofício onde nele mostrava um certo desagrado em relação à proposta de Roosevelt provocou em Londres.

Os ingleses tinham medo porque eles tinham colónias tanto ao lado de Angola como ao lado de Moçambique e temiam que os refugiados judeus da Alemanha fossem para as suas colónias.

Uma oportunidade para a realização deste projecto surge em Junho de 1939, Dr. Augusto d' Esaguy (membro da comunidade israelita de Lisboa e presidente da comissão portuguesa para a assistência aos refugiados israelitas ) visitou Sir H. Emerson, alto comissário para os refugiados, em Londres. Dr. d'Esaguy informou que o novo governador de Angola, o seu amigo Dr. Mano estava interessado no acolhimento de refugiados.

Em Portugal ninguém ficou indiferente a estas tentativas de criar uma colónia de judeus em Angola e dominava cada vez mais a oposição a uma situação que poderia levar ao aparecimento de um estado independente em território português.

O projecto foi muito criticado porque uma colonização em massa por alemães devia ser recusada pela simples razão dos envolvidos serem alemães. Também afirmavam que "nenhuma emigração estrangeira em grupos seria vantajosa para a nossa obra de colonização" para as colónias de Angola e Moçambique.
a fraca emigração de portugueses para Angola

Lembrava-se que a atitude dos anteriores colonos alemães "não é para inspirar confiança às autoridades portuguesas" (alusão a tentativas no final do séc. XIX para a Alemanha anexar Angola) e que "a aceitação de novos colonos alemães, judeus ou não, não parece aconselhável, porque em última análise eles são sempre alemães e constituem um elemento perigoso a considerar".

Também se temia que houvesse mais desemprego, pois nesta altura reinava em todas as economias do mundo o desemprego e a deslocação de centenas de milhares ou até mesmo milhões de emigrantes representasse uma grave ameaça para a estabilidade económica e social dos países de acolhimento.

Também a imprensa portuguesa teve reacções, nomeadamente acerca do discurso de Hearst e do projecto de Cazalet. A edição do "Diário de Notícias" de 21 de Novembro de 1938 acusava o Hearst de não querer ajudar o povo israelita, mas sim de pretender resolver um assunto de política interna inglesa (que também não estava interessada em receber no seu território milhares de refugiados judeus). E justificava: "(...) não só para que a nossa soberania sobre esses territórios que descobrimos e colonizámos seja sempre fácil de exercer mas ainda o que o nosso feliz aumento da população nos aconselha a guardar para nós as riquezas que temos para explorar". Ainda neste artigo acusava Cazalet de não ser amigo dos portugueses, afirmando que o plano de alojar em Angola significaria "preparar-nos no futuro, pelo menos, uma dificuldade diplomática com o Fuhrer!" (Hitler).

Salazar ia adiando a questão referindo que queria ter mais informações acerca do estado actual da questão dos refugiados judeus e das conversas de carácter oficial, antes de tomar qualquer decisão.



O FRACASSO DA COLONIZAÇÃO EM ANGOLA

As principais razões que justificaram o fracasso do projecto de alojamento dos Judeus em Angola começaram no ano de 1938.

Na concretização deste projecto houve três dificuldades: em primeiro lugar era a questão do financiamento. Eram quantias muito altas que os alemães exigiam. Segundo, nenhum dos líderes concedia uma recompensa económica á Alemanha por deixar sair os Judeus e finalmente, poucos meses antes da Conferência de Evian nenhum governo manifestava interesse em dar territórios a milhares de Judeus.

Oliveira Salazar nunca tinha sido abordado oficialmente, ao longo do ano de 1939, acerca da implantação de um estado Israelita em Angola

A Foreign Office temia que as suas próprias colónias em África pudessem ser ameaçadas com a entrada de judeus alemães em Angola: " (...) nós devemos decidir desde já em opormo-nos a qualquer aproximação dos portugueses com o assunto e não podemos tolerar a presença de um grande número de judeus alemães em Angola durante o tempo de guerra, que pode ser uma fonte de perigo para as nossas colónias africanas."

O receio na criação de um novo foco de instabilidade política, através de um programa que usava a implantação de judeus alemães em Angola, resultou das recentes dificuldades inglesas no Próximo Oriente. Por terem autorizado a imigração de judeus para a Palestina, houve uma grande hostilidade por parte das nações árabes, colocando em perigo a sua ligação marítima com a Índia através do canal de Suez.

Num encontro de representantes dos governos americanos e ingleses sobre uma colonização judaica na Guiana Britânica, ficou bem expresso o receio de repetir o mesmo erro. Perante a proposta americana que previa uma imigração maciça, Winterton ficou furioso e afirmou que: " não é a intenção do governo britânico permitir o estabelecimento em massa em Guiana ou algo semelhante à situação na Palestina".

Quando se iniciou a Segunda Guerra Mundial, os obstáculos vieram dificultar a saída dos judeus do território alemão.

Embora esta fosse possível legalmente até ao dia 23 de Outubro de 1941, apenas 70 000 judeus conseguiram deixar o Reich no início da guerra devido à pouca solidariedade por parte de todos os governos mundiais.

Quando os representantes dos governos americanos e britânicos se encontraram em Abril de 1943, nas Bermudas, para debater o destino dos refugiados da guerra, já existiam informações detalhadas do genocídio praticado pelos nacionais- socialistas por parte da opinião pública.

Embora a vitória dos aliados fosse uma questão de tempo, eles receavam entrar em negociações directas com as autoridades nazis sobre uma saída organizada dos judeus que permaneciam nos territórios ocupados, pois se Hitler consentisse essa saída, os seus territórios iriam ser inundados de refugiados judeus.

Então estes governos desviaram a sua atenção para aqueles refugiados que iriam necessitar de um abrigo permanente após a guerra e foi aqui que os delegados americanos apresentaram o projecto de Roosevelt para a colonização de Angola por parte de israelitas, citando parte do relatório feito por Gregory, um cientista, onde eram relatados as boas condições de Angola para este propósito. Destacando as grandes vantagens que este projecto traria para o Governo Português, foi recomendado que se iniciassem de imediato os preparativos necessários para a sua realização.

Tanto o embaixador inglês em Lisboa, Campbell, como os cônsules britânicos em Lourenço Marques e Luanda confirmaram, em telegrama ultra-secreto, os factores que se opunham à imigração maciça dos judeus, dizendo que só poderiam ser apenas umas poucas centenas de refugiados.

Por outro lado, Campbell desaconselhava uma intervenção ao nível governamental porque: "Eu estou convicto que Salazar detecta uma insidiosa tentativa da nossa parte para conseguirmos influência nas colónias portuguesas de África. A única esperança de sucesso, muito ténue, viria de um apelo de uma organização pública internacional."

Tal como Campbell recomendara, o Foreign Office pediu ao presidente da Comissão Intergovernamental, Sir Herbert Emmerson, para dar os primeiros passos e em 18 de Agosto de 1943, a embaixada portuguesa em Londres recebeu a visita desta conhecida personalidade.

Com a sua visita, Emmerson quis demonstrar o grande interesse da comissão pela a ajuda portuguesa neste assunto, mas nem este importante gesto fez o governo de Salazar mudar de ideias pois Salazar fora alertado por relatórios que recebera do embaixador português em Washington, Bianchi, por altura da conferência das Bermudas e por um parecer de Fernando Nogueira em que dada altura se referiam notícias publicadas na imprensa inglesa sobre a colonização judaica em Angola, de modo que sabia que resultaria algo mais do que pequenos encargos financeiros na colaboração com a Comissão Intergovernamental. Repetiu então a estratégia que aplicara depois da Conferência de Évian e atrasou a resposta até à Primavera do ano seguinte.

Salazar recusa participar nos trabalhos da Comissão Intergovernamental, já que Portugal não fora convidado para assistir aquela Conferência e nem às nações organizadoras nem às que participaram "pareceu talvez precisa ou útil a intervenção portuguesa" e diz que não fazia sentido que o governo português fosse convidado "para executar medidas em cuja elaboração não tomámos parte e de que não tivemos conhecimento".

Com a perspicaz menção do embaraço causado por não ter sido convidado, o Chefe da diplomacia portuguesa conseguia habilidosamente desviar as tentativas das nações aliadas de tomar as colónias portuguesas, sem ofender a comunidade internacional.

Se o convite fosse aceite por Portugal, a diplomacia portuguesa encontraria dificuldades em vetar as iniciativas referentes ao aproveitamento das suas colónias, para alojar refugiados, sem perder o apoio das nações anglo-saxónias noutras questões prementes da política internacional.

Na tentativa de conseguir um território apto para alojar as centenas de milhares de foragidos provenientes de todo o mundo, Angola parecia quase o território ideal. Para os círculos judeus territorialistas, Angola tinha a enorme vantagem de ser governada por uma nação que não tinha ideologia anti-semita, garantindo aos judeus os mesmos direitos dos cristãos.

Para o governo americano contava sobretudo a localização dos territórios que estavam longe das suas fronteiras nacionais e era uma região do mundo onde os EUA não tinham nenhum interesse político. Mas também o factor demográfico parecia indicar Angola como o local ideal para a realização de um estado israelita. Numa área de 1 246 700 quilómetros quadrados viviam apenas 3 343 500 pessoas, das quais 3 300 000 negros e apenas 30 000 brancos e 13 500 mestiços.

Para muitos dos funcionários - chave do Ministério das Colónias, era a questão demográfica que impedia a instalação de uma colónia e o medo de perder esta.

Uma última razão que impedia o acolhimento de milhares de fugitivos estrangeiros foi o novo conceito colonial. O Acto Colonial de 1930 frisava, nas suas "garantias gerais", a missão imperial da nação portuguesa como difusora da civilização cristã.
António de Oliveira Salazar

Em 1912, nos planos da implantação da colónia judia, o Estado Novo recusava qualquer plano que visasse a redução ou até a perda da soberania portuguesa sobre a colónia de Angola. O presidente do Conselho, Oliveira Salazar, não deixou nenhuma dúvida: "Nós não admitimos discussão sobre a nossa soberania e a nossa soberania não pode ser discutida em Genebra, em Paris, Londres ou Roma.

As poucas experiências feitas com projectos de colonização revelaram todas um falhanço para todas as partes envolvidas.

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