O general Roçadas (foto de 1909)
A região do Sul de Angola, que compreendia os dois distrito de Moçâmedes e da Huila, formando, posteriormente, as provincias com estes nomes, foi, no último quartel do século XIX e nos primeiros decénios do século XX, teatro de lutas CRUÉIS, onde, por vezes, um bafo de morte varria o sertão, fazendo correr violentamente sangue generoso de portugueses e africanos indígenas, cada um acreditando nas suas motivações, e onde se firmou a reputação gloriosa de varões assinalados que transpuseram o pórtico da História de Angola.
Desses varões destacou-se, com especial relevo pela sua acção na ocupação, o general José Augusto Alves Roçadas, que ali usou as suas armas nas operações de 1905 e nas de 1906, necessárias para proteger a gloriosa campanha de 1907, que veio liquidar uma situação anterior humilhante e desprestigiosa para a soberania portuguesa e subjugar o espírito de insurreição que animava os povos das duas margens do Cunene.
Assim, nessa extença região, onde havia um século não se fazia sentir a acção dos portugueses, sendo nulo o seu dominio, foi ele desenvolvendo-se progressivamente, incerto e fraco durante longo período de anos, até se firmar, principalmente com a brilhante intervenção de Roçadas.
Esta zona de Angola, que se estendia do mar até ao rio Cubango, por ele irrigada, bem como pelo rio Cunene, pelos afluentes de ambos e por outros pequenos rios de foz Atlântica, dos quais a água desaparecia na época sêca nos seus leitos de areia, conservando-se apenas num ou noutro fundão, mas de côr verde e lodosa, estava englobada na chamada « ZONA DOS DESERTOS DO SUL ». Esta zona e juntamente a « ZONA DO PLANALTO CENTRAL », a « ZONA MONTANHOSA DO LESTE » e a « ZONA DOS DESERTOS DO NORTE » constituiam as zonas sociais em que África era, por alguns, dividida.
Mais especialmente estava o Sul de Angola encorporado na « REGIÃO DAS SAVANAS », àquela zona pertencente, confinante ao norte com a « REGIÃO DA MANDIOCA » - que como sabemos era uma útil planta pelos portugueses introduzida no continente africano - e ao Sul com o « TERRITÓRIO DE CAÇA », a que se seguia a « REGIÃO DAS ESTEPES E ÁRIDAS ».
A « REGIÃO DAS SAVANAS » caracterizava-se por tenras pastagens, semeadas aqui ou ali de moitas de árvores ou de Imbondeiros isolados, intercaladas em maciços florestais de maior ou menor extensão, e estendia-se por África adentro até à costa Oriental, no país dos cafres, acentuando-se além da serra da Chela e mais especialmente na margem esquerda do rio Cunene, pois até àquela terra, que se elevava a prumo, as terras eram baixas, áridas e sêcas, de população diminuta, ao passo que ultrapassada ela se tornavam mais férteis e ricas em água e de fortes aptidões agrícolas e, também, mais povoadas.
Eram essas clareiras prados magnificos, ricos em capins, onde se alimentava abundante gado bovino, em Angola designados por chanas , sendo em geral, em volta delas, no meio da floresta abundante de mutiati - a bauhinia odorífera dos botânicos - e de diversas leguminosas espinhosas, em que vivem os indígenas nas suas libatas defendidas por paliçadas de troncos.
Abasteciam-se eles de água que se acumulava nas mulolas - depressões ou linhas de desaguamento de curso temporário para onde transbordavam os rios ou corriam águas das chuvas na estação própria - ou da que se armazenava nas cacimbas , que eram escavações feitas previdentemente pelos indígenas, removendo a areia da superfície até à camada de argila impermeável, e abertas inteligentemente na confluência das linhas de água, sendo, em geral, emsombradas por árvores viçosas.
Por sua vez, tinham como base da sua alimentação gramíneas produzindo milho miúdo, como o sorgo e o pennisetum , a que em Angola chamavam, respectivamente, massambala e massango , que cultivavam nos arimos em volta das libatas ...
Desses varões destacou-se, com especial relevo pela sua acção na ocupação, o general José Augusto Alves Roçadas, que ali usou as suas armas nas operações de 1905 e nas de 1906, necessárias para proteger a gloriosa campanha de 1907, que veio liquidar uma situação anterior humilhante e desprestigiosa para a soberania portuguesa e subjugar o espírito de insurreição que animava os povos das duas margens do Cunene.
Assim, nessa extença região, onde havia um século não se fazia sentir a acção dos portugueses, sendo nulo o seu dominio, foi ele desenvolvendo-se progressivamente, incerto e fraco durante longo período de anos, até se firmar, principalmente com a brilhante intervenção de Roçadas.
Esta zona de Angola, que se estendia do mar até ao rio Cubango, por ele irrigada, bem como pelo rio Cunene, pelos afluentes de ambos e por outros pequenos rios de foz Atlântica, dos quais a água desaparecia na época sêca nos seus leitos de areia, conservando-se apenas num ou noutro fundão, mas de côr verde e lodosa, estava englobada na chamada « ZONA DOS DESERTOS DO SUL ». Esta zona e juntamente a « ZONA DO PLANALTO CENTRAL », a « ZONA MONTANHOSA DO LESTE » e a « ZONA DOS DESERTOS DO NORTE » constituiam as zonas sociais em que África era, por alguns, dividida.
Mais especialmente estava o Sul de Angola encorporado na « REGIÃO DAS SAVANAS », àquela zona pertencente, confinante ao norte com a « REGIÃO DA MANDIOCA » - que como sabemos era uma útil planta pelos portugueses introduzida no continente africano - e ao Sul com o « TERRITÓRIO DE CAÇA », a que se seguia a « REGIÃO DAS ESTEPES E ÁRIDAS ».
A « REGIÃO DAS SAVANAS » caracterizava-se por tenras pastagens, semeadas aqui ou ali de moitas de árvores ou de Imbondeiros isolados, intercaladas em maciços florestais de maior ou menor extensão, e estendia-se por África adentro até à costa Oriental, no país dos cafres, acentuando-se além da serra da Chela e mais especialmente na margem esquerda do rio Cunene, pois até àquela terra, que se elevava a prumo, as terras eram baixas, áridas e sêcas, de população diminuta, ao passo que ultrapassada ela se tornavam mais férteis e ricas em água e de fortes aptidões agrícolas e, também, mais povoadas.
Eram essas clareiras prados magnificos, ricos em capins, onde se alimentava abundante gado bovino, em Angola designados por chanas , sendo em geral, em volta delas, no meio da floresta abundante de mutiati - a bauhinia odorífera dos botânicos - e de diversas leguminosas espinhosas, em que vivem os indígenas nas suas libatas defendidas por paliçadas de troncos.
Abasteciam-se eles de água que se acumulava nas mulolas - depressões ou linhas de desaguamento de curso temporário para onde transbordavam os rios ou corriam águas das chuvas na estação própria - ou da que se armazenava nas cacimbas , que eram escavações feitas previdentemente pelos indígenas, removendo a areia da superfície até à camada de argila impermeável, e abertas inteligentemente na confluência das linhas de água, sendo, em geral, emsombradas por árvores viçosas.
Por sua vez, tinham como base da sua alimentação gramíneas produzindo milho miúdo, como o sorgo e o pennisetum , a que em Angola chamavam, respectivamente, massambala e massango , que cultivavam nos arimos em volta das libatas ...
É sempre muito dificil fixar a progénie dos povos de qualquer região africana, dada a instabilidade em que têm vivido derivada de lutas contínuas, de invasões e de migrações a que essas regiões estiveram sujeitas, de cuja influência não se conservaram alementos de qualquer ordem - documentos ou monumentos - e de que tão somente existe uma confusa tradição oral já deturpada. As tentativas, pois, de coordenação não passam de meras hipóteses históricas.
Admite-se que todos os povos de Angola descendem dos invasores aditas de raça negra que entraram am África, atravessando o Mar Vermelho pelo estreito de Bab-el-Mandeb, e atingiram a região montanhosa do leste, onde sofreram uma selecção de que resultou serem repudiados para o sul os contigentes inferiores, dando origem ao tipo bantu ; ao passo que outros invasores atingiram o Nilo pelo istmo de Suez, rio que depois subiram, e originaram o tipo chilouk , difundido para norte e oeste, e que uns terceiros invasores, mestiços de raça branca e negra - os segundos aditas - alcançaram os planaltos da Etiópia, ocupados hoje pelos seus descendentes: abissínios, galas e massais..
Estes bantus invasores mais adiantados teriam expulso os autóctones representados na actualidade pelos bushmen ou boshimanos e, por ventura, pelos hotentotes, que, também, se pensa que são de raça amarela, tendo, segundo a tradição, chegado a África pelo mar.
Representantes, pois, desses bantus deviam ser os matchonas que viveram entre o Cunene e o Cubango, em tempos imemoriais, na zona onde esses rios correm sensivelmente paralelos, antes do Cunene se despenhar na serra da Chela na catarata do Ruacaná e se dobrar dirigindo-se para o mar, onde desagua junto da Ponta de Rui de Pina, e o Cubango inflectir para leste, para a depressão central, alimentando com as suas águas o Grande Pântano.
Teriam eles, talvez, esses bantus, empurrado as tribos boshimanos para o sul do Cunene, que os hotentotes depois obrigaram a transpôr de novo, enquanto não foram, por sua vez, invadidos pelos dámaras, resultando da sua fusão povos diversos, dos quais tomou o predominio o dos bacuanaíbas que constituiram o estado de Mataman.
Daqueles conhecidos jagas que invadiram o reino do Congo capitaneados por Zimbo, obrigando o Rei, africano, D. Álvaro a refugiar-se, com a côrte e os missionários, numa das ilhas do Zaire e a pedir auxilio ao Rei de Portugal, que não hesitou em enviar, em 1570, uma expedição de 600 homens sob o comando de Francisco de Gouveia, que conseguiu repelir os invasores e repôr D. Álvaro no trono, descenderão os bancumbis, oriundos do norte mas vindos do oriente, que avassalando aqueles bacuanaíbas , - os que não preferiram fugir juntando-se aos bandimbas da Chela - fundaram o grande estado de Humbi-Onene que se estendia até as cabeceiras do Cunene, no Bié, região esta ocupada pelos banhanecas e mais para o norte pelos nanos.
Destes bancumbis , dos banhanecas, que vieram do norte ao longo da serra da Chela, e de novas invasões de dámaras descenderam as tribos que povoam, hoje, o Sul de Angola: quer sejam os que babitam os vales dos rios que daquela serra correm para o Atlântico, algumas delas de vida primitiva, como os bacuíssos de origem incerta, errantes na faixa do litoral, alimentando-se de peixes e raízes, dormindos nos recessos dos rochedos; quer sejam as do planalto, já de agricultores e pastores, das quais se destacam os humbes; quer, ainda, algumas da bacia do Cubango; quer por último, as do Ovampo, além Cunene, guerreiras e insubmissas, designadas por banacutubas, - designação devida ao cinto que usam, de onde pende, posteriormente, uma rodela de coiro, - que abrangem os povos do Cuamato, do Cuanhama, do Evale e de Cafima, que mais interessam, além dos que já ocupavam o antigo território alemão.
Oa abirígenes - os bochimanos - eram representados pelos bacancalas ou mucancalas e pelos mucassequeres, que Serpa Pinto encontrou entre o Cubango e o Cuando, errantes caçadores, de aspecto miserável, falando uma lingua gutural em que as palavras eram cortadas ou terminadas por cliques - estalidos dados com a lingua, - de pequena estatura que não ultrapassavam 1,5 metros, de pele amarela-pálida, olhos oblíquos,pómulos da face proeminentes, nariz chato, maxilares salientes, beiços grossos e o ventre protuberante, alimantando-se de raízes, de mel e de caça.
Estes entes, pelo que tinha de primitivo o seu viver e de repelente o seu aspecto físico, nos quais só imperavam os instintos, quase faziam duvidar que ainda pertencessem ao género humano e não fossem, antes, descendentes de uma espécie simiesca ou do hipotético pithecanthropus de Hackel...
Admite-se que todos os povos de Angola descendem dos invasores aditas de raça negra que entraram am África, atravessando o Mar Vermelho pelo estreito de Bab-el-Mandeb, e atingiram a região montanhosa do leste, onde sofreram uma selecção de que resultou serem repudiados para o sul os contigentes inferiores, dando origem ao tipo bantu ; ao passo que outros invasores atingiram o Nilo pelo istmo de Suez, rio que depois subiram, e originaram o tipo chilouk , difundido para norte e oeste, e que uns terceiros invasores, mestiços de raça branca e negra - os segundos aditas - alcançaram os planaltos da Etiópia, ocupados hoje pelos seus descendentes: abissínios, galas e massais..
Estes bantus invasores mais adiantados teriam expulso os autóctones representados na actualidade pelos bushmen ou boshimanos e, por ventura, pelos hotentotes, que, também, se pensa que são de raça amarela, tendo, segundo a tradição, chegado a África pelo mar.
Representantes, pois, desses bantus deviam ser os matchonas que viveram entre o Cunene e o Cubango, em tempos imemoriais, na zona onde esses rios correm sensivelmente paralelos, antes do Cunene se despenhar na serra da Chela na catarata do Ruacaná e se dobrar dirigindo-se para o mar, onde desagua junto da Ponta de Rui de Pina, e o Cubango inflectir para leste, para a depressão central, alimentando com as suas águas o Grande Pântano.
Teriam eles, talvez, esses bantus, empurrado as tribos boshimanos para o sul do Cunene, que os hotentotes depois obrigaram a transpôr de novo, enquanto não foram, por sua vez, invadidos pelos dámaras, resultando da sua fusão povos diversos, dos quais tomou o predominio o dos bacuanaíbas que constituiram o estado de Mataman.
Daqueles conhecidos jagas que invadiram o reino do Congo capitaneados por Zimbo, obrigando o Rei, africano, D. Álvaro a refugiar-se, com a côrte e os missionários, numa das ilhas do Zaire e a pedir auxilio ao Rei de Portugal, que não hesitou em enviar, em 1570, uma expedição de 600 homens sob o comando de Francisco de Gouveia, que conseguiu repelir os invasores e repôr D. Álvaro no trono, descenderão os bancumbis, oriundos do norte mas vindos do oriente, que avassalando aqueles bacuanaíbas , - os que não preferiram fugir juntando-se aos bandimbas da Chela - fundaram o grande estado de Humbi-Onene que se estendia até as cabeceiras do Cunene, no Bié, região esta ocupada pelos banhanecas e mais para o norte pelos nanos.
Destes bancumbis , dos banhanecas, que vieram do norte ao longo da serra da Chela, e de novas invasões de dámaras descenderam as tribos que povoam, hoje, o Sul de Angola: quer sejam os que babitam os vales dos rios que daquela serra correm para o Atlântico, algumas delas de vida primitiva, como os bacuíssos de origem incerta, errantes na faixa do litoral, alimentando-se de peixes e raízes, dormindos nos recessos dos rochedos; quer sejam as do planalto, já de agricultores e pastores, das quais se destacam os humbes; quer, ainda, algumas da bacia do Cubango; quer por último, as do Ovampo, além Cunene, guerreiras e insubmissas, designadas por banacutubas, - designação devida ao cinto que usam, de onde pende, posteriormente, uma rodela de coiro, - que abrangem os povos do Cuamato, do Cuanhama, do Evale e de Cafima, que mais interessam, além dos que já ocupavam o antigo território alemão.
Oa abirígenes - os bochimanos - eram representados pelos bacancalas ou mucancalas e pelos mucassequeres, que Serpa Pinto encontrou entre o Cubango e o Cuando, errantes caçadores, de aspecto miserável, falando uma lingua gutural em que as palavras eram cortadas ou terminadas por cliques - estalidos dados com a lingua, - de pequena estatura que não ultrapassavam 1,5 metros, de pele amarela-pálida, olhos oblíquos,pómulos da face proeminentes, nariz chato, maxilares salientes, beiços grossos e o ventre protuberante, alimantando-se de raízes, de mel e de caça.
Estes entes, pelo que tinha de primitivo o seu viver e de repelente o seu aspecto físico, nos quais só imperavam os instintos, quase faziam duvidar que ainda pertencessem ao género humano e não fossem, antes, descendentes de uma espécie simiesca ou do hipotético pithecanthropus de Hackel...
AS PRIMEIRAS TENTATIVAS DA OCUPAÇÃO
Depois da politica de aliança, que degenerou em protectorado, adoptada com o Estado do Congo, logo após a descoberta do Zaire por Diogo Cão, inaugurou-se com Paulo Dias de Novais, em 1575, uma nova política que impôs a ocupação militar de Angola.
Para tal fim, como directriz de penetração, seguiu-se o rio Cuanza que a facilitava, sendo Luanda por ele fundada a « cabeça de conquista » e tendo sido as etapas desse avanço as seguintes:
- Calumbo
- Massangano em 1583
- Muxima em 1599
- Cambambe em 1604
- Ambaca em 1614
- Fundou-se Pungo Andongo em 1671
- depois da conquista do reino de DONGO, o presídeo de Encoge em 1759
- Ocupou-se, finalmente, o Duque de Bragança em 1838
Não se limitou, porém, esta acção aos sertões do interior de Luanda, por quanto, ainda em vida de Paulo Dias de Novais, se levantou um forte em Benguela Velha ( Porto Amboim ). Depois, Manuel Cerveira Pereira fundaria S. Filipe de Benguela em 1617, que veio a servir como base de ocupação dos planaltos, entre os quais o de Caconda, onde se levantou o presídeo em 1640, mais tarde abandonado e de novo ocupado em 1682. Os de Novo redondo e Quilengues, construiram-se, respectivamente, em 1769 e 1834.
No Sul, porém, ainda que em 1641 já lá tenham estado portugueses em local próximo àquele onde, hoje, é Moçâmedes, - o que está provado pela inscrição que se encontrou numa rocha, no local denominado a Torre do Tombo, e na qual se lê aquela data e o nome de D. António Menezes da Cunha, segundo os Anais do Município de Moçâmedes de 1858, - a sua ocupação só foi tentada em 1785, no governo de José de Almeida e Vasconcelos, barão de Moçâmedes, que organizou com tal objectivo, duas expedições.
Uma, por mar, comandada pelo coronel Pinheiro Furtado, que segiu para o Sul, a bordo da fragata « Luanda », e atingiu a Angra do Negro.
Outra, por terra, dirigida pelo sertanejo Gregório José Mendes, que por Quilengues foi encontrar-se com a primeira naquela mesma Angra, que crismaram com o nome de Moçâmedes, em honra do Governador.
Ali fundaram uma feitoria e iniciaram relacções com os indígenas, procurando trazê-los ao reconhecimento da Soberania Portuguesa. Não foram, todavia, felizes nessa primeira tentativa de ocupação, que não se menteve e que viria a custar a vida a dois oficiais e a dois marinheiros, assassinados no rio Bero, pelos indígenas, passando, por isso, este rio a ser designado por rio dos Mortos.
Anos decorreram, e só no governo de D. António Manuel de Noronha, em 1830, duas outras expedições se organizaram com o mesmo objectivo e que seguiram caminhos idênticos aos das anteriores.
A que foi pelo mar, na escuna « Isabel Maria », era comandada pelo primeiro tenente da armada Pedro Alexandrino da Cunha, que mais tarde viria a ser um notável Governador Geral.
A que marchou por terra, debaixo do comando do tenente J. Garcia, dirigiu-se, também, a Quilengues, inflectindo para o Quipungo e foi depois à Huila, de onde desceu ao litoral para se reunir, em Moçâmedes, a Pedro Alexandrino.
Ali se levantou o forte de Ponta Negra e se instalou uma feitoria, iniciando-se bem depressa a colonização branca, uma vez reconhecido o seu clima suave e temperado pelas brisas derivadas da corrente fria que sobe ao longo da costa, vinda do Cabo da Boa Esperança, corrente que é, também, uma das causas da riqueza ictiológica daquele mar do Sul...
Depois da politica de aliança, que degenerou em protectorado, adoptada com o Estado do Congo, logo após a descoberta do Zaire por Diogo Cão, inaugurou-se com Paulo Dias de Novais, em 1575, uma nova política que impôs a ocupação militar de Angola.
Para tal fim, como directriz de penetração, seguiu-se o rio Cuanza que a facilitava, sendo Luanda por ele fundada a « cabeça de conquista » e tendo sido as etapas desse avanço as seguintes:
- Calumbo
- Massangano em 1583
- Muxima em 1599
- Cambambe em 1604
- Ambaca em 1614
- Fundou-se Pungo Andongo em 1671
- depois da conquista do reino de DONGO, o presídeo de Encoge em 1759
- Ocupou-se, finalmente, o Duque de Bragança em 1838
Não se limitou, porém, esta acção aos sertões do interior de Luanda, por quanto, ainda em vida de Paulo Dias de Novais, se levantou um forte em Benguela Velha ( Porto Amboim ). Depois, Manuel Cerveira Pereira fundaria S. Filipe de Benguela em 1617, que veio a servir como base de ocupação dos planaltos, entre os quais o de Caconda, onde se levantou o presídeo em 1640, mais tarde abandonado e de novo ocupado em 1682. Os de Novo redondo e Quilengues, construiram-se, respectivamente, em 1769 e 1834.
No Sul, porém, ainda que em 1641 já lá tenham estado portugueses em local próximo àquele onde, hoje, é Moçâmedes, - o que está provado pela inscrição que se encontrou numa rocha, no local denominado a Torre do Tombo, e na qual se lê aquela data e o nome de D. António Menezes da Cunha, segundo os Anais do Município de Moçâmedes de 1858, - a sua ocupação só foi tentada em 1785, no governo de José de Almeida e Vasconcelos, barão de Moçâmedes, que organizou com tal objectivo, duas expedições.
Uma, por mar, comandada pelo coronel Pinheiro Furtado, que segiu para o Sul, a bordo da fragata « Luanda », e atingiu a Angra do Negro.
Outra, por terra, dirigida pelo sertanejo Gregório José Mendes, que por Quilengues foi encontrar-se com a primeira naquela mesma Angra, que crismaram com o nome de Moçâmedes, em honra do Governador.
Ali fundaram uma feitoria e iniciaram relacções com os indígenas, procurando trazê-los ao reconhecimento da Soberania Portuguesa. Não foram, todavia, felizes nessa primeira tentativa de ocupação, que não se menteve e que viria a custar a vida a dois oficiais e a dois marinheiros, assassinados no rio Bero, pelos indígenas, passando, por isso, este rio a ser designado por rio dos Mortos.
Anos decorreram, e só no governo de D. António Manuel de Noronha, em 1830, duas outras expedições se organizaram com o mesmo objectivo e que seguiram caminhos idênticos aos das anteriores.
A que foi pelo mar, na escuna « Isabel Maria », era comandada pelo primeiro tenente da armada Pedro Alexandrino da Cunha, que mais tarde viria a ser um notável Governador Geral.
A que marchou por terra, debaixo do comando do tenente J. Garcia, dirigiu-se, também, a Quilengues, inflectindo para o Quipungo e foi depois à Huila, de onde desceu ao litoral para se reunir, em Moçâmedes, a Pedro Alexandrino.
Ali se levantou o forte de Ponta Negra e se instalou uma feitoria, iniciando-se bem depressa a colonização branca, uma vez reconhecido o seu clima suave e temperado pelas brisas derivadas da corrente fria que sobe ao longo da costa, vinda do Cabo da Boa Esperança, corrente que é, também, uma das causas da riqueza ictiológica daquele mar do Sul...
...A ocupação alargou-se e a ousadia portuguesa foi desvendando os segredos daqueles sertões, não sem lutas e lutas acérrimas com os indígenas.
Subiu-se ao planalto, tentou-se, também aqui, a colonização, reconhecida a sua aptidão para a fixação da raça branca pelas influências tropicais serem compensadas pela altitude, que atingia na Huila cerca de 1800 metros. Para isso, em 1843, começam a vir familias do Brasil, fugidas às lutas políticas, que não só se fixaram em Moçâmedes, mas que atingiram o Bumbo, junto à Chela, e subiram à Huila.
O comércio, que não dera até àquelas expedições sinal de si, não se encontrando rastos dos pombeiros ou dos funantes pelos trilhos da savana clara ou da selva sombria, começou a aparecer desde 1840, internando-se naqueles sertões enigmáticos, ainda exuberantes de ameaças.
Um sertanejo célebre - B. F. Brochado - contava que fôra ao Mulondo, em 1844, e que para tal tivera de vestir saias, pois ninguém podia ali entrar de calças, e que só mais tarde obtivera licença do soba para as usar nas suas terras, à excepção da libata Grande, onde tal indumentária não era permitida. Acresecentava que na Camba e no Humbe se mantinha idêntica proibição.
Começou-se a pensar a sério na colonização, que o marquês de Sá da Bandeira patrocinou, e no desenvolvimento da indústria de pesca nas baías do sul, onde começaram a chegar várias levas de colonos, compreendendo, nos chegados em 1857, alguns alemães, ao mesmo tempo que aos soldados, com baixa, se distribuiram terras e se lhes forneceram sementes, bem como aos degradados de ambos os sexos que para ali se foram enviando.
Ao passo que a colómia de Moçâmedes progredia, foram cheias de dificuldades os primeiros tempos dessas tentativas no planalto derivadas da falta de espírito associativo dos colonos, da errada escolha das culturas, da dificuldade da mão de obra e da hostilidade dos indígenas.
Assim, a gente do Nano , potentado que dominava o sul do Bié, que no ano anterior já ameaçara Quilengues, cercou a fortaleza da Huila em 1857, sendo, porém, repelidos por exiguas forças regulares e pelos colonos, comandados pelo capitão Godinho de Melo, no fim de quatro dias de combate, os 8000 indígenas atacantes.
A colonização tomou mesmo feição militar, para o que para a Huila se destacou uma Companhia de Caçadores, que foi recrutada na metrópole, preferindo-se as praças casadas. Para Cangombe, na base da serra da Chela, foi outra Companhia. Em cima, nos Gambos, foi instalado um presídeo guarnecido por forças regulares.
As ameaças de incursões de guerras do Nano repetiram-se e atingiram o Humbe, onde já estavam estabelecidos alguns comerciantes, pagando ao soba um imposto para poderem negociar, e que fôra ocupado por volta de 1859 por uma pequena força comandada pelo alferes Pinto, que, simultâneamente, prestou auxílio a um velho soba cujo sobrinho, herdeiro, queria destronar.
Por causa daquelas ameaças, foi também para ali um destacamento de Caçadores, comandado pelo capitão Miguel Almeida, que levantou um posto na margem direita do Caculovar, junto à embala do soba, sendo, então, pela primeira vez, iniciadas negociações para a vassalagem do soba do Cuanhama...
...No ano seguinte, porém, em 1860, aquelas incursões não ficaram em ameaças, pois uma poderosa guerra assolou a Huila, cercou a fortaleza, derrotou as forças que, comandadas pelo major Silva, sairam numa sortida, sendo decapitado o comandante sôbre a " boca de fogo " que levava, e pôs a saque toda a região da Humpata e de Jau, descendo depois a serra ameaçando Moçâmedes, cujos habitantes se refugiaram em barcos na baía.
Apreenderam gados e aprisionaram gente, da qual alguns brancos foram, mais tarde, resgatados.
Entretanto, a influência, portuguesa, no Humbe ia progredindo entremeada de lutas, firmando-se para além do Mulondo e alargou-se para os Cuanhamas , graças à acção enérgica do alferes N. Mata.
A falta de sequência nos planos de governo e na sua execução, que foi um dos males da nossa Administração Ultramarina, fez com que as guarnições militares fossem retiradas, em 1863, do Humbe e dos Gambos, ficando o Humbe abandonado até 1880, e que a colonização não fosse amparada como até então tinha sido. Todavia, Moçâmedes progrediu, iniciando-se a indústria de tecidos e nas baías do Sul, a pesca foi-se desenvolvendo com os algarvios que para ali emigraram.
Com várias alternativas, em que mais sofreu a colónia da Huila em manifesta decadência, sem comunicações garantidas, foram-se, mais ou menos demoradamente, rasgando estradas através da região arenosa até à Chela, estabelecendo-se pousadas e garantindo o abastecimento de águas, prosperando as colónias do sopé da serra.
Depois de 1880 as atenções voltaram-se de novo para a colonização do planalto, melhorando-se os caminhos, estudando-se a melhor ligação com o litoral e iniciou-se uma estrada que pela Bilala ia passar ao Lubango, de onde continuou para a Huila e Humpata.
Às incursões das guerras do Nano sucederam-se, então, as dos hotentotes, que, transpondo o Cunene para a margem direita, assolaram e saquearam a região do sul dos Gambos.
Por esta época apareceram naquele rio os primeiros boers, após um audacioso treck através do deserto do Calahari e da Damaralândia, os quais, procurando entrar em relacções com os portugueses, foram atacados pelos indígenas do Humbe, de quem se desforraram. A esses, seguiram-se outros, todos fugidos ao dominio inglês na África do Sul, uma vez que lhes fôra permitido pelo governo, português, fixarem-se na Humpata.
Numa orientação justificada para contrabalançar essa influência estrangeira, procurou-se estabelecer junto deles, colonos portugueses, facilitando cruzamentos, e para isso se aproveitaram os que vieram da extinta colónia « Julio de Vilhena » em Pungo Andongo, e que foram reforçados, em 1885, com ilhéus madeirenses. Foi, todavia, infrutífera esta tentativa, tão diferentes eram os dois povos em presença, sem afinidades de lingua, de religião e, até mesmo, de civilização, e os boers, refractários a qualquer convívio estranho, apressaram-se muitos deles a abandonar a Humpata, mudando-se para a Palanca.
Por aquela altura, foi, também, organizada a colónia Sá da Bandeira, no Lubango, para o que se recrutaram, ainda, colonos na ilha da Madeira, que em diversas levas foram chegando.
Com os poucos recursos de que se podia dispôr de forças regulares, foi-se tentando com elas e com alguns auxiliares alargar a nossa soberania, levantando-se ao norte os postos de Cassinga, Dongo e Princesa Amélia, mas não se podendo impedir as correrias dos hotentotes, vindos do sul, que chegaram às imediações da Humpata e de Campangombe...
Apreenderam gados e aprisionaram gente, da qual alguns brancos foram, mais tarde, resgatados.
Entretanto, a influência, portuguesa, no Humbe ia progredindo entremeada de lutas, firmando-se para além do Mulondo e alargou-se para os Cuanhamas , graças à acção enérgica do alferes N. Mata.
A falta de sequência nos planos de governo e na sua execução, que foi um dos males da nossa Administração Ultramarina, fez com que as guarnições militares fossem retiradas, em 1863, do Humbe e dos Gambos, ficando o Humbe abandonado até 1880, e que a colonização não fosse amparada como até então tinha sido. Todavia, Moçâmedes progrediu, iniciando-se a indústria de tecidos e nas baías do Sul, a pesca foi-se desenvolvendo com os algarvios que para ali emigraram.
Com várias alternativas, em que mais sofreu a colónia da Huila em manifesta decadência, sem comunicações garantidas, foram-se, mais ou menos demoradamente, rasgando estradas através da região arenosa até à Chela, estabelecendo-se pousadas e garantindo o abastecimento de águas, prosperando as colónias do sopé da serra.
Depois de 1880 as atenções voltaram-se de novo para a colonização do planalto, melhorando-se os caminhos, estudando-se a melhor ligação com o litoral e iniciou-se uma estrada que pela Bilala ia passar ao Lubango, de onde continuou para a Huila e Humpata.
Às incursões das guerras do Nano sucederam-se, então, as dos hotentotes, que, transpondo o Cunene para a margem direita, assolaram e saquearam a região do sul dos Gambos.
Por esta época apareceram naquele rio os primeiros boers, após um audacioso treck através do deserto do Calahari e da Damaralândia, os quais, procurando entrar em relacções com os portugueses, foram atacados pelos indígenas do Humbe, de quem se desforraram. A esses, seguiram-se outros, todos fugidos ao dominio inglês na África do Sul, uma vez que lhes fôra permitido pelo governo, português, fixarem-se na Humpata.
Numa orientação justificada para contrabalançar essa influência estrangeira, procurou-se estabelecer junto deles, colonos portugueses, facilitando cruzamentos, e para isso se aproveitaram os que vieram da extinta colónia « Julio de Vilhena » em Pungo Andongo, e que foram reforçados, em 1885, com ilhéus madeirenses. Foi, todavia, infrutífera esta tentativa, tão diferentes eram os dois povos em presença, sem afinidades de lingua, de religião e, até mesmo, de civilização, e os boers, refractários a qualquer convívio estranho, apressaram-se muitos deles a abandonar a Humpata, mudando-se para a Palanca.
Por aquela altura, foi, também, organizada a colónia Sá da Bandeira, no Lubango, para o que se recrutaram, ainda, colonos na ilha da Madeira, que em diversas levas foram chegando.
Com os poucos recursos de que se podia dispôr de forças regulares, foi-se tentando com elas e com alguns auxiliares alargar a nossa soberania, levantando-se ao norte os postos de Cassinga, Dongo e Princesa Amélia, mas não se podendo impedir as correrias dos hotentotes, vindos do sul, que chegaram às imediações da Humpata e de Campangombe...
...As missões do Espirito Santo, simultâneamente, iam exercendo a sua acção benéfica. Da Huila, onde primeiro se instalaram, passaram em 1882 ao Humbe e logo no ano imediato o benemérito padre Duparquet conseguiu fundar uma missão no Cuanhama, junto do soba Napanda, que parecia afeiçoado aos portugueses, e que teve de se afrontar com as missões protestantes alemãs.
Também, o não menos benemérito padre Leconte obstou a que uma força alemã se estabelecesse junto ao Cunene, no país do Cuanhama, fazendo valer os direitos de Portugal.
Para além das correrias dos hotentotes que continuavam a assolar a região entre o rio Caculovar e a serra da Chela, davam-se no Humbe, que tinha sido reocupado em 1880, sucessivos incidentes, mais ou menos graves, derivados da resistência do indígena em reconhecer a soberania portuguesa, chegando a sitiar o forte em 1885, onde se tinham recolhido os brancos da região, o que impôs ao comandante, capitão Andrade, efectuar uma sortida, conseguindo, depois de violento combate, tomar a embala do soba e incendiá-la.
Mas, antes disso, os soldados e auxiliares indígenas descobriram, ali, um grande número de potes cheios de uma bebida fermentada, chamada macau, e com ela se embriagaram de tal forma, sem que o comandante pudesse impedir o que fez com que, na retirada para o forte, fossem surpreendidos pelos indígenas, matando aquele oficial, assim como 52 dos 64 homens dessa força.
A sublevação generalizou-se depois deste desastre, sendo necessária a vinda de novas forças, sob o comando do capitão Pedro Chaves, que, após cinco meses de lutas, conseguiu derrotar o soba Oncole , que se viu obrigado a fugir, substituindo-o por um grande, um fidalgo, de nome Tioia, que era hostil ao soba vencido, sendo este mais tarde preso pelo chefe do Humbe, capitão Luna de Carvalho, um dos valorosos soldados daquelas terras do sul, e desterrado para Cabo Verde.
Pouco tempo durou a lembrança deste castigo, porquanto, logo em 1891, os povos do Humbe, capitaneados pelo fidalgo Luhuma, se sublevaram contra o seu soba e contra os portugueses, sob pretexto de que a estiagem, que se vinha fazendo sentir, era devido ao soba Tioia, que impedia que as chuvas caíssem.
Pedido, por este, auxilio à autoridade portuguesa, foi enviada uma pequena força que não pôde levar de vencida os revoltosos, tendo o soba, para salvar a vida, antes de se recolher à fortaleza do Humbe, de permanecer durante uma noite mergulhado numa lagoa com água até ao pescoço.
Tomada a embala do soba fugitivo pelos revoltosos, foi intimado ao chefe do concelho, o citado capitão Luna de Carvalho, o abandono da fortaleza que diziam querer arrazar.
Pedidos socorros para Moçâmedes, dada a tão grave situação, foi encarregado de os organizar no planalto o major Lourenço Padrel, comandante do Batalhão de Caçadores 4, experimentado e enérgico oficial que relevantes serviços prestou em Angola, e que em 26 de Abril saía da Huila com 80 soldados indígenas, 10 soldados brancos de Cavalaria, 56 voluntários boers, uns a pé outros a cavalo, e 650 indígenas de várias procedências, todos municiados com armas martini e Sneider. Levavam, também, dois canhões, cada um do seu sistema e ambos mal servidos, uma metralhadora e um combóio de 20 vagões boers.
Bastante irregular, como se vê, era esta coluna, como todas as que nessa época se organizavam, dada a deficiência que havia de tropas com valor militar, mas, a-pesar-disso, tendo chegado ao Humbe a 16 de Maio, conseguiu abrir caminho à viva fôrça, fazendo retirar os rebeldes que já tinham atacado a fortaleza e sido repelidos pelo capitão Luna de Carvalho, que se apressou a encorporar-se na coluna de Padrel...
Também, o não menos benemérito padre Leconte obstou a que uma força alemã se estabelecesse junto ao Cunene, no país do Cuanhama, fazendo valer os direitos de Portugal.
Para além das correrias dos hotentotes que continuavam a assolar a região entre o rio Caculovar e a serra da Chela, davam-se no Humbe, que tinha sido reocupado em 1880, sucessivos incidentes, mais ou menos graves, derivados da resistência do indígena em reconhecer a soberania portuguesa, chegando a sitiar o forte em 1885, onde se tinham recolhido os brancos da região, o que impôs ao comandante, capitão Andrade, efectuar uma sortida, conseguindo, depois de violento combate, tomar a embala do soba e incendiá-la.
Mas, antes disso, os soldados e auxiliares indígenas descobriram, ali, um grande número de potes cheios de uma bebida fermentada, chamada macau, e com ela se embriagaram de tal forma, sem que o comandante pudesse impedir o que fez com que, na retirada para o forte, fossem surpreendidos pelos indígenas, matando aquele oficial, assim como 52 dos 64 homens dessa força.
A sublevação generalizou-se depois deste desastre, sendo necessária a vinda de novas forças, sob o comando do capitão Pedro Chaves, que, após cinco meses de lutas, conseguiu derrotar o soba Oncole , que se viu obrigado a fugir, substituindo-o por um grande, um fidalgo, de nome Tioia, que era hostil ao soba vencido, sendo este mais tarde preso pelo chefe do Humbe, capitão Luna de Carvalho, um dos valorosos soldados daquelas terras do sul, e desterrado para Cabo Verde.
Pouco tempo durou a lembrança deste castigo, porquanto, logo em 1891, os povos do Humbe, capitaneados pelo fidalgo Luhuma, se sublevaram contra o seu soba e contra os portugueses, sob pretexto de que a estiagem, que se vinha fazendo sentir, era devido ao soba Tioia, que impedia que as chuvas caíssem.
Pedido, por este, auxilio à autoridade portuguesa, foi enviada uma pequena força que não pôde levar de vencida os revoltosos, tendo o soba, para salvar a vida, antes de se recolher à fortaleza do Humbe, de permanecer durante uma noite mergulhado numa lagoa com água até ao pescoço.
Tomada a embala do soba fugitivo pelos revoltosos, foi intimado ao chefe do concelho, o citado capitão Luna de Carvalho, o abandono da fortaleza que diziam querer arrazar.
Pedidos socorros para Moçâmedes, dada a tão grave situação, foi encarregado de os organizar no planalto o major Lourenço Padrel, comandante do Batalhão de Caçadores 4, experimentado e enérgico oficial que relevantes serviços prestou em Angola, e que em 26 de Abril saía da Huila com 80 soldados indígenas, 10 soldados brancos de Cavalaria, 56 voluntários boers, uns a pé outros a cavalo, e 650 indígenas de várias procedências, todos municiados com armas martini e Sneider. Levavam, também, dois canhões, cada um do seu sistema e ambos mal servidos, uma metralhadora e um combóio de 20 vagões boers.
Bastante irregular, como se vê, era esta coluna, como todas as que nessa época se organizavam, dada a deficiência que havia de tropas com valor militar, mas, a-pesar-disso, tendo chegado ao Humbe a 16 de Maio, conseguiu abrir caminho à viva fôrça, fazendo retirar os rebeldes que já tinham atacado a fortaleza e sido repelidos pelo capitão Luna de Carvalho, que se apressou a encorporar-se na coluna de Padrel...
...Depois de bater vários pontos ocupados, secessivamente, pelo chefe da revolta Luhuma e ainda a Donguena, também na margem direita do Cunene, a jusante do Humbe, cujo povo se conservava insubmisso, chegando as correrias dos auxiliares até à Hinga, na outra margem do rio, retirou para o Humbe visto constar que aquele chefe se refugiara no Cuamato.
Uma vez de nova, ali, mandou fazer com os voluntários várias incursões nas terras a noroeste, marginais do Caculovar, para castigar a insubmissão dos povos que as habitavam e activou as negociações com o soba Aiúlo do Cuanhama, com o qual já o tenente Paulo Amado tinha entabolado relações e que se prontificou a fornecer gente sua, a pé e a cavalo, para " bater " o seu vizinho do Cuamato, de quem dizia ter de se vingar por causa de um ataque traiçoeiro que o mesmo lhe fizera.
Destas negociações resultou a vinda de 3500 Cuanhamas, enviados por Aiúlo com seis chefes lengas montados em cavalos, armados, a maior parte, de armas rudimentares - arcos, flechas e azagaias - e uma quarta parte, de espingardas Martini, Sneider e de fulminante, predominando estas.
Desta forma, Padrel conseguiu reunir um total de cerca de 4500 homens, com dois canhões e sete vagões boers, em que apenas havia 60 soldados de tropa regular e com eles, pela primeira vez, invadiu o Cuamato.
Assim, no dia 11 de Julho, iniciam a marcha ao longo do Cunene, que transpõem no dia imediato num vau a jusante do Heque, e internam-se no país, em direcção à embala, não tardando que fossem atacados enérgicamente e envolvidos pelos Cuamatos e pelos seus eventuais aliados das tribus vizinhas do Ovampo, como a dos Cuambis de afamada reputação guerreira.
No dia 13, sabendo-se, por prisioneiros que tinham feito, que o rebelde Luhuma se refugiara nas proximidades da Donguena e, tendo-se inutilizado uma das peças de artilharia, consumido mais de metade das munições que levavam e, ainda, a deserção de grande parte dos auxiliares Cuanhamas por não lhes serem atribuidas novas munições que exigiram, resolveu Padrel a retirada, depois de ter ouvido em conselho os oficiais e os chefes de auxiliares, simulando primeiro, hàbilmente, um movimento ofensivo em direcção à embala para iludir os indígenas, obrigando-o a seguir-lhe em frente, como o fez.
Sem demora, ordena então a contra-marcha. Após alguns episódios em que não faltaram actos de bravura, distinguindo-se, entre outros, o tenente Palermo, que por duas vezes, com os seus poucos soldados angolas, teve de carregar contra os indígenas audaciosos, conseguiu atingir o Cunene, pelas 15H00, desse mesmo dia, tendo 11 mortos e 31 feridos, sendo alguns dos falecidos e muitos feridos, por arma branca...
Uma vez de nova, ali, mandou fazer com os voluntários várias incursões nas terras a noroeste, marginais do Caculovar, para castigar a insubmissão dos povos que as habitavam e activou as negociações com o soba Aiúlo do Cuanhama, com o qual já o tenente Paulo Amado tinha entabolado relações e que se prontificou a fornecer gente sua, a pé e a cavalo, para " bater " o seu vizinho do Cuamato, de quem dizia ter de se vingar por causa de um ataque traiçoeiro que o mesmo lhe fizera.
Destas negociações resultou a vinda de 3500 Cuanhamas, enviados por Aiúlo com seis chefes lengas montados em cavalos, armados, a maior parte, de armas rudimentares - arcos, flechas e azagaias - e uma quarta parte, de espingardas Martini, Sneider e de fulminante, predominando estas.
Desta forma, Padrel conseguiu reunir um total de cerca de 4500 homens, com dois canhões e sete vagões boers, em que apenas havia 60 soldados de tropa regular e com eles, pela primeira vez, invadiu o Cuamato.
Assim, no dia 11 de Julho, iniciam a marcha ao longo do Cunene, que transpõem no dia imediato num vau a jusante do Heque, e internam-se no país, em direcção à embala, não tardando que fossem atacados enérgicamente e envolvidos pelos Cuamatos e pelos seus eventuais aliados das tribus vizinhas do Ovampo, como a dos Cuambis de afamada reputação guerreira.
No dia 13, sabendo-se, por prisioneiros que tinham feito, que o rebelde Luhuma se refugiara nas proximidades da Donguena e, tendo-se inutilizado uma das peças de artilharia, consumido mais de metade das munições que levavam e, ainda, a deserção de grande parte dos auxiliares Cuanhamas por não lhes serem atribuidas novas munições que exigiram, resolveu Padrel a retirada, depois de ter ouvido em conselho os oficiais e os chefes de auxiliares, simulando primeiro, hàbilmente, um movimento ofensivo em direcção à embala para iludir os indígenas, obrigando-o a seguir-lhe em frente, como o fez.
Sem demora, ordena então a contra-marcha. Após alguns episódios em que não faltaram actos de bravura, distinguindo-se, entre outros, o tenente Palermo, que por duas vezes, com os seus poucos soldados angolas, teve de carregar contra os indígenas audaciosos, conseguiu atingir o Cunene, pelas 15H00, desse mesmo dia, tendo 11 mortos e 31 feridos, sendo alguns dos falecidos e muitos feridos, por arma branca...
..O prestigio que se tinha alcançado com a primeira parte destas operações foi bastante prejudicado com esta retirada, passando os Cuamatos a não permitir a entrada de brancos nas suas terras, mesmo aos sertanejos seus conhecidos, e vindo as suas quadrilhas audaciosamente, bem como as dos Cuanhamas, assolar com frequência as terras de aquém Cunene, chegando a ameaçar Caconda, de onde foram repelidas pelo tenente Evaristo de Almeida.
Em 1897, as incursões de hotentotes ao longo da Chela, atingindo os Gambos e a Huila, deu origem à ida de uma força de Caçadores e do Esquadrão de Dragões, que em 1894 se tinha organizado, em sua perseguição.
Quando esse Esquadrão, em Novembro desse mesmo ano, retirou do Humbe, foi surpreendido em Jamba-Camufate pelos indígenas que chacina um dos pelotões com o seu comandante, conde de Almoster.
Este facto deu origem à sublevação geral dos indígenas que já andavam mal dispostos com as providências profilácticas adoptadas pelo Governo por causa da peste bovina que dizimava o gado, sendo cercada e atacada a fortaleza do Humbe, bem como as casas comerciais dali e do Cataquero, a qual se alastrou aos Gambos, à Camba e ao Mulondo.
Este grave estado de coisas impôs a organização de uma nova coluna, comandada pelo glorioso soldado de Angola que foi Artur de Paiva, a qual teve de operar em plena época de chuvas e infligiu severo castigo aos povos de Humbe, cuja fortaleza foi libertada em 23 de Fevereiro. Pretendeu, ele, ainda, passar o Cunene e ir submeter os Cuamatos , mas foi impedido neste designio pela fraqueza da coluna, exausta pelas operações realizadas em época tão imprópria.
Como as incursões Cuanhamas se repetissem aquém do Cunene, foi necessário, para garantir aos carros uma passagem no rio, levantar o pôsto de Capelongo em 1903 e, a situação exigia, debaixo de todos os pontos de vista, a ocupação do Ovampo, que o Governo central resolveu efectuar, organizando para tal uma Coluna com tropas de Angola e outros elementos idos da metrópole. Assumiu o seu comando o governador da Huila, capitão de Engenharia João Maria de Aguiar, e foi, ela, organizada de forma a operar em obediência aos novos preceitos de guerra colonial adoptados na Campanha de 1895, em Moçambique, e nas subsequentes que ali se efectuaram, pondo de parte os processos de guerra com forças irregulares até então seguidos em Angola.
Concentrada no Humbe num efectivo de 1800 homens, dos quais 500 brancos, com 120 animais, 7 canhões e 45 carros boers, transpunha o Cunene no vau de Pembe, em 19 de Setembro, tendo a 22 executado um pequeno reconhecimento que se limitou a queimar algumas libatas, e no dia 25 um outro por um destacamento mais forte, com uma força de 500 homens com dois canhões, que o capitão Pinto de Almeida, da arma de Artilharia, comandava.
Esse destacamento internou-se numa mata densa que marginava o Cunene e foi atacado, algum tempo depois, pelos indígenas que o envolveu e fez sobre ele um fogo violento. Para lhe fazer frente, o destacamento parou numa pequena clareira, onde a Infantaria começou a responder ao fogo adversário e a Artilharia com dificuldade entrou em cena.
O inimigo, como sempre, escondido na mata, abrigado pelos morros de salalé e empoleirado nas árvores, fez um fogo certeiro com as suas armas aperfeiçoadas - as chamadas armas finas -, produzindo sensiveis baixas, especialmente nos graduados, o que levou o Destacamento a empenhar-se a fundo no desejo de vencer.
Quando se iniciou a retirada, o fogo dos portugueses foi amortecendo por falta de munições, enquanto os indígenas redobraram de audácia, não poupando, de preferência, os oficiais e abatendo o gado de tracção, provocando o pânico que se generalizou e permitiu o avanço das cuas de guerreiros, segundo a sua táctica, mantidas até então à retaguarda para o combate à arma branca, para o que não havia, perante o número, valentia ou intrepidez pessoal que pudesse resistir.
Dessa retirada sangrenta, que custou a vida a cerca de 300 homens, incluindo o seu desditoso comandante, não pôde a selva ocultar as suas consequências, muito embora a luta dentro dela fosse permanente e eterna.
Desta, porém, entre homens, as ossadas, que anos depois se começaram a encontrar a certa distância daquela clareira e que piedosamente foram recolhidas, marcavam como um estigma essa jornada trágica que impôs à Coluna desmoralizada e enfraquecida a passagem imediata do Cunene e a sua dissolução...
Em 1897, as incursões de hotentotes ao longo da Chela, atingindo os Gambos e a Huila, deu origem à ida de uma força de Caçadores e do Esquadrão de Dragões, que em 1894 se tinha organizado, em sua perseguição.
Quando esse Esquadrão, em Novembro desse mesmo ano, retirou do Humbe, foi surpreendido em Jamba-Camufate pelos indígenas que chacina um dos pelotões com o seu comandante, conde de Almoster.
Este facto deu origem à sublevação geral dos indígenas que já andavam mal dispostos com as providências profilácticas adoptadas pelo Governo por causa da peste bovina que dizimava o gado, sendo cercada e atacada a fortaleza do Humbe, bem como as casas comerciais dali e do Cataquero, a qual se alastrou aos Gambos, à Camba e ao Mulondo.
Este grave estado de coisas impôs a organização de uma nova coluna, comandada pelo glorioso soldado de Angola que foi Artur de Paiva, a qual teve de operar em plena época de chuvas e infligiu severo castigo aos povos de Humbe, cuja fortaleza foi libertada em 23 de Fevereiro. Pretendeu, ele, ainda, passar o Cunene e ir submeter os Cuamatos , mas foi impedido neste designio pela fraqueza da coluna, exausta pelas operações realizadas em época tão imprópria.
Como as incursões Cuanhamas se repetissem aquém do Cunene, foi necessário, para garantir aos carros uma passagem no rio, levantar o pôsto de Capelongo em 1903 e, a situação exigia, debaixo de todos os pontos de vista, a ocupação do Ovampo, que o Governo central resolveu efectuar, organizando para tal uma Coluna com tropas de Angola e outros elementos idos da metrópole. Assumiu o seu comando o governador da Huila, capitão de Engenharia João Maria de Aguiar, e foi, ela, organizada de forma a operar em obediência aos novos preceitos de guerra colonial adoptados na Campanha de 1895, em Moçambique, e nas subsequentes que ali se efectuaram, pondo de parte os processos de guerra com forças irregulares até então seguidos em Angola.
Concentrada no Humbe num efectivo de 1800 homens, dos quais 500 brancos, com 120 animais, 7 canhões e 45 carros boers, transpunha o Cunene no vau de Pembe, em 19 de Setembro, tendo a 22 executado um pequeno reconhecimento que se limitou a queimar algumas libatas, e no dia 25 um outro por um destacamento mais forte, com uma força de 500 homens com dois canhões, que o capitão Pinto de Almeida, da arma de Artilharia, comandava.
Esse destacamento internou-se numa mata densa que marginava o Cunene e foi atacado, algum tempo depois, pelos indígenas que o envolveu e fez sobre ele um fogo violento. Para lhe fazer frente, o destacamento parou numa pequena clareira, onde a Infantaria começou a responder ao fogo adversário e a Artilharia com dificuldade entrou em cena.
O inimigo, como sempre, escondido na mata, abrigado pelos morros de salalé e empoleirado nas árvores, fez um fogo certeiro com as suas armas aperfeiçoadas - as chamadas armas finas -, produzindo sensiveis baixas, especialmente nos graduados, o que levou o Destacamento a empenhar-se a fundo no desejo de vencer.
Quando se iniciou a retirada, o fogo dos portugueses foi amortecendo por falta de munições, enquanto os indígenas redobraram de audácia, não poupando, de preferência, os oficiais e abatendo o gado de tracção, provocando o pânico que se generalizou e permitiu o avanço das cuas de guerreiros, segundo a sua táctica, mantidas até então à retaguarda para o combate à arma branca, para o que não havia, perante o número, valentia ou intrepidez pessoal que pudesse resistir.
Dessa retirada sangrenta, que custou a vida a cerca de 300 homens, incluindo o seu desditoso comandante, não pôde a selva ocultar as suas consequências, muito embora a luta dentro dela fosse permanente e eterna.
Desta, porém, entre homens, as ossadas, que anos depois se começaram a encontrar a certa distância daquela clareira e que piedosamente foram recolhidas, marcavam como um estigma essa jornada trágica que impôs à Coluna desmoralizada e enfraquecida a passagem imediata do Cunene e a sua dissolução...
...Pode-se avaliar quais foram os resultados deste lamentável desastre e o prestigio que aquelas tribos alcançaram sôbre as da margem direita, que, por sua vez, se tornaram, também, insolentes e desrespeitadoras.
Desta forma, a questão do Sul de Angola, tendo-se agravado, não se limitava já aos seus aspectos internos de soberania, atingia a política do planalto onde viviam os boers desconfiados e arredios e era influenciada pela vizinhança de uma colónia de alemães, que lançavam olhares insolentes por cima da fronteira. Era ela, pois, merecedora das atenções do Governo Central.
Não é que derrotas em África não as tenham sofrido todos os povos que ali dominavam. Ao pé da porta, os herreros bastantes e morosas dificuldades levantaram aos alemães antes de se submeterem.
Cônscio das suas responsabilidades, o Governo da metrópole resolveu acudir àquele estado de coisas, encarregando o major Eduardo da Costa de preparar um plano de campanha para bater o Ovampo. E, deve dizer-se, não podia ter entregue tão melindrosa missão a pessoa mais competente e experimentada do que era aquele glorioso soldado da Campanha de 1895 contra o Gungunhana.
A política partidária, porém, que nesses tempos em tudo intervinha com os seus maleficios, fêz pôr de parte essa feliz escolha quando o brilhante oficial, em Setembro de 1905, tinha o seu estudo completo, feito com a meticulosidade e o método que impunha a todas as suas obras.
Foi depois organizada uma expedição e escolhido para seu Comandante o coronel Manuel de Sousa Machado, chefe já com provas dadas na expedição ao Mataca, em Moçambique, e que não chegou, também, a realizar-se, não obstante ter parte dos viveres e de material escalonados ao longo da extensa linha de etapas que ia de Moçâmedes ao Humbe.
Entretanto, o Governador Geral Ramada Curto, mandava o chefe de estado Maior da Província, capitão Eduardo Marques, mais tarde general - um outro ilustre nome da história militar de Angola - em reconhecimento da situação no Sul, estudando os meios adequados a obstar a maiores audácias dos indígenas, cheio de força moral, e convidou o capitão dos Serviços de Estado Maior Alves Roçadas, então na India - que já fôra ali, também, Chefe de Estado Maior, conhecendo, por isso, a questão que tanta acuidade tinha tomado, - para Governador da Huila, cargo de que tomou posse em Agosto de 1905, e que imediatamente passou a concentrar a sua atenção no problema militar, a fim de, como ele escreveu, « levantar o espirito moral das guarnições, desfazer a atmosfera de desconfiança que invadia todas as classes, reavivar a fé no coração de todos esses pioneiros africanos que, nos diferentes ramos da vida social, procuram desenvolver os interesses individuais a par dos interesses colectivos da Pátria, aniquilar essa petulância indígena, que nos manchava o brio nacional, desfazer, enfim, a lenda do Cuamato, preparando prèviamente o terreno para o golpe decisivo ».
Na verdade, deve já dizer-se, se bem o pensava melhor o executou.
Desta forma, a questão do Sul de Angola, tendo-se agravado, não se limitava já aos seus aspectos internos de soberania, atingia a política do planalto onde viviam os boers desconfiados e arredios e era influenciada pela vizinhança de uma colónia de alemães, que lançavam olhares insolentes por cima da fronteira. Era ela, pois, merecedora das atenções do Governo Central.
Não é que derrotas em África não as tenham sofrido todos os povos que ali dominavam. Ao pé da porta, os herreros bastantes e morosas dificuldades levantaram aos alemães antes de se submeterem.
Cônscio das suas responsabilidades, o Governo da metrópole resolveu acudir àquele estado de coisas, encarregando o major Eduardo da Costa de preparar um plano de campanha para bater o Ovampo. E, deve dizer-se, não podia ter entregue tão melindrosa missão a pessoa mais competente e experimentada do que era aquele glorioso soldado da Campanha de 1895 contra o Gungunhana.
A política partidária, porém, que nesses tempos em tudo intervinha com os seus maleficios, fêz pôr de parte essa feliz escolha quando o brilhante oficial, em Setembro de 1905, tinha o seu estudo completo, feito com a meticulosidade e o método que impunha a todas as suas obras.
Foi depois organizada uma expedição e escolhido para seu Comandante o coronel Manuel de Sousa Machado, chefe já com provas dadas na expedição ao Mataca, em Moçambique, e que não chegou, também, a realizar-se, não obstante ter parte dos viveres e de material escalonados ao longo da extensa linha de etapas que ia de Moçâmedes ao Humbe.
Entretanto, o Governador Geral Ramada Curto, mandava o chefe de estado Maior da Província, capitão Eduardo Marques, mais tarde general - um outro ilustre nome da história militar de Angola - em reconhecimento da situação no Sul, estudando os meios adequados a obstar a maiores audácias dos indígenas, cheio de força moral, e convidou o capitão dos Serviços de Estado Maior Alves Roçadas, então na India - que já fôra ali, também, Chefe de Estado Maior, conhecendo, por isso, a questão que tanta acuidade tinha tomado, - para Governador da Huila, cargo de que tomou posse em Agosto de 1905, e que imediatamente passou a concentrar a sua atenção no problema militar, a fim de, como ele escreveu, « levantar o espirito moral das guarnições, desfazer a atmosfera de desconfiança que invadia todas as classes, reavivar a fé no coração de todos esses pioneiros africanos que, nos diferentes ramos da vida social, procuram desenvolver os interesses individuais a par dos interesses colectivos da Pátria, aniquilar essa petulância indígena, que nos manchava o brio nacional, desfazer, enfim, a lenda do Cuamato, preparando prèviamente o terreno para o golpe decisivo ».
Na verdade, deve já dizer-se, se bem o pensava melhor o executou.
AS OPERAÇÕES EM 1905 e 1906
Os indígenas de todo o distrito da Huila, desde o Lubango ao Humbe e dos Gambos ao Mulondo, dizia Roçadas ter-se tornado, quando não era desobediente e agressivo, pelo menos insolente e desdenhoso, sendo, por isso, urgente reduzi-lo a completa submissão, o que indirectamente se reflectiria nas tribos de além Cunene, vaidosas dos seus feitos.
Nesta orientação, apressou-se Roçadas a elaborar um projecto de operações, que sujeitou à apreciação do Governador Geral, que o aprovou, e a proceder à organização de uma reduzida coluna que, em 23 de Setembro de 1905, saía do Lubango debaixo do seu comando, levando um precioso auxiliar no chefe de Estado Maior, capitão Eduardo Marques, que se compunha de 22 oficiais e 544 combatentes regulares, dos quais 320 europeus, com 42 animais, 2 canhões e 17 carros boers.
Naquele número de europeus incluia-se um corpo franco de auxiliares, que primitivamente agrupava 50 boers montados e 50 indígenas, não incluindo os auxiliares indígenas, em número variável, chefiados pelos colonos José Lopes, Carlos Maria, Jacob Erikson e Jacob Roberts.
Eram, por ordem da sua importância, seus objectivos:
- Bater o soba Mulondo, cuja libata estava na margem direita do Cunene, que se tornara insolente e atrevido, não permitindo a entrada de brancos nas suas terras sem sua licença e que pela sua tirania se tornara odioso ao seu próprio povo, levando-o em grande parte a emigrar.
- Punir os indígenas dos Gambos, que se tinham revoltado contra o seu soba, D. João, protegido do Governo Português, substituindo-o por um antigo cabo duma Companhia Indígena, de nome Cander, velho pretendente ao sobado.
- Fazer incursões nas terras dos Cuamatos, dos quais as usuais correrias se tinham repetido recentemente no Humbe e na Dongoena, abatendo-lhe a soberba e obrigando-os a consumir munições.
Nesta conformidade, desceram aos Gambos e Catequero, subiram depois a margem direita do Cunene, pela Camba e Quiteve, e estavam a 24 de Outubro junto do váu de Cácua, tendo, assim, percorrido uma linha de etapas de extensão superior a 400 quilómetros, cujos respectivos postos se subordinavam à existência de água, quer em mulolas quer em cacimbas
O objectivo destas campanhas africanas, era, em regra, a tomada da embala, residência do Soba, e a prisão deste. Mas enquanto nas tribos da região aquém Cunene o indígena nela se concentrava e ali se defendia, nas tribos do Ovampo os Banacutubas saiam ao encontro do invasor, procurando impedir que alcance a embala.
Com este fim, organizavam-na de forma a que se tornasse uma verdadeira fortaleza, como era a do Mulondo, de traçado irregular, com a sua palissada de grossos paus de mutiati aguçados, revestida internamente e externamente de espessa terra argilosa, onde tinham aberto seteiras, e onde não faltava um reduto interior, aposentos do Soba. Circundando-a, abria-se o fôsso, sendo o terreno exterior coberto de espinheiros com duas ou três clareiras limpas de mato, constituindo uma delas uma verdadeira esplanada.
Em vista das informações do Chefe do Estado Maior, capitão Eduardo Marques, que meses antes fizera um reconhecimento ao Mulondo, não se podendo dizer que fôsse bem recebido pelo seu soba Hangalo, e das obtidas dos indígenas, Roçadas elaborou o seu plano de ataque à embala...
Os indígenas de todo o distrito da Huila, desde o Lubango ao Humbe e dos Gambos ao Mulondo, dizia Roçadas ter-se tornado, quando não era desobediente e agressivo, pelo menos insolente e desdenhoso, sendo, por isso, urgente reduzi-lo a completa submissão, o que indirectamente se reflectiria nas tribos de além Cunene, vaidosas dos seus feitos.
Nesta orientação, apressou-se Roçadas a elaborar um projecto de operações, que sujeitou à apreciação do Governador Geral, que o aprovou, e a proceder à organização de uma reduzida coluna que, em 23 de Setembro de 1905, saía do Lubango debaixo do seu comando, levando um precioso auxiliar no chefe de Estado Maior, capitão Eduardo Marques, que se compunha de 22 oficiais e 544 combatentes regulares, dos quais 320 europeus, com 42 animais, 2 canhões e 17 carros boers.
Naquele número de europeus incluia-se um corpo franco de auxiliares, que primitivamente agrupava 50 boers montados e 50 indígenas, não incluindo os auxiliares indígenas, em número variável, chefiados pelos colonos José Lopes, Carlos Maria, Jacob Erikson e Jacob Roberts.
Eram, por ordem da sua importância, seus objectivos:
- Bater o soba Mulondo, cuja libata estava na margem direita do Cunene, que se tornara insolente e atrevido, não permitindo a entrada de brancos nas suas terras sem sua licença e que pela sua tirania se tornara odioso ao seu próprio povo, levando-o em grande parte a emigrar.
- Punir os indígenas dos Gambos, que se tinham revoltado contra o seu soba, D. João, protegido do Governo Português, substituindo-o por um antigo cabo duma Companhia Indígena, de nome Cander, velho pretendente ao sobado.
- Fazer incursões nas terras dos Cuamatos, dos quais as usuais correrias se tinham repetido recentemente no Humbe e na Dongoena, abatendo-lhe a soberba e obrigando-os a consumir munições.
Nesta conformidade, desceram aos Gambos e Catequero, subiram depois a margem direita do Cunene, pela Camba e Quiteve, e estavam a 24 de Outubro junto do váu de Cácua, tendo, assim, percorrido uma linha de etapas de extensão superior a 400 quilómetros, cujos respectivos postos se subordinavam à existência de água, quer em mulolas quer em cacimbas
O objectivo destas campanhas africanas, era, em regra, a tomada da embala, residência do Soba, e a prisão deste. Mas enquanto nas tribos da região aquém Cunene o indígena nela se concentrava e ali se defendia, nas tribos do Ovampo os Banacutubas saiam ao encontro do invasor, procurando impedir que alcance a embala.
Com este fim, organizavam-na de forma a que se tornasse uma verdadeira fortaleza, como era a do Mulondo, de traçado irregular, com a sua palissada de grossos paus de mutiati aguçados, revestida internamente e externamente de espessa terra argilosa, onde tinham aberto seteiras, e onde não faltava um reduto interior, aposentos do Soba. Circundando-a, abria-se o fôsso, sendo o terreno exterior coberto de espinheiros com duas ou três clareiras limpas de mato, constituindo uma delas uma verdadeira esplanada.
Em vista das informações do Chefe do Estado Maior, capitão Eduardo Marques, que meses antes fizera um reconhecimento ao Mulondo, não se podendo dizer que fôsse bem recebido pelo seu soba Hangalo, e das obtidas dos indígenas, Roçadas elaborou o seu plano de ataque à embala...
..No dia 25, às 06H00, rompe a coluna a sua marcha, depois do Vau de Cácua , um trilho através do mato.
Sem demora, os indígenas, emboscados nos espinheiros, rompem fogo das suas armas finas, que bem se destinguiam, pela detonação e pelo sibilar dos projécteis, do das armas de pederneira e espoleta, mas a coluna continuou marchando sem responder a esse fogo e atingiu a extensa clareira onde, a 500 metros da embala, se desenvolveu em dois escalões destinados:
- um ao ataque principal, que visava o assalto depois de se abrir uma brecha na palissada
- outro, ao ataque secundário, em que se faria o bombardeamento da embala
- ao passo que um terceiro ataque seria feito por leste, com cavalaria, para cortar a retirada ao inimigo.
Iniciado o fogo pela artilharia, seguido do de infantaria, o inimigo entrincheirado respondeu com violência, procurando impedir o avanço que se fazia por lanços, até que Roçadas, com o espírito ofensivo e a resolução pronta que o caracterizavam, resolveu, após uma hora de combate, carregar contra a embala , muito embora o experimentado comandante dos auxiliares, José Lopes, lhe tivesse dito que ainda, para tal, era cedo, respondendo-lhe Roçadas: « - Pois há-de ser agora, vou carregar à baioneta ».
Dentro em pouco a embala era assaltada, depois de se ter feito uma brecha na forte palissada que a defendia, vendo-se o soba obrigado a fugir, ainda que ferido, e sendo grandes as baixas das suas hostes e insignificantes as da coluna.
Foi então içada, ali, a bandeira portuguesa com todo o cerimonial, e, no dia seguinte, a embala a arder evidenciava aos indígenas, o castigo da sua rebeldia.
Não desistiu Roçadas de aprisionar o soba, morto ou vivo, e assim organizou a sua perseguição com colunas móveis, compostas de auxiliares portugueses e boers, sendo o soba, passados três dias, encontrado morto, com a carabina ao lado, numa mata de espinheiros a norte de Handjabero.
Cortada a cabeça do cadáver, foi trazida para o acampamento onde a reconheceram muitos dos auxiliares brancos e os prisioneiros, que mostravam a sua satisfação exclamando: « Quêto ! Quêto ! »
É que o soba Hangalo era cruel e sanguinário, levando grande parte do seu povo a fugir para escapar à escravidão a que o sujeitava, e daí a gratidão que essa exclamação significava.
Não se veja nestes métodos de guerra desumanidade ou violência escusada. A vitória não seria decisiva sem a prisão do soba, vivo ou morto. Foi esta orientação, reconhecida como lógica, que levou António Enes a prever no seu plano de operações de 1895, em Moçambique, o aniquilamento do Gungunhana , que Mousinho conseguiu aprisionar em Chaimite , a 28 de Dezembro, pondo, assim, termo decisivo à gloriosa campanha deste mesmo ano.
Também foi essa mesma orientação que levou ainda Mousinho a mandar cortar a cabeça do Manguiguana, morto após o combate de Macontene, na segunda Campanha de Gaza em 1897, para que fosse vista e reconhecida pelos indígenas, tendo para tal fim sido metida numa lata com álcool, que - pormenor macabro, contado por Aires de Ornelas - a mãe do régulo, a quem a lata fora confiada para conduzir, ia bebendo pelo caminho !...
Sem demora, os indígenas, emboscados nos espinheiros, rompem fogo das suas armas finas, que bem se destinguiam, pela detonação e pelo sibilar dos projécteis, do das armas de pederneira e espoleta, mas a coluna continuou marchando sem responder a esse fogo e atingiu a extensa clareira onde, a 500 metros da embala, se desenvolveu em dois escalões destinados:
- um ao ataque principal, que visava o assalto depois de se abrir uma brecha na palissada
- outro, ao ataque secundário, em que se faria o bombardeamento da embala
- ao passo que um terceiro ataque seria feito por leste, com cavalaria, para cortar a retirada ao inimigo.
Iniciado o fogo pela artilharia, seguido do de infantaria, o inimigo entrincheirado respondeu com violência, procurando impedir o avanço que se fazia por lanços, até que Roçadas, com o espírito ofensivo e a resolução pronta que o caracterizavam, resolveu, após uma hora de combate, carregar contra a embala , muito embora o experimentado comandante dos auxiliares, José Lopes, lhe tivesse dito que ainda, para tal, era cedo, respondendo-lhe Roçadas: « - Pois há-de ser agora, vou carregar à baioneta ».
Dentro em pouco a embala era assaltada, depois de se ter feito uma brecha na forte palissada que a defendia, vendo-se o soba obrigado a fugir, ainda que ferido, e sendo grandes as baixas das suas hostes e insignificantes as da coluna.
Foi então içada, ali, a bandeira portuguesa com todo o cerimonial, e, no dia seguinte, a embala a arder evidenciava aos indígenas, o castigo da sua rebeldia.
Não desistiu Roçadas de aprisionar o soba, morto ou vivo, e assim organizou a sua perseguição com colunas móveis, compostas de auxiliares portugueses e boers, sendo o soba, passados três dias, encontrado morto, com a carabina ao lado, numa mata de espinheiros a norte de Handjabero.
Cortada a cabeça do cadáver, foi trazida para o acampamento onde a reconheceram muitos dos auxiliares brancos e os prisioneiros, que mostravam a sua satisfação exclamando: « Quêto ! Quêto ! »
É que o soba Hangalo era cruel e sanguinário, levando grande parte do seu povo a fugir para escapar à escravidão a que o sujeitava, e daí a gratidão que essa exclamação significava.
Não se veja nestes métodos de guerra desumanidade ou violência escusada. A vitória não seria decisiva sem a prisão do soba, vivo ou morto. Foi esta orientação, reconhecida como lógica, que levou António Enes a prever no seu plano de operações de 1895, em Moçambique, o aniquilamento do Gungunhana , que Mousinho conseguiu aprisionar em Chaimite , a 28 de Dezembro, pondo, assim, termo decisivo à gloriosa campanha deste mesmo ano.
Também foi essa mesma orientação que levou ainda Mousinho a mandar cortar a cabeça do Manguiguana, morto após o combate de Macontene, na segunda Campanha de Gaza em 1897, para que fosse vista e reconhecida pelos indígenas, tendo para tal fim sido metida numa lata com álcool, que - pormenor macabro, contado por Aires de Ornelas - a mãe do régulo, a quem a lata fora confiada para conduzir, ia bebendo pelo caminho !...
..Estes actos, que às pessoas mais sensiveis poderão parecer cruéis e desumanos, impunham-se, todavia, como indispensáveis, como se impunham as correrias para apreender gado e destruir as lavras, complemento da acção armada que procurava assim dominar o espírito dos povos, onde não havia populações inofensivas, uma vez que as próprias mulheres não hesitavam em colaborar numa chacina, quando na luta se chegava ao corpo a corpo.
Extinto o sobado, foi montado um posto próximo ao vau de Handjabero, num local com óptimas condições naturais:
- para a colonização
- para base de ocupação na região entre o Cunene e o Cubango
- e dominio no caminho usual das incursões Cuanhamas.
A coluna retirou para o Humbe onde a levava a realização dum outro dos seus objectivos: as correrias a fazer nos dois Cuamatos.
Uma vez no Humbe e concentrados os boers, que não eram então mais de 55, acompanhados de uma centena de indígenas, e os restantes auxiliares portugueses e indígenas - muximbas, mundimbas e muhumbes -, num total de 800 homens, resolveu Roçadas, de acordo com os chefes boers e portugueses, realizar, de surpresa, uma série de correrias nos dois Cuamatos, passando para esse fim os boers o Cunene, no vau de Pembe, onde passara a coluna do Governador Aguiar, e os auxiliares portugueses pelas bandas da Donguena, ao mesmo tempo que a coluna se deslocaria para local apropriado, como demonstração de força, procurando atrair a atenção do inimigo e favorecer a acção dos auxiliares.
Essas incursões efectuaram-se durante quatro dias, tendo os auxiliares travado tiroteio com os Cuamatos , apreendido algum gado e feito alguns prisioneiros, concluindo-se delas que aqueles povos estavam na incerteza do que sucederia, e por isso se tinham concentrado na embala, não tendo auxiliares estranhos.
Ao mesmo tempo que se realizava esta acção militar, ia-se negociando e exercendo uma acção diplomática, para o que fôra o capitão Marques, chefe do Estado Maior, do Mulondo ao Evale agradecer ao soba Cavanguelua o auxilio em gente que prestara, levando-lhe um valioso presente e procurando obter o seu consentimento para a construção de um pôsto militar nos seus domínios.
O soba levantou dificuldades a tal desígnio, sem abertamente se opôr, insistindo pelo estabelecimento, ali, de uma missão católica, e tomou tal atitude que levou o capitão Marques a retirar-se sem dele se despedir, o qual mandou logo a seguir ao Humbe uma embaixada, de onde nada resultou de definitivo a tal respito.
Com o soba Caprenda da Donguena é que se acordou na construção de um pôsto, o que significava a ocupação pacífica.
Faltava realizar o último objectivo das operações que era resolver a questão do sobado dos Gambos...
Extinto o sobado, foi montado um posto próximo ao vau de Handjabero, num local com óptimas condições naturais:
- para a colonização
- para base de ocupação na região entre o Cunene e o Cubango
- e dominio no caminho usual das incursões Cuanhamas.
A coluna retirou para o Humbe onde a levava a realização dum outro dos seus objectivos: as correrias a fazer nos dois Cuamatos.
Uma vez no Humbe e concentrados os boers, que não eram então mais de 55, acompanhados de uma centena de indígenas, e os restantes auxiliares portugueses e indígenas - muximbas, mundimbas e muhumbes -, num total de 800 homens, resolveu Roçadas, de acordo com os chefes boers e portugueses, realizar, de surpresa, uma série de correrias nos dois Cuamatos, passando para esse fim os boers o Cunene, no vau de Pembe, onde passara a coluna do Governador Aguiar, e os auxiliares portugueses pelas bandas da Donguena, ao mesmo tempo que a coluna se deslocaria para local apropriado, como demonstração de força, procurando atrair a atenção do inimigo e favorecer a acção dos auxiliares.
Essas incursões efectuaram-se durante quatro dias, tendo os auxiliares travado tiroteio com os Cuamatos , apreendido algum gado e feito alguns prisioneiros, concluindo-se delas que aqueles povos estavam na incerteza do que sucederia, e por isso se tinham concentrado na embala, não tendo auxiliares estranhos.
Ao mesmo tempo que se realizava esta acção militar, ia-se negociando e exercendo uma acção diplomática, para o que fôra o capitão Marques, chefe do Estado Maior, do Mulondo ao Evale agradecer ao soba Cavanguelua o auxilio em gente que prestara, levando-lhe um valioso presente e procurando obter o seu consentimento para a construção de um pôsto militar nos seus domínios.
O soba levantou dificuldades a tal desígnio, sem abertamente se opôr, insistindo pelo estabelecimento, ali, de uma missão católica, e tomou tal atitude que levou o capitão Marques a retirar-se sem dele se despedir, o qual mandou logo a seguir ao Humbe uma embaixada, de onde nada resultou de definitivo a tal respito.
Com o soba Caprenda da Donguena é que se acordou na construção de um pôsto, o que significava a ocupação pacífica.
Faltava realizar o último objectivo das operações que era resolver a questão do sobado dos Gambos...
...Uma vez que Cander, antigo cabo, pretendente ao sobado, não se apresentara, para o que fôra convidado, era necessário desfazer os focos de revolta e desobediência que este povo alimentava.
Com esse intuito, como o indigena aqui, aproveitando a topografia do terreno, evitava o combate peito a peito e se organizava em guerrilhas, que operavam por detrás das fragas inacessíveis ou dentro das brenhas impenetráveis, destacaram-se duas colunas compostas de boers e auxiliares indígenas, que foram apoiadas por um núcleo de tropas regulares pronto a cooperar onde houvesse resistência séria.
As duas colunas seguiram, respectivamente, pela margem direita e esquerda do Cacoluvar para bater os adeptos de Cander e aqueles que tivessem responsabilidades a saldar com as autoridades. A resistência dos indígenas foi quase nula, e como as chuvas se tornassem violentas, alagando os terrenos e transformando-os em lamaçais intransitáveis, deram-se por findas as operações, ainda que o Cander e seu irmão Monguela não tivessem sido capturados, como se impunha.
No regresso das forças, a atitude dos indígenas nas regiões atravessadas era já outra. Ele que, na passagem para o Sul, na Quihita, região anterior à dos Gambos, respondera aus auxiliares, que lhe perguntavam porque não atacavam as tropas: « na volta », ao passo que os Cuamatos mandavam dizer aos do Humbe: « digam ao branco que é melhor vir deixar as suas espingardas à nossa terra do que à do Mulondo», depois da tomada desta embala, onde se concentrara para a sua defesa todo um povo, sendo assaltada à baioneta decorridas duas horas de fogo, infligindo-lhes numerosas baixas e fazendo-lhe grande número de prisioneiros, já apregoava por toda a parte este feito dizendo que o branco era doido, pois mesmo contra o fogo inimigo corria para a embala e arrancava à mão a palissada.
Tendo o Governo Central resolvido, em Março de 1906, não enviar a expedição que se estava organizando e para a qual se preparava a extensa linha de etapas que ia de Moçâmedes pela Chibia ao Humbe, onde havia já depósitos de víveres, forragens e material, o Governador Roçadas delineou sem demora as bases do inicio da ocupação além Cunene, aproveitando tudo o que estava já acumulado pela direcção de Serviço de Etapas daquela expedição.
Procedia, assim, em concordância com a nova orientação do Governo Metropolitano de ocupar gradual e sucessivamente o território do Ovampo e firmar o prestigio perante os indígenas, ao mesmo tempo que se tentava dar uma satisfação à opinião pública alarmada pelo desastre de 1904.
Como inicio dessa ocupação progressiva e metódica, uma operação acima de todas se impunha:
- Passar à margem esquerda do Cunene e nela constituir um pôsto fortificado que servisse de sólida base de futuras operações a realizar e garantisse a passagem do rio, servindo de ponto de apoio à coluna que tivesse que transpôr esse rio e de ocupar a sua margem esquerda, construindo-se prèviamente uma ligeira obra de defesa entre o Humbe e o mesmo rio, na direcção do vau de Mucondo, obra que serviria, também, de sentinela avançada a fim de impedir por ali as incursões dos Cuamatos ...
Com esse intuito, como o indigena aqui, aproveitando a topografia do terreno, evitava o combate peito a peito e se organizava em guerrilhas, que operavam por detrás das fragas inacessíveis ou dentro das brenhas impenetráveis, destacaram-se duas colunas compostas de boers e auxiliares indígenas, que foram apoiadas por um núcleo de tropas regulares pronto a cooperar onde houvesse resistência séria.
As duas colunas seguiram, respectivamente, pela margem direita e esquerda do Cacoluvar para bater os adeptos de Cander e aqueles que tivessem responsabilidades a saldar com as autoridades. A resistência dos indígenas foi quase nula, e como as chuvas se tornassem violentas, alagando os terrenos e transformando-os em lamaçais intransitáveis, deram-se por findas as operações, ainda que o Cander e seu irmão Monguela não tivessem sido capturados, como se impunha.
No regresso das forças, a atitude dos indígenas nas regiões atravessadas era já outra. Ele que, na passagem para o Sul, na Quihita, região anterior à dos Gambos, respondera aus auxiliares, que lhe perguntavam porque não atacavam as tropas: « na volta », ao passo que os Cuamatos mandavam dizer aos do Humbe: « digam ao branco que é melhor vir deixar as suas espingardas à nossa terra do que à do Mulondo», depois da tomada desta embala, onde se concentrara para a sua defesa todo um povo, sendo assaltada à baioneta decorridas duas horas de fogo, infligindo-lhes numerosas baixas e fazendo-lhe grande número de prisioneiros, já apregoava por toda a parte este feito dizendo que o branco era doido, pois mesmo contra o fogo inimigo corria para a embala e arrancava à mão a palissada.
Tendo o Governo Central resolvido, em Março de 1906, não enviar a expedição que se estava organizando e para a qual se preparava a extensa linha de etapas que ia de Moçâmedes pela Chibia ao Humbe, onde havia já depósitos de víveres, forragens e material, o Governador Roçadas delineou sem demora as bases do inicio da ocupação além Cunene, aproveitando tudo o que estava já acumulado pela direcção de Serviço de Etapas daquela expedição.
Procedia, assim, em concordância com a nova orientação do Governo Metropolitano de ocupar gradual e sucessivamente o território do Ovampo e firmar o prestigio perante os indígenas, ao mesmo tempo que se tentava dar uma satisfação à opinião pública alarmada pelo desastre de 1904.
Como inicio dessa ocupação progressiva e metódica, uma operação acima de todas se impunha:
- Passar à margem esquerda do Cunene e nela constituir um pôsto fortificado que servisse de sólida base de futuras operações a realizar e garantisse a passagem do rio, servindo de ponto de apoio à coluna que tivesse que transpôr esse rio e de ocupar a sua margem esquerda, construindo-se prèviamente uma ligeira obra de defesa entre o Humbe e o mesmo rio, na direcção do vau de Mucondo, obra que serviria, também, de sentinela avançada a fim de impedir por ali as incursões dos Cuamatos ...
...Com tal objectivo, pois, organizou-se uma coluna de tropas, que estava no fim de Agosto concentrada no Humbe, composta de 51 oficiais, 717 praças europeias, 490 praças indígenas, com 125 animais, mais de 1000 auxiliares, 6 canhões, 3 metralhadoras e 20 carros boers, coluna comandada pelo Governador Roçadas, que tinha como chefe do Estado Maior o capitão João de Almeida, mais tarde General que, como Governador do distrito, executou uma notável obra de fronteira, balisando com postos militares os limites do Sul da Provincia.
Depois dos reconhecimentos para escolha do local mais apropriado à passagem do Cunene, procurando desnortear o inimigo a este respeito, a coluna transpô-lo a 29 de Agosto e foi bivacar no alto do Encombe, já em terras do Cuamato, iniciando imediatamente ali a construção do forte, que foi baptizado com o nome do valoroso comandante, e que nos princípios de Outubro estava concluido, com todas as suas defesas e instalações.
Asseguradas as comunicações com a margem direita por meio de uma ponte sôbre cavaletes, que foi lançada, com 140 metros de comprimento, a coluna retirou para o Humbe deixando no forte uma guarnição suficiente para parar o ataque dos indígenas, que, reconhecendo a sua importância militar e a ameaça que para ele representava, não o hesitou em atacar por duas vezes, tão depressa as chuvas chegaram e o rio encheu.
A bravura reconhecida de Roçadas e o desejo de liquidar uma situação penosa e desprestigiante para o brio português não deixariam de impulsioná-lo a levar mais longe essas operações, investindo com o Cuamato. As suas responsabilidades, porém, de chefe, que não arriscava só o seu bom nome e a vida, o que para ele seria de pouca importância, mas, também, as dos seus subordinados e o prestigio da Nação, tão abalado pelo desastre anterior, levá-lo-iam a sufocar e a dominar esses heróicos impulsos e a não tomar iniciativas que não podia medir até onde o levariam e não estavam previstas.
Não deixou, contudo, de aproveitar as forças no regresso,ao passar nos Gambos, para castigar o seculo do Pocolo, tomando-lhe e destruindo-lhe a quimpaca, o qual estava rebelde e dava asilo ao antigo soba dos Gambos batido no ano anterior, e, subsquentemente, invadido as terras da Mucuma, Jau e Batabata, cujos povos andavam há muito insubmissos e davam guarida a quadrilhas de verdadeiros bandidos.
Simultâneamente, a par com esta acção militar, continuava-se a conjugar a acção política. As negociações entabuladas no ano anterior pelo capitão Eduardo Marques com o soba Cavenguela do Evale prosseguiam, muito embora este tão depressa afirmasse ser escravo do Muene Puto ( Rei de Portugal ), pois tinha, como dizia, bandeira portuguesa na embala, e que aceitava um posto nas suas terras, como recorresse a evasivas dizendo que o seu povo não estava educado para receber este pôsto. Variavam estas atitudes com a situação mais ou menos próxima, e por conseguinte de maior ou menor ameaça para ele, das tropas de Roçadas.
Com o soba Nande do Cuanhama, que tinha enviado um dos seus lengas como embaixador, igualmente se negociava com o fim de minar a chamada liga do Ovampo - a união que em caso de perigo entre estes povos se estabelece não obstante as divergências que normalmente os separa e afastam - em obediência, como escreveu Roçadas, ao velho princípio de dividir o inimigo para o atacar em separado.
As negociações com o Nande deram origem à ida ao Cuanhama da missão composta pelos tenente coronel Luna de Carvalho, pelo capitão João de Almeida e pelo tenente Albano de Melo, que lhe levou de presente um cavalo aparelhado, uma caixa de cerveja e outra de conhaque e para um irmão, seu conselheiro, uma carabina, missão que conseguiu levar o soba a permitir nas suas terras a construção de um posto militar devidamente guarnecido e a afirmar que não auxiliaria os Cuamatos e os Evales e que até atacaria aqueles em ocasião oportuna.
Todas estas negociações levaram Roçadas, que não confiava muito nas promessas feitas, a concluir que se poderia esperar a abstenção do Evale na luta contra os Cuamatos, dado o afastamento das respectivas terras, a sua relativamente diminuta população, o receio da investida dos Cuanhamas, a espectativa em que este povo tinha estado perante a luta travada há anos e, finalmente, pela boa política que se seguiu.
No que respeitava ao Cuanhama, afirmava poder contar-se com a sua neutralidade oficial, se se procurasse manter as relacções que existiam.
Depois dos reconhecimentos para escolha do local mais apropriado à passagem do Cunene, procurando desnortear o inimigo a este respeito, a coluna transpô-lo a 29 de Agosto e foi bivacar no alto do Encombe, já em terras do Cuamato, iniciando imediatamente ali a construção do forte, que foi baptizado com o nome do valoroso comandante, e que nos princípios de Outubro estava concluido, com todas as suas defesas e instalações.
Asseguradas as comunicações com a margem direita por meio de uma ponte sôbre cavaletes, que foi lançada, com 140 metros de comprimento, a coluna retirou para o Humbe deixando no forte uma guarnição suficiente para parar o ataque dos indígenas, que, reconhecendo a sua importância militar e a ameaça que para ele representava, não o hesitou em atacar por duas vezes, tão depressa as chuvas chegaram e o rio encheu.
A bravura reconhecida de Roçadas e o desejo de liquidar uma situação penosa e desprestigiante para o brio português não deixariam de impulsioná-lo a levar mais longe essas operações, investindo com o Cuamato. As suas responsabilidades, porém, de chefe, que não arriscava só o seu bom nome e a vida, o que para ele seria de pouca importância, mas, também, as dos seus subordinados e o prestigio da Nação, tão abalado pelo desastre anterior, levá-lo-iam a sufocar e a dominar esses heróicos impulsos e a não tomar iniciativas que não podia medir até onde o levariam e não estavam previstas.
Não deixou, contudo, de aproveitar as forças no regresso,ao passar nos Gambos, para castigar o seculo do Pocolo, tomando-lhe e destruindo-lhe a quimpaca, o qual estava rebelde e dava asilo ao antigo soba dos Gambos batido no ano anterior, e, subsquentemente, invadido as terras da Mucuma, Jau e Batabata, cujos povos andavam há muito insubmissos e davam guarida a quadrilhas de verdadeiros bandidos.
Simultâneamente, a par com esta acção militar, continuava-se a conjugar a acção política. As negociações entabuladas no ano anterior pelo capitão Eduardo Marques com o soba Cavenguela do Evale prosseguiam, muito embora este tão depressa afirmasse ser escravo do Muene Puto ( Rei de Portugal ), pois tinha, como dizia, bandeira portuguesa na embala, e que aceitava um posto nas suas terras, como recorresse a evasivas dizendo que o seu povo não estava educado para receber este pôsto. Variavam estas atitudes com a situação mais ou menos próxima, e por conseguinte de maior ou menor ameaça para ele, das tropas de Roçadas.
Com o soba Nande do Cuanhama, que tinha enviado um dos seus lengas como embaixador, igualmente se negociava com o fim de minar a chamada liga do Ovampo - a união que em caso de perigo entre estes povos se estabelece não obstante as divergências que normalmente os separa e afastam - em obediência, como escreveu Roçadas, ao velho princípio de dividir o inimigo para o atacar em separado.
As negociações com o Nande deram origem à ida ao Cuanhama da missão composta pelos tenente coronel Luna de Carvalho, pelo capitão João de Almeida e pelo tenente Albano de Melo, que lhe levou de presente um cavalo aparelhado, uma caixa de cerveja e outra de conhaque e para um irmão, seu conselheiro, uma carabina, missão que conseguiu levar o soba a permitir nas suas terras a construção de um posto militar devidamente guarnecido e a afirmar que não auxiliaria os Cuamatos e os Evales e que até atacaria aqueles em ocasião oportuna.
Todas estas negociações levaram Roçadas, que não confiava muito nas promessas feitas, a concluir que se poderia esperar a abstenção do Evale na luta contra os Cuamatos, dado o afastamento das respectivas terras, a sua relativamente diminuta população, o receio da investida dos Cuanhamas, a espectativa em que este povo tinha estado perante a luta travada há anos e, finalmente, pela boa política que se seguiu.
No que respeitava ao Cuanhama, afirmava poder contar-se com a sua neutralidade oficial, se se procurasse manter as relacções que existiam.
A OCUPAÇÃO DO CUAMATO
Encarregado o capitão Roçadas, pelo então Governador Geral Eduardo da Costa, de elaborar um projecto de operações militares além Cunene, contando, porém, só com elementos da Provincia, em conformidade com as instruções do Governo Central, procedeu Roçadas em poucos dias a esse trabalho, em que encarou todos os aspectos que esclareciam e justificavam as soluções propostas.
Mereceu ele a concordância do Governo Geral mas, como Roçadas julgasse indispensável, para o bom êxito das operações, a organização de uma coluna em que não entrassem só elementos de Angola, pois considerava necessário o concurso de tropas do exército do reino, colaboração que ia para além das instruções de Lisboa, foi resolvido vir o próprio Roçadas aqui justificar e defender, perante o Ministro da Marinha e Ultramar, o seu projecto.
Assim fêz. E numa conferência que teve com o Presidente do Conselho e os Ministros da Fazenda e da Marinha, foi ele aprovado sem restrições.
À metrópole apenas se pediam uma companhia de guerra de infantaria, outra de marinheiros e o pessoal competente para o manejo das armas de tiro rápido do sistema Erhardt. E - pormenor que se deve pôr em relevo - não obstante a rudeza da luta que se previa ir travar-se com um inimigo numeroso, bem armado e de manifestas qualidades guerreiras, que tinha infligido às armas Portuguesas a derrota de 1904, bem viva ainda na memória de todos, foi com voluntários, oficiais e praças, que essas medidas se constituiram e esse pessoal se completou, tendo o número de voluntários excedido em muito o número necessário.
Ao passo que nas guerras europeias a estratégia impunha, como objectivo principal, o exército inimigo, que era necessário aniquilar, de preferência à conquista e ocupação da sua capital política, não obstante este facto ser apenas de grande efeito moral mas não de consequências decisivas, - e, em obediência a esse princípio, os alemães, em 1914, deixando Paris no seu flanco direito, perseguiram até o Marne o exército francês, que aí lhes resistiu e impôs a retirada - nas guerras angolanas, em geral, como nesta campanha e como já se disse, o objectivo principal será a tomada da libata do respectivo soba, que os seus subditos tenazmente defenderão e a qual, quando realizada, provocará a fuga daquele e com ela o seu subsequente desprestigio, que irá até à perda dos direitos ao poder.
É que ali, também, era completa a impossibilidade, por falta de informações e de indícios de qualquer ordem acerca do inimigo, de saber onde ele se encontra concentrado, e essa concentração era, ainda, pouca duradoura dada a mobilidade que os indígenas usufruiam, dispersando e reunindo com a máxima facilidade, sem impedimentos de qualquer ordem.
Estas tribos do Ovampo passavam por ser tribos guerreiras e sem dúvida que o eram, dispondo de muitas armas aperfeiçoadas, as tais armas finas - Martinis e Mausers - entradas por contrabando, desde que tinham posto de parte a velha arma de pederneira em cujo canos as palavras: Lazaro - Lazarino - legítimo de Braga, , afirmando a influência portuguesa, foram lidas por stanley nos confins do Zaire, em pleno país de antropófagos, que em altos gritos clamavam pela sua carne, antegozando o prazer de a devorar...
..No entanto, ainda que a sua bravura - já por Artur de Paiva era afirmado - não se iguale àquela dos povos zulus que tanto que fazer deram aos ingleses, e de que são próximos parentes os vátuas, batidos pelos portugueses na gloriosa campanha de 1895, em Moçambique, faziam a pior guerra possivel.
Assim, se o vátua ou landim vatualizado, marchando no seu característico passo saltado, desenvolvia as suas mangas ou impis à vista do pequeno quadrado dos europeus, procurando envolvê-lo, e, depois de mais ou menos curta preparação pelo fogo das suas armas aperfeiçoadas, se atirava ao ataque à azagaia, procurando o corpo a corpo , que conseguido era para o quadrado o destroço e a chacina inevitáveis, estes guerreiros banacutubas , aproveitando as condições do terreno coberto, embuscavam-se na floresta, abrigados pelos morros de salalé ou atrás das árvores ou nelas empoleirados, de onde faziam fogo demorado e violento sobre os invasores, muito certeiro quando estes eram mais visiveis nas clareiras - nas chanas -, procurando envolvê-los por todos os lados. Só quando percebiam que a intensidade do seu tiro diminuia por esgotamento de munições é que iniciavam a retirada, as cuas, concentradas à retaguarda dos atiradores, arremetiam contra aqueles, desordenando-os, como aludes a que não era possível resistir, quaisquer que sejam os heroísmos que se pratiquem para «morrer devagar» como em Alcacer-Quibir.
«Então, escreve Roçadas, os instintos ferozes do gentio selvagem desencadeiam-se livremente, a sêde de rapina devora a todos, os chefes já não têm acção sobre os seus guerreiros. Durante longas horas desenrola-se a terrível hecatombe; o comboio é assaltado, as munições e armas apreendidas, os feridos acabados de matar; os mortos despojados de tudo; os solípedes, que vagueiam desorientados, são apanhados e, em breve, a noite vem cobrir com o seu manto de estrêlas o local do desastre, coalhado de cadáveres nus. O campo da luta pode bem chamar-se «o campo do silêncio», interrompido apenas pelos batuques desenfreados da primeira noite de orgia».
Assim foi, como se viu, em 1904.
As operações militares em África eram também antecedidas da concentração das tropas, que em toda a parte exigia ser bem estudada e executada.
Mas ali mais imperiosa se tornava essa exigência, cheia como era de dificuldades, preocupando o comando, tendo de se fazer o percurso a pé pelas estradas ou caminhos através de regiões que coisa alguma facilitavam e forneciam e até a própria água para matar a sêde regateavam ou negavam.
Nestas condições, o combate era bem preferível a estas operações preliminares de concentração e marcha de aproximação, pois perante ele todos os desânimos melhoravam, não sentindo as febres que os minavam ou os males que os acabrunhavam, e os desmoralizados reanimavam-se tão depressa se trocavam os primeiros tiros...
Assim, se o vátua ou landim vatualizado, marchando no seu característico passo saltado, desenvolvia as suas mangas ou impis à vista do pequeno quadrado dos europeus, procurando envolvê-lo, e, depois de mais ou menos curta preparação pelo fogo das suas armas aperfeiçoadas, se atirava ao ataque à azagaia, procurando o corpo a corpo , que conseguido era para o quadrado o destroço e a chacina inevitáveis, estes guerreiros banacutubas , aproveitando as condições do terreno coberto, embuscavam-se na floresta, abrigados pelos morros de salalé ou atrás das árvores ou nelas empoleirados, de onde faziam fogo demorado e violento sobre os invasores, muito certeiro quando estes eram mais visiveis nas clareiras - nas chanas -, procurando envolvê-los por todos os lados. Só quando percebiam que a intensidade do seu tiro diminuia por esgotamento de munições é que iniciavam a retirada, as cuas, concentradas à retaguarda dos atiradores, arremetiam contra aqueles, desordenando-os, como aludes a que não era possível resistir, quaisquer que sejam os heroísmos que se pratiquem para «morrer devagar» como em Alcacer-Quibir.
«Então, escreve Roçadas, os instintos ferozes do gentio selvagem desencadeiam-se livremente, a sêde de rapina devora a todos, os chefes já não têm acção sobre os seus guerreiros. Durante longas horas desenrola-se a terrível hecatombe; o comboio é assaltado, as munições e armas apreendidas, os feridos acabados de matar; os mortos despojados de tudo; os solípedes, que vagueiam desorientados, são apanhados e, em breve, a noite vem cobrir com o seu manto de estrêlas o local do desastre, coalhado de cadáveres nus. O campo da luta pode bem chamar-se «o campo do silêncio», interrompido apenas pelos batuques desenfreados da primeira noite de orgia».
Assim foi, como se viu, em 1904.
As operações militares em África eram também antecedidas da concentração das tropas, que em toda a parte exigia ser bem estudada e executada.
Mas ali mais imperiosa se tornava essa exigência, cheia como era de dificuldades, preocupando o comando, tendo de se fazer o percurso a pé pelas estradas ou caminhos através de regiões que coisa alguma facilitavam e forneciam e até a própria água para matar a sêde regateavam ou negavam.
Nestas condições, o combate era bem preferível a estas operações preliminares de concentração e marcha de aproximação, pois perante ele todos os desânimos melhoravam, não sentindo as febres que os minavam ou os males que os acabrunhavam, e os desmoralizados reanimavam-se tão depressa se trocavam os primeiros tiros...
...Neste caso, a concentração era cheia de grandes dificuldades, não só na zona do interior, de Moçâmedes até à Chela, onde durante 73 quilómetros as tropas puderiam aproveitar o combóio de via reduzida, cuja construção se tinha apressado e não existiam recursos de qualquer espécie, nem mesmo água, como o era, também, na chamada zona da retaguarda, através do planalto até o Cunene, na extensão de 286 quilómetros.
Todas estas importantes operações foram estudadas em todos os seus pormenores pelo Estado Maior da coluna chefiada pelo capitão Eduardo Marques, prestimoso e inteligente oficial a quem Roçadas não negou justos louvores e que, por sua vez, eficasmente foi auxiliado pelo sub-chefe, tenente Jorge Mascarenhas.
Assim, os locais de bivaque ou dos grandes altos foram prèviamente designados e neles estavam garantidos os abastecimentos de víveres a consumir imediatamente ou a transportar, como estava garantida a água para ali ser utilizada e para ser levada pelos próprios soldados, quando ela não existia nas etapas imediatas a percorrer.
Na base, na testa e nos postos principais da linha de etapas não faltava o necessário: enfermarias, fornos, padarias, depósitos de material e de fardamentos, tudo se tinha cuidadosamente instalado.
Executou-se, assim, esta extensa marcha com a maior regularidade, seguindo as unidades a pé, pois apenas foi transportada em carros boers uma companhia de europeus, que entrara nas operações do ano anterior e que viera para o Lubango restaurar as forças depauperadas pelo longo serviço de guarnição no Forte Roçadas, onde tinha sofrido não só as investidas dos indígenas, obrigando-a a um contínuo alerta, mas ainda as rudes inclemências do clima.
Separada por uma grande ravina do Forte Roçadas, construído, como se viu, pela coluna de operações de 1906, existia para jusante uma elevação, que era designada por morro fronteiro, coroada por uma esplanada, onde se fez na melhor ordem a concentração da coluna que ia operar contra as poderosas tribos cuamatas e seus aliados.
Compunha-se a coluna de:
- Um pelotão de Sapadores
- Duas baterias de artilharia
- Dois esquadrões de cavalaria
- Cinco companhias de infantaria europeia, das quais:
- uma de marinha
- uma de infantaria nº 12
- outras duas organizadas em Angola
- Quatro companhias de infantaria indígena, sendo uma de landins
- Serviços e formações
Totalizavam um efectivo de :
- 87 oficiais
- 1306 praças europeias
- 906 praças indígenas
- 317 animais
- 10 canhões
- 4 metralhadoras
- auxiliares brancos e negros, carros e gado correspondente.
A ela foi passada revista pelo Governador Geral de Angola, capitão de artilharia Henrique de Paiva Couceiro, que em marchas forçadas, em 8 ou 9 dias, percorrera a distância que ia de Moçâmedes ao Humbe, depois da qual saudou as tropas afirmando-lhes a certeza em que estava de que mais uma vez os soldados e marinheiros portugueses honrariam a nobre e gloriosa herança do passado e obteriam, com a ajuda de Deus, um êxito completo sobre as tribos rebeldes, coroando os louros e levantando bem alto a bandeira da Pátria...
Todas estas importantes operações foram estudadas em todos os seus pormenores pelo Estado Maior da coluna chefiada pelo capitão Eduardo Marques, prestimoso e inteligente oficial a quem Roçadas não negou justos louvores e que, por sua vez, eficasmente foi auxiliado pelo sub-chefe, tenente Jorge Mascarenhas.
Assim, os locais de bivaque ou dos grandes altos foram prèviamente designados e neles estavam garantidos os abastecimentos de víveres a consumir imediatamente ou a transportar, como estava garantida a água para ali ser utilizada e para ser levada pelos próprios soldados, quando ela não existia nas etapas imediatas a percorrer.
Na base, na testa e nos postos principais da linha de etapas não faltava o necessário: enfermarias, fornos, padarias, depósitos de material e de fardamentos, tudo se tinha cuidadosamente instalado.
Executou-se, assim, esta extensa marcha com a maior regularidade, seguindo as unidades a pé, pois apenas foi transportada em carros boers uma companhia de europeus, que entrara nas operações do ano anterior e que viera para o Lubango restaurar as forças depauperadas pelo longo serviço de guarnição no Forte Roçadas, onde tinha sofrido não só as investidas dos indígenas, obrigando-a a um contínuo alerta, mas ainda as rudes inclemências do clima.
Separada por uma grande ravina do Forte Roçadas, construído, como se viu, pela coluna de operações de 1906, existia para jusante uma elevação, que era designada por morro fronteiro, coroada por uma esplanada, onde se fez na melhor ordem a concentração da coluna que ia operar contra as poderosas tribos cuamatas e seus aliados.
Compunha-se a coluna de:
- Um pelotão de Sapadores
- Duas baterias de artilharia
- Dois esquadrões de cavalaria
- Cinco companhias de infantaria europeia, das quais:
- uma de marinha
- uma de infantaria nº 12
- outras duas organizadas em Angola
- Quatro companhias de infantaria indígena, sendo uma de landins
- Serviços e formações
Totalizavam um efectivo de :
- 87 oficiais
- 1306 praças europeias
- 906 praças indígenas
- 317 animais
- 10 canhões
- 4 metralhadoras
- auxiliares brancos e negros, carros e gado correspondente.
A ela foi passada revista pelo Governador Geral de Angola, capitão de artilharia Henrique de Paiva Couceiro, que em marchas forçadas, em 8 ou 9 dias, percorrera a distância que ia de Moçâmedes ao Humbe, depois da qual saudou as tropas afirmando-lhes a certeza em que estava de que mais uma vez os soldados e marinheiros portugueses honrariam a nobre e gloriosa herança do passado e obteriam, com a ajuda de Deus, um êxito completo sobre as tribos rebeldes, coroando os louros e levantando bem alto a bandeira da Pátria...
..O nome de Deus acodiu, assim, aos lábios do Governador Geral na sua alocução, mas a Sua protecção teria sido já, certamente, implorada pelos combatentes, instigados pelo sentimento religioso existente na alma popular, que já levara os bravos marinheiros do 1º tenente Victor Sepúlveda a aceitarem alvoraçadamente os escapulários que ele lhes tinha distribuido, enviados para esse fim por uma nobre e ilustre dama - a Rainha Senhora D. Amélia - crente sincera, piedosa e convicta de que mais uma vez o patriotismo e a fé religiosa se enlaçariam inspirando os grandes feitos, como sempre, pela história passada, tinham andado enlaçados, quando se « buscavam almas para Cristo e terras novas para o Reino »,
Depois de...
- Se ter restaurado a ponte do Cunene, que as grandes cheias tinham danificado, passando a ser em parte flutuante e apoiada junto dos junções por dois lances fixos de cavaletes
- De se ter aberto caminho na extensão de três quilómetros através da mata de espinheiros, cerrada e densa, que orlava o rio na margem esquerda
- De um esquadrão de cavalaria e a companhia de marinha, cada uma destas unidades na sua margem, terem feito um reconhecimento em que o inimigo logo foi descoberto, na madrugada de 26 de Agosto
...as forças iniciaram a marcha ofensiva em dupla coluna - dispositivo já clássico das campanhas coloniais com tropas regulares e formação flexivel de onde fàcilmente se passava para o quadrado a adoptar no estacionamento e no combate - levando ao centro o trem de combate e o combóio.
Eram seus objectivos:
- Tomar a embala do soba do Cuamato Pequeno
- Invadir, depois o Cuamato Grande
- Ocupar toda a região com postos militares.
Esta tribo, parece que, por dissidências antigas, às quais não era alheia a sucessão do sobado, tinha-se dividido em duas fracções distintas, designadas e mais numerosas, mas talvez menos aguerridas e pior armadas, por Cuamato Grande, governada por um soba, e a outra com menos gente, mas mais atrevida, por Cuamato Pequeno, igualmente com o seu soba privativo.
Foi pois o Cuamato Pequeno que primeiro se invadiu, seguindo-se o Cuamato Grande , e para isso se fez o avanço directo para a embala real, em concordância com as prévias informações obtidas pelo chefe do Estado Maior e seguindo a direcção indicada pelo guia Caripaluli, um principe da familia do soba do Cuamato Grande, que dali tinha fugido, apresentando-se ao então chefe do concelho do Humbe, tenente coronel Luna de Carvalho, não sem que antes fôsse assaltado por um bando de Cuamatas, que queriam impedir-lhe a fuga e o feriram gravemente...
Depois de...
- Se ter restaurado a ponte do Cunene, que as grandes cheias tinham danificado, passando a ser em parte flutuante e apoiada junto dos junções por dois lances fixos de cavaletes
- De se ter aberto caminho na extensão de três quilómetros através da mata de espinheiros, cerrada e densa, que orlava o rio na margem esquerda
- De um esquadrão de cavalaria e a companhia de marinha, cada uma destas unidades na sua margem, terem feito um reconhecimento em que o inimigo logo foi descoberto, na madrugada de 26 de Agosto
...as forças iniciaram a marcha ofensiva em dupla coluna - dispositivo já clássico das campanhas coloniais com tropas regulares e formação flexivel de onde fàcilmente se passava para o quadrado a adoptar no estacionamento e no combate - levando ao centro o trem de combate e o combóio.
Eram seus objectivos:
- Tomar a embala do soba do Cuamato Pequeno
- Invadir, depois o Cuamato Grande
- Ocupar toda a região com postos militares.
Esta tribo, parece que, por dissidências antigas, às quais não era alheia a sucessão do sobado, tinha-se dividido em duas fracções distintas, designadas e mais numerosas, mas talvez menos aguerridas e pior armadas, por Cuamato Grande, governada por um soba, e a outra com menos gente, mas mais atrevida, por Cuamato Pequeno, igualmente com o seu soba privativo.
Foi pois o Cuamato Pequeno que primeiro se invadiu, seguindo-se o Cuamato Grande , e para isso se fez o avanço directo para a embala real, em concordância com as prévias informações obtidas pelo chefe do Estado Maior e seguindo a direcção indicada pelo guia Caripaluli, um principe da familia do soba do Cuamato Grande, que dali tinha fugido, apresentando-se ao então chefe do concelho do Humbe, tenente coronel Luna de Carvalho, não sem que antes fôsse assaltado por um bando de Cuamatas, que queriam impedir-lhe a fuga e o feriram gravemente...
...Foi Caripaluli, inteligente como era, um guia precioso, a quem Roçadas ofereceu o sobado se bem cumprisse a missão de que se imcumbira.
A marcha do dia 26 decorreu sem incidentes de maior, não sendo perturbada pelos indígenas, que se limitaram a ameaçar de noite, lá de longe, lançando o seu clássico desafio e dizendo que « se fossem os brancos embora pois que a terra era deles », quando não, « no dia seguinte, os esperariam para lhes fazer o mesmo que em 1904.»
Na manhã seguinte retomou-se a marcha em direcção às cacimbas do Aucongo, e, depois de se ter atravessado uma extensa chana e uma faixa de mato espesso que a separava de outra chana a seguir - a chana de Mufilo - quando já nesta se tinha feito alto, o inimigo, que fôra já descoberto pelos exploradores, iniciou o combate atacando o combóio, que, protegido denodadamente pela sua escolta, conseguiu entrar em boa ordem no seu lugar dentro do quadrado, depois de aguentar durante uma hora toda a sua fúria.
Bem depressa o fogo se generalizou em toda a orla do mato, envolvendo o quadrado num anel que o pretendia estrangular, a que a infantaria de todas as faces respondia disciplinadamente por descargas de pelotão, como num exercício, assim como a artilharia, sob o comando do tenente desta arma Justiniano Esteves e do tenente almoxarife Gonçalves, colocada nos ângulos e ao meio das faces, repartindo os seus tiros pelos objectivos que lhes era possivel precisar.
Uma libata, metida no mato, fronteira ao ângulo da face esquerda com a da retaguarda, de onde era feito um mortífero e violento fogo de escarpa, foi um desses objectivos.
O inimigo mantinha-se invisivel, mas o fogo continuava intenso e o sibilar das balas das armas aperfeiçoadas e os zumbidos dos zagalotes eram contínuos, e em todas as direcções os projecteis se cruzavam, começando a ambulância a povoar-se.
O ajudante do Comandante, alferes Veloso de Castro, cai ferido com uma bala no pescoço.
O Comandante da 14ª Companhia Indígena, capitão Sousa Dias, tem o braço atravessado por uma bala, mas conserva-se à frente da sua unidade.
Ao Comandante da 1ª Companhia Europeia, capitão Domingos Patacho, e ao da 2ª Companhia, capitão Araújo Junior, foram-lhes os chapéus.
O cavalo do Chefe do Estado Maior, capitão Marques, cai morto com a cabeça atravessada por uma bala.
Roçadas reconheceu que era necessário dar ao quadrado e por isso manda a infantaria sair à carga até o mato.
Primeiro, a face direita comandada pelo capitão Patacho.
A seguir, a face da retaguarda do capitão Lucínio Ribeiro.
Ao mesmo tempo, ordenava a saída da cavalaria, que seguiu a trote através da mata até dois quilómetros de distância, levando o inimigo à sua frente.
Sucessivamente, a face esquerda com o capitão Schiapa de Azevedo, comandante dos valentes disciplinares, e um canhão Canet avançavam ousadamente, internando-se e varrendo por descargas toda a sua frente, bem como a companhia de marinha do comando do 1º tenente Victor Sepúlveda...
A marcha do dia 26 decorreu sem incidentes de maior, não sendo perturbada pelos indígenas, que se limitaram a ameaçar de noite, lá de longe, lançando o seu clássico desafio e dizendo que « se fossem os brancos embora pois que a terra era deles », quando não, « no dia seguinte, os esperariam para lhes fazer o mesmo que em 1904.»
Na manhã seguinte retomou-se a marcha em direcção às cacimbas do Aucongo, e, depois de se ter atravessado uma extensa chana e uma faixa de mato espesso que a separava de outra chana a seguir - a chana de Mufilo - quando já nesta se tinha feito alto, o inimigo, que fôra já descoberto pelos exploradores, iniciou o combate atacando o combóio, que, protegido denodadamente pela sua escolta, conseguiu entrar em boa ordem no seu lugar dentro do quadrado, depois de aguentar durante uma hora toda a sua fúria.
Bem depressa o fogo se generalizou em toda a orla do mato, envolvendo o quadrado num anel que o pretendia estrangular, a que a infantaria de todas as faces respondia disciplinadamente por descargas de pelotão, como num exercício, assim como a artilharia, sob o comando do tenente desta arma Justiniano Esteves e do tenente almoxarife Gonçalves, colocada nos ângulos e ao meio das faces, repartindo os seus tiros pelos objectivos que lhes era possivel precisar.
Uma libata, metida no mato, fronteira ao ângulo da face esquerda com a da retaguarda, de onde era feito um mortífero e violento fogo de escarpa, foi um desses objectivos.
O inimigo mantinha-se invisivel, mas o fogo continuava intenso e o sibilar das balas das armas aperfeiçoadas e os zumbidos dos zagalotes eram contínuos, e em todas as direcções os projecteis se cruzavam, começando a ambulância a povoar-se.
O ajudante do Comandante, alferes Veloso de Castro, cai ferido com uma bala no pescoço.
O Comandante da 14ª Companhia Indígena, capitão Sousa Dias, tem o braço atravessado por uma bala, mas conserva-se à frente da sua unidade.
Ao Comandante da 1ª Companhia Europeia, capitão Domingos Patacho, e ao da 2ª Companhia, capitão Araújo Junior, foram-lhes os chapéus.
O cavalo do Chefe do Estado Maior, capitão Marques, cai morto com a cabeça atravessada por uma bala.
Roçadas reconheceu que era necessário dar ao quadrado e por isso manda a infantaria sair à carga até o mato.
Primeiro, a face direita comandada pelo capitão Patacho.
A seguir, a face da retaguarda do capitão Lucínio Ribeiro.
Ao mesmo tempo, ordenava a saída da cavalaria, que seguiu a trote através da mata até dois quilómetros de distância, levando o inimigo à sua frente.
Sucessivamente, a face esquerda com o capitão Schiapa de Azevedo, comandante dos valentes disciplinares, e um canhão Canet avançavam ousadamente, internando-se e varrendo por descargas toda a sua frente, bem como a companhia de marinha do comando do 1º tenente Victor Sepúlveda...
...Contava Roçadas: « É mandado, então, sair um pelotão de marinha. É o 3º, do comando do segundo tenente Marta; passo cadenciado, como em parada, lá vão direitos ao seu destino. Um pelotão não basta; sai outro, o 1º, e ainda outro, que em acelerado reforçam os anteriores ».
Estes pelotões foram comandados, respectivamente, pelos 2º tenente Teixeira Marinho e pelo 2º tenente Costa Rêgo.
Entretanto, Roçadas, reconhecendo que tinha que acampar ali, manda construir trincheiras com os sacos préviamente distribuidos aos soldados e que se encheram de terra. Operação feita por uma das fileiras enquanto a outra e a artilharia mantinham o fogo contra o inimigo, que após as cargas de cavalaria e da infantaria tinha regressado, de novo.
Só depois das 13U00 o fogo, que durava com intensidade há mais de três horas, afrouxou. O inimigo, ainda em alguns pontos resistia, sendo por isso mandado sair de novo um esquadrão de cavalaria, o de lanceiros, comandado pelo valente Martins de Lima, que varreu numa carga brilhante toda a mata da direita, onde os indígenas, furtando-se ao contacto, o procurava envolver, o que levou os soldados a bradarem:
« Estamos cercados, comandante ! Estamos cercados ! »
Martins de Lima, sem hesitar, gritou-lhes heróicamente:
« Soldados ! O nosso esquadrão quando se vê cercado abre caminho à ponta da lança. Carregar ! »
Esta voz é repetida por todos com entusiasmo e energia sem igual e o inimigo é repelido, voltando o esquadrão ao quadrado, depois de duas horas de encarniçada peleja, em boa ordem com os clarins à frente tocando a marcha de guerra, trazendo os seus feridos.
De todas as faces do quadrado explode uma manifestação de entusiasmo; as palmas e os vivas expandem-se num delirio de apoteose, saindo os soldados das trincheiras, agitando os chapéus, esquecidos do inimigo que, estupefacto, certamente os observava de longe.
Dentro em pouco o fogo de parte a parte limita-se ao de atiradores isolados, e a noite caíu envolvendo o quadrado em completa escuridão, que o brilho intenso daquelas novas estrelas que os portugueses, também, no céu tinham descoberto, como diz oépico, era insuficiente para iluminar.
O quadrado conservou-se em armas, numa vigilia de incertezas e ameaças, e o silêncio da noite só foi interrompido por um ou outro tiro disparado da mata ou pelos gemidos dos feridos, que o Serviço de Saúde diligentemente socorria, ou, ainda, pelos mugidos dos bois do combóio, famintos e sequiosos...
Estes pelotões foram comandados, respectivamente, pelos 2º tenente Teixeira Marinho e pelo 2º tenente Costa Rêgo.
Entretanto, Roçadas, reconhecendo que tinha que acampar ali, manda construir trincheiras com os sacos préviamente distribuidos aos soldados e que se encheram de terra. Operação feita por uma das fileiras enquanto a outra e a artilharia mantinham o fogo contra o inimigo, que após as cargas de cavalaria e da infantaria tinha regressado, de novo.
Só depois das 13U00 o fogo, que durava com intensidade há mais de três horas, afrouxou. O inimigo, ainda em alguns pontos resistia, sendo por isso mandado sair de novo um esquadrão de cavalaria, o de lanceiros, comandado pelo valente Martins de Lima, que varreu numa carga brilhante toda a mata da direita, onde os indígenas, furtando-se ao contacto, o procurava envolver, o que levou os soldados a bradarem:
« Estamos cercados, comandante ! Estamos cercados ! »
Martins de Lima, sem hesitar, gritou-lhes heróicamente:
« Soldados ! O nosso esquadrão quando se vê cercado abre caminho à ponta da lança. Carregar ! »
Esta voz é repetida por todos com entusiasmo e energia sem igual e o inimigo é repelido, voltando o esquadrão ao quadrado, depois de duas horas de encarniçada peleja, em boa ordem com os clarins à frente tocando a marcha de guerra, trazendo os seus feridos.
De todas as faces do quadrado explode uma manifestação de entusiasmo; as palmas e os vivas expandem-se num delirio de apoteose, saindo os soldados das trincheiras, agitando os chapéus, esquecidos do inimigo que, estupefacto, certamente os observava de longe.
Dentro em pouco o fogo de parte a parte limita-se ao de atiradores isolados, e a noite caíu envolvendo o quadrado em completa escuridão, que o brilho intenso daquelas novas estrelas que os portugueses, também, no céu tinham descoberto, como diz oépico, era insuficiente para iluminar.
O quadrado conservou-se em armas, numa vigilia de incertezas e ameaças, e o silêncio da noite só foi interrompido por um ou outro tiro disparado da mata ou pelos gemidos dos feridos, que o Serviço de Saúde diligentemente socorria, ou, ainda, pelos mugidos dos bois do combóio, famintos e sequiosos...
...Tal foi o combate de Mufilo, no resumo das suas fases principais, o combate mais duro desta campanha, no qual as forças de Roçadas tiveram 68 baixas, sendo 13 os mortos, incluindo o veterinário Pereira quando já tinha carregado à frente do Esquadrão de Lanceiros, e 55 os feridos, tendo sido batidos os Cuamatos, cheios da força moral pelas victórias anteriores, e seus aliados Cuambis, Ganguelas, Barantos, Hingas e, ainda, os Cuanhamas, pois se verificou que o soba Nande, não obstante os seus anteriores compromissos, mandara alguns dos seus melhores lengas com 3000 ou 4000 homens bem armados.
Empenharam-se assim na luta contra as diminutas forças portuguesas um total que se estimou em 20000 homens, dispondo de 6000 espingardas, numa proporgão de 1 contra 12, sendo tão grandes as suas perdas que os Cuanhamas se retiraram pouco tempo depois convencidos da sua impotência.
*****
No dia imediato ao combate, a 28, a coluna, mantendo a formação em quadrado, avança para as cacimbas de Aucongo, que estavam a pouco mais de uma hora de marcha e que não tinham, afinal, de princípio água suficiente para matar a sêde que a todos afligia, sendo necessário recorrer à água transportada nos carros tanques do combóio.
Aqui, permaneceu até 12 de Setembro, tempo durante o qual executou diversas e algumas perigosas operações.
Logo a 29, à tarde, um forte destacamento, comandado pelo Chefe do Estado Maior, foi reconhecer uma lagoa próxima e destruir as libatas de onde tinham feito fogo sobre a cavalaria quando esta ia dar água ao gado.
Foi duramente atacado pelos indígenas e sofreu algumas baixas, o qual procurou interpôr-se entre o destacamento e o estacionamento, a que aquele obstou retirando em perfeita ordem, iluminado fantàsticamente pelo incêndio que lavrava no mato, ardilosamente lançado.
Enquanto isto se passava, ia-se construindo, sob a direcção do comandante de sapadores, alferes Jonet, um entrincheiramento com sacos de terra, que tinha duas das suas faces encostadas à mata. Delas se limpou o campo de tiro, evitando, assim, um belo alvo no meio da chana para os indígenas emboscados em redor.
Sendo necessário reabastecer a coluna, consumida como estava a ração de reserva, e matar a sêde ao gado sequioso, no dia 30 de madrugada partiram para o Cunene todos os carros do combóio, conduzindo os doentes e feridos, fortemente escoltados por um destacamento sob o comando do capitão Francelino Pimentel, que simultâneamente levaria a boa nova da victória de Mufilo.
Esta operação, arriscada como era, causou as maiores apreensões ao comando, que justificadamente receava que o inimigo, atacando o combóio, cortasse as linhas de comunicações. Felizmente tudo correu pelo melhor, e na manhã de 1 de Setembro viu-se ao longe, na chana de Mufilo, a poeira levantada pelo combóio de regresso, que, dentro em pouco, entrava no acampamento, trazendo, também, as melhores noticias acerca do efeito produzido pela victória alcançada, que provocara o retrocesso dos Evales quando vinham juntar-se aos seus irmãos de raça...
Empenharam-se assim na luta contra as diminutas forças portuguesas um total que se estimou em 20000 homens, dispondo de 6000 espingardas, numa proporgão de 1 contra 12, sendo tão grandes as suas perdas que os Cuanhamas se retiraram pouco tempo depois convencidos da sua impotência.
*****
No dia imediato ao combate, a 28, a coluna, mantendo a formação em quadrado, avança para as cacimbas de Aucongo, que estavam a pouco mais de uma hora de marcha e que não tinham, afinal, de princípio água suficiente para matar a sêde que a todos afligia, sendo necessário recorrer à água transportada nos carros tanques do combóio.
Aqui, permaneceu até 12 de Setembro, tempo durante o qual executou diversas e algumas perigosas operações.
Logo a 29, à tarde, um forte destacamento, comandado pelo Chefe do Estado Maior, foi reconhecer uma lagoa próxima e destruir as libatas de onde tinham feito fogo sobre a cavalaria quando esta ia dar água ao gado.
Foi duramente atacado pelos indígenas e sofreu algumas baixas, o qual procurou interpôr-se entre o destacamento e o estacionamento, a que aquele obstou retirando em perfeita ordem, iluminado fantàsticamente pelo incêndio que lavrava no mato, ardilosamente lançado.
Enquanto isto se passava, ia-se construindo, sob a direcção do comandante de sapadores, alferes Jonet, um entrincheiramento com sacos de terra, que tinha duas das suas faces encostadas à mata. Delas se limpou o campo de tiro, evitando, assim, um belo alvo no meio da chana para os indígenas emboscados em redor.
Sendo necessário reabastecer a coluna, consumida como estava a ração de reserva, e matar a sêde ao gado sequioso, no dia 30 de madrugada partiram para o Cunene todos os carros do combóio, conduzindo os doentes e feridos, fortemente escoltados por um destacamento sob o comando do capitão Francelino Pimentel, que simultâneamente levaria a boa nova da victória de Mufilo.
Esta operação, arriscada como era, causou as maiores apreensões ao comando, que justificadamente receava que o inimigo, atacando o combóio, cortasse as linhas de comunicações. Felizmente tudo correu pelo melhor, e na manhã de 1 de Setembro viu-se ao longe, na chana de Mufilo, a poeira levantada pelo combóio de regresso, que, dentro em pouco, entrava no acampamento, trazendo, também, as melhores noticias acerca do efeito produzido pela victória alcançada, que provocara o retrocesso dos Evales quando vinham juntar-se aos seus irmãos de raça...
...No dia 2 de Setembro, sofreu o acampamento uma enérgica investida dos indígenas, que procuravam levar os seus aliados Cuambis, peritos no manejo de azagaias, ao assalto, gritando repetidas vezes: « Ta-toé. tá-toé, cuambi ! », o que quereria dizer: « avança, avança, cuambi ! »
Compreendendo Roçadas que se concentravam nas matas e arimos em volta do acampamento, resolveu tomar desde logo a ofensiva, avançando com o quadrado até Macuvi, deixando no pôsto em construção uma Companhia, ao mesmo tempo que um segundo combóio, também fortemente escoltado e comandado pelo capitão de cavalaria Montez, marchava a reabastecer-se no Forte Roçadas, evacuando igualmente os feridos, procurando, assim, com estes dois movimentos simultâneos, desviar do combóio as atenções do adversário.
Feitos alguns tiros de canhão contra as libatas em que os indígenas se apoiavam, a marcha prosseguiu e os sapadores iam-nas incendiando, protegidos por um pelotão de marinheiros, de atiradores escolhidos, comandado pelo 2º tenente Marinho, que foi ferido.
Depois disto, iniciou-se a retirada por lanços para o acampamento, recrudescendo, então, a violência do ataque do inimigo, que procurou, também, meter-se de permeio entre o pôsto em construção e as fôrças, ocupando a mata à retaguarda.
A retirada foi assim demorada, e, feita por escalões, foi com dificuldade que se manteve a ligação entre eles.
Neste dificil movimento evidenciaram-se o 1º tenente Sepúlveda com os seus marinheiros e o capitão Francelino Pimentel com os seus infantes do 12, coadjuvados pelos respectivos subalternos, que, retirando por lanços curtos, aguentaram com firmeza o violento fogo adverso, apoiados eficazmente pelas metralhadoras do tenente Silva Pais.
A artilharia, que ia perdendo parte do seu gado, não deixou de colaborar, batendo os grupos que se denunciavam na orla da mata e acompanhando em seguida o movimento para a retaguarda.
Roçadas, sempre calmo e sereno, seguia a operação na face mais atacada e preparava-se para abrir caminho à baioneta se o inimigo conseguisse aquele seu indicado intento.
Apesar de curta, esta acção, que resultou brilhante e foi sobremaneira renhida nas suas três horas de fogo, custando a vida a 6 homens e sendo feridos 30, deu lugar ao abandono pelos indígenas das cercanias de Aucongo.
No dia 7 voltou o combóio, que vinha estendendo desde o Cunene uma linha telegráfica, tendo anunciado a sua partida por três foguetões de sinais lançados no Forte Roçadas, correspondidos por outros três no Aucongo.
Foi este esperado, além da chana de Mufilo, por toda a coluna que para ali saira a fim de evitar um possivel ataque dos indígenas. Nesse mesmo dia novo combóio seguiu para o Cunene, comandado pelo capitão de cavalaria Galvão, que estaria de volta no dia 10...
Compreendendo Roçadas que se concentravam nas matas e arimos em volta do acampamento, resolveu tomar desde logo a ofensiva, avançando com o quadrado até Macuvi, deixando no pôsto em construção uma Companhia, ao mesmo tempo que um segundo combóio, também fortemente escoltado e comandado pelo capitão de cavalaria Montez, marchava a reabastecer-se no Forte Roçadas, evacuando igualmente os feridos, procurando, assim, com estes dois movimentos simultâneos, desviar do combóio as atenções do adversário.
Feitos alguns tiros de canhão contra as libatas em que os indígenas se apoiavam, a marcha prosseguiu e os sapadores iam-nas incendiando, protegidos por um pelotão de marinheiros, de atiradores escolhidos, comandado pelo 2º tenente Marinho, que foi ferido.
Depois disto, iniciou-se a retirada por lanços para o acampamento, recrudescendo, então, a violência do ataque do inimigo, que procurou, também, meter-se de permeio entre o pôsto em construção e as fôrças, ocupando a mata à retaguarda.
A retirada foi assim demorada, e, feita por escalões, foi com dificuldade que se manteve a ligação entre eles.
Neste dificil movimento evidenciaram-se o 1º tenente Sepúlveda com os seus marinheiros e o capitão Francelino Pimentel com os seus infantes do 12, coadjuvados pelos respectivos subalternos, que, retirando por lanços curtos, aguentaram com firmeza o violento fogo adverso, apoiados eficazmente pelas metralhadoras do tenente Silva Pais.
A artilharia, que ia perdendo parte do seu gado, não deixou de colaborar, batendo os grupos que se denunciavam na orla da mata e acompanhando em seguida o movimento para a retaguarda.
Roçadas, sempre calmo e sereno, seguia a operação na face mais atacada e preparava-se para abrir caminho à baioneta se o inimigo conseguisse aquele seu indicado intento.
Apesar de curta, esta acção, que resultou brilhante e foi sobremaneira renhida nas suas três horas de fogo, custando a vida a 6 homens e sendo feridos 30, deu lugar ao abandono pelos indígenas das cercanias de Aucongo.
No dia 7 voltou o combóio, que vinha estendendo desde o Cunene uma linha telegráfica, tendo anunciado a sua partida por três foguetões de sinais lançados no Forte Roçadas, correspondidos por outros três no Aucongo.
Foi este esperado, além da chana de Mufilo, por toda a coluna que para ali saira a fim de evitar um possivel ataque dos indígenas. Nesse mesmo dia novo combóio seguiu para o Cunene, comandado pelo capitão de cavalaria Galvão, que estaria de volta no dia 10...
Completada a construção do pôsto do Aucongo, foi-lhe fixada uma forte guarnição, que ficou sob o comando do capitão Lucínio Ribeiro, e no dia 11 iniciou-se a marcha para as cacimbas de Tchamuinde, onde a água era abundante e boa. Os indígenas limitaram-se a alguns tiros isolados e ao costumado alarido acompanhado do bater de cua
A 13 rompe-se de novo a marcha para ocupar Aluendo, terras de um tio do soba, e seguir depois para Damaquero e suas cacimbas
O avanço fez-se com toda a regularidade, mas debaixo de fogo violento do adversário que envolvia a coluna sempre escondido na mata ou abrigado nas libatas, que iam sendo incendiadas pelos sapadores e auxiliares, fazendo-se altos apenas para responder de pé, disciplinadamente, por descargas ou para carregar à baioneta, como teve de fazer - e brilhantemente o fêz - a face direita pela mata dentro, face que era composta pela Companhia do capitão Patacho e pela de Moçambique do tenente Soares Severino, que se atiraram à carga impetuosamente, entoando os landins os seus cantos de guerra, e avançando a coluna novamente tão depressa lhe era indicado pelos toques da corneta.
Avistadas as de Damaquero, foram elas batidas pela Artilharia Erhardt do tenente Esteves e dentro em pouco tomadas de assalto pela Marinha e Infantaria 12, pondo o inimigo em debandada.
Batido o terreno em volta pela Cavalaria e destruídas, ainda, algumas libatas, que constituiam um ponto de apoio importante, - operação executada brilhantemente e ràpidamente, como diz Roçadas, pelo 2º tenente da Armada Teodorico Nunes, heróico pioneiro que, ferido pelo infortúnio, enterrou a sua mocidade numa lancha que navegou o Cunene e o Cubango, - a coluna bivacou na forma usual, cobrindo-se com os entrincheiramentos de sacos cheios de terra e melhorando as cacimbas próximas.
Esta acção, em que os indígenas fizeram um fogo violento durante quatro horas, demonstrando uma resistência e um desejo de triunfar que nas operações subsequentes já se não revelariam, custou à coluna mais 24 baixas, das quais 8 mortos.
Montado um pôsto fortificado, dirigida a sua construção pelo activo alferes Melo Vieira, foi-lhe dado uma guarnição e entregue ao comando do capitão de Artilharia Carrilho. Fêz-se, também, novo reabastecimento, mandando à base um combóio escoltado por um destacamento comandado pelo 1º tenente Sepúlveda, que no regresso trouxe um reforço de 400 indígenas do Humbe, que, na mira dos despojos, vinham engrossar o contingente de auxiliares, facto que provava a convicção da derrota dos Cuamatos.
Aqui, em Damaquero, tentou-se parlamentar por intermédio do guia Caripaluli e do velho sertanejo José Lopes, que bem falava a lingua, que aconselhavam em altos gritos os indígenas a apresentarem-se, o que poria termo à guerra, pois o Muene-Puto era generoso e só queria o seu bem, conselhos a que ele respondia com imprecações seguidas de vivo tiroteio.
Também aqui, foi aprisionada, cheia de pavor, uma velha, cega e paralitica, abandonada pelos seus numa libata, que se limitou, quando interrogada, a isentar os Cuamatos das suas culpas, lançando-as à conta dos Cuambis...
A 13 rompe-se de novo a marcha para ocupar Aluendo, terras de um tio do soba, e seguir depois para Damaquero e suas cacimbas
O avanço fez-se com toda a regularidade, mas debaixo de fogo violento do adversário que envolvia a coluna sempre escondido na mata ou abrigado nas libatas, que iam sendo incendiadas pelos sapadores e auxiliares, fazendo-se altos apenas para responder de pé, disciplinadamente, por descargas ou para carregar à baioneta, como teve de fazer - e brilhantemente o fêz - a face direita pela mata dentro, face que era composta pela Companhia do capitão Patacho e pela de Moçambique do tenente Soares Severino, que se atiraram à carga impetuosamente, entoando os landins os seus cantos de guerra, e avançando a coluna novamente tão depressa lhe era indicado pelos toques da corneta.
Avistadas as de Damaquero, foram elas batidas pela Artilharia Erhardt do tenente Esteves e dentro em pouco tomadas de assalto pela Marinha e Infantaria 12, pondo o inimigo em debandada.
Batido o terreno em volta pela Cavalaria e destruídas, ainda, algumas libatas, que constituiam um ponto de apoio importante, - operação executada brilhantemente e ràpidamente, como diz Roçadas, pelo 2º tenente da Armada Teodorico Nunes, heróico pioneiro que, ferido pelo infortúnio, enterrou a sua mocidade numa lancha que navegou o Cunene e o Cubango, - a coluna bivacou na forma usual, cobrindo-se com os entrincheiramentos de sacos cheios de terra e melhorando as cacimbas próximas.
Esta acção, em que os indígenas fizeram um fogo violento durante quatro horas, demonstrando uma resistência e um desejo de triunfar que nas operações subsequentes já se não revelariam, custou à coluna mais 24 baixas, das quais 8 mortos.
Montado um pôsto fortificado, dirigida a sua construção pelo activo alferes Melo Vieira, foi-lhe dado uma guarnição e entregue ao comando do capitão de Artilharia Carrilho. Fêz-se, também, novo reabastecimento, mandando à base um combóio escoltado por um destacamento comandado pelo 1º tenente Sepúlveda, que no regresso trouxe um reforço de 400 indígenas do Humbe, que, na mira dos despojos, vinham engrossar o contingente de auxiliares, facto que provava a convicção da derrota dos Cuamatos.
Aqui, em Damaquero, tentou-se parlamentar por intermédio do guia Caripaluli e do velho sertanejo José Lopes, que bem falava a lingua, que aconselhavam em altos gritos os indígenas a apresentarem-se, o que poria termo à guerra, pois o Muene-Puto era generoso e só queria o seu bem, conselhos a que ele respondia com imprecações seguidas de vivo tiroteio.
Também aqui, foi aprisionada, cheia de pavor, uma velha, cega e paralitica, abandonada pelos seus numa libata, que se limitou, quando interrogada, a isentar os Cuamatos das suas culpas, lançando-as à conta dos Cuambis...
...Depois de terem, ainda, tentado um ataque ao bivaque, ouvindo-se na mata gritar: « Ta-toé, ta-toé, cuambi ! », ao mesmo tempo que com os pés batiam fortemente no chão, ataque que não passou, afinal, de mais uma demonstração, iniciou-se no dia 20 de manhã a marcha para o Aluendo, durante a qual a coluna não deixou de ser atacada, mas mais frouxamente.
Estabelecido novo bivaque, o fogo prolongou-se por longas horas, aproveitando os indígenas, como de costume, para se abrigarem nos morros de salalé e nas árvores, que eram ali de maior porte, ao qual a coluna respondeu disciplinadamente, enquanto se construia o entrincheiramento, mas deixando de o fazer logo que ele começou a dar abrigo, tendo sofrido ainda 22 baixas, sendo 4 os mortos, dos queis um foi o tenente de Cavalaria Prats.
No dia seguinte, avançaram para as cacimbas da Inhoca - as cacimbas do soba Techieta-quela do Cuamato Pequeno -, rodeadas de frondoso arvoredo, tendo o inimigo durante a marcha feito um fogo intermitente, numa última e já desmoralizada resistência, e sendo elas tomadas à baioneta pela Infantaria 12, depois de batidas pela Artilharia Erhardt.
As cacimbas, verdadeiros lagos ensombrados por árvores copadas, abundantíssimas de água, satisfizeram com largueza às necessidades do pessoal e do gado e, mais ainda, facilitaram aos soldados a distracção da pesca à cana, para o que, por extraordinário que seja, iam prevenidos com linha e anzol, e permitiram, assim, que fôssem saboreados magníficos bagres , que se destinariam à libata do soba.
Pouco depois, viu-se levantar para as bandas do Sul um espesso e enorme rolo de fumo, que provocou atenções gerais e vivos comentários, apurando-se no dia seguinte que era a embala real a arder.
Fogo acidental pela fuga apavorada ou propositado, num rasgo de desespero mas, em qualquer dos casos, evidenciando por todo esse extenso sertão do Ovampo a derrota do soba e o seu definitivo desprestigio.
Na manhã do dia 22, a coluna, na ignorância ainda de que o incêndio fôra na embala, avançou pela extensa chana que a antecedia com as precauções usuais, até que, em posição conveniente, a Artilharia a bombardeou, preparando o assalto a Infantaria à baioneta, que se fêz em seguida sem qualquer resistência.
É que o soba andava já fugido, em busca de asilo seguro, acompanhado por um exíguo número de guerreiros fiéis.
Próximo a ela, bivacaram as forças que, caídas as primeiras e abundantes chuvas da estação, se viram obrigadas a ocupar e onde foi içada, solenemente, no dia 28 de Setembro, aniversário dos reis de Portugal, a Bandeira Nacional, sendo nessa ocasião feita por Roçadas uma alocução às tropas, em que enaltecia a serenidade, o ardor e a valentia com que, durante um mês de sucessivos combates, tinham afrontado todas as inclemências e arrostado com todos os perigos, firmando o domínio português numa região de povo tão belicoso e vingando o desastre de 1904...
Estabelecido novo bivaque, o fogo prolongou-se por longas horas, aproveitando os indígenas, como de costume, para se abrigarem nos morros de salalé e nas árvores, que eram ali de maior porte, ao qual a coluna respondeu disciplinadamente, enquanto se construia o entrincheiramento, mas deixando de o fazer logo que ele começou a dar abrigo, tendo sofrido ainda 22 baixas, sendo 4 os mortos, dos queis um foi o tenente de Cavalaria Prats.
No dia seguinte, avançaram para as cacimbas da Inhoca - as cacimbas do soba Techieta-quela do Cuamato Pequeno -, rodeadas de frondoso arvoredo, tendo o inimigo durante a marcha feito um fogo intermitente, numa última e já desmoralizada resistência, e sendo elas tomadas à baioneta pela Infantaria 12, depois de batidas pela Artilharia Erhardt.
As cacimbas, verdadeiros lagos ensombrados por árvores copadas, abundantíssimas de água, satisfizeram com largueza às necessidades do pessoal e do gado e, mais ainda, facilitaram aos soldados a distracção da pesca à cana, para o que, por extraordinário que seja, iam prevenidos com linha e anzol, e permitiram, assim, que fôssem saboreados magníficos bagres , que se destinariam à libata do soba.
Pouco depois, viu-se levantar para as bandas do Sul um espesso e enorme rolo de fumo, que provocou atenções gerais e vivos comentários, apurando-se no dia seguinte que era a embala real a arder.
Fogo acidental pela fuga apavorada ou propositado, num rasgo de desespero mas, em qualquer dos casos, evidenciando por todo esse extenso sertão do Ovampo a derrota do soba e o seu definitivo desprestigio.
Na manhã do dia 22, a coluna, na ignorância ainda de que o incêndio fôra na embala, avançou pela extensa chana que a antecedia com as precauções usuais, até que, em posição conveniente, a Artilharia a bombardeou, preparando o assalto a Infantaria à baioneta, que se fêz em seguida sem qualquer resistência.
É que o soba andava já fugido, em busca de asilo seguro, acompanhado por um exíguo número de guerreiros fiéis.
Próximo a ela, bivacaram as forças que, caídas as primeiras e abundantes chuvas da estação, se viram obrigadas a ocupar e onde foi içada, solenemente, no dia 28 de Setembro, aniversário dos reis de Portugal, a Bandeira Nacional, sendo nessa ocasião feita por Roçadas uma alocução às tropas, em que enaltecia a serenidade, o ardor e a valentia com que, durante um mês de sucessivos combates, tinham afrontado todas as inclemências e arrostado com todos os perigos, firmando o domínio português numa região de povo tão belicoso e vingando o desastre de 1904...
...No mesmo local da embala, começou-se a construção de um forte que se viria a chamar " D. Luis de Bragança ", em homenagem ao malogrado Principe Real que, nesse ano, visitara a Provincia de Angola, forte que seria sede da Autoridade Militar encarregada de firmar a ocupação e que era do maior efeito político ser ali construido, onde o soba exercera toda a sua autoridade soberana e ferozmente tirana.
Demorando-se alguns dias aqui, antes de avançar para o Cuamato Grande, era necessário abater a velha rebeldia deste povo já vencido mas talvez ainda não convencido do poder do branco, e para tal executaram os dragões e auxiliares a cavalo correrias em todos os sentidos, procurando fazer prisioneiros e obter informações, incendiando as libatas, de que não foi excluida a embala de Mugogo, residência preferida dos sobas, e destruindo os arimos.
O Esquadrão de Dragões atingiu mesmo a fronteira que separava os dois Cuamatos, que não ultrapassou e onde os indígenas, em grandes grupos, se encontrava em atitude de mera defensiva, e com o qual não foi possivel entrar em conversações.
Simultâneamente, a coluna reabastecia-se, abundantemente, de forma a permitir a invasão do Cuamato Grande - o chamado Nalueque - onde se projectava, também, a construção de um posto fortificado.
Sendo necessário comunicar oficialmente os acontecimentos decorridos, encarregaram-se, voluntàriamente dessa missão, que não deixava de ser arriscada, o capitão de Cavalaria Montez, o seu ajudante tenente Lisignan de Azevedo e o alferes José da Costa, que, acompanhados de uma ordenança e de um auxiliar indígena, todos montados, atravessaram o país do Cuamato, que se acabara de percorrer numa extensão de 47 quilómetros.
Pelas 20H00 desse mesmo dia os foguetes de sinais, que tanto apavoravam os indígenas, lançados sucessivamente do Cunene, do Aucongo e de Damequero, anunciavam a execução do perigoso serviço sem qualquer hostilidade.
Demorando-se alguns dias aqui, antes de avançar para o Cuamato Grande, era necessário abater a velha rebeldia deste povo já vencido mas talvez ainda não convencido do poder do branco, e para tal executaram os dragões e auxiliares a cavalo correrias em todos os sentidos, procurando fazer prisioneiros e obter informações, incendiando as libatas, de que não foi excluida a embala de Mugogo, residência preferida dos sobas, e destruindo os arimos.
O Esquadrão de Dragões atingiu mesmo a fronteira que separava os dois Cuamatos, que não ultrapassou e onde os indígenas, em grandes grupos, se encontrava em atitude de mera defensiva, e com o qual não foi possivel entrar em conversações.
Simultâneamente, a coluna reabastecia-se, abundantemente, de forma a permitir a invasão do Cuamato Grande - o chamado Nalueque - onde se projectava, também, a construção de um posto fortificado.
Sendo necessário comunicar oficialmente os acontecimentos decorridos, encarregaram-se, voluntàriamente dessa missão, que não deixava de ser arriscada, o capitão de Cavalaria Montez, o seu ajudante tenente Lisignan de Azevedo e o alferes José da Costa, que, acompanhados de uma ordenança e de um auxiliar indígena, todos montados, atravessaram o país do Cuamato, que se acabara de percorrer numa extensão de 47 quilómetros.
Pelas 20H00 desse mesmo dia os foguetes de sinais, que tanto apavoravam os indígenas, lançados sucessivamente do Cunene, do Aucongo e de Damequero, anunciavam a execução do perigoso serviço sem qualquer hostilidade.
Batido o Cuamato Pequeno, cujo povo era o mais aguerrido e o melhor armado e por isso foi o principal núcleo de hostilidade desta notável campanha, Roçadas previu que a resistência do Nalueque fosse mínima ou talvez nula.
Os efeitos morais dos reveses sofridos no renhido e cruel combate de Mufilo - uma verdadeira batalha - e nos combates subsequentes deviam ter sido grandes e abalado o ânimo dos indígenas de forma a não puder sustentar a luta tenaz até aí travada, quando tinha sido já abandonado pelos seus aliados.
Nesta ordem de ideias, em 4 de Outubro, iniciou-se a marcha, em quadrado, da coluna já reduzida, pelas baixas e pelas guarnições deixadas nos postos à retaguarda, a 1284 homens de tropa.
Seguiu ela, as primeiras horas, através de terrenos de arimos sem ser atacada, até que, ao atingir a linha divisória dos dois sobados, se avistaram grupos de indígenas em atitude que parecia pacífica.
Mas, dentro em pouco, soava o primeiro tiro do inimigo abrindo as hostilidades e o fogo de parte a parte generalizou-se...
...A coluna parou alguns momentos a fim de a Artilharia romper o fogo, alvejando os grupos que logo se desfizeram, e a Infantaria fazer algumas descargas por pelotões, prosseguindo logo que possivel a marcha.
O adversário, que não era numeroso mas que fazia fogo certeiro e se desenvolvia em semi-circunferência, utilizando hàbilmente o mato denso que cobria o terreno para se aproximar ousadamente do quadrado a distâncias eficazes, ia, no entanto, sendo impelido pela coluna, que só se deteve para responder aos seus ataques.
Quando, pelas 10H00 da manhã, se atingiu um matagal espesso já próximo da embala, onde se esperava que a luta se intensificasse, os indígenas cessaram o fogo e desapareceram.
A coluna fez alto, retomando a marcha depois da Artilharia bombardear o recinto da embala, procurando fazer uma brecha.
Estacou de novo e preparou-se para o assalto, fazendo cerrar o combóio sobre a frente que ficava escoltada pela face da retaguarda, enquanto as duas faces laterais faziam, nos flancos da face da vanguarda, colchetes ofensivos, que Roçadas dizia serem semelhantes a duas enormes antenas.
Neste dispositivo, avançou para a embala em passo normal, mas uma das alas precipitou-se ao assalto e toda a linha a seguiu. A embala estava, porém, abandonada e a Cavalaria e os auxiliares, pessoa alguma encontraram no recinto que a envolvia.
A fuga tinha sido recente e fôra precipitada. Segundo informações obtidas dos próprios indígenas, o soba Chaúla fôra levado à força para se refugiar entre os Barantos, pois, achando-se embriagado, insistia em não abandonar a embala.
Conquistou-se, assim, a embala do Nalueque após uma marcha de 11 quilómetros e de 2 horas de combates, não muito intensos mas certeiros, em que, mais uma vez, se ouviram os estalidos das balas explosivas, semelhantes aos do chicote manejado pelos condutores dos carros boer - e, por isso, se lhes chamavam balas de chicote - disparadas pelas carabinas Mausers, de que dispunham os chefes de guerra - os lengas - tendo ainda a coluna mais 3 praças mortas e 11 feridas, a juntar às baixas nas dez acções que exigiu a conquista do Cuamato Pequeno, totalizando essas baixas em toda a campanha 205 homens, sendo:
- Mortos
- 5 Oficiais
- 53 praças brancas
- 8 praças indígenas
- Feridos
- 5 Oficiais
- 91 praças brancas
- 43 praças indígenas
Resolvendo Roçadas atingir o sobado do Cuamato Pequeno, faltava agora resolver a questão do sobado do Cuamato Grande, prometido ao fidalgo Caripaluli, que foi um guia leal e inteligente levando sempre a coluna pelo caminho mais curto e provido de água, desfazendo com o seu procedimento as suspeições que a respeito dele existiam da parte de muitos.
Caripaluli, porém, impressionado pela lealdade dos portugueses, dedicou-se-lhes em extremo, tendo por Roçadas o maior respeito e a maior veneração. Se foi traidor foi aos seus e, certamente, nunca pensou em sê-lo a quem tanto se consagrara...
O adversário, que não era numeroso mas que fazia fogo certeiro e se desenvolvia em semi-circunferência, utilizando hàbilmente o mato denso que cobria o terreno para se aproximar ousadamente do quadrado a distâncias eficazes, ia, no entanto, sendo impelido pela coluna, que só se deteve para responder aos seus ataques.
Quando, pelas 10H00 da manhã, se atingiu um matagal espesso já próximo da embala, onde se esperava que a luta se intensificasse, os indígenas cessaram o fogo e desapareceram.
A coluna fez alto, retomando a marcha depois da Artilharia bombardear o recinto da embala, procurando fazer uma brecha.
Estacou de novo e preparou-se para o assalto, fazendo cerrar o combóio sobre a frente que ficava escoltada pela face da retaguarda, enquanto as duas faces laterais faziam, nos flancos da face da vanguarda, colchetes ofensivos, que Roçadas dizia serem semelhantes a duas enormes antenas.
Neste dispositivo, avançou para a embala em passo normal, mas uma das alas precipitou-se ao assalto e toda a linha a seguiu. A embala estava, porém, abandonada e a Cavalaria e os auxiliares, pessoa alguma encontraram no recinto que a envolvia.
A fuga tinha sido recente e fôra precipitada. Segundo informações obtidas dos próprios indígenas, o soba Chaúla fôra levado à força para se refugiar entre os Barantos, pois, achando-se embriagado, insistia em não abandonar a embala.
Conquistou-se, assim, a embala do Nalueque após uma marcha de 11 quilómetros e de 2 horas de combates, não muito intensos mas certeiros, em que, mais uma vez, se ouviram os estalidos das balas explosivas, semelhantes aos do chicote manejado pelos condutores dos carros boer - e, por isso, se lhes chamavam balas de chicote - disparadas pelas carabinas Mausers, de que dispunham os chefes de guerra - os lengas - tendo ainda a coluna mais 3 praças mortas e 11 feridas, a juntar às baixas nas dez acções que exigiu a conquista do Cuamato Pequeno, totalizando essas baixas em toda a campanha 205 homens, sendo:
- Mortos
- 5 Oficiais
- 53 praças brancas
- 8 praças indígenas
- Feridos
- 5 Oficiais
- 91 praças brancas
- 43 praças indígenas
Resolvendo Roçadas atingir o sobado do Cuamato Pequeno, faltava agora resolver a questão do sobado do Cuamato Grande, prometido ao fidalgo Caripaluli, que foi um guia leal e inteligente levando sempre a coluna pelo caminho mais curto e provido de água, desfazendo com o seu procedimento as suspeições que a respeito dele existiam da parte de muitos.
Caripaluli, porém, impressionado pela lealdade dos portugueses, dedicou-se-lhes em extremo, tendo por Roçadas o maior respeito e a maior veneração. Se foi traidor foi aos seus e, certamente, nunca pensou em sê-lo a quem tanto se consagrara...
..Dadas estas circunstâncias, Roçadas resolveu não incendiar as libatas, não destruir os arimos , nem fazer correrias, pilhando os gados e mantimentos, à semelhança do que tinha mandado fazer, como severo castigo, no Cuamato Pequeno e, assim, entregar a Caripululi a embala e as terras tais como estavam e com o que elas continham, à excepção dos despojos do desastre de 1904, os quais, incluindo duas peças de artilharia, foram relacionados e remetidos para a retaguarda.
É que estes processos de generosa clemência eram, desde velhos tempos, seguidos pelos portugueses, que só por excepcionais circunstâncias recorriam à violência, dando, desta forma, realização efectiva à velha sentença de que em África nunca o primeiro tiro deve ser dado pelos brancos.
Ao mesmo tempo, fazia lançar o bando de que a guerra estava terminada, aconselhando o povo a apresentar-se sem receio, no prazo de três dias, sob pena da região ser posta a saque, o que era anunciado por meio do tambor - do batuque - que ao nascer do sol era batido à porta da embala, ao passo que de noite era o próprio Caripaluli que de viva voz lhes transmitia esse conselho.
Logo nos primeiros dias começaram as apresentações, que iam sucessivamente aumentando em quantidade e em categoria, trazendo os indígenas o gado mas ficando com as espingardas por "a gente armada, segundo declarava, estar fugida no Cuanhama ".
Caripaluli conferenciava com os que se vinham apresentar e parecia que a sua côrte se ia constituindo.
A confiança ràpidamente se estabelecia, não encobrindo alguns os combates em que tinham participado e declarando que, se soubessem que o branco era tão bom, não lhe teriam feito guerra. Davam, também, informações completas acerca das tribos vizinhas que lhes deram auxilio, das baixas que sofreram e diziam: « quando o branco fazia fogo e se ouvia a corneta, nós caíamos como as hastes da massambala, sêcas, derrubadas no arimo ».
Entretanto, o forte junto à embala ia-se construindo e, numa homenagem justa pelos seus altos serviços, a pedido dos oficiais, foi lhe dado o nome do Chefe do Estado Maior, capitão Eduardo Marques, ao mesmo tempo que tudo se preparava para a proclamação do novo soba, acto que se faria com toda a solenidade, em que a Bandeira Portuguesa lhe seria entregue e içada e, um acto lavrado com as condições impostas, que o comando do novo posto faria cumprir.
Um acontecimento inesperado veio, porém, modificar a resolução tomada. Caripaluli tentou suicidar-se, na própria manhã do dia fixado para a cerimónia, disparando uma Martini debaixo do queixo, esfacelando o maxilar inferior.
A consciência, segredou-lhe que tinha sido um traidor à sua terra, o que naturalmente já lhe fôra sugerido por alguns dos seus futuros subditos. Daí a resolução extrema que o seu orgulho lhe ditou de não ser soba simplesmente por imposição do Muene-Puto, ainda que fôsse um velho pretendente ao sobado e tivesse os seus partidários.
Roçadas, que se lembrou ainda de o substituir por um sobrinho, seu inseparável companheiro, pôs de parte esta ideia e resolveu imediatamente convidar os indígenas presentes a indicar quem deveria ser o futuro soba, proposta que foi recebida com a maior alegria, acompanhada das palavras « Quêto ! Quêto ! » que significava « Obrigado ! Obrigado ! ».
A este convite intervieram os velhos, que em longa conferência resolveram indicar para novo soba um indígena de nome Cambongue, que logo no dia seguinte compareceu e, com todo o cerimonial, foi aclamado com o nome de Popiene...
É que estes processos de generosa clemência eram, desde velhos tempos, seguidos pelos portugueses, que só por excepcionais circunstâncias recorriam à violência, dando, desta forma, realização efectiva à velha sentença de que em África nunca o primeiro tiro deve ser dado pelos brancos.
Ao mesmo tempo, fazia lançar o bando de que a guerra estava terminada, aconselhando o povo a apresentar-se sem receio, no prazo de três dias, sob pena da região ser posta a saque, o que era anunciado por meio do tambor - do batuque - que ao nascer do sol era batido à porta da embala, ao passo que de noite era o próprio Caripaluli que de viva voz lhes transmitia esse conselho.
Logo nos primeiros dias começaram as apresentações, que iam sucessivamente aumentando em quantidade e em categoria, trazendo os indígenas o gado mas ficando com as espingardas por "a gente armada, segundo declarava, estar fugida no Cuanhama ".
Caripaluli conferenciava com os que se vinham apresentar e parecia que a sua côrte se ia constituindo.
A confiança ràpidamente se estabelecia, não encobrindo alguns os combates em que tinham participado e declarando que, se soubessem que o branco era tão bom, não lhe teriam feito guerra. Davam, também, informações completas acerca das tribos vizinhas que lhes deram auxilio, das baixas que sofreram e diziam: « quando o branco fazia fogo e se ouvia a corneta, nós caíamos como as hastes da massambala, sêcas, derrubadas no arimo ».
Entretanto, o forte junto à embala ia-se construindo e, numa homenagem justa pelos seus altos serviços, a pedido dos oficiais, foi lhe dado o nome do Chefe do Estado Maior, capitão Eduardo Marques, ao mesmo tempo que tudo se preparava para a proclamação do novo soba, acto que se faria com toda a solenidade, em que a Bandeira Portuguesa lhe seria entregue e içada e, um acto lavrado com as condições impostas, que o comando do novo posto faria cumprir.
Um acontecimento inesperado veio, porém, modificar a resolução tomada. Caripaluli tentou suicidar-se, na própria manhã do dia fixado para a cerimónia, disparando uma Martini debaixo do queixo, esfacelando o maxilar inferior.
A consciência, segredou-lhe que tinha sido um traidor à sua terra, o que naturalmente já lhe fôra sugerido por alguns dos seus futuros subditos. Daí a resolução extrema que o seu orgulho lhe ditou de não ser soba simplesmente por imposição do Muene-Puto, ainda que fôsse um velho pretendente ao sobado e tivesse os seus partidários.
Roçadas, que se lembrou ainda de o substituir por um sobrinho, seu inseparável companheiro, pôs de parte esta ideia e resolveu imediatamente convidar os indígenas presentes a indicar quem deveria ser o futuro soba, proposta que foi recebida com a maior alegria, acompanhada das palavras « Quêto ! Quêto ! » que significava « Obrigado ! Obrigado ! ».
A este convite intervieram os velhos, que em longa conferência resolveram indicar para novo soba um indígena de nome Cambongue, que logo no dia seguinte compareceu e, com todo o cerimonial, foi aclamado com o nome de Popiene...
...Caripaluli, carinhosamente tratado, curou-se e ficou sempre dedicado aos portugueses, continuando a prestar-lhes valiosos serviços.
O ex-soba Chaúla, fugitivo, foi preso meses depois, bem como alguns dos seus adeptos fiéis, por um pequeno destacamento, o que demonstra a boa politica que foi seguida, pois tal prisão não se faria se não fosse auxiliada pela população.
Roçadas não quis fechar esta brilhante página da sua heróica história sem prestar uma derradeira homenagem àqueles dos seus camaradas que pela Pátria tinham sacrificado a vida no desastre de 1904 e bem assim aos seus companheiros de armas mortos nesta gloriosa campanha, das mais rudes dos tempos contemporâneos. Os primeiros, conforme escreveu, como heróis tinham caído vencidos, os segundos como heróis também cairam, mas vingadores, em sucessivos e cruéis combates.
Piedosamente, mandou recolher as ossadas que se encontravam dispersas desde as proximidades da pequena chana sombria, onde o destacamento de 1904 iniciou a trágica retirada, até o vau de Pembe e fê-las reunir no Forte Roçadas, fazendo celebrar uma missa naquele local, a que assistiram todas as forças de regresso ao Cunene, em sufrágio pelas almas das vitimas daquele terrível revés e uma outra, no dia seguinte, sobre o campo do glorioso combate de 27 de Agosto, na chana de Mufilo.
A velha chama da Fé que arde no coração dos portugueses, que fez dilatar o Império, desbravando as terras, sugeriu, como fecho desta campanha heróica, essa derradeira e piedosa homenagem aos que caíram com honra nesse campo de luta pela grandeza de Portugal.
Assim, ao Sul de Angola, aquecido pelo sol dos trópicos de torturante ardência e iluminado nas noites de vigilia inquieta e apreensiva pala luz do Cruzeiro - essa constelação que indicou aos portugueses o rumo da sua rota no « mar tenebroso » - Roçadas cobriu-se de perene glória e, pelos seus altos e inesquecíveis serviços, o seu nome entrou na História e a memória dos seus feitos passou à posteridade, como sendo os de um insigne servidor do Império.
AGRADEÇO A VOSSA COMPANHIA E, ESPERO TER CORRESPONDIDO ÀS VOSSAS ESPECTATIVAS COM MAIS ESTE RELATO DA HISTÓRIA DO SUL DE ANGOLA. O MEU MUITO OBRIGADO
O ex-soba Chaúla, fugitivo, foi preso meses depois, bem como alguns dos seus adeptos fiéis, por um pequeno destacamento, o que demonstra a boa politica que foi seguida, pois tal prisão não se faria se não fosse auxiliada pela população.
Roçadas não quis fechar esta brilhante página da sua heróica história sem prestar uma derradeira homenagem àqueles dos seus camaradas que pela Pátria tinham sacrificado a vida no desastre de 1904 e bem assim aos seus companheiros de armas mortos nesta gloriosa campanha, das mais rudes dos tempos contemporâneos. Os primeiros, conforme escreveu, como heróis tinham caído vencidos, os segundos como heróis também cairam, mas vingadores, em sucessivos e cruéis combates.
Piedosamente, mandou recolher as ossadas que se encontravam dispersas desde as proximidades da pequena chana sombria, onde o destacamento de 1904 iniciou a trágica retirada, até o vau de Pembe e fê-las reunir no Forte Roçadas, fazendo celebrar uma missa naquele local, a que assistiram todas as forças de regresso ao Cunene, em sufrágio pelas almas das vitimas daquele terrível revés e uma outra, no dia seguinte, sobre o campo do glorioso combate de 27 de Agosto, na chana de Mufilo.
A velha chama da Fé que arde no coração dos portugueses, que fez dilatar o Império, desbravando as terras, sugeriu, como fecho desta campanha heróica, essa derradeira e piedosa homenagem aos que caíram com honra nesse campo de luta pela grandeza de Portugal.
Assim, ao Sul de Angola, aquecido pelo sol dos trópicos de torturante ardência e iluminado nas noites de vigilia inquieta e apreensiva pala luz do Cruzeiro - essa constelação que indicou aos portugueses o rumo da sua rota no « mar tenebroso » - Roçadas cobriu-se de perene glória e, pelos seus altos e inesquecíveis serviços, o seu nome entrou na História e a memória dos seus feitos passou à posteridade, como sendo os de um insigne servidor do Império.
AGRADEÇO A VOSSA COMPANHIA E, ESPERO TER CORRESPONDIDO ÀS VOSSAS ESPECTATIVAS COM MAIS ESTE RELATO DA HISTÓRIA DO SUL DE ANGOLA. O MEU MUITO OBRIGADO
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