O norte-americano Zibgnew Bzerzinski, alto funcionário da Casa Branca (conselheiro para a Segurança do Estado), chegou a ter este desabafo diante do dr. Arménio Ferreira, enviado de Agostinho Neto: "Considero que, realmente, Angola e o seu presidente têm conduzido uma política independente, e não desejamos que Angola seja base de um novo conflito entre Leste e Oeste". Arménio ficou, por momentos, a contemplá-lo, e Bzerzinski prosseguiu nestes termos: "Queremos uma Angola livre e independente. E os Estados Unidos nunca intervirão, nós nunca interferiremos com o regime angolano. Seja qual for esse regime, como é timbre da nossa política na África Austral. Queremos a estabilidade na zona". E, por último, Bzerzinski proferiu a célebre assertiva: "Desejamos e vamos normalizar as nossas relações diplomáticas com Angola. Julgo que Angola também o deseja". Corria o Verão de 1979.
O ambiente, rememora o dr. Arménio Ferreira durante a conversa com o JN, era de manifesta cordialidade. Tanto assim que Bzerzinski tivera, até, um gesto particularmente simpático: manifestou a Arménio a sua preocupação pelo estado de saúde da esposa do médico angolano, na altura melindroso. Estava-se a 9 de Agosto de 1979.
Arménio Ferreira sentia-se, de facto, agradavelmente impressionado com as "performances" dos seus interlocutores.
Ele gostou, especialmente, das posturas dialogais de Walker e de Richard Moose. "Os mais liberais do Departamento de Estado e da margem esquerda do Partido Democrático", reitera Arménio Ferreira. Também McHenry, Donald McHenry, do "dossier" da Namíbia e embaixador na ONU, impressionou fortemente o emissário especial do presidente António Agostinho Neto.
DONALD McHENRY - A "SINCERIDADE"
No entender de Arménio Ferreira, o poder democrata norte-americano "tropeçava" nos remanescentes da mentalidade conservadora adjutória das políticas republicanas - o "inferno" para as aspirações dos países do Terceiro Mundo. Donald McHenry, que lidava fluentemente com o "dossier" da Namíbia (a SWAPO, na altura, sofria a "bom" sofrer às mãos da Infantaria do "apartheid"), tratou Arménio Ferreira com excepcional afectividade. Arménio matutava para os seus botões: "Este americano é, talvez, mais "formalista" que Walker, ou mesmo Richard Moose, mas é certamente o mais afectuoso de todos". Mc Henry sem dúvida que convenceu Arménio da sua "muita sinceridade". Arménio considerava-o "anti-sul-africano", logo, "anti-apartheid". Além disso, o enviado de Agostinho Neto estava convencido de que Donald McHenry iria suceder a Andrew Young como embaixador norte-americano nas Nações Unidas.
Nesse mesmo dia (9 de Agosto de 1979), ao cair da tarde, em Washington, o emissário especial do presidente Neto ouviu do norte-americano Walker (subsecretário de Estado para os Assuntos Africanos) os mais rasgados elogios. Walker destacou, vivamente, "a eficiência do trabalho" de Arménio Ferreira em prol da aproximação Washington-Luanda. Walker teria dito, entrementes: "Eu não vou repetir aqui as afirmações há pouco proferidas pelos senhores Bzerzinski e McHenry. Quero, isso sim, afirmar que devemos esquecer, Angola deve esquecer a ajuda que os Estados Unidos prestaram, em tempos, à República do Zaire e à FNLA".
Walter, que sabia ser insinuante, aproveitou para lembrar que ele próprio fora o arquitecto, no Departamento norte-americano de Estado, da aproximação Angola-Zaire.
Em Luanda, o enviado do JN ouviu, a propósito, Lopo do Nascimento, actualmente secretário-geral do MPLA, outrora primeiro-ministro durante a presidência do dr. Agostinho Neto. De facto, Lopo deixou bem claro que Donald Mc Henry foi pedra fulcral nas diligências que levaram à "normalização" das relações entre Luanda e Kinshasa. Lopo não falou de Walker. Nessa altura (1977-1979), foram realmente frequentes os encontros de McHenry, inclusivamente em Luanda, não só com Lopo do Nascimento mas, igualmente, com o próprio presidente Agostinho Neto. Falta saber, contudo, se, naquele tempo, a "normalização" teria sido pensável e realizável sem a activa disponibilidade do então presidente do Congo-Brazaville, Marien Nguabi. Com Walker ou sem Walker.
Como quer que seja, ninguém duvida, hoje, da importância que as diligências de Mc Henry, na África Austral, chegaram a conhecer no tocante ao arrefecimento das fricções entre Luanda e Kinshasa. A conclusão a extrair é a de que McHenry foi decisivo no terreno e que Walker tê-lo-á sido no interior mais profundo do Departamento norte-americano de Estado.
Nesse mesmo dia (9 de Agosto de 1979), ao cair da tarde, em Washington, o emissário especial do presidente Neto ouviu do norte-americano Walker (subsecretário de Estado para os Assuntos Africanos) os mais rasgados elogios. Walker destacou, vivamente, "a eficiência do trabalho" de Arménio Ferreira em prol da aproximação Washington-Luanda. Walker teria dito, entrementes: "Eu não vou repetir aqui as afirmações há pouco proferidas pelos senhores Bzerzinski e McHenry. Quero, isso sim, afirmar que devemos esquecer, Angola deve esquecer a ajuda que os Estados Unidos prestaram, em tempos, à República do Zaire e à FNLA".
Walter, que sabia ser insinuante, aproveitou para lembrar que ele próprio fora o arquitecto, no Departamento norte-americano de Estado, da aproximação Angola-Zaire.
Em Luanda, o enviado do JN ouviu, a propósito, Lopo do Nascimento, actualmente secretário-geral do MPLA, outrora primeiro-ministro durante a presidência do dr. Agostinho Neto. De facto, Lopo deixou bem claro que Donald Mc Henry foi pedra fulcral nas diligências que levaram à "normalização" das relações entre Luanda e Kinshasa. Lopo não falou de Walker. Nessa altura (1977-1979), foram realmente frequentes os encontros de McHenry, inclusivamente em Luanda, não só com Lopo do Nascimento mas, igualmente, com o próprio presidente Agostinho Neto. Falta saber, contudo, se, naquele tempo, a "normalização" teria sido pensável e realizável sem a activa disponibilidade do então presidente do Congo-Brazaville, Marien Nguabi. Com Walker ou sem Walker.
Como quer que seja, ninguém duvida, hoje, da importância que as diligências de Mc Henry, na África Austral, chegaram a conhecer no tocante ao arrefecimento das fricções entre Luanda e Kinshasa. A conclusão a extrair é a de que McHenry foi decisivo no terreno e que Walker tê-lo-á sido no interior mais profundo do Departamento norte-americano de Estado.
A MÁQUINA DOS "STATES"!!!
A verdade é que Arménio Ferreira, o emissário especial que Agostinho Neto, discretamente, accionava a partir de Lisboa, ficou detentor de uma experiência absolutamente singular. Sem ser político, ou diplomata, de carreira. Arménio Ferreira sentiu, por dentro, o pulsar das "dúvidas" e das "certezas" norte-americanas. Em dado momento das conversações nesse 9 de Agosto de 1979, Walker disse ao enviado de Neto: "Peço-lhe que diga ao presidente Neto que não é fácil, em Washington, a vida de quem é favorável a Angola!".
Uma declaração, no mínimo, electrizante. Historicamente significativa de quanto, nos Estados Unidos da América do Norte, Angola (a Angola dos tempos de Agostinho Neto), "perturbava" a terrível máquina dos "States". Walker (da Secretaria de Estado para os Assuntos Africanos) pediu, de facto, a Arménio Ferreira, que fizesse o dr. Neto compreender esse drama: "Diga ao presidente Agostinho Neto que custa muito trabalho, em Washington, sustentar posições pró-Angola. Porque é preciso lutar contra burocracias internas. Contra a má vontade das várias comissões, de vários senadores e deputados. Contra uma Imprensa sempre ávida de assuntos e situações que possam colocar mal os amigos de Angola!".
Uma declaração, no mínimo, electrizante. Historicamente significativa de quanto, nos Estados Unidos da América do Norte, Angola (a Angola dos tempos de Agostinho Neto), "perturbava" a terrível máquina dos "States". Walker (da Secretaria de Estado para os Assuntos Africanos) pediu, de facto, a Arménio Ferreira, que fizesse o dr. Neto compreender esse drama: "Diga ao presidente Agostinho Neto que custa muito trabalho, em Washington, sustentar posições pró-Angola. Porque é preciso lutar contra burocracias internas. Contra a má vontade das várias comissões, de vários senadores e deputados. Contra uma Imprensa sempre ávida de assuntos e situações que possam colocar mal os amigos de Angola!".
NETO ELOGIADO PELA CASA BRANCA!
Desabafo insinuante de Donald McHenry: "Eu tenho um fraco por Angola,
sou o americano que mais vezes foi a Angola depois da independência..."
Quando o dr. Agostinho Neto se evadiu da prisão, em Portugal, lembra Arménio Ferreira, "eu mesmo fui buscá-lo à Praia das Maçãs". Para dar continuidade à operação que levaria Neto para o exterior, até à sua fixação em Kinshasa, República do Zaire. Aconteceu em 1961. Dezoito anos mais tarde, Agostinho Neto foi "buscar" Arménio Ferreira a Lisboa para seu emissário-estratega nas conversações com os americanos. Desconfiados do "comunismo" de Neto (e do MPLA).
O que o dr. Arménio constatou, face às declarações dos seus interlocutores, só poderia ser gratificante para António Agostinho Neto, chefe do Estado angolano. Donald McHenry, que sobraçava, na Administração norte-americana, o "dossier" da Namíbia, disse a Arménio ter gostado "imenso" do acolhimento que lhe havia sido dispensado, em Luanda, à sua chegada. "Instalaram-me numa casa maravilhosa", lembrou o alto funcionário de Washington. "Encantou-me aquela vista de sonho da baía de Luanda", disse ainda McHenry com manifesto enlevo.
Uma particularidade, que Arménio Ferreira sublinha: "As conversações, curiosamente, realizaram-se, no Departamento norte-americano de Estado, nos gabinetes de Andrew Young, precisamente um dia antes de este ter apresentado a sua demissão ao presidente Jimmy Carter".
Era a tarde de 16 de Agosto de 1979. Conversou-se muito sobre a tormentosa questão da Namíbia. E, em dado momento, Donald McHenry teve este desabafo: "É justo salientar a actividade construtiva do presidente Agostinho Neto em relação ao problema da Namíbia! Conheço o resultado das negociações com o senhor Kurt Waldheim, secretário-geral das Nações Unidas. E sei também que o senhor Kurt Waldheim ficou com uma excelente impressão do presidente Agostinho Neto!"
sou o americano que mais vezes foi a Angola depois da independência..."
Quando o dr. Agostinho Neto se evadiu da prisão, em Portugal, lembra Arménio Ferreira, "eu mesmo fui buscá-lo à Praia das Maçãs". Para dar continuidade à operação que levaria Neto para o exterior, até à sua fixação em Kinshasa, República do Zaire. Aconteceu em 1961. Dezoito anos mais tarde, Agostinho Neto foi "buscar" Arménio Ferreira a Lisboa para seu emissário-estratega nas conversações com os americanos. Desconfiados do "comunismo" de Neto (e do MPLA).
O que o dr. Arménio constatou, face às declarações dos seus interlocutores, só poderia ser gratificante para António Agostinho Neto, chefe do Estado angolano. Donald McHenry, que sobraçava, na Administração norte-americana, o "dossier" da Namíbia, disse a Arménio ter gostado "imenso" do acolhimento que lhe havia sido dispensado, em Luanda, à sua chegada. "Instalaram-me numa casa maravilhosa", lembrou o alto funcionário de Washington. "Encantou-me aquela vista de sonho da baía de Luanda", disse ainda McHenry com manifesto enlevo.
Uma particularidade, que Arménio Ferreira sublinha: "As conversações, curiosamente, realizaram-se, no Departamento norte-americano de Estado, nos gabinetes de Andrew Young, precisamente um dia antes de este ter apresentado a sua demissão ao presidente Jimmy Carter".
Era a tarde de 16 de Agosto de 1979. Conversou-se muito sobre a tormentosa questão da Namíbia. E, em dado momento, Donald McHenry teve este desabafo: "É justo salientar a actividade construtiva do presidente Agostinho Neto em relação ao problema da Namíbia! Conheço o resultado das negociações com o senhor Kurt Waldheim, secretário-geral das Nações Unidas. E sei também que o senhor Kurt Waldheim ficou com uma excelente impressão do presidente Agostinho Neto!"
ENCANTADOS!
Donald Mc Henry foi mais longe, ainda, no reconhecimento da acção do presidente angolano: "O Governo dos Estados Unidos da América do Norte considera muito a acção construtiva do dr. Neto, relativamente à resolução do problema da Namíbia. Sem essa ajuda angolana a resolução seria, certamente, impossível!". E o alto funcionário da Casa Branca não se dispensou sequer de vaticinar: "Desejo que, entretanto, Angola ultrapasse os seus problemas internos, para que o seu presidente possa, enfim, dedicar-se profundamente à reconstrução económica e social do país". McHenry quis reconhecer, também, por outro lado, que o presidente Neto "falara grosso" para a SWAPO ter mais cuidado com as suas "movimentações no território namibiano".
No final das conversações, era ainda McHenry a dizer para Arménio Ferreira: "O presidente Carter e o secretário de Estado, Cyrus Vance, estão ao corrente de todas estas conversações e apreciam muito a colaboração que o dr. Arménio Ferreira tem prestado nesse sentido". E, depois, de regresso à "intimidade", McHenry deixou escapar: "Eu tenho um fraco por Angola. Provavelmente, eu sou o americano que mais vezes foi a Angola depois da independência. Já causa inveja a minha resistência de "globetrotter" aéreo... mas, do que eu realmente gostaria, se entretanto não morrer, era de ver normalizadas as relações entre o meu país e Angola"!
Num gesto fagueiro e cortês, Donald McHenry e Richard Moose enviaram telegramas e ramos de flores à esposa de Arménio Ferreira, entretanto internada numa clínica norte-americana.
No final das conversações, era ainda McHenry a dizer para Arménio Ferreira: "O presidente Carter e o secretário de Estado, Cyrus Vance, estão ao corrente de todas estas conversações e apreciam muito a colaboração que o dr. Arménio Ferreira tem prestado nesse sentido". E, depois, de regresso à "intimidade", McHenry deixou escapar: "Eu tenho um fraco por Angola. Provavelmente, eu sou o americano que mais vezes foi a Angola depois da independência. Já causa inveja a minha resistência de "globetrotter" aéreo... mas, do que eu realmente gostaria, se entretanto não morrer, era de ver normalizadas as relações entre o meu país e Angola"!
Num gesto fagueiro e cortês, Donald McHenry e Richard Moose enviaram telegramas e ramos de flores à esposa de Arménio Ferreira, entretanto internada numa clínica norte-americana.
(Dossier do JORNAL DE NOTÍCIAS)
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