sábado, 7 de janeiro de 2012

Benguela colonial . Seculo XIX

 
À  COMISSÃO  INSTALADORA da
ASSOCIAÇÃO  AMIGOS  DE  BENGUELA

Com especial atenção
ao Senhor José Augusto Bastos Júnior

AMIGOS

A “A.I.A.A.” – Associação Internacional Amigos de Angola regista o interesse da vossa Comissão para a constituição da Associação dos Amigos de Benguela (Angola) e põe à vossa disposição as condições necessárias de apoio jurídico e outras, que, por ventura, forem julgadas necessárias para o efeito.

Em conformidade com o livro “UMA EXPLORAÇÃO AFRICANA a NOVA LISBOA” de Albino Estevão de Victória-Pereira (então Tenente de Infantaria), publicado em 1820 na Marinha Grande pela Empresa Typográphica, transcrevemos o seguinte, sem comentários:
...” A Nação (fica) um pouco envergonhada, dos seus representantes votaram apenas na sessão das camaras de 1877, a proposta do Sr. Corvo, d’um subsídio de trinta contos de reis para uma viagem d’exploração Africana, para o que foram escolhidos os ilustres Srs. Capello-Ivens e Serpa Pinto, colocando aquelles beneméritos cavalheiros em sérias dificuldades, porque mais a mais a expedição foi dividida em duas; ...”
“Nessa data a impressão de Benguela era das mais agradáveis ao nível africano para quem só esperasse ver cubatas, Kilombos, armazéns e palhotas.”

Conta então  o Tenente Albino Estevão de Victória-Pereira no seu livro “Uma Exploração Africana a Nova Lisboa” mais o seguinte:

...”Bastantes casas construídas à eurpoea em ruas largas, formavam o bairro dos negociantes, e se este não tinha o cunho da elegância dos da moderna Paris, era contudo espaçoso e asseado; verdade seja que as melhores casas eram edifícios públicos, como o hospital, a alfandega, obra do governador Mendes Leite, a escola, a cadeia, a casa da Camara Municipal e a egreja matriz.”
“Como obra d’arte, tinha uma excelente ponte de ferro.”
“O bairro dos indígenas era, como são sempre os bairros dos não privilegiados da sociedade, como o célebre Pateo dos Milagres, a nossa antiga Alfama, a Mouraria, e outros de egual jaez; Vielleas immundas e infectas povoadas de palhoças miseráveis, sujas, sem conforto, davam guarida às inúmeras caravanas de bandombes, bailundos biénos, gauguellas e outros povos, que do interior ali veem fazer permutação de marfim, cera, borracha, dentes de cavallo marinho, pontas de abbada, liconte, cana d’assucar, anil, arroz, café, couqueiros, cajueiros, azeite de palma, ginguba, gomma copal, tamarinheiros, rícino, mel, pelles de pamthera, de tigre, de leão, de empalanca, de hyena, de leopardo, de lobo, de lontra, d’onça, de rapoza e de muitos outros animais, pennas d’águia, de manga, de veludo, de pavão, etc. e passarinhos de lindo matiz de cores e de melodioso canto muito estimados em toda a parte, tais como a bengulhinha, o bico de prata, o bico de lacre, o cardeal, o monsenhor, o palanque, a viuva, que trocam por fazendas, missangas, contas, polvora, armas de fogo, latão, bebidas alcoolicas e outras cousas de pequeno valor ...”
De mais adiante transcrevemos:
...”À noite ao chá, o governador contou aos seus hóspedes a história de BENGUELLA, e entre muitas cousas disse que Benguella fora fundada em 1617 por Manuel Cerveira Pereira, que até ali constituiu um REINO; que no reinado dos Filippes passou parte ao domínio dos hollandeses, que foi reconquistada em 1648, e forma hoje um distrito pertencente a Angola, com seis concelhos, Benguella, Camabatella, Dombe Grande, Quillengues, Caconda e Egito; que a população está calculada apesar de grandes variantes em 87.980 almas em todo o distrito, e na sua capital, S. Filippe em 2.400.”
“O governador teve a amabilidade de lhes mostrar a copia d’um documento muito raro, e de que existe o original no códice da real bibliotheca d’Ajuda, lançado a fl. 33 a fl. 39 v., intitulado «Relaçam da Conquista de Benguella» documento d’um grande valor para a nossa literatura histórica, digna da maior fé, escripto por um indivíduo que tomou parte n’aquella conquista, ...”
E continua mais adiante:
...”Que a antiga cidade fora em parte arrasada por filibusteiros francezes e reconstruída em 1700.”
“Que d’então para cá muitos melhoramentos se tinham feito e esperava se fizessem ...”
Depois ...
Na década de 1940, João da Chela, ilustre escritor, diz sobre BENGUELA:
...”Cerveira Pereira esteve para fundar Benguela em mais de um lugar. Com efeito, a planura do vale do Cavaco verde e sombreado atraía, e os montes, ao largo, de grande penúria de flora e cor, ficavam como guarda-costas de ventos, evitando pestes e correntes malignas. Foi, porém, enganosa a miragem da água. Farta de chuvas a terra da época que entrava em agonia, os pegos e pauis dos baixios, profundos por depósitos de enxurradas, cegaram de alegria e sedenta expedição. E não foram necessárias trabalhosas pesquisas da sonda. Mercê da quadra do cacimbo a avizinhar-se, a planura que se perdia à vista era fresca, airosa, sem calores que levassem da vida a gente com febres e pestes.”
“E ali se ergueu, alargou e progrediu a cidade de S. Filipe de Benguela, a que também chamaram Baía de Santo António, registando a história e sua fundação em 1617.”
E prossegue:
...”Endiabradas, a berrar progresso e triunfo dos heróis de novas batalhas, sobem e descem as “GARRATS” puxando longos vagons, em linha de ferro de 1350 quilómetros ...” do mar no Lobito até ao Congo Belga e daí até Moçambique (na Beira) e África do Sul.
... São, com efeito, de hoje estas realidades tocadas pela seiva e pelo impulso do sangue de ontem ...”, que fazem de Benguela a segunda principal cidade de Angola, depois de Luanda.

AMIGOS  BENGUELENSES:
A “A.I.A.A.” regista este acontecimento da Constituição duma Associação a ser formalizada juridicamente com a designação de ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DE BENGUELA, organização da responsabilidade de brancos, negros e mestiços, gente de bem !, na DIÁSPORA, como um facto que dignifica e honra todos os BENGUELENSES de ontem, de hoje e de sempre !

Lisboa, 23 de Agosto de 2002


De V. Exa.
Atenciosamente

Carlos Caldeira de Victória-Pereira
- Presidente -


Manuel Maria Caldeira de Potes Cordovil
- Vice Presidente –




BENGUELA

 


És terra de acácias  frondosas e floridas com cânticos estridentes da passarada e das cigarras loucas, mais enlouquecidas, pelo braseiro da canícula pesada.

Terra morena de estátuas vivas e vividas por seres de ébano, que passeiam na parada  das ruas largas e longas, de acácias vestidas, indo, vindo e ouvindo ali o orfeão da passarada.

Terra feita numa planície, que é como é !,  porta aberta de quem vai e volta do sertão, para lá de Quilengues e Caconda e Bié.

Nas tuas calemas, próprias de mares revoltos, há profundos gemidos de amor e paixão, quando os ventos uivantes são livres e soltos ...


Tapada das Mercês, 23 de Agosto de 2002
Carlos Caldeira de Victória-Pereira

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