À COMISSÃO
INSTALADORA da
ASSOCIAÇÃO AMIGOS
DE BENGUELA
Com especial
atenção
ao
Senhor José Augusto Bastos Júnior
AMIGOS
A
“A.I.A.A.” – Associação Internacional Amigos de Angola regista o interesse da
vossa Comissão para a constituição da Associação dos Amigos de Benguela
(Angola) e põe à vossa disposição as condições necessárias de apoio jurídico e
outras, que, por ventura, forem julgadas necessárias para o efeito.
Em
conformidade com o livro “UMA EXPLORAÇÃO AFRICANA a NOVA LISBOA” de Albino
Estevão de Victória-Pereira (então Tenente de Infantaria), publicado em 1820 na
Marinha Grande pela Empresa Typográphica, transcrevemos o seguinte, sem
comentários:
...”
A Nação (fica) um pouco envergonhada, dos seus representantes votaram
apenas na sessão das camaras de 1877, a proposta do Sr. Corvo, d’um subsídio de
trinta contos de reis para uma viagem d’exploração Africana, para o que foram
escolhidos os ilustres Srs. Capello-Ivens e Serpa Pinto, colocando aquelles
beneméritos cavalheiros em sérias dificuldades, porque mais a mais a expedição
foi dividida em duas; ...”
“Nessa
data a impressão de Benguela era das mais agradáveis ao nível africano para
quem só esperasse ver cubatas, Kilombos, armazéns e palhotas.”
Conta
então o Tenente Albino Estevão de
Victória-Pereira no seu livro “Uma Exploração Africana a Nova Lisboa” mais o
seguinte:
...”Bastantes
casas construídas à eurpoea em ruas largas, formavam o bairro dos negociantes,
e se este não tinha o cunho da elegância dos da moderna Paris, era contudo
espaçoso e asseado; verdade seja que as melhores casas eram edifícios públicos,
como o hospital, a alfandega, obra do governador Mendes Leite, a escola, a
cadeia, a casa da Camara Municipal e a egreja matriz.”
“Como
obra d’arte, tinha uma excelente ponte de ferro.”
“O
bairro dos indígenas era, como são sempre os bairros dos não privilegiados da
sociedade, como o célebre Pateo dos Milagres, a nossa antiga Alfama, a
Mouraria, e outros de egual jaez; Vielleas immundas e infectas povoadas de
palhoças miseráveis, sujas, sem conforto, davam guarida às inúmeras caravanas
de bandombes, bailundos biénos, gauguellas e outros povos, que do interior ali
veem fazer permutação de marfim, cera, borracha, dentes de cavallo marinho,
pontas de abbada, liconte, cana d’assucar, anil, arroz, café, couqueiros,
cajueiros, azeite de palma, ginguba, gomma copal, tamarinheiros, rícino, mel,
pelles de pamthera, de tigre, de leão, de empalanca, de hyena, de leopardo, de
lobo, de lontra, d’onça, de rapoza e de muitos outros animais, pennas d’águia,
de manga, de veludo, de pavão, etc. e passarinhos de lindo matiz de cores e de
melodioso canto muito estimados em toda a parte, tais como a bengulhinha, o
bico de prata, o bico de lacre, o cardeal, o monsenhor, o palanque, a viuva,
que trocam por fazendas, missangas, contas, polvora, armas de fogo, latão,
bebidas alcoolicas e outras cousas de pequeno valor ...”
De mais
adiante transcrevemos:
...”À
noite ao chá, o governador contou aos seus hóspedes a história de BENGUELLA, e
entre muitas cousas disse que Benguella fora fundada em 1617 por Manuel
Cerveira Pereira, que até ali constituiu um REINO; que no reinado dos Filippes
passou parte ao domínio dos hollandeses, que foi reconquistada em 1648, e forma
hoje um distrito pertencente a Angola, com seis concelhos, Benguella,
Camabatella, Dombe Grande, Quillengues, Caconda e Egito; que a população está
calculada apesar de grandes variantes em 87.980 almas em todo o distrito, e na
sua capital, S. Filippe em 2.400.”
“O
governador teve a amabilidade de lhes mostrar a copia d’um documento muito
raro, e de que existe o original no códice da real bibliotheca d’Ajuda, lançado
a fl. 33 a fl. 39 v., intitulado «Relaçam da Conquista de Benguella» documento
d’um grande valor para a nossa literatura histórica, digna da maior fé,
escripto por um indivíduo que tomou parte n’aquella conquista, ...”
E
continua mais adiante:
...”Que
a antiga cidade fora em parte arrasada por filibusteiros francezes e
reconstruída em 1700.”
“Que
d’então para cá muitos melhoramentos se tinham feito e esperava se fizessem
...”
Depois
...
Na
década de 1940, João da Chela, ilustre escritor, diz sobre BENGUELA:
...”Cerveira
Pereira esteve para fundar Benguela em mais de um lugar. Com efeito, a planura
do vale do Cavaco verde e sombreado atraía, e os montes, ao largo, de grande
penúria de flora e cor, ficavam como guarda-costas de ventos, evitando pestes e
correntes malignas. Foi, porém, enganosa a miragem da água. Farta de chuvas a
terra da época que entrava em agonia, os pegos e pauis dos baixios, profundos
por depósitos de enxurradas, cegaram de alegria e sedenta expedição. E não
foram necessárias trabalhosas pesquisas da sonda. Mercê da quadra do cacimbo a
avizinhar-se, a planura que se perdia à vista era fresca, airosa, sem calores
que levassem da vida a gente com febres e pestes.”
“E
ali se ergueu, alargou e progrediu a cidade de S. Filipe de Benguela, a que
também chamaram Baía de Santo António, registando a história e sua fundação em
1617.”
E
prossegue:
...”Endiabradas,
a berrar progresso e triunfo dos heróis de novas batalhas, sobem e descem as “GARRATS”
puxando longos vagons, em linha de ferro de 1350 quilómetros ...” do mar no
Lobito até ao Congo Belga e daí até Moçambique (na Beira) e África do Sul.
...
São, com efeito, de hoje estas realidades tocadas pela seiva e pelo impulso do
sangue de ontem ...”, que fazem de Benguela a segunda principal cidade de
Angola, depois de Luanda.
AMIGOS BENGUELENSES:
A
“A.I.A.A.” regista este acontecimento da Constituição duma Associação a ser
formalizada juridicamente com a designação de ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DE
BENGUELA, organização da responsabilidade de brancos, negros e mestiços, gente
de bem !, na DIÁSPORA, como um facto que dignifica e honra todos os
BENGUELENSES de ontem, de hoje e de sempre !
Lisboa,
23 de Agosto de 2002
De V.
Exa.
Atenciosamente
Carlos Caldeira de
Victória-Pereira
- Presidente -
Manuel Maria Caldeira de Potes Cordovil
- Vice Presidente –
BENGUELA
És terra de acácias frondosas e floridas com cânticos estridentes da passarada e das cigarras loucas, mais enlouquecidas, pelo braseiro da canícula pesada.
Terra morena de estátuas vivas e vividas por seres de ébano, que passeiam na parada das ruas largas e longas, de acácias vestidas, indo, vindo e ouvindo ali o orfeão da passarada.
Terra feita numa planície, que é como é !, porta aberta de quem vai e volta do sertão, para lá de Quilengues e Caconda e Bié.
Nas tuas calemas, próprias de mares revoltos, há profundos gemidos de amor e paixão, quando os ventos uivantes são livres e soltos ...
Tapada das Mercês, 23 de Agosto de 2002
Carlos Caldeira de Victória-Pereira
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