quarta-feira, 2 de maio de 2012

ANGOLA - COMANDOS ESPECIAIS CONTRA OS CUBANOS. PORQUE NÃO CONQUISTAMOS LUANDA

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É esta uma obra, já publicada em 1978, de Pedro Silva, Francisco Esteves e Valdemar Moreira e colaboração do então Ten. Cor. Gilberto Santos e Castro, sobre a acção dos próprios como Comandos Especiais em Angola e dos autores posteriormente em Moçambique, onde colaboraram na fundação da RENAMO.
Dela extraí 2 capítulos:
- PORQUE NÃO CONQUISTÁMOS LUANDA, em Download Gilberto Santos e Castro
- COMANDOS ESPECIAIS EM MOÇAMBIQUE, em Download Comandos Especiais em Moçambique
Veja também http://www.macua.org/livros/opcaoespada.html






PORQUE NÃO CONQUISTÁMOS LUANDA


Estamos em Agosto de 1975. Um pequeno grupo de portugueses desembarca em Angola para ajudar a impedir a sua entrega ao colonialismo soviético.
Eram poucos. Iriam porém, mostrar em valentia sem par e altruísmo sem preço, a vontade de todo o povo real que, perplexo e traumatizado, estava incapaz de reagir à mais aviltante farsa de toda a sua História. Em nome de um povo imaginário e de liberdades paranóicas — aliás tolhidas a cada passo em pesados preços de sangue e de fome — todos assistimos à maior mentira do século: a "independência" de Angola.

Qual Angola?

A que víramos próspera, virada ao futuro, na preocupação do bem estar das suas gentes, na riqueza da sua história, no valor da sua cultura, na grandeza e na dimensão do seu viver? Ou a que encontramos destruída, com os povos famintos a fugir de um lado a outro, para morrerem mais tarde? A que encontrámos em gritos de dor e pedindo a nossa ajuda, uma palavra de esperança, uma afirmação de que tudo era pesadelo e de que voltariam à tranquilidade do seu viver?

Qual independência?

A que trouxe a Angola a ocupação colonial por um exército estrangeiro, em flagrante conquista militar, sem quaisquer laços que liguem o povo aos ocupantes, para além da anuência de uma minoria dirigente e totalitária e porque um governo, em Lisboa — provisório mas definitivamente irresponsável — o consentiu também? O que pensa realmente deste facto trágico o povo português e desgraçadamente o que pensará o povo de Angola?

Foi um grupo pequeno que se bateu contra isto tudo. Merecem por isso o respeito e a consideração de todos os portugueses. Por se terem batido e porque se bateram bem.

Alguns pagaram cara a sua dádiva. E quando no pequeno cemitério do Ambriz desceram à terra, com toda a população a assistir em religioso silêncio, com as honras devidas e cobertos com a Bandeira
Portuguesa, repetia-se apenas o que ao longo dos séculos acontecera. Mais uma vez aquela terra acolhia generoso sangue português. Ali estivemos também, meditando e sentindo mais vontade para continuar.
A história deste livro, na simplicidade do relato de uma boa parte dos combates que tiveram de travar-se, dá bem conta do que foi essa luta. Não podemos, porém, deixar de recordar também com sentido respeito os que pelo sul de Angola e em combates de gigantes, libertaram sucessivamente Pereira de Eça, Sá da Bandeira, Moçâmedes e Lobito. Ali tombaram outros tantos, que recordamos com saudade e a maior veneração.

O relatar de uma guerra, na verdade dos factos e com humildade, é privilégio dos que sabem bater-se. É este o caso, na óptica de quem o soube fazer e fazer bem. A outra história, a dos basti-dores da intriga política, ficará para ser contada oportunamente. Ela terá de ser contada um dia e sê-lo-á...
Fomos derrotados naquela batalha, mas ven-cidos ainda não. Em Julho de 1975 os soldados cubanos começaram a desembarcar em Angola. Faltavam cinco meses para a independência estabelecida nos Acordos de Alvor, e o exército cubano, apoiado por material de guerra russo pesado e sofisticado (tanques e mísseis), começou a invadir Angola.

O povo português desconhecia em absoluto es-te facto, porque a Informação (imprensa, rádio e TV) "mais livre do mundo" simplesmente o ocul-tava. Aliás, em Julho de 75 tinha também co-meçado no norte do país o célebre "Verão quen-te". O povo andava atarefado em travar a escalada comunista e tinha perfeita consciência de que se o conseguisse a tempo, Angola nunca cairia sob o domínio soviético. Mas o povo do norte foi traído pelas mesmas pessoas que traíram os angolanos. Não foi por acaso que o "25 de Novembro" só aconteceu depois de consumado o "11 de Novem-bro", data da entrega oficial de Angola à Rússia.

A primeira importância deste livro, escrito por três Comandos Especiais que tive o orgulho de comandar, é a de provar, com a simplicidade de uma prova visível e concreta, que o exército cu-bano invadiu Angola antes da independência. Eu próprio comandei os combates que os Comandos Especiais travaram contra os cubanos em Angola, durante os meses de Agosto, Setembro, Outubro e Novembro de 1975... Só na parte norte de Luanda, para "defender" a cidade, estacionavam seis batalhões cubanos completamente equipados, ar-mados e municiados.Feita a prova desta terrível verdade, surge a segunda importância deste livro: — Quem au-torizou ou quem facilitou a entrada dos cubanos? Quem constituía, nessa época, o Poder em Por-tugal? Presidente da República, Governo e Con-selho da Revolução. Muitos membros-desses ór-gãos do Poder continuam hoje a ser governantes. Grande parte deles são os mesmos. Como é isto possível? Sobre os ombros desses homens pesa a responsabilidade da morte de milhares e milhares de homens, de mulheres e de crianças. Pesa ainda a gravíssima responsabilidade de terem impedido a libertação da nação angolana. Que povo pode ser livre, quando ocupado por um exército de 30 000 soldados estrangeiros?

Quem autorizou a entrada do exército cubano em Angola, quando o poder soberano ain-da pertencia (e pertenceria durante vários meses) ao governo português?

Enquanto esta pergunta não for respondida, que importância podem ter os escândalos em que se envolvem altas figuras do regime e o que podem significar os delitos, os compromissos ou os com-padrios que os levaram ao Poder?

Mas enquanto houver portugueses da raça destes Comandos Especiais que foram lutar contra os cubanos, aquela pergunta há-de ter uma res-posta. Não se saberá quando, mas terá de ser dada às centenas de milhar de mortos, aos que per-deram a dimensão de viver e aos que vagueiam apátridas e atónitos...
*
Visto à luz da História, os Comandos Especiais eram em número ridiculamente pequeno. Apenas um punhado de homens: pouco mais de uma cen-tena e meia.
Vieram de todos os cantos do mundo. Alguns tinham já sido Comandos, ao tempo da sua vida de militares em Angola ou em Moçambique.

Vieram espontaneamente. Nada lhes foi oferecido, e eles nenhumas condições impuseram. Claramente lhes foi dito que os Comandos Es-peciais iriam apenas ser a resposta altiva dum punhado de portugueses à cobardia e à traição dos que entregavam a Pátria às potências estrangeiras.
Vieram por sua própria e livre iniciativa, na louca esperança de ainda salvar o nosso povo duma desonra afrontosa e de uma perda irre-parável.

Logo no primeiro recrutamento surgiram aqueles que iriam constituir a mais extraordinária, a mais inconcebível, a mais desesperada força militar que alguma vez se propôs fazer frente ao
10império comunista: 156 homens dispondo de reduzidíssimo armamento, dependendo quase que exclusivamente de si próprios, pois o apoio logís-tico era praticamente inexistente. Estavam dispos-tos a enfrentar o MPLA comunista, mas não sabiam ainda que uma das mais poderosas má-quinas político-militares do mundo iria lançar abertamente todo o seu peso na luta a favor do MPLA. Igualmente ignoravam que as autoridades portuguesas iriam dar cobertura aos comunistas.

Mas mesmo que o soubessem, na altura em que se dispuseram a lutar para defender Angola da estratégia soviética, isso não os faria recuar.

Na realidade a acção desse punhado de ho-mens começou no Verão de 75. O "Verão Quente" de Angola.
Quando se verificaram os primeiros incidentes graves, em Maio/Junho de 75, em Luanda e nas áreas que impropriamente designaram como "zonas de influência", esses incidentes deram-se apenas entre os "movimentos de libertação", MPLA incluído.

A cruzada parecia fácil. Se os Comandos Especiais tivessem de enfrentar apenas o MPLA, as coisas teriam seguido um outro rumo: nunca os comunistas teriam tido a possibilidade de tomar conta de Angola. O Alto-Comissário que representava nessa al-tura o Governo Português em Angola teve uma ac-ção claramente definida: de acordo com a letra e o espírito dos tratados, não concedeu nem conce-deria qualquer privilégio especial a nenhum dos três movimentos. Fixada a data da independência de Angola para 11 de Novembro, seriam até lá tratados em plena igualdade as três forças que en-tre si disputavam a supremacia em Angola. Mas essa correcta e imparcial acção contrariava os secretos desígnios dos chefes comunistas. O Alto-Comissário juntamente com o Comandante Militar, foram chamados de urgência a Lisboa. Em contrapartida, Rosa Coutinho foi para Luanda. Por curiosa coincidência, precisamente na al-tura em que eu próprio cheguei também a Angola. Estávamos em Agosto: exactamente no dia 5, desse ano de 1975.

A situação ali já não constituía segredo para ninguém: desde Junho que cubanos e russos man-tinham, sem quaisquer preocupações de segredo, o seu Quartel-General em Luanda, na casa que fora do Administrador da Petrangol. Aí funcionava abertamente esse Quartel-General, com todas as secções e com todo o pessoal. Estávamos ainda então sob o controle do governo português, esse mes-mo governo que num tratado de cariz interna-cional acordara não dar nem permitir que fosse dada qualquer espécie de tratamento preferencial a nenhum dos três movimentos competidores.

No entanto os soldados cubanos desembar-cavam em vagas cada vez maiores em Luanda, nesse Verão de 75. Todo o material de guerra que consigo traziam, ali desembarcou à vista de toda a gente.

Quando os desembarques começaram a ser feitos em massa, em meados de Agosto, passaram a ter lugar em Novo Redondo. E era às claras que diariamente rolavam as colunas militares de sol-dados e material cubano e russo, rumo a Luanda. Quanto ao MPLA, o movimento que servia de cobertura a essa clara invasão comunista, estava completamente subordinado ao Quartel-General cubano de Angola.
Quem poderia ignorar estes factos? Na rea-lidade, ninguém. Nem em Angola nem mesmo nos países vizinhos. E muito menos o governo por-tuguês, ou pelo menos o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Mário Soares.

Foi na própria Emissora oficial de Angola — ainda sob a tutela de Portugal e das autoridades portuguesas — foi através da própria Emissora oficial que se fizeram constantes e insistentesapelos para que voluntários se apresentassem no cais para trabalhar na descarga desse material cubano e russo. E muitos foram os trabalhadores que acabaram por ser apanhados à força — bran-cos e negros — e obrigados a ir para o porto trabalhar forçadamente no desembarque desse material.

O facto dos Comandos Especiais terem lutado contra o MPLA — e contra os cubanos e russos que os apoiavam — ao lado de Holden Roberto, poderá levar a pensar que esse punhado de homens fazia parte da FNLA.

Não é verdade.

A FNLA serviu de ponto de apoio para esses homens, cujo único objectivo não era nem o da conquista de riqueza ou fortuna, nem sequer o de passageira glória. Era simplesmente o desejo de manter Angola como nação livre e sem interferên-cias estrangeiras no caminho do seu progresso.

Os Comandos Especiais e eu próprio demos o nosso apoio à FNLA, por ser essa a via mais rápida para tentarmos deter a avalanche comunista que ameaçava ocupar Angola.

Foi esse o teor do acordo inicial com Holden Roberto a quem clara e iniludivelmente afirmei que nunca seriamos enquadrados nas fileiras da FNLA — com o que ele plenamente concordou.

De resto — e importa que se diga — Holden Roberto mal conhecia a realidade de Angola.

Para todos nós, para os que ali tínhamos nascido ou os que dali tinham feito a sua terra-mãe, era quase chocante ver o espanto que Holden demonstrava perante o progresso duma terra que ele tinha esperado encontrar primitiva e escra-vizada, árida e abandonada como a propaganda estrangeira proclamava. Como nota curiosa, posso revelar que perante uma barragem (as Molubas) já colocada fora de uso por obsoleta e apta apenas a servir em curtos períodos de emergência de apoio à barragem que servia Luanda, vimos Holden abrir os olhos de espanto perante tão "extraordinária realização"...

Noutra ocasião, na Fazenda "Tentativa", Hol-den viu uma fábrica de açúcar também já ul-trapassada por não ter capacidade de laboração para a matéria prima que ali se produzia e que por tal motivo estava para ser desmanchada. Era uma fábrica que eu conhecia desde menino. Pois Hol-den Roberto não escondeu o seu espanto perante a sua "grandiosidade"...

Talvez por tudo isso, e também porque ele podia verificar que muitos de nós conhecíamos Angola desde Cabinda ao Cunene e que todos amávamos aquela terra que queríamos que continuasse a ser também nossa, talvez por isso ele nos respeitava e nos dava todo o apoio que podia.
No entanto todo o esforço desesperado desses homens que quiseram defender Angola do inimigo soviético se perdeu.

Ingloriamente, diga-se. Por vil traição.

Tanto os angolanos como os portugueses acreditaram que os representantes do governo português honrariam os seus compromissos de imparcialidade tal como haviam sido assumidos em Alvor. Não o fizeram. É já um facto historicamente comprovado que o governo português apoiou, muito antes da data da independência, a invasão dos cubanos, checos, húngaros e russos em Angola, tal como aprovou e consentiu no estabelecimento de quartéis e na distribuição de armamento, desde o mais simples ao mais sofisticado, desde as armas ligeiras aos mísseis russos, os célebres "órgãos de Staline"...

Quem permitiu, quem sancionou, quem colaborou nessa monstruosa traição que veio a culminar na entrega de Angola e Moçambique ao colonialismo soviético?

Gilberto Santos e Castro





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