A ideia deste post surgiu das fotos que descobri na Life Archive feitas por James Burke entre 04 de fevereiro e 17 de fevereiro de 1961, que foi quando se publicou a reportagem da Life Magazine. Pode-se concluir que James Burke estava em Luanda (como se diz no texto abaixo) e fez esta série de fotos enquanto estava à espera do paquete Santa Maria que tinha sido tomado de assalto em águas internacionais, nas Caraíbas por Henrique Galvão entre outros a 02 de janeiro de 1961 e que rumava a Luanda mas, afinal não veio porque tinha sido cercado por navios de guerra americanos e forçado a ir para Recife no Brasil. Ver post sobre o Santa Maria aqui.
Noticias no Diário de Lisboa em 4, 5 e 6 de fevereiro de 1961. Clique para poder ler.
A 4 de Fevereiro de 1961, teve lugar a primeira revolta organizada contra o regime colonial português, com o ataque à Cadeia de São Paulo e à Casa de Reclusão, em Luanda, onde se encontravam detidos vários independentistas. (...) A acção inseriu-se nos anseios da população e na necessidade de se passar a formas de luta que respondessem à rigidez da administração colonial. (...) Os participantes no ataque foram treinados sobre práticas, por exemplo como manejar os instrumentos que seriam utilizados, principalmente catanas, ou desarmar um sentinela, segundo relatos das testemunhas. Há um dado, também ele histórico, que diversas fontes apontam como importante para este desencadear da revolta, que foi a presença de vários jornalistas estrangeiros em Luanda. A imprensa internacional aguardava a chegada a Luanda do paquete Santa Maria, assaltado nas vésperas por Henrique Galvão num gesto contra o regime fascista de Oliveira Salazar. O Santa Maria não aportou em Luanda e os jornalistas estrangeiros preparavam-se para levantar âncora quando, no meio popular surgem alguns elementos a aproveitar a presença da imprensa internacional para dar destaque mundial a uma acção de revolta anti-colonial. Assim terá nascido, há 50 anos, o 4 de Fevereiro de 1961. (In, angola-luanda-pitigrili.com)
Noticias no Século e Diário de Lisboa em 6 e 7 de fevereiro de 1961. Clique para poder ler.
No livro “Angola 61, Guerra Colonial: causas e consequências”, (de Dalila Cabrita e Álvaro Mateus) são abordados em detalhe dois momentos fulcrais da guerra colonial em Angola: o 04 de fevereiro de 1961 e o 15 de março desse mesmo ano.
A 04 de Fevereiro foi quando um grupo de centena e meia de angolanos atacam uma esquadra e outras baluartes do regime, em Luanda, e o 15 de Março marca o início dos ataques sangrentos às fazendas organizados e levados a cabo por elementos da União dos Povos de Angola (UPA).
Sobre as duas datas, Dalila e Álvaro Mateus sustentam que o 04 de Fevereiro terá saído de “uma sociedade organizada por Domingos Manuel Agostinho” é de facto o romper com o colonialismo “um movimento nacional, já com a ideia da independência, em que não há distinção sobre a que movimento ou etnia pertencem os membros do grupo”. (In, angola-luanda-pitigrili.com)
Mas o «4 de Fevereiro» não iria acabar na manhã desse dia. Dias depois, logo após os funerais das vítimas, grupos de civis brancos organizavam autênticas batidas pelos musseques da periferia de Luanda e provocavam a morte a centenas de pessoas. Uma semana depois, o «filme» era retomado, mas em menor escala. Novos tumultos nas cadeias faziam sete mortos, todos presos, e mais 17 feridos. E novas incursões dos mesmos grupos de civis deixavam um lastro de sangue e provocavam um número elevado de vítimas mortais que nunca chegou a ser contabilizado. (In, angola-luanda-pitigrili.com)
No intervalo dos dois ataques, o governador-geral de Angola, Silva Tavares, resolvia fazer uma incursão pelos musseques — ou «bairros excêntricos», como eram descritos pela imprensa em Lisboa — acompanhado pela polícia e por jornalistas previamente escolhidos. Silva Tavares pretendia assim demonstrar que a situação se encontrava calma. Logo a seguir à visita, o governador lia uma mensagem, na Emissora Nacional, garantindo que reinava a calma em Luanda e recomendando às pessoas para acatarem as ordens e recomendações da polícia.
Reportagem de James Burke para a Life Magazine em 17 de fevereiro de 1961.
(fotos LIFE Archive)
Retirado DAQUI
1 comentário:
Ola,
Parabéns pelo blog!
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