terça-feira, 11 de março de 2008

3 - Introdução ao Estudo da História de Angola

3.4 Os Grandes Períodos da História de Angola


1. A Divisão da História em Períodos

A descrição e o estudo da evolução humana ao longo dos tempos é mais fácil de se compreender quando a dividimos em idades ou épocas distintas, pelas quais agrupamos um ou mais elementos fundamentais comuns.

Por outro lado, a passagem de uma época histórica para a próxima é em geral marcada por um salto qualitativo (uma revolução), geralmente com origem em melhoramentos significativos nas técnicas de produção de alimentos ou na técnica de fazer guerra, ou ainda na organização comercial ou político-militar.

É em geral fácil de reconhecer as mudanças no sistema económico (modo de produção) e nas mudanças das instituições sociais e políticas que demarcam um período do próximo que lhe segue.

Devido à condição específica e única da história de cada grupo humano a ser estudado, não é possível ter uma regra de periodização universal que se aplique às histórias individuais de todos os grupos humanos. Cada grupo humano ou região tem uma evolução única, diferente das histórias de todos os outros grupos humanos; de facto não há duas sociedades humanas com a mesma história.

Assim, a periodização da história de cada grupo humano a ser estudado tem sempre que atender às condições específicas da evolução desse grupo ao longo dos tempos. Assim, a periodização da História de Angola é necessariamente diferente da periodização da História do Brasil, por exemplo, em que ambas partilham a existência de um período colonial, mas encontramos no Brasil o Período do Império sem contraparte na História de Angola.

Contudo, à medida que resumimos e comparamos a história de dois ou mais grupos humanos distintos, podemos notar que certos padrões de evolução são relativamente constantes, o que nos permite agregar a história desses grupos humanos em grupos mais gerais, em que se torna mais fácil identificar essa história em períodos mais gerais. Assim, à medida que passamos de unidades históricas mais pequenas (tribos e povos) para maiores (reinos, impérios ou civilizações) notamos uma agregação dos períodos dessas sociedades em períodos mais gerais e mais globais.

Como exemplo, podemos dizer que apesar das condições específicas de cada povo a entrar na História de Angola, em tempos e processos diferentes, podemos identificar em geral um período antigo, um período pré-colonial, um período de contacto, e finalmente um período de absorção no todo angolano. Assim, o povo original deixou de o ser quando passou a fazer parte da unidade histórica a que chamamos Angola, como é o exemplo do Antigo Reino do Ndongo.


2. A Transição de um Período para o Próximo

É importante notar que a transição de um período histórico para o próximo não acontece numa data exacta ou de um dia para o outro; de facto, o processo de transição pode durar séculos e ser tão vagaroso que nem se nota qualquer transição.

Por vezes os historiadores adoptam um acontecimento extraordinário e marcável como o "momento" de transição de um período para o próximo, como é por exemplo a chegada da esquadra de Diogo Cão à foz do Zaire em 1483, como momento que define o começo do período colonial.

Contudo, no caso da História de Angola é difícil marcar com exactidão a data em que termina o período pre-colonial e quando começa o período colonial. Como marco do início do período colonial aponta-se em regra como acontecimento significativo a chegada da esquadra de Diogo Cão à foz do Zaire em 1483; mas se nos debruçarmos mais atentamente sobre esse acontecimento verificamos que os Portugueses não tinham inicialmente a intenção de colonizar Angola, mas sim encontrar riqueza mineral (as minas de prata de Cambambe e as minas de cobre do Sumbe Ambela), e só com o estabelecimento de Luanda e Massangano por Paulo Dias de Novais em 1576 e 1583, é que, formalmente, se estabeleceu a "colónia" portuguesa de Angola.

Por outro lado, temos ainda que considerar o facto de que a "absorção" de povos e estados africanos no todo angolano durou séculos a se realizar, pois apesar da conquista do Antigo Reino do Ndongo nos fins do Século XVI, a integração do estado Ambó não teve lugar até aos princípios do Século XX.


3. Periodização Eurocêntrica

Habituados que estamos com a periodização eurocêntrica da história universal de acordo com a evolução linear Pré-História - Antiguidade Clássica - Idade Média - Idade Moderna e Idade Contemporânea, é talvez com certa relutância que aceitamos que o mesmo modelo de periodização não se aplique à história da humanidade em África.

Porém, quando nos debruçamos sobre o seu estudo, torna-se imediatamente evidente que a história dos povos africanos seguiu por dezenas de séculos os seus próprios caminhos até se cruzar com os caminhos da Europa desde a época dos Descobrimentos Portugueses.

Mesmo depois do contacto e cruzamento hstórico com os Europeus a História de África seguiu um padrão único e distinto da História da Europa. Assim, como resultado da interacção entre os povos e estados da Europa e da África, encontramos na História de África um período colonial, que não encontramos na história dos povos ou estados da Europa.


4. O Factor Diversidade na História de África

É importante lembrar que a África não é uma unidade geográfica, cultural e histórica homogénea e coesa (decerto um mito eurocêntrico); muito pelo contrário, a África é talvez o continente no mundo com a maior diversidadeecológica e cultural, pois constatamos que existem diversas "Áfricas" muito distintas umas da outras e em que cada uma tem uma identidade muito própria.

Em África não só encontramos o maior deserto do mundo (o Sahara), como encontramos a extensa floresta equatorial, as praias quentes do seu litoral, como as neves eternas do Kilimanjaro; Em África não só encontramos os povos de compleição mais pequena (os pigmeus Mbuti da África Equatorial), como encontramos os homens mais altos do planeta (os Watutsi do Ruanda), os Bérberes do Sahara como também os Fang da floresta equatorial, ou o povo Malgache e os Khoisan da África Meridional.

Assim as grandes regiões africanas como o Magrebe, o Sudão, a África Ocidental (Sahel), a África Equatorial, a África Oriental, a África Central, a África do Sul e Madagáscar são regiões tão diferentes entre si, como a Índia o é da China, ou como Portugal o é da Suécia.

No caso particular da África Central, de que Angola faz parte, a periodização da sua história tem que ter em atenção a sua evolução humana específica na região ao longo de milénios, o que requer uma periodização própria.


5. Os Grandes Períodos da História de Angola

Assim organizei esta Viagem Pela História de Angola em grandes períodos ou épocas, na esperança de que a extensão dos tópicos se torne mais fácil de se compreender. Esta periodização é um pouco arbitrária e opaca, contudo é talvez a mais aceite pela maioria dos estudiosos da História de Angola. Assim sugiro que na História de Angola encontramos quatro grandes épocas distintas, a saber:


5.1 A Pré-História de Angola

A Pré-História de Angola, começa com a Idade da Pedra acaba com o fim do Período Neolítico - em geral de há quarenta mil anos até cerca do ano 1.000 depois de Cristo; cobrindo a proto-história dos povos pré-Bantos - Khoisan, Pigmeus, Cuissis, e Cuepes, que desde longa data habitam o actual território de Angola, até à chegada dos primeiros povos Bantos.

Por sua vez, o Período Pré-Histórico é geralmente dividido em épocas que incluem a Idade da Pedra, o Período Neolítico, e o povoamento do território pelos povos pré-Bantos Pigmeus, Khoisan, até à chegada dos primeiros povos Bantos à região no Séc.XIII, precursores do Antigo Reino do Congo.

Por norma, os Povos Cuíssis e Cuepes são classificados como pré-bantos, o que não quer dizer que existiam como povos diferenciados antes da chegada dos povos Bantos à região. Um número crescente de estudiosos partilha a opinião de que esses povos são de facto o resultado do cruzamento ou absorção de antigos grupos Khoisan pelos recém-chegados povos Bantos à região.


5.2 O Período Pré-Colonial

O Período Pré-Colonial, que começa com a Idade do Ferro, as grandes migrações dos povos Bantos, os reinos da savana, até termina na data da chegada dos Portugueses ao Antigo Reino do Congo em 1481 - desde cerca do ano 1.000 depois de Cristo até aos fins do Séc. XV, que inclui a época desde a chegada dos povos Bantos à região que hoje compreende o território de Angola no Séc. XIII e a chegada dos Portugueses nos fins do Séc. XV.

Foi durante o período Pré-Colonial que se formaram os primeiros estados Bantos na região pelos povos Ambundos e Bakongo
. Este período na história de África inclui a Idade do Ferro, a origem dos povos Bantos e as suas grandes migrações para a África Central e Meridional, os antigos impérios sudânicos, os potentados do Golfo da Guiné, e os antigos estados Bantos que se estabeleceram nas bacias dos rios Zaire, Cuanza, Queve (ou Cuvo), Zambeze, Cunene, Cubango, Cuíto e Cuando, e os reinos Bantos dos Grandes Lagos e da África Oriental e Meridional.


5.3 O Período Colonial


O Período Colonial, é definido pelos tempos de Angola colónia portuguesa - de 1483 a 1975; O
Período Colonial, começa com a chegada dos Portugueses ao Zaire em 1481 e termina com a Independência de Angola em 1975. O Período Colonial pode ser dividido em três épocas distintas:

a) Primeiro Período - A Época da Conquista Portuguesa - Desde os primeiros contactos com os Portugueses que chegaram ao Antigo Reino do Congo em 1481 e a eventual conquista do Antigo Reino do Ndongo e a fundação de Luanda em 1576 e o estabelecimento dos fortes portugueses de Massangano em 1583 e Muxima em 1594 ao longo do curso do Rio Cuanza. Durante este período, a presença portuguesa era dominada pela procura das famosas minas de prata de Cambambe e do Sumbe Ambela, e em menor grau, pelo crescente tráfico de escravos para São Tomé, Europa e Brasil.

b) Segundo Período - A Época do Tráfico de Escravos, inicialmente orientada para os engenhos de açúcar de São Tomé, ainda nos fins do Séc. XVI, e depois para os engenhos de açúcar do litoral brasileiro (Maranhão, Pernambuco e Bahia) até aos finais do Sec. XVII, e mais tarde para as minas de ouro e diamantes de Minas Gerais e São Paulo. Depois da independência do Brasil em 1822 a exportação de escravos de Angola foi em parte orientada para os Estados Unidos e para Cuba, embora a maioria dos escravos continuasse a ser absorvido pelo Brasil (Rio de Janeiro), já depois da abolição da escravatura em 1836 em Angola e até 1888, ano da proclamação da Lei Áurea no Brasil.

c) Terceiro Período - A Época de Exploração de Produtos Coloniais (produtos tropicais e minérios - mel, borracha, açúcar, café, algodão, tabaco, milho, diamantes, ferro, e petróleo) que começou em 1845 com o consulado do Governador Pedro Alexandrino da Cunha em 1845 e terminou com a independência de Angola em 1975.

Foi durante este período que a ocupação efectiva do território pelos Portugueses se completou através das Campanhas Militares de Ocupação entre 1851 e 1925 (no contexto do imperialismo europeu e da Corrida à África), e a colonização branca do território se realizou, com a exploração mais intensa dos recursos agrícolas e mineiros.


5.4 Angola Estado Independente

Angola como estado soberano, depois da Independência, depois de 1975 até aos dias de hoje (2008). Angola Estado Soberano, começa com a descolonização de África, passando pela luta de libertação nacional, descolonização portuguesa, Independência, breve experiência marxista-leninista, Guerra Civil, petróleo bruto e diamantes e cleptocracia e corrupção, e por fim Angola em paz e em desenvolvimento.

inhttp://introestudohistangola.blogspot.com/2006/05/34-os-grandes-perodos-da-histria-de.html

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