domingo, 30 de novembro de 2008

Holocausto em Angola

Livro: Holocausto em Angola


Finalmente, a Verdade começa a vir ao de cima.
Era uma questão de tempo.
Demasiado tarde, na minha opinião, pois Portugal já não existe! Agora, é West Coast of Europe!!! E Angola, está despedaçada pela pata do colonialismo americano.Eis mais um livro sobre a descolonização exemplar ou, como dizem agora, a descolonização possível.
A traição está consumada e os responsáveis ficaram impunes face à justiça democrática! Mas, que não se esqueçam que acima da justiça humana está a Justiça Divina!
Como não creio quer em Léon Bloy que afirmava que Deus estava de braços cruzados, nos confins do céu; quer em Nietzsche que dizia que Deus tinha morrido, acredito, sim, em
Céline que asseverava que Deus está em reparação!
Após um silêncio editorial de quase trinta anos - sim, porque muito livro entre 1975 e 1980 foi publicado. A lista é extensa para ser divulgada, mas um dia fá-lo-ei - a editora Prefácio começou a publicar livros sobre a descolonização, como os da autoria do General Silva Cardoso ("
Angola, Anatomia de uma tragédia" (editado pela Oficina do Livro) e "25 de Abril de 1974, a revolução da perfídia"), do tenente-coronel António Lopes Pires Nunes ("Angola 1961 - Da baixa do Cassange a Nambuango"), do coronel Manuel Amaro Bernardo ("Combater em Moçambique (1974-1975)", "Memórias da Revolução (1974-1975)", é dado agora à estampa pelas Edições Vega, "Holocausto em Angola -Memórias de entre o cárcere e o cemitério", de Américo Cardoso Botelho, (v. Público, de 13.04.2008):

«Angola é nossa!
Só hoje me chegou às mãos um livro editado em 2007, Holocausto em Angola, da autoria de Américo Cardoso Botelho (Edições Vega). O subtítulo diz: "Memórias de entre o cárcere e o cemitério". O livro é surpreendente. Chocante. Para mim, foi. E creio que o será para toda a gente, mesmo os que "já sabiam". Só o não será para os que sempre souberam tudo. O autor foi funcionário da Diamang, tendo chegado a Angola a 9 de Novembro de 1975, dois dias antes da proclamação da independência pelo MPLA. Passou três anos na cadeia, entre 1977 e 1980. Nunca foi julgado ou condenado. Aproveitou o papel dos maços de tabaco para tomar notas e escrever as memórias, que agora edita. Não é um livro de história, nem de análise política. É um testemunho. Ele viu tudo, soube de tudo. O que ali se lê é repugnante. Os assassínios, as prisões e a tortura que se praticaram até à independência, com a conivência, a cumplicidade, a ajuda e o incitamento das autoridades portuguesas. E os massacres, as torturas, as exacções e os assassinatos que se cometeram após a independência e que antecederam a guerra civil que viria a durar mais de vinte anos, fazendo centenas de milhares de mortos. O livro, de extensas 600 páginas, não pode ser resumido. Mas sobre ele algo se pode dizer.
O horror em Angola começou ainda durante a presença portuguesa. Em 1975, meses antes da independência, já se faziam "julgamentos populares", perante a passividade das autoridades. Num caso relatado pelo autor, eram milhares os espectadores reunidos num estádio de futebol. Sete pessoas foram acusadas de crimes e traições, sumariamente julgadas, condenadas e executadas a tiro diante de toda a gente. As forças militares portuguesas e os serviços de ordem e segurança estavam ausentes. Ou presentes como espectadores.
A impotência ou a passividade cúmplice são uma coisa. A acção deliberada, outra. O que fizeram as autoridades portuguesas durante a transição foi crime de traição e crime contra a humanidade. O livro revela os actos do Alto-Comissário Almirante Rosa Coutinho, o modo como serviu o MPLA, tudo fez para derrotar os outros movimentos e se aliou explicitamente ao PCP, à União Soviética e a Cuba. Terá sido mesmo um dos autores dos planos de intervenção, em Angola, de dezenas de milhares de militares cubanos e de quantidades imensas de armamento soviético. O livro publica, em fac simile, uma carta do Alto-Comissário (em papel timbrado do antigo gabinete do Governador-geral) dirigida, em Dezembro de 1974, ao então Presidente do MPLA, Agostinho Neto, futuro presidente da República. Diz ele: "Após a última reunião secreta que tivemos com os camaradas do PCP, resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do plano. Não dizia Fanon que o complexo de inferioridade só se vence matando o colonizador? Camarada Agostinho Neto, dá, por isso, instruções secretas aos militantes do MPLA para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando, a fim de provocar a sua debandada de Angola. Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos para desanimar os mais corajosos. Tão arreigados estão à terra esses cães exploradores brancos que só o terror os fará fugir. A FNLA e a UNITA deixarão assim de contar com o apoio dos brancos, de seus capitais e da sua experiência militar. Desenraízem-nos de tal maneira que com a queda dos brancos se arruíne toda a estrutura capitalista e se possa instaurar a nova sociedade socialista ou pelo menos se dificulte a reconstrução daquela".
Estes gestos das autoridades portuguesas deixaram semente. Anos depois, aquando dos golpes e contragolpes de 27 de Maio de 1977 (em que foram assassinados e executados sem julgamento milhares de pessoas, entre os quais os mais conhecidos Nito Alves e a portuguesa e comunista Sita Valles), alguns portugueses encontravam-se ameaçados. Um deles era Manuel Ennes Ferreira, economista e professor. Tendo-lhe sido assegurada, pelas autoridades portuguesas, a protecção de que tanto necessitava, dirigiu-se à Embaixada de Portugal em Luanda. Aqui, foi informado de que o vice-cônsul tinha acabado de falar com o Ministro dos Negócios Estrangeiros. Estaria assim garantido um contacto com o Presidente da República. Tudo parecia em ordem. Pouco depois, foi conduzido de carro à Presidência da República, de onde transitou directamente para a cadeia, na qual foi interrogado e torturado vezes sem fim. Américo Botelho conheceu-o na prisão e viu o estado em que se encontrava cada vez que era interrogado. Muitos dos responsáveis pelos interrogatórios, pela tortura e pelos massacres angolanos foram, por sua vez, torturados e assassinados.
Muitos outros estão hoje vivos e ocupam cargos importantes. Os seus nomes aparecem frequentemente citados, tanto lá como cá. Eles são políticos democráticos aceites pela comunidade internacional. Gestores de grandes empresas com investimentos crescentes em Portugal. Escritores e intelectuais que se passeiam no Chiado e recebem prémios de consagração pelos seus contributos para a cultura lusófona. Este livro é, em certo sentido, desmoralizador. Confirma o que se sabia: que a esquerda perdoa o terror, desde que cometido em seu nome. Que a esquerda é capaz de tudo, da tortura e do assassinato, desde que ao serviço do seu poder. Que a direita perdoa tudo, desde que ganhe alguma coisa com isso. Que a direita esquece tudo, desde que os negócios floresçam. A esquerda e a direita portuguesas têm, em Angola, o seu retrato. Os portugueses, banqueiros e comerciantes, ministros e gestores, comunistas e democratas, correm hoje a Angola, onde aliás se cruzam com a melhor sociedade americana, chinesa ou francesa.
Para os portugueses, para a esquerda e para a direita, Angola sempre foi especial. Para os que dela aproveitaram e para os que lá julgavam ser possível a sociedade sem classes e os amanhãs que cantam. Para os que lá estiveram, para os que esperavam lá ir, para os que querem lá fazer negócios e para os que imaginam que lá seja possível salvar a alma e a humanidade. Hoje, afirmado o poder em Angola e garantida a extracção de petróleo e o comércio de tudo, dos diamantes às obras públicas, todos, esquerdas e direitas, militantes e exploradores, retomaram os seus amores por Angola e preparam-se para abrir novas vias e grandes futuros. Angola é nossa! E nós? Somos de quem?

António Barreto»

P.S. - Pilhado com a devida vénia d`O Sexo dos Anjos.
Um reparo às afirmações de António Barreto: "Que a direita perdoa tudo, desde que ganhe alguma coisa com isso. Que a direita esquece tudo, desde que os negócios floresçam."
Assim é, na realidade, mas essa direita a que se refere, a direita muito direitinha é a tal que só interessa à esquerda e com ela (con)vive! É a direita das negociatas que se está a marimbar para a Pátria, para a Soberania, para o Povo! Essa, a direita do sistema económico-financeiro que tudo vende e troca por meia dúzia de tostões, quero dizer, dólares!

“SE NECESSÁRIO O EXÉRCITO ATIRARÁ SOBRE OS COLONOS BRANCOS”

November 12, 2008

“SE NECESSÁRIO O EXÉRCITO ATIRARÁ SOBRE OS COLONOS BRANCOS”

Entrevista a Mário Soares, Ministro dos Negócios Estrangeiros

O Ministro dos Negócios Estrangeiros português Mário Soares sobre a descolonização em África

SP – Sr. Ministro, o Governo Provisório está em vias de conceder a independência às colónias da Guiné-Bissau, Angola e Moçambique. Há portugueses que se interrogam se este Governo de Transição, que não foi eleito pelo povo, mas empossado por um golpe militar, tem legitimidade para tomar uma decisão tão histórica.

MS – Isso nos perguntámos logo a seguir à revolução de 25 de Abril. Ponderamos se a descolonização se deveria fazer apenas após eleições regulares. Mas verificou-se que o problema era candente, que dificuldades e demoras surgiam no processo. E assim convencemo-nos que precisávamos de nos apressar.

SP – Há portugueses que julgam que o Sr. se tenha apressado demais – como em tempos os belgas ao se retirarem do Congo.

MS – Estamos há 3 meses no governo, e entretanto fizemos contactos e progressos, mas não creio que tenhamos sido demasiado apressados. Pelo contrário. A situação em Angola, que nos últimos tempos se tornou explosiva, prova que talvez não tivéssemos andado suficientemente depressa.

SP – Sobre as condições de independência o Sr. negoceia exclusivamente com os movimentos de libertação africanos. Na sua opinião eles são os únicos legítimos representantes das populações nas colónias?

MS – Bem, se quisermos fazer a paz – e nós queremos sem demora a paz – temos que falar com os que nos combatem. Isto não implica uma avaliação política ou ética dos movimentos de libertação, mas resulta da apreciação pragmática de determinada situação. E quem nos combate na Guiné? O PAIGC. Assim temos de falar com o PAIGC. Quem nos combate em Moçambique? A Frelimo. Assim temos de falar com a Frelimo.

SP – E com quem pode o Sr. negociar em Angola onde existem vários movimentos rivais?

MS – Em Angola há dois movimentos de libertação reconhecidos pela OUA – o MPLA e a FNLA. Assim temos de negociar com ambos. Para avaliar qual dos dois é o mais representativo do povo é um problema que os Angolanos e as coligações que no futuro formarão governo terão de resolver mais tarde.

SP – Acredita que esses movimentos e em particular os ainda discutíveis têm suficiente autoridade de impor a solução que vai ser negociada.

MS – Esperamos que sim. Mas o processo de descolonização em Portugal, no formato, não deverá decorrer de modo muito deferente do da Inglaterra e França.

SP – Na Argélia havia um movimento de libertação muito forte, como no Kénia e sem dúvida também na Guiné-Bissau e Moçambique. Mas e em Angola?

MS – Sim, na verdade em Angola a situação é difícil devido às divisões dentro dos movimentos. E nós não podemos alterar aí quase nada. Estamos prontos a falar com cada uma das facções e, dentro das nossas possibilidades, procurar que se unam. Mas não temos muitas ilusões, as nossas possibilidades de intervir aqui são muito limitadas.

SP – Se o processo de descolonização português correr como o inglês ou o francês, na sua opinião qual será a tendência a seguir - como no Kénia que seguiu a via capitalista, ou como a Zâmbia que tenta uma espécie de socialismo africano?

MS – Eu julgo que é sempre perigosa a transposição de modelos estranhos. Mas, de momento, parece-me que a evolução em Moçambique será semelhante à da Zâmbia. Noutras regiões poderá haver outras soluções. Quando falei da semelhança do nosso processo de descolonização com o inglês ou o francês, pensei mais nas linhas gerais – que nós, como potência colonial, como os ingleses e os franceses, devíamos negociar com os movimentos fortes a operar nas colónias.

SP – E o que virá depois das negociações?

MS – Parece-nos importante que as populações sejam consultadas e que, depois do domínio português, não lhes seja imposto outro domínio que poderá não ter a maioria. Gostaríamos que a liberdade da população fosse garantida e assegurada. Mas temos nós, como antiga potência colonial, autoridade bastante para discutir isso? A nós parece-nos isso muito problemático. Por outro lado, o PAIGC e a Frelimo são movimentos de libertação que em anos de luta renhida pela independência ganharam indiscutível autoridade. Eles têm chefes muito qualificados e conscientes das responsabilidades. Com quem mais, a não ser com eles, deveremos negociar?

SP – Sente-se o novo governo português também responsável por aqueles milhares de africanos que, por motivos diversos, colaboraram com o anterior regime?

MS – Certamente que nos sentimos responsáveis por essa parte da população e sobre o seu destino já se falou por diversas vezes nas conversações. No caso concreto da Guiné, onde o processo está mais avançado, tencionamos, por exemplo, repatriar para Portugal os ex-combatentes africanos que o queiram por não se conseguirem integrar na nova República independente.

SP – Quantas pessoas são essas?

MS – Sabemos de cerca de 30 antigos comandos que aos olhos do PAIGC representam um certo perigo. Para estas pessoas temos de encontrar uma solução qualquer – talvez integrá-los nas forças armadas portuguesas ou coisa semelhante.

SP – Acredita que do lado dos movimentos de libertação exista a boa vontade de não exercer represálias contra os colaboradores africanos do antigo regime?

MS – Sim, isso foi-me espontaneamente assegurado, mesmo antes de nós termos levantado o problema. Também nos deram certas garantias, os movimentos de libertação não são racistas. Eles estão conscientes dos imensos problemas que terão de enfrentar e não querem comprometer já a sua vida política com crueldades e actos de vingança.

SP – No entanto, a “Voz da Frelimo” emissora do movimento para Moçambique tem, nas passadas semanas, por diversas vezes apelado aos soldados pretos para desertarem das tropas portuguesas, sob pena de ajuste de contas após a independência.

MS – Uma guerra, infelizmente não é um jogo de cavalheiros nem um concurso hípico com regras éticas fixas. Tais excessos verbais e ameaças são lamentáveis, mas também muito naturais. Na verdade, não sei se essas ameaças foram feitas, mas considero-as possíveis. Mas até agora tivemos na Guiné e em Moçambique – em Angola ainda não – uma impressionante onda de confraternização e tudo tem corrido muito melhor do que seria de esperar depois de 13 anos de guerra.

SP – Muitos brancos nas colónias portuguesas sentem-se traídos por Lisboa. Com razão?

MS – Se acreditou nos slogans do antigo regime – que Angola é nossa e sê-lo-á para sempre, e que não são colónias mas simplesmente províncias ultramarinas – então terá razão em sentir-se traído. Mas, na realidade, a traição é do regime de Salazar e Caetano que quiseram fazer esta gente acreditar que seria possível oferecer resistência ao mundo inteiro e à justiça.

SP – Qual será o futuro destes brancos desiludidos, se, apesar de tudo, quiserem permanecer em África?

MS – Se forem leais para com os novos Estados independentes na cooperação e respeitarem as suas leis, não têm nada a temer. Na Guiné, por exemplo, o próprio movimento de libertação exortou-nos a deixar os nossos técnicos, médicos, engenheiros e agrónomos, porque precisavam deles. É cómico: a extrema esquerda portuguesa exigia a nossa saída imediata, total e sem condições, mas os próprios movimentos de libertação não exigiram nada disso.

SP – O que será dos brancos que não querem ficar em África? Em Moçambique já se iniciou entre os brancos um grande movimento de fuga.

MS – É verdade. Mas estou certo que dois anos após a independência e quando as instituições do País funcionarem razoavelmente, haverá mais portugueses, em Moçambique, que hoje. Isto é, aliás, um fenómeno geral. O Presidente Kaunda da Zâmbia disse-me, quando estive em Lusaka: ” Saiba que temos aqui na Zâmbia o dobro dos ingleses que tínhamos antes da independência”.

SP – E o Sr. acredita que isso também acontecerá em Moçambique?

MS – Sim. Primeiro virão muitos para Portugal, porque têm medo, mas depois regressarão.

SP – E em Angola?

MS – Ali ainda não há muitos que abandonaram o País. Ali generaliza-se entre os brancos uma atitude perigosa. Precisamos de convencer os brancos, no seu próprio interesse, que fiquem, mas já não como patrões, como até agora.

SP – Apesar disso Portugal tem de contar com o regresso de muitos. Como irão resolver o caso?

MS – Isto é para nós um problema económico muito sério, pois não é apenas o regresso dos colonos brancos mas também os soldados – cerca de 150.000 a 200.000 homens que regressam duma assentada. Acrescem ainda os imigrantes que querem regressar desde que Portugal é livre. O assunto está a ser estudado pelo Ministério da Economia e Finanças. Temos de criar novos postos de trabalho, mas isso significa igualmente a reestruturação da totalidade da economia portuguesa, que vai precisar de se adaptar às sociedades industriais modernas.

SP – Não existem portanto planos concretos para absorver os retornados?

MS – Há investigações adiantadas.

SP – Entre os brancos que não querem regressar a Portugal, tenta-se criar um exército de mercenários para se opor aos movimentos de libertação. Em Angola, nos últimos tempos, radicais brancos de direita provocaram confrontos raciais sangrentos. Pode Lisboa impedir que tais brancos, especialmente em Angola, tomem o poder?

MS – Eu penso que sim.

SP – Como?

MS – O exército em Moçambique e em Angola é completamente leal para com os que fizeram a Revolução de 25 de Abril. E o exército não permitirá que mercenários brancos ou grupos semelhantes se levantem contra o exército. Tentativas haverá. Em Moçambique já as houve.

SP – E em Angola onde vivem mais do dobro dos brancos e um terço menos de pretos que em Moçambique?

MS – Em Angola haverá certamente uma série de situações mais ou menos desesperadas e tensões perigosas entre as raças. Apesar disso, julgo que por ora o exército pode e fará manter a ordem – a ordem democrática.

SP – Portanto, se necessário, o exército português fará fogo sobre portugueses brancos?

MS – Ele não hesitará e não pode hesitar. O exército já mostrou que tem mão forte e quer manter a ordem a todo o custo

SP – Apesar do exército, não se pode excluir a hipótese de os brancos se declararem independentes, como na Rodésia. Pelo menos Angola podia tentar mesmo economicamente uma tal solução.

MS – De princípio, nos primeiros momentos da Revolução tive muito receio que tal pudesse acontecer. Mas quanto mais o tempo passa, mais difícil se tornará uma tal tentativa.

SP – Suponhamos, no entanto, que tal venha a acontecer – reagiria Lisboa como Londres, na altura, tentando impor um bloqueio económico?

MS – Não creio que em Angola exista uma solução rodesiana, mas se tal acontecesse combatê-la-íamos com todas as nossas forças, pois uma tal solução seria para África e para o Mundo uma aventura inaceitável.

SP – Também se pensou isso no caso da Rodésia e, no entanto, não se pôde evitar.

MS – Para nós tal solução é improvável a não ser que tivéssemos um golpe de direita aqui em Portugal. Nós – este governo democrático – não permitirá que tal solução rodesiana aconteça em Angola ou Moçambique. Eu repito! Nós combatê-la-emos com todos os meios ao nosso dispor.

SP - Porquê?

MS – Porque isso poria em causa todo o nosso processo de descolonização, a nossa credibilidade, e a nossa boa vontade. E porque com uma tal solução até o regresso do fascismo poderia ser encaminhado em Portugal.

SP – Do ponto de vista económico a perda da Guiné e de Moçambique são um alívio para Portugal. Angola, no entanto, com os seus diamantes, petróleo, café trouxe para Portugal as tão necessárias divisas. Pode Portugal dar-se ao luxo de perder essa fonte de divisas?

MS – Todas estas receitas não compensavam os custos de guerra. Nós gastávamos cerca de 2 biliões de marcos por ano com a guerra. O que pouparmos com o fim da guerra compensa plenamente a perda dessas divisas, que de qualquer modo, acabavam na maior parte nos bolsos dos americanos, alemães e ingleses.

SP – Lisboa irá ajudar no futuro as suas antigas colónias? Concretamente: -Se Moçambique independente resolvesse impedir o trânsito de mercadorias da Rodésia para Lourenço Marques ou Beira para exercer pressão política sobre o regime branco de Salisbury, estaria Portugal disposto a compensar Moçambique pela perda de divisas que tal operação acarretaria?

MS – Os nossos meios são escassos, temos de ter em atenção a nossa muito tensa situação económica. Mas, dentro das nossas possibilidades, ajudaríamos, numa tal situação.

SP – No seu livro “Portugal e o Futuro”, o general Spínola propunha uma espécie de comunidade portuguesa como forma de cooperação futura entre Lisboa e África. Os movimentos de libertação não deram qualquer importância à ideia. Como serão as futuras relações entre Lisboa e África?

MS – O discurso pragmático proferido pelo general Spínola em 27 de Julho sobre o futuro das colónias está muito distante da concepção do seu livro. Se, algum dia, uma espécie de comunidade dos países lusófonos se verificar, só na condição de todos os países serem realmente independentes. E seriam então os países africanos a dizer até que ponto tal associação poderia ir.

SP – Sr. Ministro, muito obrigado pela entrevista.

in: “Der Spiegel” - Nº 34/1974

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III") - A ESCRAVATURA - UMA TRAGÉDIA UNIVERSAL

BATISTAS PEDEM PERDÃO PELA ESCRAVATURA


"Oferecemos nossas desculpas a Deus e a nossos irmãos e irmãs por toda a dor que causamos, originada no horror da escravatura". Leia em ALC NOTÍCIAS.
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AO GOVERNO DE PORTUGAL CABERIA SEGUIR O EXEMPLO. Toda forma de opressão e exploração humana deve ser abominada pelos verdadeiros cristãos! Nao chega encostarmo.nos ao humanismo cristao!

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III") - A ESCRAVATURA - UMA TRAGÉDIA UNIVERSAL


-----(TRANSCRIÇÕES PARCIAIS) DE : -----


===== A) - OBRAS DO AUTOR :


-- a) - "DO TEJO GRANDIOSO AO ZAIRE PODEROSO" - Poema Épico - 1º Volume - 2ª Edição -
--- CANTO SEXTO : "O DRAMA DA ESCRAVATURA" - ANOTAÇÕES (Referentes a muitas das suas estâncias,num total de 698) :

... 1 ) - "Muitos escravos foram retomados
... Que eram vendidos em boa quantidade,
... Sendo pra novas terras embarcados
... Que deles havia lá necessidade.
... Mas os poderes régios contrariados
... Logo os mandavam de volta à sua herdade,
... Sendo caso de má e desleal conduta,
... Não fosse obra feia, de filhos de puta!"

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== (1) - A África deve ter sido realmente o continente onde o homem surgiu pela primeira vez. Não é de admirar que tenha tido um papel preponderante na evolução humana, mesmo pré-histórica.
- A palavra escravo provém do facto dos eslavos (Europa Central) serem vendidos na Idade Média. A escravatura já existia há séculos na Europa e na Ásia, com várias categorias de escravos, em especial os domésticos e os de guerra,sobre os quais havia mesmo o direito de dispor de suas vidas.
-- ..."Foi ela sem dúvida um dos fardos mais pesados que oprimiu a África e constitui uma das mais tristes recordações da Europa -- e também dos países árabes -- sobre este continente...
... A escravatura parece ser quase tão velha como a humanidade, pois a encontramos em quase todos os povos antigos e sabe-se quanto ela pesou na sociedade do império romano, de refinada civilização" ... (em : "Angola, cinco séculos de Cristianismo", de D.Manuel Nunes Gabriel.

-- ... "A escravatura não foi trazida pelos europeus para a África, pois ela já existia mais ou menos em quase todos os africanos"...(da mesma obra).

== 2) - ..."Negociantes de TOMBOCTU e do mercado do deserto em Waden, traziam escravos e ouro em pó à feitoria de D.Henrique em Arguim, recebendo em troca trigo e panos brancos, albornozes, mercadorias europeias, enviadas pelo Infante num navio" ... "As caravelas de Portugal, seguindo o seu rumo ao longo da costa africana, já se não anunciavam pela violência, mas por ofertas de amizade e trocas justas com os indígenas dessas terras"... -(em "Descobrimentos Henriquinos", de E.Sanceau.)

-- "...O príncipe D.Henrique ordenou que as suas caravelas fossem armadas para a paz e para a guerra, ao país da Guiné, onde as gentes são extremamente negras"... (em "Crónicas", de Diogo Gomes).

-- O tráfico de escravos desencadeado pelos portugueses ao longo da costa africana não foi uma acção premeditada; foi surgindo à medida que faziam as conquistas ou até, ao princípio, por curiosidade, pela presença de povos desconhecidos e pela conveniência de justificativo dos lugares então alcançados. O principal objectivo do Infante seria talvez o de alcançar o reino cristão do misterioso Preste João para propagar a doutrina católica e combater o restante povo infiel.

-- "... Não consente o Senhor Infante que se faça dano a nenhum deles"...(em "Navegações", de Alvisse Cadamosto).

== 3 )-..."As expedições africanas faziam-se "por serviço de Deus e do Infante Nosso Senhor, e honra e proveito de nós mesmos."...(E.Sanceau-o.c.).

== 4 ) - D.Henrique não aprovava a simples captura de escravos, antes desejava manter boas relações (mesmo que fosse com objectivos comerciais), com tribos do interior. Assim, em 1445, segue para o Rio do Ouro o escudeiro João Fernandes e Antão Gonçalves, ficando este a viver no deserto com os berberes até encontrar-se com Ahude Meymom, magnate, possuidor de muito gado e ouro no Mali.
O Infante, só por si, talvez não penssasse em ..."reduzir à escravidão os povos descobertos"..."depois da descoberta de Arguim começaram a ser numerosos os escravos dali enviados para Lisboa. Formou-se uma companhia em Lagos para explorar o negócio dos escravos, que depois passou a ser reservado à coroa. Em meados do século XVI Lisboa contava com cerca de 10.000 escravos africanos"...(D.Manuel Nunes Gabriel, obra citada) -

-- Em 1486 foi fundada a Casa de Escravos.

== 5 ) "...O sultão do Egipto não deixa cristão nenhum passar para a Índia pelo mar Vermelho nem pelo rio Nilo para o Preste João, com receio de que os cristãos tratem com ele para que este rio lhes seja retirado"...

== 6 ) ..."se o preste João quizesse,faria desviar o rio para outro lado"...dizia La Broquiére.

... 7) - "A bons e novos portos iam chegando
... Cada dia mais além,por esses mares,
... O sonho em verdadeiro se tornando
... E bem mais quentes sendo os novos ares.
... Com tudo isso porém não lhes bastando
... Uns outros mais cuidavam dos bazares,
... No regresso levando negras gentes
... Por serem das suas algo diferentes;"

........................................

== (7) - No século XVI os catalães visitavam as Canárias e faziam negócio de escravos para suprir a carência de mão-de-obra da Metrópole; uma das razões dessa falta no meio do século foi a peste que reduziu a população a menos de metade.
A "grande peste" (negra), propagou-se pela Europa entre 1348 e 1350; foi disseminada pelos genoveses fugitivos, chegados ao porto de Messina(1347), motivando uma enorme baixa na população, consequente falta de mão-de-obra e do aumento do seu custo. Provocou o abandono de aldeias, vilas e cidades, desagregando toda a economia, com efeitos durante muitos anos.

... 8) - "Logo vendo melhores e bons ganhos
... (Satisfazendo real necessidade),
... Começam de captar povos estranhos
... Que na defesa nem tinham vontade :
... - Uns,por curiosidade ou seus tamanhos,
... Mas outros destinados a uma herdade,
... Já sendo alto luxo entre a fidalguia
... Quem mais negros escravos possuia.
.........................................

== 8 ) - Nas cortes europeias começam a surgir servos negros nos mais diversos lugares domésticos, passando a ser um "luxo possuir em casa essas raridades"... Outros ocupavam lugares de guardas e soldados nos palácios reais.

... 9 ) - "E os lusos no negócio escuro estavam
... Desde que Tristão ao áureo rio seguira,
... Alcançando alguns tristes,nus andavam
... Com calor e secura que alguém vira.
... Ao continente berberes levavam,
... Testemunho do ponto que atingira,
... Mas chegando entre pasmo e orações
... Como estranhos seres ou aparições.
........................................

== 9 ) - Em 1441, Antão Gonçalves e Nuno Tristão, na Costa do Ouro; uns outros que resistiram foram mortos. Em 1444, Lançarote de Lagos, leva 263 escravos que os vende logo à chegada !

... 10) - "Grande mal assim nem sempre cuidavam
... Por ser costume habitual muito antigo
... Que entre si mesmo todos operavam
... Sem haver nisso crime ou algum castigo.
... Nas guerras comuns logo ali os captavam
... E em servos punham tão fraco inimigo,
... Ficando alegre se à morte poupado,
... Não sendo pelos canhões atirado!
........................................

== 10 )- ..."a fecunda e principal origem dos cativeiros nasce dos costumes bárbaros dos negros os quais eles abandonariam logo que conhecessem as verdades católicas e as máximas do Evangelho conformassem as suas acções"... "procedem-os cativeiros dos negros que outros nos vêm vender e que nós compramos para os transportar para o Brasil"...(de : D.Miguel António de Mello(governador-geral de Angola,1797/1802)-

--"...A escravatura florescia em África, havia milénios; os negros reduziam-se uns aos outros à escravatura, como ainda o fazem, ao passo que os árabes e os bérberes caçavam negros e vendiam-nos nos portos de Mediterrâneo... Os teólogos em geral estavam convencidos de que ela favorecia o maior bem dos seus irmãos pretos"...(em "D.Henrique,o Navegador", de E. Sanceau) -

-- Muitas vezes, em terra ou já durante as viagens havia motins, pelo que os escravbos eram postos a ferros ou espancados até à morte, o que acontecia por vezes nas fazendas onde eram amarrados ao "tronco" e chicoteados, na presença dos restantes e, outras vezes, em algumas guerras, atirados por pequenos canhões!

== 11) - Lançarote de Lagos e Gil Eanes,em navios com bandeira da Ordem de Cristo, fornecidos pelo Infante, faziam uma caçada entre o Cabo Branco e Arguim, capturando mais de 200 escravos, levando-os para Portugal, sendo desembarcados entre uma multidão embasbacada.

-- ..."E, animados do prazer benévolo,os seus amos enchiam-nos de mimos. Alguns deles é de recear que morressem com tantas bondades, empaturrados de comidas a que não estavam habituados. Começavam de lhes crescer os ventres -- diz-nos Zurara concisamente, e por tempo eram enfermos,... alguns deles eram assim compleicionados que o não podiam suportar e morriam... A maioria deles, porém,aclimatou-se e em breve se reanimou"...

-- ..."A escravidão nos países de língua portuguesa viu-se sempre na sua forma mais atenuada, e quanto aos primeiros africanos trazidos no tempo do Infante, a sua sorte era boa"...- (E.Sanceau - o.c.) -

== 12) - Nas costas de Cabo Verde, o chefe senegalês,Budomel, trocava cem escravos por sete cavalos arreados !

== 14 ) - Em certos pontos mais importantes o tráfico de escravos assumia um elevado movimento, constituíndo até o maior negócio, como em Jena, Timbuktu (Tombouctu), nas margens do rio Níger,havendo príncipes ou mesmo comerciantes que possuiam mais de uma centena de escravos; assim acontecia ainda na costa oriental(Zanzibar e outros pontos).

Estando autorizado o "negócio", eram os escravos trazidos do interior ou capturados pela costa e metidos em "gaiolas" ou a monte em armazéns, sem atender sequer à separação das famílias, chegando a matarem os filhos pequenos para negociarem as mães, sem que lhes fosse permitido protestarem, sob pena de "chicote" ou mesmo de morte,a não ser que fossem pagos em conjunto por um bom preço !

... 15 ) "A tanto era o negócio rendoso
... Que até os cativos outros permutavam
... Com objectos de aspecto duvidoso
... Ou pelo vinho com que embriagavam.
... Antes havia um controle cuidadoso
... E os menos sadios ao lado ficavam,
... Sendo às vezes trocados como saldo
... Por alguns que sobrassem do rescaldo."
.......................................

== (15) - Entretanto,nalguns países africanos, os escravos eram muitas vezes integrados nas famílias; noutros, como no Congo, eram tratados com certa tolerância, vendo-se até escravos a substituírem os chefes ausentes e Ngola Aire, filho de uma escrava, receber de Fernão de Sousa o trono do Dongo (Angola),em 1626. Também havia escravos que, por sua vez,possuíam escravos, e algumas tribos em que não havia qualquer tipo de escravatura.
Por vezes alguns senhores e, por certas razões. concediam-lhes carta de Alforria, indo em liberdade ou continuando ao seu serviço.

== 16 ) - Os congueses eram considerados bons escravos, sendo alegres e trabalhadores. Depois de seleccionados eram classificados, sendo os melhores designados "peças da Índia", chegando a valer o dobro ou o triplo dos outros mais fracos ou mais idosos; faziam-lhes um exame directo da cabeça aos pés (olhos, dentes, dedos, sexo, pés,etc); era negócio rendoso,feito à base de permuta,onde usavam as mais variadas artimanhas!
Depois de negociados eram marcados com ferro em brasa, no peito,pernas ou seios !
O Reino de Angola suplantaria o do Congo e mais tarde mesmo as feitorias da Costa do Ouro e Benin (Costa dos Escravos, tal o volume que atingiria a saída de escravos, principalmente para a América (Brasil e outros países), para substituir os índios, considerados fracos para o trabalho das plantações.

== 17 ) - Alguns reis possuíam nas suas cortes um elevado número de mulheres escolhidas, cuja missão era a de seduzirem jovens, por vezes de conivência com os próprios maridos, para depois serem acusados de adultério e por tal ficarem sujeitos ao regime de escravatura.



== 18 ) - O tráfico de escravos pelos árabes estava mais orientado para os serviços domésticos e para soldados e guardas (sendo castrados para não haver descendentes), tendo um ou outro, de preferência forte e saudável, seleccionado para "reprodutor".
As mulheres mais dotadas eram as escolhidas para o harém dos grandes senhores e algumas como criadas das jovens (mucamas).

== 19 ) - Antes do embarque nos navios negreiros, faziam novas escolhas, pelo que muitas vezes os pais e filhos, ou as mulheres e seus parceiros ficavam separados para sempre. Nesses momentos de desespero alguns se escapavam e deitavam-se ao mar e outros se estrangulavam mesmo. Antes da chegada ao destino os que estivessem doentes ou muito fracos eram lançados ao mar para evitar o pagamentode impostos, sem terem grandes hipóteses de os venderem.Os recuperados eram engordados à pressa,drogados e polidos para apresentarem melhor aspecto e resistirem aos exames físicos e empurrões dos compradores para verificarem se estavam em boa forma.
Das plantações do Brasil, Cuba e outros lados por vezes eram ainda revendidos para novos donos em mercados e feiras e novamente marcados com o malfadado ferro em brasa !

... 20 ) "Grilhetados a Lagos aportavam
... Por entre a gente aflita e boquiaberta,
... Sendo tamanhos os gritos e ais que usavam
... Quando os donos lançavam alta oferta !
... Fartos de dor e raiva se esmurravam
... Ou se deitam a terra quando ela aperta,
... Tal o receio p'los tratos que temiam
... Mas para alguns as penas cessariam."
...........................................

== 20 ) - Chegada de escravos a Lagos (Algarve)e sua venda no mercado.

... 21 ) "Mães e filhos iam cada uma por seu lado
... Em sendo diferentes os patrões,
... Sem cuidarem do laço mais sagrado
... Nem de humanas, vitais satisfações !
... Muitos do que ali estavam no mercado
... Não ocultavam suas emoções
... Chorando tanto como os infelizes
... E escondendo o pingar dos seus narizes.
........................................

== 21 ) - "...Era uma maravilhosa cousa de ver...mas era também dilacerante. Alguns dos cativos choravam, uns gemiam, outros soltavam lamentos e havia os que davam punhadas no rosto e se atiravam ao chão"... (de : Zurara) -

... 22 ) "Num belo cavalo,o Infante os observava,
... Não mostrando o que estava ali sentindo,
... E escolhendo o quinto que lhe calhava
... O fez pra Sanra Igreja ir prosseguindo.
... Outro grupo melhor tratado estava
... Que em vez de chorar já ficava rindo,
... Sendo dum igual modo bem cuidados
... Sem ver as cores com que foram nados.
.........................................

== 22 ) - "...D.Henrique, montado num grande cavalo, observava a estranha cena; não sabemos se sentiu compungido. Segundo Zurara, estava... "considerando com grande prazer na salvação daquelas almas,que antes eram perdidas"..."Os amos não faziam diferença entre eles e os seus servos brancos livres -- se qualquer diferença havia, parece que era a favor dos africanos" ... (de E.Sanceau - o.c.) -

-- "...ao contrário do que sucede com os holandeses, o português entrou em contacto íntimo e frequente com a população de cor. Mais do que nenhum outro povo da Europa, cedia com docilidade ao pressígio comunicativo dos costumes, linguagem e das seitas dos indígenas e negros. Americanizava-se , conforme fosse preciso. Tornava-se negro, segundo a expressão consagrada da costa da África..." - (em "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda ) --

... 23 ) - "Mas,muitos outros,os negros negociavam
... Mandando-os para as novas descobertas,
... Nisso grande proveito retiravam
... Maior sendo a procura que as ofertas.
... Com loucura a tal todos se entregavam
... De manhas e outras causas encobertas,
... Pondo em tudo o seu´pérfido disfarce
... Sendo mais forte que melhor roubasse !
..........................................

== 23 ) - "...Todos os povos marítimos da Europa ocidental e do norte se entregaram desenfreadamente ao tráfico : - portugueses, franceses, holandeses, ingleses e dinamarqueses. Não eram uns melhores do que os outros"... - "...Angola exportava anualmente, pelos portos de Loanda e de Benguela, cerca de 15.000 escravos...os ingleses e holandeses traficavam também ao norte do Ambriz e na foz do Zaire, e os franceses no Loango, Malembo e Cabinda..." - ( de : D.Manuel N.Gabriel - o.c.) -

== 24 ) - Muito embora as ordens régias não o permitissem era então o melhor negócio que havia, mesmo para o erário público pelos impostos e direitos que cobrava.

== 25 ) - Muitos eram provenientes de S.Tomé, onde residiam os condenados, aventureiros e judeus perseguidos pela Inquisição, alguns casados com jovens escravas, apoiados por um governador corrupto e ambicioso (Fernão de Melo); ou mesmo escravos ou seus descendentes auferindo da liberdade (por alforria) concedida pela Carta Régia de D.Manuel I, em 1515. Os de Cabo Verde, metidos em negócios e resgatess na Guiné, proibidos em 1517, enquanto o rei D.Carlos V autorizava Riscalde e Garrevod praticarem o mesmo ramo, proibido aos restantes.

-- ..."O comércio da escravatura,o principal, mais importante ramo da fazenda real neste reino, é geralmente feito por indivíduos mandados expiar aqui os crimes atrozes que na Europa cometeram...Mas este vil tráfico fomenta e entretém uma constante imoralidade nos índivíduos deste país...parece que tais monstros perderam na passagem do equador toda a lembrança e interesse pelo país onde nasceram..." --(de Cristóvão Avelino Dias - governador-geral de Angola(1823)."-

== 26 ) - Os próprios povos negróides do Saara, na busca dos rios e lagos onde se pudessem instalar, escravizaram ou expulsaram os outros povos menos fortes, como por exemplo o que se deu com os povos Khoisans -- (hotentotes e busquímanos(Kungs) -- corridos pelos probantos,como no Congo.
-- Até os sobas vendiam os seus "fidalgos" e os pais vendiam os filhos : -... o padre Cavazzi afirma que alguns, por um preço abjecto, como um colar falso, um pedaço de vidro ou algum vinho da Europa -- vendem os pais, os filhos, os irmãos, as irmãs, afirmando aos compradores, com mil pragas, que são escravos e condenados muitas vezes à morte"...

== 28 ) - Vários delitos podiam levar à escravidão : - adultério com mulher legítima, morte numa luta, prisão em guerras (Kuata,Kuata),etc. Alguns sobas vendiam os seus vassalos quando não possuíam outros escravos para troca com mercadorias ou faziam as tais guerras contra vizinhos apenas com o propósito de adquirirem "escravos de guerra".

== 29 ) - Alguns chefes mantinham famílias de escravos que descendiam de outros há várias gerações, alguns sem terem realmente conhecimento da sua efectiva condição de escravos. Como a lei proibia a separação dos escravos casados, os senhores faziam tudo para evitar os casamentos ou simplesmente nem cumpriam a lei.

== 30 ) - Os espanhóis possuíam um vasto domínio na América,tendo dizimado as populações nativas(índias e astecas),ou escravizando outras nas plantações; porém, estas não se adaptavam aos trabalhos, fugindo ou morrendo (ou sendo mortas); assim, voltavam-se para os escravos africanos, adaptados a climas semelhantes e mais resistentes.

== 32/33 ) - Tráfico que só podia ser efectuado por intermédio dos portugueses que ali possuíam um monopólio consagrado pelo Papa Nicolau V, no ano de 1454 e confirmado expressamente depois pelo Tratado de Tordesilhas(1494), por Alexandre VI (e antes,1479, pela Paz de Alcáçovas).

== 34 ) - "...Na América Central e nas Caraíbas os colonos não descansaram enquanto não arrancaram ao rei de Espanha um decreto que permitia reduzir os índios à escravidão"... - (D.Manuel N.Gabriel - o.c.) -

== 35 ) - "... Las Casas(Bartolomeu)-- 1474/1566), nasceu em Sevilha e foi o grande defensor dos índios contra os conquistadores, tendo ficado conhecido por "Apóstolo das Índias". Escreveu a História Geral das Índias.
Porém, os espanhóis, concluindo que os índios não satisfaziam nos trabalhos. conseguiram autorização para os substituir pelos escravos africanos, apenas com a exigência papal de que deveriam ser baptizados. Além de solução prática o escravo africano funcionava como "moeda "internacional", com "visto" de reis e papas !

== 36 ) "Já Colombo trouxera uma remessa
... Que nas ocidentais Índias teria,
... Talvez fiado nalguma vã promessa
... Que afinal da Católica não havia,
... Tendo de os soltar todos mais à pressa
... Que nunca viram tão grande alegria !
... Cada qual tomou novo amo ou outro rumo
... Mas com comida certa e bom aprumo."

.......................................

== (36) - Cristóvão Colombo(1451/1506), sob a bandeira ..dos reis de Espanha e na busca doutro caminho marítimo para as Índias,recusado por D.João II,chegara às Américas em 1492, desconhecendo que alcançara o continente americano, onde tinham chegado muitos anos antes (talvez mesmo cinco séculos)os vikings, EriK, o Vermelho. e seu filho Leif, o Afortunado;( à Gronelândia, em 982/85).

..."Quando Colombo regressou da sua 1ª viagem à América, trouxe um carregamento de índios para vender em Espanha. A rainha, Dona Isabel, a Católica, teve escrúpulos em permitir a sua venda e mandou pô-los em liberdade" . --(D.Manuel N.Gabriel - o.c.) --

== 37/39 ) - Só os espanhóis estavam autorizados a negociarem, mas não possuindo os necessários conhecimentos, nem feitorias próprias,
para o abastecimento da mão-de-obra. logo socorriam-se dos portugueses que, aproveitando a situação, os ludibriavam.

-- "... Não se esqueça também que a ocupação europeia da maior parte da África quase até aos nossos dias e a de Angola pelos portugueses tiveram também muitos aspectos positivos..." -- (Sérgio B.Holanda - o.c.) --

-- Em 1570 D.Sebastião fixara várias normas de conduta sobre essa ocupação e proibindo ainda o comércio de escravos.

== 46/7 ) - Concessão da donatária de Angola a Paulo Dias de Novais, em 19 de Setembro de 1571.
Inquérito efectuado por Abreu de Brito.

49 ) "Em celas apertadas,muito escuras,
... Mas que de barcos assim se tratavam,
... Morriam cheios de fome e de securas
... Ou das muitas pancadas que apanhavam.
... Para mais tristes sortes,desventuras,
... Eram vendidos por ouros que odiavam,
... Caíndo p'la terra quente,afastados
... Das suas mulheres,fracas,noutros lados.
........................................

== (49) - Só os homens é que normalmente interessavam aos negreiros por resistirem melhor às durezas das viagens,e,mesmo para esses,eram muitos os sacrifícios e tormentos que passavam. Além de serem muito demoradas, as cargas que cada navio levava, sem nenhumas condições, tornavam bastante piores essas viagens.

53 ) - "E mais defronte,os lusos insistentes
... Com medidos esforços e canseiras,
... Obtinham resultados sorridentes
... Em causas de outras válidas maneiras.
... Com eles iam sabidos e alguns crentes
... Que noutros lados,com razões ou asneiras,
... Tinham obtido paz e condições
... Em lucros de melhores divisões.
..........................................

== (53) - "...Neste caso o Brasil não foi teatro de nenhuma novidade. A mistura com gente de cor tinha começado amplamente na própria Metrópole. Já antes de 1500, graças aos trabalhos dos pretos trazidos das possessões ultramarinas, fora possível, no reino, estender a porção de solo cultivado, desbravar matas, dessangrar pântanos e transformar charnecas em lavouras,com o que se abriu passo à fundação de povoados novos"... - (Sérgio B. Holanda - o.c.)-

== 54 ) - Também os jesuítas ali possuiam os seus escravos,embora contrariando a orientação papal; mantinham diversos nas suas propriedades para o cultivo das terras.

58 ) - "Iam em lotes dobrados,por cuidado
... Prevendo as mortes talvez habituais,
... O que em cada nau tinha-se elevado
... Forçando a carregar braços a mais.
... De tal forma era o número aumentado
... Que, com fomes e apertos sem iguais,
... Ao mar encapelado se lançavam
... E da bruta força humana escapavam!

59 ) - "Homens,mulheres,eram amarrados,
... Corpos rapados,nus,ali estendidos
... Uns contra os outros postos,alternados,
... Pra aproveitar espaços já vendidos.
... Os naturais alívios ali obrados
.... Entre os líquidos,gazes expelidos,
.... Mais parecendo fétida estrumeira
.... Duravam assim a viagem inteira !"
........................................

== (59) - Com os corpos quase nus e rapados, eram deitados uns contra os outros de maneira a ocuparem menos espaços, todos comprimidos e sujos pelos próprios dejectos!

== 60 ) - Às vezes, durante o dia,os escravos eram postos na ponte, a arejar ou a trabalhar; outras vezes obrigavam a fazer danças,sob chicotadas. Nos motins os cabecilhas eram executados ou lançados ao mar; outros chicoteados até ficarem em sangue e servindo de espectáculo,ou retalhados e servidos como refeição !...

== 61 ) - Outras vezes eram picados ou retalhados e tratados com misturas picantes e pólvora. Os condenados à morte recebiam a notícia com alegria por se libertarem daquele inferno..."Em seguida com a satisfação pintada na cara, olhando com desdem o carrasco e recusando que pusesse mão neles, lançavam-se ao mar,onde encontravam pronto remédio para os seus males"... - (em : "A causa dos escravos negros" - de FROSSARD) --

== 63 ) - Proibição aos portugueses de irem a CARTAGENA, dada por Filipe IV.

64 ) - "Depois um novo acordo combinaram
... Que permitia maior venda de gentes;
... Em porões carregados as embarcavam
... Para certos "assientistas" exigentes.
... Uns outros ali rápidos chegavam
... Da fortuna fácil muito crentes,
... Ficando os castelhanos co fracasso
... Porque primeiro alguém passara o laço.
......................................

== (64) - Junta de Escravos (1614) -- Carlos V concede aos flamengos um "assiento", em 1518, sobre a "tonelagem de escravos" permitida nos seus navios, depois transmitida aos genoveses,portugueses e ingleses. Os barcos tinham dispositivos adequados ao transporte de escravos para aproveitar o máximo de espaço e evitar as suas fugas para o mar. Em terra havia uma complicada organização à roda das feitorias, com barracões onde os escravos, amontoados,aguardavam a chegada dos navios. Um sistema de taxas e impostos enchia os bolsos de muitos exploradores de vários países. Os que não tinham feitorias praticavam acções de pirataria, com assaltos aos outros negreiros. Assim era em Arguim, Goreia(na ilha de Goree), Fernando Pó, S.Tomé, bem como mesmo em Luanda. Enquanto os franceses quase não possuiam instalações, os holandeses e ingleses eram os mais apetrechados nesse tráfico, servindo-se de todos meios para aliciarem os menos precavidos, tais como : - mulheres, bebidas alcoólicas e armas; quando já estavam entorpecidos eram amarrados e embarcados à força! Além dos portos indicados havia também grande movimento por quase toda a costa africana (Senegal),Serra Leoa, Costa do Marfim, Costa do Ouro, Ajudá, Benin,etc.) -

== 67 ) - Governador-geral Correia de Sousa enviara alguns povos (macotas e lengas) para o Brasil,tomando ainda severas atitudes contra os reinos do Congo e Benguela para os eliminar.

== 69 ) - D.Fernando de Toledo conseguiu um "assiento" para quinze mil licenças de venda de escravos.

Em Inglaterra formara-se a primeira Companhia para o negócio da escravatura, concedido ao famigerado John Hawkins e na qual a própria rainha D. Isabel teria(?) interesses, funcionando em regime de monopólio durante muitos anos!
Em Lagos também funcionava uma outra designada "Companhia" dedicada ao mesmo ramo, pois ali há muito existia o respectivo mercado.

== 70 ) - Os holandeses tiveram uma certa autonomia marítima a partir do século XVI, sendo superados depois pelos franceses e ingleses já no século XVII. Utilizavam o tristemente e bem célebre "Triângulo de Nantes", sendo os outros dois vértices na Costa de África e na América,fazendo toda a espécie de roubos e de piratarias.

71 ) - "Até um rei negro e sua corte vendiam
... Depois de seduzidos em cilada,
... Que as palavras assim nada valiam
... Entre gentes de má fé demonstrada.
... Nova Companhia logo formariam
... Apoiados p'lo Cardeal nessa jornada;
... A Colbert noutra até mais ajudaria
... Com certo monopólio que fazia.
........................................

== (71) - Em 1602 é fundada a Companhia Holandesa das Índias Orientais, estendendo-se a sua acção aos países situados além do Cabo da Boa Esperança. Seria extinta em 1798 - (200 anos de exploração).

Em 1626 a Companhia Ruanesa obtinha autorização do cardeal Richelieu para o negócio da costa africana.

Colbert cria a famosa Companhia das Índias Ocidentais,em 1664, monopolizando durante muitos anos todo o tráfico a partir de Cabo Verde até ao Cabo da Boa Esperança e mar das Antilhas. Os portugueses e espanhóis, depois do descalabro da "Invencível Armada", enviada por Filipe II de Espanha, contra a Inglaterra (1588), ficam reduzidos a uma pequena fatia do grande bolo que apenas lhes pertencera!

== 72/3 ) - Os próprios negros,por vezes, conduziam alguns escravos aos mercados e feiras onde logo os vendiam ou trocavam por qualquer bugiganga, espingardas, pólvora, tecidos, etc. Os melhores iam para os ingleses e os mais fracos ou rejeitados para os portugueses que os pagavam com a "moeda" local (zimbo - um marisco de concha univalve, em forma de coração, pescado na Ilha de Luanda).

-..."Eram ainda os portugueses e espanhóis os que manifestavam mmais humanidade no seu trato"... (D.Manuel N.Gabriel - o.c.) -

== 74 ) - João do Campo e Paulo Martel eram comerciantes no Rio da Prata (Buenos Aires).

75 ) - " E sentado num Cabo pedregoso
... Estava o negro ancião se recordando,
... C'os olhos no horizonte,bem receoso :
... - Quantos filhos seus foram transportando
... Certos negreiros pra um fim duvidoso,
... Sob controle de pérfido comando,
... Sem esperanças de os voltar a ver
... Em seu mais triste e trágico viver ?!..."
.......................................

== 75 ) - Imagem simbólica de quantos escravos foram obrigados a deixar a sua terra e suas famílias para um destino desconhecido,fatal tantas vezes !...

- Quantas "crias" - (filhas de escravos) - enriqueceram os "hárens" dos grandes senhores !?

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-- INTERNET - a consultar :
http://www.releituras.com/gilbertofreyre_bio.asp

-- http://plano-da-obra.blogspot.com/2006/05/2-roteiro-da-viagem.html

--- http://prossiga.bvgf.fgf.org.br/portugues/index.html

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--- b) - De : "ANGOLA - DATAS E FACTOS" - lº Volume -1482/1652 - 2ª edição :

== 1624 - OUTUBRO - 1/3 - Bando criando as Feiras para o negócio de escravos em : DONGO (BUMBA ARQUIZAMBO), SAMBA ANGOMBE,CACULO CABAÇA E AMBUÍLA --

== 1626 - DEZEMBRO - Foram abertos os seguintes locais para Feiras : - GUIZAMBAMBE --CACULO -- SANGA -- QUIPAPA (QUIAPAPA), NADLA KISUA (MBONDO) --

== 1628 - A Coroa efectuara um contrato com ANDRÉ RODRIGUES ESTREMOZ para o monopólio comercial (com tráfico de escravos) em ANGOLA e CONGO, durante 8 anos.

................................................
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--- c) - de "ANGOLA - DATAS E FACTOS" - 2º Volume (1652/1837) - :

== 1660 - "DEZEMBRO - A exportação de escravos que alcançara elevados valores, entra em diminuição, excepto para o BRASIL e CUBA, destinados às suas culturas de cana-de-açúcar e café.

IN ANGOLABRASIL
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III") - A ESCRAVATURA - UMA TRAGÉDIA UNIVERSAL

III") - A ESCRAVATURA - UMA TRAGÉDIA UNIVERSAL


-----(TRANSCRIÇÕES PARCIAIS) DE : -----


===== A) - OBRAS DO AUTOR :


-- a) - "DO TEJO GRANDIOSO AO ZAIRE PODEROSO" - Poema Épico - 1º Volume - 2ª Edição -
--- CANTO SEXTO : "O DRAMA DA ESCRAVATURA" - ANOTAÇÕES (Referentes a muitas das suas estâncias,num total de 698) :

... 1 ) - "Muitos escravos foram retomados
... Que eram vendidos em boa quantidade,
... Sendo pra novas terras embarcados
... Que deles havia lá necessidade.
... Mas os poderes régios contrariados
... Logo os mandavam de volta à sua herdade,
... Sendo caso de má e desleal conduta,
... Não fosse obra feia, de filhos de puta!"

........................................

== (1) - A África deve ter sido realmente o continente onde o homem surgiu pela primeira vez. Não é de admirar que tenha tido um papel preponderante na evolução humana, mesmo pré-histórica.
- A palavra escravo provém do facto dos eslavos (Europa Central) serem vendidos na Idade Média. A escravatura já existia há séculos na Europa e na Ásia, com várias categorias de escravos, em especial os domésticos e os de guerra,sobre os quais havia mesmo o direito de dispor de suas vidas.
-- ..."Foi ela sem dúvida um dos fardos mais pesados que oprimiu a África e constitui uma das mais tristes recordações da Europa -- e também dos países árabes -- sobre este continente...
... A escravatura parece ser quase tão velha como a humanidade, pois a encontramos em quase todos os povos antigos e sabe-se quanto ela pesou na sociedade do império romano, de refinada civilização" ... (em : "Angola, cinco séculos de Cristianismo", de D.Manuel Nunes Gabriel.

-- ... "A escravatura não foi trazida pelos europeus para a África, pois ela já existia mais ou menos em quase todos os africanos"...(da mesma obra).

== 2) - ..."Negociantes de TOMBOCTU e do mercado do deserto em Waden, traziam escravos e ouro em pó à feitoria de D.Henrique em Arguim, recebendo em troca trigo e panos brancos, albornozes, mercadorias europeias, enviadas pelo Infante num navio" ... "As caravelas de Portugal, seguindo o seu rumo ao longo da costa africana, já se não anunciavam pela violência, mas por ofertas de amizade e trocas justas com os indígenas dessas terras"... -(em "Descobrimentos Henriquinos", de E.Sanceau.)

-- "...O príncipe D.Henrique ordenou que as suas caravelas fossem armadas para a paz e para a guerra, ao país da Guiné, onde as gentes são extremamente negras"... (em "Crónicas", de Diogo Gomes).

-- O tráfico de escravos desencadeado pelos portugueses ao longo da costa africana não foi uma acção premeditada; foi surgindo à medida que faziam as conquistas ou até, ao princípio, por curiosidade, pela presença de povos desconhecidos e pela conveniência de justificativo dos lugares então alcançados. O principal objectivo do Infante seria talvez o de alcançar o reino cristão do misterioso Preste João para propagar a doutrina católica e combater o restante povo infiel.

-- "... Não consente o Senhor Infante que se faça dano a nenhum deles"...(em "Navegações", de Alvisse Cadamosto).

== 3 )-..."As expedições africanas faziam-se "por serviço de Deus e do Infante Nosso Senhor, e honra e proveito de nós mesmos."...(E.Sanceau-o.c.).

== 4 ) - D.Henrique não aprovava a simples captura de escravos, antes desejava manter boas relações (mesmo que fosse com objectivos comerciais), com tribos do interior. Assim, em 1445, segue para o Rio do Ouro o escudeiro João Fernandes e Antão Gonçalves, ficando este a viver no deserto com os berberes até encontrar-se com Ahude Meymom, magnate, possuidor de muito gado e ouro no Mali.
O Infante, só por si, talvez não penssasse em ..."reduzir à escravidão os povos descobertos"..."depois da descoberta de Arguim começaram a ser numerosos os escravos dali enviados para Lisboa. Formou-se uma companhia em Lagos para explorar o negócio dos escravos, que depois passou a ser reservado à coroa. Em meados do século XVI Lisboa contava com cerca de 10.000 escravos africanos"...(D.Manuel Nunes Gabriel, obra citada) -

-- Em 1486 foi fundada a Casa de Escravos.

== 5 ) "...O sultão do Egipto não deixa cristão nenhum passar para a Índia pelo mar Vermelho nem pelo rio Nilo para o Preste João, com receio de que os cristãos tratem com ele para que este rio lhes seja retirado"...

== 6 ) ..."se o preste João quizesse,faria desviar o rio para outro lado"...dizia La Broquiére.

... 7) - "A bons e novos portos iam chegando
... Cada dia mais além,por esses mares,
... O sonho em verdadeiro se tornando
... E bem mais quentes sendo os novos ares.
... Com tudo isso porém não lhes bastando
... Uns outros mais cuidavam dos bazares,
... No regresso levando negras gentes
... Por serem das suas algo diferentes;"

........................................

== (7) - No século XVI os catalães visitavam as Canárias e faziam negócio de escravos para suprir a carência de mão-de-obra da Metrópole; uma das razões dessa falta no meio do século foi a peste que reduziu a população a menos de metade.
A "grande peste" (negra), propagou-se pela Europa entre 1348 e 1350; foi disseminada pelos genoveses fugitivos, chegados ao porto de Messina(1347), motivando uma enorme baixa na população, consequente falta de mão-de-obra e do aumento do seu custo. Provocou o abandono de aldeias, vilas e cidades, desagregando toda a economia, com efeitos durante muitos anos.

... 8) - "Logo vendo melhores e bons ganhos
... (Satisfazendo real necessidade),
... Começam de captar povos estranhos
... Que na defesa nem tinham vontade :
... - Uns,por curiosidade ou seus tamanhos,
... Mas outros destinados a uma herdade,
... Já sendo alto luxo entre a fidalguia
... Quem mais negros escravos possuia.
.........................................

== 8 ) - Nas cortes europeias começam a surgir servos negros nos mais diversos lugares domésticos, passando a ser um "luxo possuir em casa essas raridades"... Outros ocupavam lugares de guardas e soldados nos palácios reais.

... 9 ) - "E os lusos no negócio escuro estavam
... Desde que Tristão ao áureo rio seguira,
... Alcançando alguns tristes,nus andavam
... Com calor e secura que alguém vira.
... Ao continente berberes levavam,
... Testemunho do ponto que atingira,
... Mas chegando entre pasmo e orações
... Como estranhos seres ou aparições.
........................................

== 9 ) - Em 1441, Antão Gonçalves e Nuno Tristão, na Costa do Ouro; uns outros que resistiram foram mortos. Em 1444, Lançarote de Lagos, leva 263 escravos que os vende logo à chegada !

... 10) - "Grande mal assim nem sempre cuidavam
... Por ser costume habitual muito antigo
... Que entre si mesmo todos operavam
... Sem haver nisso crime ou algum castigo.
... Nas guerras comuns logo ali os captavam
... E em servos punham tão fraco inimigo,
... Ficando alegre se à morte poupado,
... Não sendo pelos canhões atirado!
........................................

== 10 )- ..."a fecunda e principal origem dos cativeiros nasce dos costumes bárbaros dos negros os quais eles abandonariam logo que conhecessem as verdades católicas e as máximas do Evangelho conformassem as suas acções"... "procedem-os cativeiros dos negros que outros nos vêm vender e que nós compramos para os transportar para o Brasil"...(de : D.Miguel António de Mello(governador-geral de Angola,1797/1802)-

--"...A escravatura florescia em África, havia milénios; os negros reduziam-se uns aos outros à escravatura, como ainda o fazem, ao passo que os árabes e os bérberes caçavam negros e vendiam-nos nos portos de Mediterrâneo... Os teólogos em geral estavam convencidos de que ela favorecia o maior bem dos seus irmãos pretos"...(em "D.Henrique,o Navegador", de E. Sanceau) -

-- Muitas vezes, em terra ou já durante as viagens havia motins, pelo que os escravbos eram postos a ferros ou espancados até à morte, o que acontecia por vezes nas fazendas onde eram amarrados ao "tronco" e chicoteados, na presença dos restantes e, outras vezes, em algumas guerras, atirados por pequenos canhões!

== 11) - Lançarote de Lagos e Gil Eanes,em navios com bandeira da Ordem de Cristo, fornecidos pelo Infante, faziam uma caçada entre o Cabo Branco e Arguim, capturando mais de 200 escravos, levando-os para Portugal, sendo desembarcados entre uma multidão embasbacada.

-- ..."E, animados do prazer benévolo,os seus amos enchiam-nos de mimos. Alguns deles é de recear que morressem com tantas bondades, empaturrados de comidas a que não estavam habituados. Começavam de lhes crescer os ventres -- diz-nos Zurara concisamente, e por tempo eram enfermos,... alguns deles eram assim compleicionados que o não podiam suportar e morriam... A maioria deles, porém,aclimatou-se e em breve se reanimou"...

-- ..."A escravidão nos países de língua portuguesa viu-se sempre na sua forma mais atenuada, e quanto aos primeiros africanos trazidos no tempo do Infante, a sua sorte era boa"...- (E.Sanceau - o.c.) -

== 12) - Nas costas de Cabo Verde, o chefe senegalês,Budomel, trocava cem escravos por sete cavalos arreados !

== 14 ) - Em certos pontos mais importantes o tráfico de escravos assumia um elevado movimento, constituíndo até o maior negócio, como em Jena, Timbuktu (Tombouctu), nas margens do rio Níger,havendo príncipes ou mesmo comerciantes que possuiam mais de uma centena de escravos; assim acontecia ainda na costa oriental(Zanzibar e outros pontos).

Estando autorizado o "negócio", eram os escravos trazidos do interior ou capturados pela costa e metidos em "gaiolas" ou a monte em armazéns, sem atender sequer à separação das famílias, chegando a matarem os filhos pequenos para negociarem as mães, sem que lhes fosse permitido protestarem, sob pena de "chicote" ou mesmo de morte,a não ser que fossem pagos em conjunto por um bom preço !

... 15 ) "A tanto era o negócio rendoso
... Que até os cativos outros permutavam
... Com objectos de aspecto duvidoso
... Ou pelo vinho com que embriagavam.
... Antes havia um controle cuidadoso
... E os menos sadios ao lado ficavam,
... Sendo às vezes trocados como saldo
... Por alguns que sobrassem do rescaldo."
.......................................

== (15) - Entretanto,nalguns países africanos, os escravos eram muitas vezes integrados nas famílias; noutros, como no Congo, eram tratados com certa tolerância, vendo-se até escravos a substituírem os chefes ausentes e Ngola Aire, filho de uma escrava, receber de Fernão de Sousa o trono do Dongo (Angola),em 1626. Também havia escravos que, por sua vez,possuíam escravos, e algumas tribos em que não havia qualquer tipo de escravatura.
Por vezes alguns senhores e, por certas razões. concediam-lhes carta de Alforria, indo em liberdade ou continuando ao seu serviço.

== 16 ) - Os congueses eram considerados bons escravos, sendo alegres e trabalhadores. Depois de seleccionados eram classificados, sendo os melhores designados "peças da Índia", chegando a valer o dobro ou o triplo dos outros mais fracos ou mais idosos; faziam-lhes um exame directo da cabeça aos pés (olhos, dentes, dedos, sexo, pés,etc); era negócio rendoso,feito à base de permuta,onde usavam as mais variadas artimanhas!
Depois de negociados eram marcados com ferro em brasa, no peito,pernas ou seios !
O Reino de Angola suplantaria o do Congo e mais tarde mesmo as feitorias da Costa do Ouro e Benin (Costa dos Escravos, tal o volume que atingiria a saída de escravos, principalmente para a América (Brasil e outros países), para substituir os índios, considerados fracos para o trabalho das plantações.

== 17 ) - Alguns reis possuíam nas suas cortes um elevado número de mulheres escolhidas, cuja missão era a de seduzirem jovens, por vezes de conivência com os próprios maridos, para depois serem acusados de adultério e por tal ficarem sujeitos ao regime de escravatura.



== 18 ) - O tráfico de escravos pelos árabes estava mais orientado para os serviços domésticos e para soldados e guardas (sendo castrados para não haver descendentes), tendo um ou outro, de preferência forte e saudável, seleccionado para "reprodutor".
As mulheres mais dotadas eram as escolhidas para o harém dos grandes senhores e algumas como criadas das jovens (mucamas).

== 19 ) - Antes do embarque nos navios negreiros, faziam novas escolhas, pelo que muitas vezes os pais e filhos, ou as mulheres e seus parceiros ficavam separados para sempre. Nesses momentos de desespero alguns se escapavam e deitavam-se ao mar e outros se estrangulavam mesmo. Antes da chegada ao destino os que estivessem doentes ou muito fracos eram lançados ao mar para evitar o pagamentode impostos, sem terem grandes hipóteses de os venderem.Os recuperados eram engordados à pressa,drogados e polidos para apresentarem melhor aspecto e resistirem aos exames físicos e empurrões dos compradores para verificarem se estavam em boa forma.
Das plantações do Brasil, Cuba e outros lados por vezes eram ainda revendidos para novos donos em mercados e feiras e novamente marcados com o malfadado ferro em brasa !

... 20 ) "Grilhetados a Lagos aportavam
... Por entre a gente aflita e boquiaberta,
... Sendo tamanhos os gritos e ais que usavam
... Quando os donos lançavam alta oferta !
... Fartos de dor e raiva se esmurravam
... Ou se deitam a terra quando ela aperta,
... Tal o receio p'los tratos que temiam
... Mas para alguns as penas cessariam."
...........................................

== 20 ) - Chegada de escravos a Lagos (Algarve)e sua venda no mercado.

... 21 ) "Mães e filhos iam cada uma por seu lado
... Em sendo diferentes os patrões,
... Sem cuidarem do laço mais sagrado
... Nem de humanas, vitais satisfações !
... Muitos do que ali estavam no mercado
... Não ocultavam suas emoções
... Chorando tanto como os infelizes
... E escondendo o pingar dos seus narizes.
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== 21 ) - "...Era uma maravilhosa cousa de ver...mas era também dilacerante. Alguns dos cativos choravam, uns gemiam, outros soltavam lamentos e havia os que davam punhadas no rosto e se atiravam ao chão"... (de : Zurara) -

... 22 ) "Num belo cavalo,o Infante os observava,
... Não mostrando o que estava ali sentindo,
... E escolhendo o quinto que lhe calhava
... O fez pra Sanra Igreja ir prosseguindo.
... Outro grupo melhor tratado estava
... Que em vez de chorar já ficava rindo,
... Sendo dum igual modo bem cuidados
... Sem ver as cores com que foram nados.
.........................................

== 22 ) - "...D.Henrique, montado num grande cavalo, observava a estranha cena; não sabemos se sentiu compungido. Segundo Zurara, estava... "considerando com grande prazer na salvação daquelas almas,que antes eram perdidas"..."Os amos não faziam diferença entre eles e os seus servos brancos livres -- se qualquer diferença havia, parece que era a favor dos africanos" ... (de E.Sanceau - o.c.) -

-- "...ao contrário do que sucede com os holandeses, o português entrou em contacto íntimo e frequente com a população de cor. Mais do que nenhum outro povo da Europa, cedia com docilidade ao pressígio comunicativo dos costumes, linguagem e das seitas dos indígenas e negros. Americanizava-se , conforme fosse preciso. Tornava-se negro, segundo a expressão consagrada da costa da África..." - (em "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda ) --

... 23 ) - "Mas,muitos outros,os negros negociavam
... Mandando-os para as novas descobertas,
... Nisso grande proveito retiravam
... Maior sendo a procura que as ofertas.
... Com loucura a tal todos se entregavam
... De manhas e outras causas encobertas,
... Pondo em tudo o seu´pérfido disfarce
... Sendo mais forte que melhor roubasse !
..........................................

== 23 ) - "...Todos os povos marítimos da Europa ocidental e do norte se entregaram desenfreadamente ao tráfico : - portugueses, franceses, holandeses, ingleses e dinamarqueses. Não eram uns melhores do que os outros"... - "...Angola exportava anualmente, pelos portos de Loanda e de Benguela, cerca de 15.000 escravos...os ingleses e holandeses traficavam também ao norte do Ambriz e na foz do Zaire, e os franceses no Loango, Malembo e Cabinda..." - ( de : D.Manuel N.Gabriel - o.c.) -

== 24 ) - Muito embora as ordens régias não o permitissem era então o melhor negócio que havia, mesmo para o erário público pelos impostos e direitos que cobrava.

== 25 ) - Muitos eram provenientes de S.Tomé, onde residiam os condenados, aventureiros e judeus perseguidos pela Inquisição, alguns casados com jovens escravas, apoiados por um governador corrupto e ambicioso (Fernão de Melo); ou mesmo escravos ou seus descendentes auferindo da liberdade (por alforria) concedida pela Carta Régia de D.Manuel I, em 1515. Os de Cabo Verde, metidos em negócios e resgatess na Guiné, proibidos em 1517, enquanto o rei D.Carlos V autorizava Riscalde e Garrevod praticarem o mesmo ramo, proibido aos restantes.

-- ..."O comércio da escravatura,o principal, mais importante ramo da fazenda real neste reino, é geralmente feito por indivíduos mandados expiar aqui os crimes atrozes que na Europa cometeram...Mas este vil tráfico fomenta e entretém uma constante imoralidade nos índivíduos deste país...parece que tais monstros perderam na passagem do equador toda a lembrança e interesse pelo país onde nasceram..." --(de Cristóvão Avelino Dias - governador-geral de Angola(1823)."-

== 26 ) - Os próprios povos negróides do Saara, na busca dos rios e lagos onde se pudessem instalar, escravizaram ou expulsaram os outros povos menos fortes, como por exemplo o que se deu com os povos Khoisans -- (hotentotes e busquímanos(Kungs) -- corridos pelos probantos,como no Congo.
-- Até os sobas vendiam os seus "fidalgos" e os pais vendiam os filhos : -... o padre Cavazzi afirma que alguns, por um preço abjecto, como um colar falso, um pedaço de vidro ou algum vinho da Europa -- vendem os pais, os filhos, os irmãos, as irmãs, afirmando aos compradores, com mil pragas, que são escravos e condenados muitas vezes à morte"...

== 28 ) - Vários delitos podiam levar à escravidão : - adultério com mulher legítima, morte numa luta, prisão em guerras (Kuata,Kuata),etc. Alguns sobas vendiam os seus vassalos quando não possuíam outros escravos para troca com mercadorias ou faziam as tais guerras contra vizinhos apenas com o propósito de adquirirem "escravos de guerra".

== 29 ) - Alguns chefes mantinham famílias de escravos que descendiam de outros há várias gerações, alguns sem terem realmente conhecimento da sua efectiva condição de escravos. Como a lei proibia a separação dos escravos casados, os senhores faziam tudo para evitar os casamentos ou simplesmente nem cumpriam a lei.

== 30 ) - Os espanhóis possuíam um vasto domínio na América,tendo dizimado as populações nativas(índias e astecas),ou escravizando outras nas plantações; porém, estas não se adaptavam aos trabalhos, fugindo ou morrendo (ou sendo mortas); assim, voltavam-se para os escravos africanos, adaptados a climas semelhantes e mais resistentes.

== 32/33 ) - Tráfico que só podia ser efectuado por intermédio dos portugueses que ali possuíam um monopólio consagrado pelo Papa Nicolau V, no ano de 1454 e confirmado expressamente depois pelo Tratado de Tordesilhas(1494), por Alexandre VI (e antes,1479, pela Paz de Alcáçovas).

== 34 ) - "...Na América Central e nas Caraíbas os colonos não descansaram enquanto não arrancaram ao rei de Espanha um decreto que permitia reduzir os índios à escravidão"... - (D.Manuel N.Gabriel - o.c.) -

== 35 ) - "... Las Casas(Bartolomeu)-- 1474/1566), nasceu em Sevilha e foi o grande defensor dos índios contra os conquistadores, tendo ficado conhecido por "Apóstolo das Índias". Escreveu a História Geral das Índias.
Porém, os espanhóis, concluindo que os índios não satisfaziam nos trabalhos. conseguiram autorização para os substituir pelos escravos africanos, apenas com a exigência papal de que deveriam ser baptizados. Além de solução prática o escravo africano funcionava como "moeda "internacional", com "visto" de reis e papas !

== 36 ) "Já Colombo trouxera uma remessa
... Que nas ocidentais Índias teria,
... Talvez fiado nalguma vã promessa
... Que afinal da Católica não havia,
... Tendo de os soltar todos mais à pressa
... Que nunca viram tão grande alegria !
... Cada qual tomou novo amo ou outro rumo
... Mas com comida certa e bom aprumo."

.......................................

== (36) - Cristóvão Colombo(1451/1506), sob a bandeira ..dos reis de Espanha e na busca doutro caminho marítimo para as Índias,recusado por D.João II,chegara às Américas em 1492, desconhecendo que alcançara o continente americano, onde tinham chegado muitos anos antes (talvez mesmo cinco séculos)os vikings, EriK, o Vermelho. e seu filho Leif, o Afortunado;( à Gronelândia, em 982/85).

..."Quando Colombo regressou da sua 1ª viagem à América, trouxe um carregamento de índios para vender em Espanha. A rainha, Dona Isabel, a Católica, teve escrúpulos em permitir a sua venda e mandou pô-los em liberdade" . --(D.Manuel N.Gabriel - o.c.) --

== 37/39 ) - Só os espanhóis estavam autorizados a negociarem, mas não possuindo os necessários conhecimentos, nem feitorias próprias,
para o abastecimento da mão-de-obra. logo socorriam-se dos portugueses que, aproveitando a situação, os ludibriavam.

-- "... Não se esqueça também que a ocupação europeia da maior parte da África quase até aos nossos dias e a de Angola pelos portugueses tiveram também muitos aspectos positivos..." -- (Sérgio B.Holanda - o.c.) --

-- Em 1570 D.Sebastião fixara várias normas de conduta sobre essa ocupação e proibindo ainda o comércio de escravos.

== 46/7 ) - Concessão da donatária de Angola a Paulo Dias de Novais, em 19 de Setembro de 1571.
Inquérito efectuado por Abreu de Brito.

49 ) "Em celas apertadas,muito escuras,
... Mas que de barcos assim se tratavam,
... Morriam cheios de fome e de securas
... Ou das muitas pancadas que apanhavam.
... Para mais tristes sortes,desventuras,
... Eram vendidos por ouros que odiavam,
... Caíndo p'la terra quente,afastados
... Das suas mulheres,fracas,noutros lados.
........................................

== (49) - Só os homens é que normalmente interessavam aos negreiros por resistirem melhor às durezas das viagens,e,mesmo para esses,eram muitos os sacrifícios e tormentos que passavam. Além de serem muito demoradas, as cargas que cada navio levava, sem nenhumas condições, tornavam bastante piores essas viagens.

53 ) - "E mais defronte,os lusos insistentes
... Com medidos esforços e canseiras,
... Obtinham resultados sorridentes
... Em causas de outras válidas maneiras.
... Com eles iam sabidos e alguns crentes
... Que noutros lados,com razões ou asneiras,
... Tinham obtido paz e condições
... Em lucros de melhores divisões.
..........................................

== (53) - "...Neste caso o Brasil não foi teatro de nenhuma novidade. A mistura com gente de cor tinha começado amplamente na própria Metrópole. Já antes de 1500, graças aos trabalhos dos pretos trazidos das possessões ultramarinas, fora possível, no reino, estender a porção de solo cultivado, desbravar matas, dessangrar pântanos e transformar charnecas em lavouras,com o que se abriu passo à fundação de povoados novos"... - (Sérgio B. Holanda - o.c.)-

== 54 ) - Também os jesuítas ali possuiam os seus escravos,embora contrariando a orientação papal; mantinham diversos nas suas propriedades para o cultivo das terras.

58 ) - "Iam em lotes dobrados,por cuidado
... Prevendo as mortes talvez habituais,
... O que em cada nau tinha-se elevado
... Forçando a carregar braços a mais.
... De tal forma era o número aumentado
... Que, com fomes e apertos sem iguais,
... Ao mar encapelado se lançavam
... E da bruta força humana escapavam!

59 ) - "Homens,mulheres,eram amarrados,
... Corpos rapados,nus,ali estendidos
... Uns contra os outros postos,alternados,
... Pra aproveitar espaços já vendidos.
... Os naturais alívios ali obrados
.... Entre os líquidos,gazes expelidos,
.... Mais parecendo fétida estrumeira
.... Duravam assim a viagem inteira !"
........................................

== (59) - Com os corpos quase nus e rapados, eram deitados uns contra os outros de maneira a ocuparem menos espaços, todos comprimidos e sujos pelos próprios dejectos!

== 60 ) - Às vezes, durante o dia,os escravos eram postos na ponte, a arejar ou a trabalhar; outras vezes obrigavam a fazer danças,sob chicotadas. Nos motins os cabecilhas eram executados ou lançados ao mar; outros chicoteados até ficarem em sangue e servindo de espectáculo,ou retalhados e servidos como refeição !...

== 61 ) - Outras vezes eram picados ou retalhados e tratados com misturas picantes e pólvora. Os condenados à morte recebiam a notícia com alegria por se libertarem daquele inferno..."Em seguida com a satisfação pintada na cara, olhando com desdem o carrasco e recusando que pusesse mão neles, lançavam-se ao mar,onde encontravam pronto remédio para os seus males"... - (em : "A causa dos escravos negros" - de FROSSARD) --

== 63 ) - Proibição aos portugueses de irem a CARTAGENA, dada por Filipe IV.

64 ) - "Depois um novo acordo combinaram
... Que permitia maior venda de gentes;
... Em porões carregados as embarcavam
... Para certos "assientistas" exigentes.
... Uns outros ali rápidos chegavam
... Da fortuna fácil muito crentes,
... Ficando os castelhanos co fracasso
... Porque primeiro alguém passara o laço.
......................................

== (64) - Junta de Escravos (1614) -- Carlos V concede aos flamengos um "assiento", em 1518, sobre a "tonelagem de escravos" permitida nos seus navios, depois transmitida aos genoveses,portugueses e ingleses. Os barcos tinham dispositivos adequados ao transporte de escravos para aproveitar o máximo de espaço e evitar as suas fugas para o mar. Em terra havia uma complicada organização à roda das feitorias, com barracões onde os escravos, amontoados,aguardavam a chegada dos navios. Um sistema de taxas e impostos enchia os bolsos de muitos exploradores de vários países. Os que não tinham feitorias praticavam acções de pirataria, com assaltos aos outros negreiros. Assim era em Arguim, Goreia(na ilha de Goree), Fernando Pó, S.Tomé, bem como mesmo em Luanda. Enquanto os franceses quase não possuiam instalações, os holandeses e ingleses eram os mais apetrechados nesse tráfico, servindo-se de todos meios para aliciarem os menos precavidos, tais como : - mulheres, bebidas alcoólicas e armas; quando já estavam entorpecidos eram amarrados e embarcados à força! Além dos portos indicados havia também grande movimento por quase toda a costa africana (Senegal),Serra Leoa, Costa do Marfim, Costa do Ouro, Ajudá, Benin,etc.) -

== 67 ) - Governador-geral Correia de Sousa enviara alguns povos (macotas e lengas) para o Brasil,tomando ainda severas atitudes contra os reinos do Congo e Benguela para os eliminar.

== 69 ) - D.Fernando de Toledo conseguiu um "assiento" para quinze mil licenças de venda de escravos.

Em Inglaterra formara-se a primeira Companhia para o negócio da escravatura, concedido ao famigerado John Hawkins e na qual a própria rainha D. Isabel teria(?) interesses, funcionando em regime de monopólio durante muitos anos!
Em Lagos também funcionava uma outra designada "Companhia" dedicada ao mesmo ramo, pois ali há muito existia o respectivo mercado.

== 70 ) - Os holandeses tiveram uma certa autonomia marítima a partir do século XVI, sendo superados depois pelos franceses e ingleses já no século XVII. Utilizavam o tristemente e bem célebre "Triângulo de Nantes", sendo os outros dois vértices na Costa de África e na América,fazendo toda a espécie de roubos e de piratarias.

71 ) - "Até um rei negro e sua corte vendiam
... Depois de seduzidos em cilada,
... Que as palavras assim nada valiam
... Entre gentes de má fé demonstrada.
... Nova Companhia logo formariam
... Apoiados p'lo Cardeal nessa jornada;
... A Colbert noutra até mais ajudaria
... Com certo monopólio que fazia.
........................................

== (71) - Em 1602 é fundada a Companhia Holandesa das Índias Orientais, estendendo-se a sua acção aos países situados além do Cabo da Boa Esperança. Seria extinta em 1798 - (200 anos de exploração).

Em 1626 a Companhia Ruanesa obtinha autorização do cardeal Richelieu para o negócio da costa africana.

Colbert cria a famosa Companhia das Índias Ocidentais,em 1664, monopolizando durante muitos anos todo o tráfico a partir de Cabo Verde até ao Cabo da Boa Esperança e mar das Antilhas. Os portugueses e espanhóis, depois do descalabro da "Invencível Armada", enviada por Filipe II de Espanha, contra a Inglaterra (1588), ficam reduzidos a uma pequena fatia do grande bolo que apenas lhes pertencera!

== 72/3 ) - Os próprios negros,por vezes, conduziam alguns escravos aos mercados e feiras onde logo os vendiam ou trocavam por qualquer bugiganga, espingardas, pólvora, tecidos, etc. Os melhores iam para os ingleses e os mais fracos ou rejeitados para os portugueses que os pagavam com a "moeda" local (zimbo - um marisco de concha univalve, em forma de coração, pescado na Ilha de Luanda).

-..."Eram ainda os portugueses e espanhóis os que manifestavam mmais humanidade no seu trato"... (D.Manuel N.Gabriel - o.c.) -

== 74 ) - João do Campo e Paulo Martel eram comerciantes no Rio da Prata (Buenos Aires).

75 ) - " E sentado num Cabo pedregoso
... Estava o negro ancião se recordando,
... C'os olhos no horizonte,bem receoso :
... - Quantos filhos seus foram transportando
... Certos negreiros pra um fim duvidoso,
... Sob controle de pérfido comando,
... Sem esperanças de os voltar a ver
... Em seu mais triste e trágico viver ?!..."
.......................................

== 75 ) - Imagem simbólica de quantos escravos foram obrigados a deixar a sua terra e suas famílias para um destino desconhecido,fatal tantas vezes !...

- Quantas "crias" - (filhas de escravos) - enriqueceram os "hárens" dos grandes senhores !?

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-- INTERNET - a consultar :
http://www.releituras.com/gilbertofreyre_bio.asp

-- http://plano-da-obra.blogspot.com/2006/05/2-roteiro-da-viagem.html

--- http://prossiga.bvgf.fgf.org.br/portugues/index.html

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--- b) - De : "ANGOLA - DATAS E FACTOS" - lº Volume -1482/1652 - 2ª edição :

== 1624 - OUTUBRO - 1/3 - Bando criando as Feiras para o negócio de escravos em : DONGO (BUMBA ARQUIZAMBO), SAMBA ANGOMBE,CACULO CABAÇA E AMBUÍLA --

== 1626 - DEZEMBRO - Foram abertos os seguintes locais para Feiras : - GUIZAMBAMBE --CACULO -- SANGA -- QUIPAPA (QUIAPAPA), NADLA KISUA (MBONDO) --

== 1628 - A Coroa efectuara um contrato com ANDRÉ RODRIGUES ESTREMOZ para o monopólio comercial (com tráfico de escravos) em ANGOLA e CONGO, durante 8 anos.

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--- c) - de "ANGOLA - DATAS E FACTOS" - 2º Volume (1652/1837) - :

== 1660 - "DEZEMBRO - A exportação de escravos que alcançara elevados valores, entra em diminuição, excepto para o BRASIL e CUBA, destinados às suas culturas de cana-de-açúcar e café.

IN ANGOLABRASIL
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III") - A ESCRAVATURA - UMA TRAGÉDIA UNIVERSAL

III") - A ESCRAVATURA - UMA TRAGÉDIA UNIVERSAL


-----(TRANSCRIÇÕES PARCIAIS) DE : -----


===== A) - OBRAS DO AUTOR :


-- a) - "DO TEJO GRANDIOSO AO ZAIRE PODEROSO" - Poema Épico - 1º Volume - 2ª Edição -
--- CANTO SEXTO : "O DRAMA DA ESCRAVATURA" - ANOTAÇÕES (Referentes a muitas das suas estâncias,num total de 698) :

... 1 ) - "Muitos escravos foram retomados
... Que eram vendidos em boa quantidade,
... Sendo pra novas terras embarcados
... Que deles havia lá necessidade.
... Mas os poderes régios contrariados
... Logo os mandavam de volta à sua herdade,
... Sendo caso de má e desleal conduta,
... Não fosse obra feia, de filhos de puta!"

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== (1) - A África deve ter sido realmente o continente onde o homem surgiu pela primeira vez. Não é de admirar que tenha tido um papel preponderante na evolução humana, mesmo pré-histórica.
- A palavra escravo provém do facto dos eslavos (Europa Central) serem vendidos na Idade Média. A escravatura já existia há séculos na Europa e na Ásia, com várias categorias de escravos, em especial os domésticos e os de guerra,sobre os quais havia mesmo o direito de dispor de suas vidas.
-- ..."Foi ela sem dúvida um dos fardos mais pesados que oprimiu a África e constitui uma das mais tristes recordações da Europa -- e também dos países árabes -- sobre este continente...
... A escravatura parece ser quase tão velha como a humanidade, pois a encontramos em quase todos os povos antigos e sabe-se quanto ela pesou na sociedade do império romano, de refinada civilização" ... (em : "Angola, cinco séculos de Cristianismo", de D.Manuel Nunes Gabriel.

-- ... "A escravatura não foi trazida pelos europeus para a África, pois ela já existia mais ou menos em quase todos os africanos"...(da mesma obra).

== 2) - ..."Negociantes de TOMBOCTU e do mercado do deserto em Waden, traziam escravos e ouro em pó à feitoria de D.Henrique em Arguim, recebendo em troca trigo e panos brancos, albornozes, mercadorias europeias, enviadas pelo Infante num navio" ... "As caravelas de Portugal, seguindo o seu rumo ao longo da costa africana, já se não anunciavam pela violência, mas por ofertas de amizade e trocas justas com os indígenas dessas terras"... -(em "Descobrimentos Henriquinos", de E.Sanceau.)

-- "...O príncipe D.Henrique ordenou que as suas caravelas fossem armadas para a paz e para a guerra, ao país da Guiné, onde as gentes são extremamente negras"... (em "Crónicas", de Diogo Gomes).

-- O tráfico de escravos desencadeado pelos portugueses ao longo da costa africana não foi uma acção premeditada; foi surgindo à medida que faziam as conquistas ou até, ao princípio, por curiosidade, pela presença de povos desconhecidos e pela conveniência de justificativo dos lugares então alcançados. O principal objectivo do Infante seria talvez o de alcançar o reino cristão do misterioso Preste João para propagar a doutrina católica e combater o restante povo infiel.

-- "... Não consente o Senhor Infante que se faça dano a nenhum deles"...(em "Navegações", de Alvisse Cadamosto).

== 3 )-..."As expedições africanas faziam-se "por serviço de Deus e do Infante Nosso Senhor, e honra e proveito de nós mesmos."...(E.Sanceau-o.c.).

== 4 ) - D.Henrique não aprovava a simples captura de escravos, antes desejava manter boas relações (mesmo que fosse com objectivos comerciais), com tribos do interior. Assim, em 1445, segue para o Rio do Ouro o escudeiro João Fernandes e Antão Gonçalves, ficando este a viver no deserto com os berberes até encontrar-se com Ahude Meymom, magnate, possuidor de muito gado e ouro no Mali.
O Infante, só por si, talvez não penssasse em ..."reduzir à escravidão os povos descobertos"..."depois da descoberta de Arguim começaram a ser numerosos os escravos dali enviados para Lisboa. Formou-se uma companhia em Lagos para explorar o negócio dos escravos, que depois passou a ser reservado à coroa. Em meados do século XVI Lisboa contava com cerca de 10.000 escravos africanos"...(D.Manuel Nunes Gabriel, obra citada) -

-- Em 1486 foi fundada a Casa de Escravos.

== 5 ) "...O sultão do Egipto não deixa cristão nenhum passar para a Índia pelo mar Vermelho nem pelo rio Nilo para o Preste João, com receio de que os cristãos tratem com ele para que este rio lhes seja retirado"...

== 6 ) ..."se o preste João quizesse,faria desviar o rio para outro lado"...dizia La Broquiére.

... 7) - "A bons e novos portos iam chegando
... Cada dia mais além,por esses mares,
... O sonho em verdadeiro se tornando
... E bem mais quentes sendo os novos ares.
... Com tudo isso porém não lhes bastando
... Uns outros mais cuidavam dos bazares,
... No regresso levando negras gentes
... Por serem das suas algo diferentes;"

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== (7) - No século XVI os catalães visitavam as Canárias e faziam negócio de escravos para suprir a carência de mão-de-obra da Metrópole; uma das razões dessa falta no meio do século foi a peste que reduziu a população a menos de metade.
A "grande peste" (negra), propagou-se pela Europa entre 1348 e 1350; foi disseminada pelos genoveses fugitivos, chegados ao porto de Messina(1347), motivando uma enorme baixa na população, consequente falta de mão-de-obra e do aumento do seu custo. Provocou o abandono de aldeias, vilas e cidades, desagregando toda a economia, com efeitos durante muitos anos.

... 8) - "Logo vendo melhores e bons ganhos
... (Satisfazendo real necessidade),
... Começam de captar povos estranhos
... Que na defesa nem tinham vontade :
... - Uns,por curiosidade ou seus tamanhos,
... Mas outros destinados a uma herdade,
... Já sendo alto luxo entre a fidalguia
... Quem mais negros escravos possuia.
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== 8 ) - Nas cortes europeias começam a surgir servos negros nos mais diversos lugares domésticos, passando a ser um "luxo possuir em casa essas raridades"... Outros ocupavam lugares de guardas e soldados nos palácios reais.

... 9 ) - "E os lusos no negócio escuro estavam
... Desde que Tristão ao áureo rio seguira,
... Alcançando alguns tristes,nus andavam
... Com calor e secura que alguém vira.
... Ao continente berberes levavam,
... Testemunho do ponto que atingira,
... Mas chegando entre pasmo e orações
... Como estranhos seres ou aparições.
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== 9 ) - Em 1441, Antão Gonçalves e Nuno Tristão, na Costa do Ouro; uns outros que resistiram foram mortos. Em 1444, Lançarote de Lagos, leva 263 escravos que os vende logo à chegada !

... 10) - "Grande mal assim nem sempre cuidavam
... Por ser costume habitual muito antigo
... Que entre si mesmo todos operavam
... Sem haver nisso crime ou algum castigo.
... Nas guerras comuns logo ali os captavam
... E em servos punham tão fraco inimigo,
... Ficando alegre se à morte poupado,
... Não sendo pelos canhões atirado!
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== 10 )- ..."a fecunda e principal origem dos cativeiros nasce dos costumes bárbaros dos negros os quais eles abandonariam logo que conhecessem as verdades católicas e as máximas do Evangelho conformassem as suas acções"... "procedem-os cativeiros dos negros que outros nos vêm vender e que nós compramos para os transportar para o Brasil"...(de : D.Miguel António de Mello(governador-geral de Angola,1797/1802)-

--"...A escravatura florescia em África, havia milénios; os negros reduziam-se uns aos outros à escravatura, como ainda o fazem, ao passo que os árabes e os bérberes caçavam negros e vendiam-nos nos portos de Mediterrâneo... Os teólogos em geral estavam convencidos de que ela favorecia o maior bem dos seus irmãos pretos"...(em "D.Henrique,o Navegador", de E. Sanceau) -

-- Muitas vezes, em terra ou já durante as viagens havia motins, pelo que os escravbos eram postos a ferros ou espancados até à morte, o que acontecia por vezes nas fazendas onde eram amarrados ao "tronco" e chicoteados, na presença dos restantes e, outras vezes, em algumas guerras, atirados por pequenos canhões!

== 11) - Lançarote de Lagos e Gil Eanes,em navios com bandeira da Ordem de Cristo, fornecidos pelo Infante, faziam uma caçada entre o Cabo Branco e Arguim, capturando mais de 200 escravos, levando-os para Portugal, sendo desembarcados entre uma multidão embasbacada.

-- ..."E, animados do prazer benévolo,os seus amos enchiam-nos de mimos. Alguns deles é de recear que morressem com tantas bondades, empaturrados de comidas a que não estavam habituados. Começavam de lhes crescer os ventres -- diz-nos Zurara concisamente, e por tempo eram enfermos,... alguns deles eram assim compleicionados que o não podiam suportar e morriam... A maioria deles, porém,aclimatou-se e em breve se reanimou"...

-- ..."A escravidão nos países de língua portuguesa viu-se sempre na sua forma mais atenuada, e quanto aos primeiros africanos trazidos no tempo do Infante, a sua sorte era boa"...- (E.Sanceau - o.c.) -

== 12) - Nas costas de Cabo Verde, o chefe senegalês,Budomel, trocava cem escravos por sete cavalos arreados !

== 14 ) - Em certos pontos mais importantes o tráfico de escravos assumia um elevado movimento, constituíndo até o maior negócio, como em Jena, Timbuktu (Tombouctu), nas margens do rio Níger,havendo príncipes ou mesmo comerciantes que possuiam mais de uma centena de escravos; assim acontecia ainda na costa oriental(Zanzibar e outros pontos).

Estando autorizado o "negócio", eram os escravos trazidos do interior ou capturados pela costa e metidos em "gaiolas" ou a monte em armazéns, sem atender sequer à separação das famílias, chegando a matarem os filhos pequenos para negociarem as mães, sem que lhes fosse permitido protestarem, sob pena de "chicote" ou mesmo de morte,a não ser que fossem pagos em conjunto por um bom preço !

... 15 ) "A tanto era o negócio rendoso
... Que até os cativos outros permutavam
... Com objectos de aspecto duvidoso
... Ou pelo vinho com que embriagavam.
... Antes havia um controle cuidadoso
... E os menos sadios ao lado ficavam,
... Sendo às vezes trocados como saldo
... Por alguns que sobrassem do rescaldo."
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== (15) - Entretanto,nalguns países africanos, os escravos eram muitas vezes integrados nas famílias; noutros, como no Congo, eram tratados com certa tolerância, vendo-se até escravos a substituírem os chefes ausentes e Ngola Aire, filho de uma escrava, receber de Fernão de Sousa o trono do Dongo (Angola),em 1626. Também havia escravos que, por sua vez,possuíam escravos, e algumas tribos em que não havia qualquer tipo de escravatura.
Por vezes alguns senhores e, por certas razões. concediam-lhes carta de Alforria, indo em liberdade ou continuando ao seu serviço.

== 16 ) - Os congueses eram considerados bons escravos, sendo alegres e trabalhadores. Depois de seleccionados eram classificados, sendo os melhores designados "peças da Índia", chegando a valer o dobro ou o triplo dos outros mais fracos ou mais idosos; faziam-lhes um exame directo da cabeça aos pés (olhos, dentes, dedos, sexo, pés,etc); era negócio rendoso,feito à base de permuta,onde usavam as mais variadas artimanhas!
Depois de negociados eram marcados com ferro em brasa, no peito,pernas ou seios !
O Reino de Angola suplantaria o do Congo e mais tarde mesmo as feitorias da Costa do Ouro e Benin (Costa dos Escravos, tal o volume que atingiria a saída de escravos, principalmente para a América (Brasil e outros países), para substituir os índios, considerados fracos para o trabalho das plantações.

== 17 ) - Alguns reis possuíam nas suas cortes um elevado número de mulheres escolhidas, cuja missão era a de seduzirem jovens, por vezes de conivência com os próprios maridos, para depois serem acusados de adultério e por tal ficarem sujeitos ao regime de escravatura.



== 18 ) - O tráfico de escravos pelos árabes estava mais orientado para os serviços domésticos e para soldados e guardas (sendo castrados para não haver descendentes), tendo um ou outro, de preferência forte e saudável, seleccionado para "reprodutor".
As mulheres mais dotadas eram as escolhidas para o harém dos grandes senhores e algumas como criadas das jovens (mucamas).

== 19 ) - Antes do embarque nos navios negreiros, faziam novas escolhas, pelo que muitas vezes os pais e filhos, ou as mulheres e seus parceiros ficavam separados para sempre. Nesses momentos de desespero alguns se escapavam e deitavam-se ao mar e outros se estrangulavam mesmo. Antes da chegada ao destino os que estivessem doentes ou muito fracos eram lançados ao mar para evitar o pagamentode impostos, sem terem grandes hipóteses de os venderem.Os recuperados eram engordados à pressa,drogados e polidos para apresentarem melhor aspecto e resistirem aos exames físicos e empurrões dos compradores para verificarem se estavam em boa forma.
Das plantações do Brasil, Cuba e outros lados por vezes eram ainda revendidos para novos donos em mercados e feiras e novamente marcados com o malfadado ferro em brasa !

... 20 ) "Grilhetados a Lagos aportavam
... Por entre a gente aflita e boquiaberta,
... Sendo tamanhos os gritos e ais que usavam
... Quando os donos lançavam alta oferta !
... Fartos de dor e raiva se esmurravam
... Ou se deitam a terra quando ela aperta,
... Tal o receio p'los tratos que temiam
... Mas para alguns as penas cessariam."
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== 20 ) - Chegada de escravos a Lagos (Algarve)e sua venda no mercado.

... 21 ) "Mães e filhos iam cada uma por seu lado
... Em sendo diferentes os patrões,
... Sem cuidarem do laço mais sagrado
... Nem de humanas, vitais satisfações !
... Muitos do que ali estavam no mercado
... Não ocultavam suas emoções
... Chorando tanto como os infelizes
... E escondendo o pingar dos seus narizes.
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== 21 ) - "...Era uma maravilhosa cousa de ver...mas era também dilacerante. Alguns dos cativos choravam, uns gemiam, outros soltavam lamentos e havia os que davam punhadas no rosto e se atiravam ao chão"... (de : Zurara) -

... 22 ) "Num belo cavalo,o Infante os observava,
... Não mostrando o que estava ali sentindo,
... E escolhendo o quinto que lhe calhava
... O fez pra Sanra Igreja ir prosseguindo.
... Outro grupo melhor tratado estava
... Que em vez de chorar já ficava rindo,
... Sendo dum igual modo bem cuidados
... Sem ver as cores com que foram nados.
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== 22 ) - "...D.Henrique, montado num grande cavalo, observava a estranha cena; não sabemos se sentiu compungido. Segundo Zurara, estava... "considerando com grande prazer na salvação daquelas almas,que antes eram perdidas"..."Os amos não faziam diferença entre eles e os seus servos brancos livres -- se qualquer diferença havia, parece que era a favor dos africanos" ... (de E.Sanceau - o.c.) -

-- "...ao contrário do que sucede com os holandeses, o português entrou em contacto íntimo e frequente com a população de cor. Mais do que nenhum outro povo da Europa, cedia com docilidade ao pressígio comunicativo dos costumes, linguagem e das seitas dos indígenas e negros. Americanizava-se , conforme fosse preciso. Tornava-se negro, segundo a expressão consagrada da costa da África..." - (em "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda ) --

... 23 ) - "Mas,muitos outros,os negros negociavam
... Mandando-os para as novas descobertas,
... Nisso grande proveito retiravam
... Maior sendo a procura que as ofertas.
... Com loucura a tal todos se entregavam
... De manhas e outras causas encobertas,
... Pondo em tudo o seu´pérfido disfarce
... Sendo mais forte que melhor roubasse !
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== 23 ) - "...Todos os povos marítimos da Europa ocidental e do norte se entregaram desenfreadamente ao tráfico : - portugueses, franceses, holandeses, ingleses e dinamarqueses. Não eram uns melhores do que os outros"... - "...Angola exportava anualmente, pelos portos de Loanda e de Benguela, cerca de 15.000 escravos...os ingleses e holandeses traficavam também ao norte do Ambriz e na foz do Zaire, e os franceses no Loango, Malembo e Cabinda..." - ( de : D.Manuel N.Gabriel - o.c.) -

== 24 ) - Muito embora as ordens régias não o permitissem era então o melhor negócio que havia, mesmo para o erário público pelos impostos e direitos que cobrava.

== 25 ) - Muitos eram provenientes de S.Tomé, onde residiam os condenados, aventureiros e judeus perseguidos pela Inquisição, alguns casados com jovens escravas, apoiados por um governador corrupto e ambicioso (Fernão de Melo); ou mesmo escravos ou seus descendentes auferindo da liberdade (por alforria) concedida pela Carta Régia de D.Manuel I, em 1515. Os de Cabo Verde, metidos em negócios e resgatess na Guiné, proibidos em 1517, enquanto o rei D.Carlos V autorizava Riscalde e Garrevod praticarem o mesmo ramo, proibido aos restantes.

-- ..."O comércio da escravatura,o principal, mais importante ramo da fazenda real neste reino, é geralmente feito por indivíduos mandados expiar aqui os crimes atrozes que na Europa cometeram...Mas este vil tráfico fomenta e entretém uma constante imoralidade nos índivíduos deste país...parece que tais monstros perderam na passagem do equador toda a lembrança e interesse pelo país onde nasceram..." --(de Cristóvão Avelino Dias - governador-geral de Angola(1823)."-

== 26 ) - Os próprios povos negróides do Saara, na busca dos rios e lagos onde se pudessem instalar, escravizaram ou expulsaram os outros povos menos fortes, como por exemplo o que se deu com os povos Khoisans -- (hotentotes e busquímanos(Kungs) -- corridos pelos probantos,como no Congo.
-- Até os sobas vendiam os seus "fidalgos" e os pais vendiam os filhos : -... o padre Cavazzi afirma que alguns, por um preço abjecto, como um colar falso, um pedaço de vidro ou algum vinho da Europa -- vendem os pais, os filhos, os irmãos, as irmãs, afirmando aos compradores, com mil pragas, que são escravos e condenados muitas vezes à morte"...

== 28 ) - Vários delitos podiam levar à escravidão : - adultério com mulher legítima, morte numa luta, prisão em guerras (Kuata,Kuata),etc. Alguns sobas vendiam os seus vassalos quando não possuíam outros escravos para troca com mercadorias ou faziam as tais guerras contra vizinhos apenas com o propósito de adquirirem "escravos de guerra".

== 29 ) - Alguns chefes mantinham famílias de escravos que descendiam de outros há várias gerações, alguns sem terem realmente conhecimento da sua efectiva condição de escravos. Como a lei proibia a separação dos escravos casados, os senhores faziam tudo para evitar os casamentos ou simplesmente nem cumpriam a lei.

== 30 ) - Os espanhóis possuíam um vasto domínio na América,tendo dizimado as populações nativas(índias e astecas),ou escravizando outras nas plantações; porém, estas não se adaptavam aos trabalhos, fugindo ou morrendo (ou sendo mortas); assim, voltavam-se para os escravos africanos, adaptados a climas semelhantes e mais resistentes.

== 32/33 ) - Tráfico que só podia ser efectuado por intermédio dos portugueses que ali possuíam um monopólio consagrado pelo Papa Nicolau V, no ano de 1454 e confirmado expressamente depois pelo Tratado de Tordesilhas(1494), por Alexandre VI (e antes,1479, pela Paz de Alcáçovas).

== 34 ) - "...Na América Central e nas Caraíbas os colonos não descansaram enquanto não arrancaram ao rei de Espanha um decreto que permitia reduzir os índios à escravidão"... - (D.Manuel N.Gabriel - o.c.) -

== 35 ) - "... Las Casas(Bartolomeu)-- 1474/1566), nasceu em Sevilha e foi o grande defensor dos índios contra os conquistadores, tendo ficado conhecido por "Apóstolo das Índias". Escreveu a História Geral das Índias.
Porém, os espanhóis, concluindo que os índios não satisfaziam nos trabalhos. conseguiram autorização para os substituir pelos escravos africanos, apenas com a exigência papal de que deveriam ser baptizados. Além de solução prática o escravo africano funcionava como "moeda "internacional", com "visto" de reis e papas !

== 36 ) "Já Colombo trouxera uma remessa
... Que nas ocidentais Índias teria,
... Talvez fiado nalguma vã promessa
... Que afinal da Católica não havia,
... Tendo de os soltar todos mais à pressa
... Que nunca viram tão grande alegria !
... Cada qual tomou novo amo ou outro rumo
... Mas com comida certa e bom aprumo."

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== (36) - Cristóvão Colombo(1451/1506), sob a bandeira ..dos reis de Espanha e na busca doutro caminho marítimo para as Índias,recusado por D.João II,chegara às Américas em 1492, desconhecendo que alcançara o continente americano, onde tinham chegado muitos anos antes (talvez mesmo cinco séculos)os vikings, EriK, o Vermelho. e seu filho Leif, o Afortunado;( à Gronelândia, em 982/85).

..."Quando Colombo regressou da sua 1ª viagem à América, trouxe um carregamento de índios para vender em Espanha. A rainha, Dona Isabel, a Católica, teve escrúpulos em permitir a sua venda e mandou pô-los em liberdade" . --(D.Manuel N.Gabriel - o.c.) --

== 37/39 ) - Só os espanhóis estavam autorizados a negociarem, mas não possuindo os necessários conhecimentos, nem feitorias próprias,
para o abastecimento da mão-de-obra. logo socorriam-se dos portugueses que, aproveitando a situação, os ludibriavam.

-- "... Não se esqueça também que a ocupação europeia da maior parte da África quase até aos nossos dias e a de Angola pelos portugueses tiveram também muitos aspectos positivos..." -- (Sérgio B.Holanda - o.c.) --

-- Em 1570 D.Sebastião fixara várias normas de conduta sobre essa ocupação e proibindo ainda o comércio de escravos.

== 46/7 ) - Concessão da donatária de Angola a Paulo Dias de Novais, em 19 de Setembro de 1571.
Inquérito efectuado por Abreu de Brito.

49 ) "Em celas apertadas,muito escuras,
... Mas que de barcos assim se tratavam,
... Morriam cheios de fome e de securas
... Ou das muitas pancadas que apanhavam.
... Para mais tristes sortes,desventuras,
... Eram vendidos por ouros que odiavam,
... Caíndo p'la terra quente,afastados
... Das suas mulheres,fracas,noutros lados.
........................................

== (49) - Só os homens é que normalmente interessavam aos negreiros por resistirem melhor às durezas das viagens,e,mesmo para esses,eram muitos os sacrifícios e tormentos que passavam. Além de serem muito demoradas, as cargas que cada navio levava, sem nenhumas condições, tornavam bastante piores essas viagens.

53 ) - "E mais defronte,os lusos insistentes
... Com medidos esforços e canseiras,
... Obtinham resultados sorridentes
... Em causas de outras válidas maneiras.
... Com eles iam sabidos e alguns crentes
... Que noutros lados,com razões ou asneiras,
... Tinham obtido paz e condições
... Em lucros de melhores divisões.
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== (53) - "...Neste caso o Brasil não foi teatro de nenhuma novidade. A mistura com gente de cor tinha começado amplamente na própria Metrópole. Já antes de 1500, graças aos trabalhos dos pretos trazidos das possessões ultramarinas, fora possível, no reino, estender a porção de solo cultivado, desbravar matas, dessangrar pântanos e transformar charnecas em lavouras,com o que se abriu passo à fundação de povoados novos"... - (Sérgio B. Holanda - o.c.)-

== 54 ) - Também os jesuítas ali possuiam os seus escravos,embora contrariando a orientação papal; mantinham diversos nas suas propriedades para o cultivo das terras.

58 ) - "Iam em lotes dobrados,por cuidado
... Prevendo as mortes talvez habituais,
... O que em cada nau tinha-se elevado
... Forçando a carregar braços a mais.
... De tal forma era o número aumentado
... Que, com fomes e apertos sem iguais,
... Ao mar encapelado se lançavam
... E da bruta força humana escapavam!

59 ) - "Homens,mulheres,eram amarrados,
... Corpos rapados,nus,ali estendidos
... Uns contra os outros postos,alternados,
... Pra aproveitar espaços já vendidos.
... Os naturais alívios ali obrados
.... Entre os líquidos,gazes expelidos,
.... Mais parecendo fétida estrumeira
.... Duravam assim a viagem inteira !"
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== (59) - Com os corpos quase nus e rapados, eram deitados uns contra os outros de maneira a ocuparem menos espaços, todos comprimidos e sujos pelos próprios dejectos!

== 60 ) - Às vezes, durante o dia,os escravos eram postos na ponte, a arejar ou a trabalhar; outras vezes obrigavam a fazer danças,sob chicotadas. Nos motins os cabecilhas eram executados ou lançados ao mar; outros chicoteados até ficarem em sangue e servindo de espectáculo,ou retalhados e servidos como refeição !...

== 61 ) - Outras vezes eram picados ou retalhados e tratados com misturas picantes e pólvora. Os condenados à morte recebiam a notícia com alegria por se libertarem daquele inferno..."Em seguida com a satisfação pintada na cara, olhando com desdem o carrasco e recusando que pusesse mão neles, lançavam-se ao mar,onde encontravam pronto remédio para os seus males"... - (em : "A causa dos escravos negros" - de FROSSARD) --

== 63 ) - Proibição aos portugueses de irem a CARTAGENA, dada por Filipe IV.

64 ) - "Depois um novo acordo combinaram
... Que permitia maior venda de gentes;
... Em porões carregados as embarcavam
... Para certos "assientistas" exigentes.
... Uns outros ali rápidos chegavam
... Da fortuna fácil muito crentes,
... Ficando os castelhanos co fracasso
... Porque primeiro alguém passara o laço.
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== (64) - Junta de Escravos (1614) -- Carlos V concede aos flamengos um "assiento", em 1518, sobre a "tonelagem de escravos" permitida nos seus navios, depois transmitida aos genoveses,portugueses e ingleses. Os barcos tinham dispositivos adequados ao transporte de escravos para aproveitar o máximo de espaço e evitar as suas fugas para o mar. Em terra havia uma complicada organização à roda das feitorias, com barracões onde os escravos, amontoados,aguardavam a chegada dos navios. Um sistema de taxas e impostos enchia os bolsos de muitos exploradores de vários países. Os que não tinham feitorias praticavam acções de pirataria, com assaltos aos outros negreiros. Assim era em Arguim, Goreia(na ilha de Goree), Fernando Pó, S.Tomé, bem como mesmo em Luanda. Enquanto os franceses quase não possuiam instalações, os holandeses e ingleses eram os mais apetrechados nesse tráfico, servindo-se de todos meios para aliciarem os menos precavidos, tais como : - mulheres, bebidas alcoólicas e armas; quando já estavam entorpecidos eram amarrados e embarcados à força! Além dos portos indicados havia também grande movimento por quase toda a costa africana (Senegal),Serra Leoa, Costa do Marfim, Costa do Ouro, Ajudá, Benin,etc.) -

== 67 ) - Governador-geral Correia de Sousa enviara alguns povos (macotas e lengas) para o Brasil,tomando ainda severas atitudes contra os reinos do Congo e Benguela para os eliminar.

== 69 ) - D.Fernando de Toledo conseguiu um "assiento" para quinze mil licenças de venda de escravos.

Em Inglaterra formara-se a primeira Companhia para o negócio da escravatura, concedido ao famigerado John Hawkins e na qual a própria rainha D. Isabel teria(?) interesses, funcionando em regime de monopólio durante muitos anos!
Em Lagos também funcionava uma outra designada "Companhia" dedicada ao mesmo ramo, pois ali há muito existia o respectivo mercado.

== 70 ) - Os holandeses tiveram uma certa autonomia marítima a partir do século XVI, sendo superados depois pelos franceses e ingleses já no século XVII. Utilizavam o tristemente e bem célebre "Triângulo de Nantes", sendo os outros dois vértices na Costa de África e na América,fazendo toda a espécie de roubos e de piratarias.

71 ) - "Até um rei negro e sua corte vendiam
... Depois de seduzidos em cilada,
... Que as palavras assim nada valiam
... Entre gentes de má fé demonstrada.
... Nova Companhia logo formariam
... Apoiados p'lo Cardeal nessa jornada;
... A Colbert noutra até mais ajudaria
... Com certo monopólio que fazia.
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== (71) - Em 1602 é fundada a Companhia Holandesa das Índias Orientais, estendendo-se a sua acção aos países situados além do Cabo da Boa Esperança. Seria extinta em 1798 - (200 anos de exploração).

Em 1626 a Companhia Ruanesa obtinha autorização do cardeal Richelieu para o negócio da costa africana.

Colbert cria a famosa Companhia das Índias Ocidentais,em 1664, monopolizando durante muitos anos todo o tráfico a partir de Cabo Verde até ao Cabo da Boa Esperança e mar das Antilhas. Os portugueses e espanhóis, depois do descalabro da "Invencível Armada", enviada por Filipe II de Espanha, contra a Inglaterra (1588), ficam reduzidos a uma pequena fatia do grande bolo que apenas lhes pertencera!

== 72/3 ) - Os próprios negros,por vezes, conduziam alguns escravos aos mercados e feiras onde logo os vendiam ou trocavam por qualquer bugiganga, espingardas, pólvora, tecidos, etc. Os melhores iam para os ingleses e os mais fracos ou rejeitados para os portugueses que os pagavam com a "moeda" local (zimbo - um marisco de concha univalve, em forma de coração, pescado na Ilha de Luanda).

-..."Eram ainda os portugueses e espanhóis os que manifestavam mmais humanidade no seu trato"... (D.Manuel N.Gabriel - o.c.) -

== 74 ) - João do Campo e Paulo Martel eram comerciantes no Rio da Prata (Buenos Aires).

75 ) - " E sentado num Cabo pedregoso
... Estava o negro ancião se recordando,
... C'os olhos no horizonte,bem receoso :
... - Quantos filhos seus foram transportando
... Certos negreiros pra um fim duvidoso,
... Sob controle de pérfido comando,
... Sem esperanças de os voltar a ver
... Em seu mais triste e trágico viver ?!..."
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== 75 ) - Imagem simbólica de quantos escravos foram obrigados a deixar a sua terra e suas famílias para um destino desconhecido,fatal tantas vezes !...

- Quantas "crias" - (filhas de escravos) - enriqueceram os "hárens" dos grandes senhores !?

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-- INTERNET - a consultar :
http://www.releituras.com/gilbertofreyre_bio.asp

-- http://plano-da-obra.blogspot.com/2006/05/2-roteiro-da-viagem.html

--- http://prossiga.bvgf.fgf.org.br/portugues/index.html

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--- b) - De : "ANGOLA - DATAS E FACTOS" - lº Volume -1482/1652 - 2ª edição :

== 1624 - OUTUBRO - 1/3 - Bando criando as Feiras para o negócio de escravos em : DONGO (BUMBA ARQUIZAMBO), SAMBA ANGOMBE,CACULO CABAÇA E AMBUÍLA --

== 1626 - DEZEMBRO - Foram abertos os seguintes locais para Feiras : - GUIZAMBAMBE --CACULO -- SANGA -- QUIPAPA (QUIAPAPA), NADLA KISUA (MBONDO) --

== 1628 - A Coroa efectuara um contrato com ANDRÉ RODRIGUES ESTREMOZ para o monopólio comercial (com tráfico de escravos) em ANGOLA e CONGO, durante 8 anos.

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--- c) - de "ANGOLA - DATAS E FACTOS" - 2º Volume (1652/1837) - :

== 1660 - "DEZEMBRO - A exportação de escravos que alcançara elevados valores, entra em diminuição, excepto para o BRASIL e CUBA, destinados às suas culturas de cana-de-açúcar e café.
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