Este blog visa apenas dar visibilidade a textos de autores considerados de interesse para a compreensão da História Colonial de Angola. Por abarcar os mais diversas abordagens, é um blog dedicado aos de espirito aberto, que gostam de avaliar assuntos, levantar questões e tirar por si próprios suas conclusões. É natural que alguns assuntos venham a causar desagrado, e até reacções da parte daqueles cujas perspectivas estejam firmemente cristalizadas.
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
O "INDÍGENA" AFRICANO E O COLONO "EUROPEU": A CONSTRUÇÃO DA DIFERENÇA POR PROCESSOS LEGAIS"
Maria Paula G. Meneses
Centro de Estudos Sociais
Universidade de Coimbra
Palavras chave: Missão Civilizadora, Portugal, Moçambique, Colonialismo, República
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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
Salazar e de Gaulle: A França e a questão colonial portuguesa. 1958-1968
Salazar e de Gaulle: A França e a questão colonial portuguesa. 1958-1968
by Daniel da Silva Costa Mardos
Colecção Biblioteca Diplomática do MNE
Para consultar clicar AQUI
domingo, 22 de janeiro de 2012
Ex-colónias portuguesas de África: "Racismo, Xenofobia e Discriminação"
O que distingue a pele branca da pele negra é, em termos quantitativos, uma maior ou menor produção
do pigmento melanina. Visualização rápida.O atraso secular que se abateu sobre a África negra e que teve muito a ver com o isolacionismo dos povos em tribus que se guerreavam entre si (um povo atrasado só avança no contacto com outros mais avançados), contribuiu para um imaginário depreciativo do europeu que favoreceu a ideologia escravagista do Antigo Regime (Absolutismo). Foi a influência do pensamento liberal europeu e dos postulados do iluminismo no século XIX que levou a uma mudança em relação à imagem dos africanos que passaram a ser vistos como muito bem referiu Valentim Alexandre (1) “seres decerto atrasados, devido a circunstâncias históricas acidentais, mas capazes de progredir e de se integrarem como cidadãos no corpo nacional” . (1) Valentim Alexandre, 1995, pp. 234

O albinismo é uma condição genética caracterizada pela ausência ou pequena quantidade da melanina. Pelo facto os albinos são marginalizados e até assassinados em África pelos próprios africanos, sobretudo na região dos Grandes Lagos, mais precisamente na Tanzânia e no Quênia devido à cor da sua pele conotada com feitiçaria.
"Racismo, Xenofobia e Discriminação"
A questão do racismo, xenofobia e discriminação atribuídas aos portugueses continua a ser um tema recorrente na sociedade Moçambicana. Esta questão parece preocupar mais os moçambicanos, passados 27 anos sobre a sua Independência, que a pobreza da população. O problema é que não se percebe, muitas vezes, a que portugueses é atribuído tão pouco dignificante estatuto: a) aos que viviam em Moçambique antes de 1974 (cerca de 250 mil); b) aos que agora aí vivem (cerca de 13 mil); c) aos que residiam em Portugal antes de 1974; d) aos que residem actualmentel; f) a todos os portugueses, incluindo os de origem africana; g) apenas os brancos; etc.
O Racismo dos Portugueses
A frequência com que o tema do alegado racismo dos portugueses surge na Internet em Moçambique, tem um evidente conteúdo político que importa perceber. A perspectiva dos colonizados, não é naturalmente coincidente com a do colonizado.
A frequência com que o tema do alegado racismo dos portugueses surge na Internet em Moçambique, tem um evidente conteúdo político que importa perceber. A perspectiva dos colonizados, não é naturalmente coincidente com a do colonizado.
Perspectiva dos Colonizados.
1. É sabido que as relações entre os países colonizados e os colonizadores nunca são pacifícas. Pelo meio existe toda uma história em comum, que tanto estimula sentimentos de simpatia como de ódio.
2.Os antigos colonizados tendem a encarar os colonizadores, como a fonte de todos os seus problemas passados, presentes e futuros. Em geral produzem um discurso que repete sem cessar os mesmos temas: Eles viviam nas suas terras pacificamente até que um dia foram assaltados, desapossados das suas terras e recursos naturais, escravizados. Os colonizadores não se preocuparam em desenvolver o país, mas apenas em roubar e humilharam as populações, etc.
3.Aos olhos dos colonizados, os colonizadores, tem uma "divida eterna" para com eles. Quando um emigrante de um país colonizado volta a uma antiga colónia, frequentemente sucedem-se as queixas de roubos, saques com a conivência das autoridades locais. Ao nível do discurso popular, este tipo de roubos é assumido como uma modesta reparação. Tudo o que lhes conseguiram extrair é sempre pouco, dado que os seus antepassados colonos fizeram muito pior.
4. As relações entre países colonizados e colonizadores, raramente são colocadas em termos de reciprocidade. Uns tem mais obrigações que outros.Uns sentem-se no direito de receber, outros estão moralmente obrigados a pagar.
5.Os casos de alegada discriminação dos seus emigrantes nas antigas potências colonizadoras, são percepcionados como a confirmação de uma ideia feita.É a prova que os antigos colonizadores continuam a ser tão racistas como antes.
Há muito de Verdade nestas afirmações, mas raramente exprimem toda a Verdade.
6.O certo é que à força de tanto ser repetido este discurso, os antigos colonizadores acabam por se tornarem numa espécie de personificação do Mal, transformando-se num "bode espiatório" para todas as frustrações e insuficiências sentidas no quotidiano. Não há mal nenhum que não lhes possa ser atribuído.
7.Os mais pobres entre os colonos, quase sempre os únicos que aceitavam os trabalhos mais humildes junto das populações locais são erigidos à condição de protótipo do antigo Colono. Tornam-se objecto de anedotas onde encarnam a figuras de pacóvios, estúpidos, burros, ignorantes, etc. Desta forma procura-se ridicularizar o pertenço domínio ou superioridade do colonizador. Quase dois séculos depois da Independência do Brasil, a figura do "português", como sinónimo de ignorante e espertalhão está ainda bem presente nas anedotas no Brasil.
Perspectiva dos Colonizadores
8. Os antigos colonizadores, por seu lado, tendem a encarar os ex-colonizados como uns ingratos, dado que eles não reconhecem o esforço de gerações de colonos a desbravarem terras, criarem plantações, abrirem estradas, portos, etc etc.
9. Aos seus olhos os habitantes das antigas colónia apenas vêem os aspectos negativos da colonização, estão amarrados ao lado negro de um passado comum.Na sua perspectiva, existem outros problemas mais importantes para serem discutidos. O passado passou, e tudo deve ser visto em função do respectivo contexto histórico, em suma, relativizado.
10. O diálogo entre "colonizadores" e "colonizados" acaba frequentemente num monólogo cada um esgrimindo as suas ideias feitas sobre o Outro.
8. Os antigos colonizadores, por seu lado, tendem a encarar os ex-colonizados como uns ingratos, dado que eles não reconhecem o esforço de gerações de colonos a desbravarem terras, criarem plantações, abrirem estradas, portos, etc etc.
9. Aos seus olhos os habitantes das antigas colónia apenas vêem os aspectos negativos da colonização, estão amarrados ao lado negro de um passado comum.Na sua perspectiva, existem outros problemas mais importantes para serem discutidos. O passado passou, e tudo deve ser visto em função do respectivo contexto histórico, em suma, relativizado.
10. O diálogo entre "colonizadores" e "colonizados" acaba frequentemente num monólogo cada um esgrimindo as suas ideias feitas sobre o Outro.
Diálogo Portugal - Moçambique
O caso das relações entre Moçambique e Portugal, apresenta alguns aspectos curiosos. Lendo as acusações sobre o racismo dos portugueses descobre-se a ideia que estaria no horizonte uma alegada invasão de Moçambique pelos portugueses. O que analisando a sociedade portuguesa e os seus fluxos emigratórios, tal situação está longe de ser perspectivar. Há outros destinos mais lucrativos para quem quer emigra. A baixa taxa de natalidade em Portugal transformou-o também o pais, deixou de ser um tipíco exportar de mão-de-obra, para ser um destino para imigrantes. É também pouco provável que a comunidade portuguesa na África do Sul (cerca de 500 mil pessoas) se desloque para Moçambique. Tudo leva a crer que a unica comunidade que tende a aumentar é a dos moçambicanos em Portugal, à semelhança do que acontece com as restantes ex-colónias, nomeadamente com o Brasil.
O que justifica então esta continua referencia ao racismo do portugueses? Apenas a necessidade de encontrar um "bode expiatório" para as frustração quotidianas? Uma desculpa para a incompetência dos governantes?.
A insistência no alegado racismo dos portugueses, remete-nos para duas hipóteses explicativas que continuam a ter eco na sociedade moçambicana:
a) O alegado racismo e xenofobia dos brancos (portugueses), ao permitir uma clara distinção racial, possibilita igualmente a criação de uma clima que favorece a coesão nacional entre negros, induzindo-os a uma consciência de unidade cultural por oposição ao branco;
b)A denuncia do alegado racismo dos brancos (portugueses), deixa transparecer a intenção de criar uma tensão entre dois tipos de culturas: a Ocidental (racista, xenofoba, etc) e a Islâmica (dominante no norte de Moçambique).
Em qualquer dos casos, trata-se de cortar ou enfraquecer as ligações de Moçambique com as suas raízes europeias (portuguesas), abrindo caminho ao reforço de outras influências.
O caso das relações entre Moçambique e Portugal, apresenta alguns aspectos curiosos. Lendo as acusações sobre o racismo dos portugueses descobre-se a ideia que estaria no horizonte uma alegada invasão de Moçambique pelos portugueses. O que analisando a sociedade portuguesa e os seus fluxos emigratórios, tal situação está longe de ser perspectivar. Há outros destinos mais lucrativos para quem quer emigra. A baixa taxa de natalidade em Portugal transformou-o também o pais, deixou de ser um tipíco exportar de mão-de-obra, para ser um destino para imigrantes. É também pouco provável que a comunidade portuguesa na África do Sul (cerca de 500 mil pessoas) se desloque para Moçambique. Tudo leva a crer que a unica comunidade que tende a aumentar é a dos moçambicanos em Portugal, à semelhança do que acontece com as restantes ex-colónias, nomeadamente com o Brasil.
O que justifica então esta continua referencia ao racismo do portugueses? Apenas a necessidade de encontrar um "bode expiatório" para as frustração quotidianas? Uma desculpa para a incompetência dos governantes?.
A insistência no alegado racismo dos portugueses, remete-nos para duas hipóteses explicativas que continuam a ter eco na sociedade moçambicana:
a) O alegado racismo e xenofobia dos brancos (portugueses), ao permitir uma clara distinção racial, possibilita igualmente a criação de uma clima que favorece a coesão nacional entre negros, induzindo-os a uma consciência de unidade cultural por oposição ao branco;
b)A denuncia do alegado racismo dos brancos (portugueses), deixa transparecer a intenção de criar uma tensão entre dois tipos de culturas: a Ocidental (racista, xenofoba, etc) e a Islâmica (dominante no norte de Moçambique).
Em qualquer dos casos, trata-se de cortar ou enfraquecer as ligações de Moçambique com as suas raízes europeias (portuguesas), abrindo caminho ao reforço de outras influências.
Carlos Fontes
Conceitos
Xenofobia: Aversão aos
estrangeiros, ao Outro (o Diferente).
Nenhum povo é intrinsecamente xenofobo, no entanto, muitos assumem com maior frequência estas posições que outros. Em certas épocas esta aversão é mais notória também que noutras. A xenofobia não parece ter haver com o nível de desenvolvimento do país. Presentemente assistimos uma vaga de xenofobia nos países economicamente mais desenvolvidos. A razão deste fenómeno que atinge toda a Europa, EUA, Austrália, etc, é simples: o estrangeiro (imigrante,etc) é apontado como a causa do aumento da criminalidade, mas também como uma ameaça às regalias duramente conquistadas pelos trabalhadores locais. Na verdade, o estrangeiro (o imigrante) está, em geral, disposto a trabalhar com salários inferiores aos praticados no país e em condições mais precárias. Esta situação acaba por provocar certa animosidade contra os mesmos por parte dos trabalhadores desses países. Em França, entre os apoiantes da extrema-direita (xenofoba) contava-se centenas de milhares de operários. Um dos maiores problemas da xenofobia é quando esta se manifesta sob a forma de um nacionalismo exacerbado, chauvinismo, etc. É nesta alturas que ocorrem perseguições colectivas às minorias, às quais são atribuídos todos os males.
Nenhum povo é intrinsecamente xenofobo, no entanto, muitos assumem com maior frequência estas posições que outros. Em certas épocas esta aversão é mais notória também que noutras. A xenofobia não parece ter haver com o nível de desenvolvimento do país. Presentemente assistimos uma vaga de xenofobia nos países economicamente mais desenvolvidos. A razão deste fenómeno que atinge toda a Europa, EUA, Austrália, etc, é simples: o estrangeiro (imigrante,etc) é apontado como a causa do aumento da criminalidade, mas também como uma ameaça às regalias duramente conquistadas pelos trabalhadores locais. Na verdade, o estrangeiro (o imigrante) está, em geral, disposto a trabalhar com salários inferiores aos praticados no país e em condições mais precárias. Esta situação acaba por provocar certa animosidade contra os mesmos por parte dos trabalhadores desses países. Em França, entre os apoiantes da extrema-direita (xenofoba) contava-se centenas de milhares de operários. Um dos maiores problemas da xenofobia é quando esta se manifesta sob a forma de um nacionalismo exacerbado, chauvinismo, etc. É nesta alturas que ocorrem perseguições colectivas às minorias, às quais são atribuídos todos os males.
Racismo: Conceito ideológico segundo o qual todos os homens distinguem-se em função da sua raça, sendo que umas são melhores que outras devido certas características inatas ( melhor inteligência, mais valentia, etc.).O discurso racista, fundado numa alegada superioridade biológica foi durante muito tempo o discurso dos que detinham o poder, ou dos que se acham que tinham NATURALMENTE direito ao mesmo. O Branco achava-se superior ao Negro, o Nobre superior ao Plebeu,o Inglês superior ao Irlandes Católico, etc. Desta forma legitimavam a exploração que faziam de outros seres humanos.
Discriminação: Exclusão de
seres humanos no acesso a determinadas ocupações, baseada em factores
arbitrários como o sexo, raça, nacionalidade, etnia, etc.
ORIGEM DESTE TEXTO
ORIGEM DESTE TEXTO
A saga dos Chingunji

Em Janeiro de 1975, em trânsito para Luena, fiquei umas horas na cidade do Kuito. Estavam ali a minha mãe e os meus dois irmãos. Eles participavam numa Conferência da Unita, que ficou célebre por ter criado a organização infantil desse partido, a Alvorada. Eu estava muito longe de imaginar que me iria cruzar com uma família muito especial; digo especial, por ela ter povoado a minha mente com sentimentos de admiração. Mas também por ela estar marcada, como se viu mais tarde, pela mais terrível saga que podia imaginar. Recordo-me de tudo tal como se fosse hoje: num dos intervalos da Conferência, a mãe, logo que deu por nós, pediu que a acompanhássemos. Furámos a multidão que, no pátio, conversava sobre a impressão que o Líder do partido lhes causara. Detemo-nos diante de uma senhora que, segundo a mãe, fora sua colega na Escola Means do Dôndi. Ela respondia pelo nome de Violeta Jamba. Era uma mulher possuidora de uma forte personalidade e de um aprumo próprio de uma rainha.
Pelo tempo, já não disponho dos pormenores da conversa que se seguiu entre elas. Mas não me esqueci de a “tia” Violeta ter-nos olhado com respeito, ternura e admiração e ter dito à minha mãe:”cuide-os bem e faça tudo para que eles saibam tomar conta deles próprios”. Mentiria se dissesse que essas palavras não me haviam impressionado. Tinha dezasseis anos, mas isso não evitou que pensasse em algo que comentei depois com os meus entes queridos: embora indirectamente, aquela senhora estava a fazer uma apologia à vida. E, não foi por acaso que a minha mãe, retorquiu:” só reconhece o valor de um objecto ou de uma pessoa, aquele que o perdeu”. Dito por outras palavras, a "tia" Violeta já estava a viver os efeitos de uma saga que os iria envolver tal qual os tentáculos de um polvo gigante.
Uma saga é definida em qualquer dicionário em várias acepções: para os escandinavos, as sagas são lendas redigidas na Islândia do século XII ao século XIV. Para os romanos, a saga era encarada como bruxa ou feitiçaria. Actualmente, há quem defina a saga como a história, pejada de dramas, de determinadas pessoas ou mesmo como uma maldição. Esta acepção pode ser encontrada nos livros “A saga dos Kennedy” ou “ A maldição dos Kennedy” de Rose Fitzgerald Kennedy e Edward Klein, respectivamente.
Na verdade, é possível estabelecer um paralelo entre os Kennedy e os Chingunji. Isso poderia ser útil para se encontrar alguns pontos em comum sobre as fontes de uma saga. As sagas acontecem, por norma, em famílias numerosas, inteligentes, dinâmicas, empreendedoras, com um grande protagonismo social e político, que agem em função do projecto familiar de um patriarca. Diz-nos Klein que, para o caso dos Kennedy, a saga abateu-se sobre esta família pelo facto de Patrick Kennedy, um irlandês, que emigrou para os Estados Unidos da América, em 1858, ter deixado um legado de humilhação que estimulou a “imprudência e o comportamento arriscado dos seus descendentes”. Patrick Kennedy morreu aos 35 anos de tuberculose.

Eduardo Jonatão Chingunji foi um professor de prestígio e Director das escolas da Missão da Chissamba. Em 1975, depois da expulsão do Mpla do Centro de Angola, foi nomeado pela Unita, como governador da província do Bié. Militante pioneiro e activo da Unita desde o tempo colonial, sofrera o desterro nas prisões do Tarrafal de onde viria a sair em 1975. O lado mais aberrante do seu contencioso com as autoridades coloniais foi o facto destes o terem separado da sua esposa, Violeta Jamba, que fora enviada para S. Nicolau.
Eduardo Jonatão Chingunji, tal como o patriarca dos Kennedy, teve várias filhos. Destes, David Jonatão Chingunji (Samuimbila), tal como o seu irmão Samuel Piedoso Chingunji (Kafundanga) não chegaram a ver a independência do país. Logo após o 25 de


A independência do país chegou com os Chingunji praticamente completos, à excepção dois irmãos.
Conheci Eduardo Jonatão Chingunji no Bié, em finais de 1975, durante um culto numa das igrejas evangélicas do Kuito. Um homem calmo, que inspirava respeito e admiração, pareceu-me, no entanto, demasiado conservador. Lembro-me de, nesse culto, ter-se voltado contra nós, as mulheres, que usávamos saias e calças, defendendo, com ardor e paixão, a moda africana, de as mulheres usarem panos. Atreveu-se, inclusivamente, a dizer que iria meter a polícia nas ruas, a fim de punir, com prisão, as jovens e as mulheres que se atravessem a trajar de calças e de saias. Óbvio que isso tenha caído mal a Jonas Savimbi. Este, sempre de olhos posto aos movimentos dos Chingunji, aproveitou este deslize para o atacar pública e veementemente num comício. Tratava-se da gota de água que fizera transbordar o copo. Já se sabia, na altura, que as ideias de Eduardo Jonatão Chingunji colidiam com as do Líder da Unita. Para um religioso, nacionalista lúcido, embora conservador, como Eduardo Jonatão Chingunji era difícil aceitar algumas posturas, escolhas, posições e comportamentos promíscuos de Jonas Savimbi. Isso para não falar da amálgama de ideologias e posições contraditórias do mesmo (maoísmo, alianças com o apartheid e Americanos, Negritude, etc.). Eduardo Jonatão Chingunji era um visionário nacionalista e Jonas Savimbi um estratega que agia em função dos preceitos maoístas “não importa a cor do gato, o que importa é que cace ratos”.
Em 1976, ainda na ressaca da fuga das cidades, e no meio da “Longa Marcha”, chegava a notícia da morte de Estevão Chingunji. Fora a única vítima de um ataque perpetrado pelas forças do Mpla. No entanto, e para não variar, também se ouviu dizer que a bala o havia atingido pelas costas, o que levava a crer que fora morto por um dos seus companheiros. Ou seja, por ordens de Jonas Savimbi.



Um dos traços característicos das sagas é o facto de não afectarem apenas as famílias implicadas, mas também as pessoas que se envolvem com elas. Basta, para isso, recordarmo-nos de Carolyn Bassette Kennedy e Lauren Bessette, mulher e cunhada de John F. Kennedy Jr. (filho do ex-presidente Kennedy), respectivamente. Estas pereceram juntamente com John, em 1996, num acidente de aviação.

A morte dos gémeos de Tito, mostrava a intenção deliberada do mandante em limpar da face da terra a família Chingunji. Tito era um homem culto, poliglota, bem-parecido que, em 1975, era visto, na qualidade de guarda-costas,


Fica apenas por responder a questão se uma saga é ou não uma maldição sobrenatural. É claro que a racionalidade não nos permite chegar a tanto. Resta-nos apenas dizer que existem condutas propiciadoras, na geração descendente, de comportamentos de risco (poder, ambição, promiscuidade, etc.) que devem ser acautelados na medida do possível. Talvez seja uma ideia a reter pelos poucos descendentes dos Chingunji.
sábado, 21 de janeiro de 2012
A polémica personalidade de Jonas Malheiro Savimbi, o líder da UNITA
Jonas Savimbi com Reagan e com Bush. Os interesses em jogo levaram à internacionalização do conflito.
no quadro da chamada "guerra fria" entre EUA e URSS. Em termos econômicos a interferência residia nas riquezas de Angola, nomeadamente no petróleo e nos diamantes.
Ninguém dá nada a ninguém ...no quadro da chamada "guerra fria" entre EUA e URSS. Em termos econômicos a interferência residia nas riquezas de Angola, nomeadamente no petróleo e nos diamantes.
Tentativas falhadas de conciliação:
Agostinho Neto, Jonas Savimbi e Holden Roberto, com Mário Soares, Almeida Santos e Melo Antunes...
Quem era Portugal para conseguir virar o rumo traçado pelas grandes potências...
Tentativas falhadas de conciliação:
Sinceridade ou cinismo? Rosa Coutinho entre Savimbi e Agostinho Neto, com Lúcio Lara por detrás. Rosa Coutinho, figura polémica da descolonização, endeusado por uns, acusado por outros de favorecer o MPLA e de provocar o êxodo dos brancos de Angola e uma guerra fraticida entre povos irmãos... Será? Apesar dos esforços, Portugal não era mais que uma peça minúscula nos jogos da política internacional.
Tentativas falhadas de conciliação: Agostinho Neto e Savimbi. O que estariam neste momento a congeminar?
Tentativas falhadas de conciliação:
Holden Roberto, Savimbi e Agostinho Neto. Seria de prever que com a internacionalização do conflito os Acordos de Alvôr nunca iriam ser cumpridos!
Jamba
Demonstração de poder através de armas e de ..."carne para canhão" !
José Ndele, Jonas Savimbi, Miguel N'zau Puna e António Dembo
O triunvirato e mais um: Miguel Nzau Puna, Sangumba, J. Savimbi e J. Chiwale. Sangumba (comandante em chefe) que seria impiedosamente fuzilado
Fotos retiradas do facebook
Quem era Jonas Malheiro Savimbi?
" Jonas Savimbi era um homem altamente complexo e cheio de contradições. Gostava muito de livros e da educação, mas matou muitos intelectuais que divergiram dele. Afirmava ser um lutador pela democracia e pela economia livre, mas criou escolas para quadros, onde eu próprio me licenciei, que ensinavam o maoismo. Dizia-se um democrata, mas não tolerava as críticas. Para alguns angolanos, Savimbi é a encarnação do diabo; para outros, é um dos líderes mais inteligentes, mais determinados e mais corajosos que Angola teve até hoje. Qual será, então, a verdade?
A vida de Jonas Savimbi pode ser dividida em três fases: o Savimbi da etapa inicial, o Savimbi da etapa intermédia e o Savimbi da etapa final. O da etapa inicial foi um produto do sistema colonial português. Nasceu em 1934 em Munhango, estação da linha de caminho-de-ferro de Benguela, onde o pai era chefe de estação - na época, um lugar impressionante para um africano. Savimbi sofreu a humilhação por que passaram muitos negros angolanos, inteligentes e ambiciosos. Tinha antipatia pelos «assimilados» e por alguns mulatos quefaziam então parte da classe privilegiada. (Mais tarde, Savimbi iria atenuar a sua hostilidade em relação aos brancos, criando grandes amizades com alguns deles).
" Jonas Savimbi era um homem altamente complexo e cheio de contradições. Gostava muito de livros e da educação, mas matou muitos intelectuais que divergiram dele. Afirmava ser um lutador pela democracia e pela economia livre, mas criou escolas para quadros, onde eu próprio me licenciei, que ensinavam o maoismo. Dizia-se um democrata, mas não tolerava as críticas. Para alguns angolanos, Savimbi é a encarnação do diabo; para outros, é um dos líderes mais inteligentes, mais determinados e mais corajosos que Angola teve até hoje. Qual será, então, a verdade?
A vida de Jonas Savimbi pode ser dividida em três fases: o Savimbi da etapa inicial, o Savimbi da etapa intermédia e o Savimbi da etapa final. O da etapa inicial foi um produto do sistema colonial português. Nasceu em 1934 em Munhango, estação da linha de caminho-de-ferro de Benguela, onde o pai era chefe de estação - na época, um lugar impressionante para um africano. Savimbi sofreu a humilhação por que passaram muitos negros angolanos, inteligentes e ambiciosos. Tinha antipatia pelos «assimilados» e por alguns mulatos quefaziam então parte da classe privilegiada. (Mais tarde, Savimbi iria atenuar a sua hostilidade em relação aos brancos, criando grandes amizades com alguns deles).
Em finais dos anos 50 obteve uma bolsa de estudo para Lisboa a fim de estudar Medicina, mas, depois de muitas perseguições movidas pelas autoridades portuguesas, fugiu para a Suíça onde estudou Ciências Políticas. Voltou para África, aderiu à FNLA e tornou-se seu secretário para os Assuntos Externos. Viajou por todo o mundo e estabeleceu ligações com muitos nacionalistas africanos incluindo Jomo Kenyata, do Quénia, e o falecido Felix Houphouêt-Boigny, da Costa do Marfim. Savimbi foi para a China, onde conheceu o Presidente Mão, e adoptou a revolução chinesa como modelo.
Regressou clandestinamente a Angola e, em Dezembro de 1966, levou a cabo o primeiro ataque, em Luau, na província do Moxico. Em 1974, por ocasião da revolução em Lisboa que derrubou o regime colonial fascista, a UNITA, de Savimbi tornou-se num dos três movimentos de libertação que competiram entre si pelo apoio dos angolanos. Os outros dois eram a FNLA e o MPLA. O MPLA seria o vencedor da guerra civil que se seguiu à partida dos portugueses.
O Savimbi da etapa intermédia vai de 1975, quando os apoiantes da UNITA foram forçados a fugir das cidades para o mato, até 1983, quando, com a ajuda dos americanos e dos sul-africanos, o movimento atingiu o seu apogeu. O Savimbi da etapa intermédia era carismático, eficiente e amado pelos seus colaboradores mais próximos.
Sem Savimbi a UNITA teria desaparecido nessa altura. Savimbi conseguiu, habilmente, atrair muitos professores, enfermeiros, mecânicos e burocratas, que vinham das terras altas centrais para o mato a fim de participarem na administração dos territórios que controlava e que, a certa altura, abrangiam grande parte do território de Angola. O Savimbi da etapa intermédia falava em nome dos angolanos pobres que sempre tinham sido marginalizados.
Regressou clandestinamente a Angola e, em Dezembro de 1966, levou a cabo o primeiro ataque, em Luau, na província do Moxico. Em 1974, por ocasião da revolução em Lisboa que derrubou o regime colonial fascista, a UNITA, de Savimbi tornou-se num dos três movimentos de libertação que competiram entre si pelo apoio dos angolanos. Os outros dois eram a FNLA e o MPLA. O MPLA seria o vencedor da guerra civil que se seguiu à partida dos portugueses.
O Savimbi da etapa intermédia vai de 1975, quando os apoiantes da UNITA foram forçados a fugir das cidades para o mato, até 1983, quando, com a ajuda dos americanos e dos sul-africanos, o movimento atingiu o seu apogeu. O Savimbi da etapa intermédia era carismático, eficiente e amado pelos seus colaboradores mais próximos.
Sem Savimbi a UNITA teria desaparecido nessa altura. Savimbi conseguiu, habilmente, atrair muitos professores, enfermeiros, mecânicos e burocratas, que vinham das terras altas centrais para o mato a fim de participarem na administração dos territórios que controlava e que, a certa altura, abrangiam grande parte do território de Angola. O Savimbi da etapa intermédia falava em nome dos angolanos pobres que sempre tinham sido marginalizados.
Milhares de jovens, especialmente do grupo étnico ovimbundo, viam em Savimbi um pai adoptivo. Aqui estava, finalmente, um homem que infundia respeito em alguns círculos internacionais e que também sabia relacionar-se com os mais humildes camponeses angolanos.
Savimbi era igualmente eficiente a descobrir e a estimular talentos. As figuras que estavam nas posições cruciais subiam não através de nepotismo, mas sim pela sua competência. Se este Savimbi tivesse sido Presidente de Angola, o país teria tido uma história mais risonha. Contudo, o Savimbi da etapa intermédia começou a manifestar características que o haviam de marcar até ao fim da vida matando opositores políticos, por vezes por razões infundadas. Este Savimbi começou a ver-se como a encarnação da causa da UNITA e permitiu que um culto da personalidade se desenvolvesse à sua volta. Os músicos só podiam cantar canções em seu louvor; outros podiam escrever poemas desde que tivessem uma estrofe de glorificação do líder. Este culto foi estimulado por informadores ansiosos de estar nasboas graças do líder. Alguns deles viriam, mais tarde, a passar-se parao lado governamental.
O Savimbi da etapa intermédia também começou a abandonar qualquer ideia de liderança colectiva para o movimento. O destacado secretário para os Assuntos Externos, Orneias Sangumba, foi morto por ser alegadamente um agente da CIA. Apesar das ligações estreitas que acabou por estabelecer com americanos e sul-africanos, Savimbi nutria uma grande desconfiança em relação à CIA. Nessa altura, o então chefe do Estado Maior, Waldemar Chindondo, militar distinto que foi um dos primeiros oficiais negros do Exército português, foi igualmente morto devido a acusações infundadas. Kashaka Va-kulukuta, anteriormente um colaborador muito próximo de Savimbi, foi metido numa prisão e acabou por morrer de doença. Segundo a direcção do movimento - a qual toda a gente tinha de aceitar - figuras como Sangumba estavam numa qualquer região remota do território controlado pela UNITA. Mas era uma grande mentira.
Savimbi era igualmente eficiente a descobrir e a estimular talentos. As figuras que estavam nas posições cruciais subiam não através de nepotismo, mas sim pela sua competência. Se este Savimbi tivesse sido Presidente de Angola, o país teria tido uma história mais risonha. Contudo, o Savimbi da etapa intermédia começou a manifestar características que o haviam de marcar até ao fim da vida matando opositores políticos, por vezes por razões infundadas. Este Savimbi começou a ver-se como a encarnação da causa da UNITA e permitiu que um culto da personalidade se desenvolvesse à sua volta. Os músicos só podiam cantar canções em seu louvor; outros podiam escrever poemas desde que tivessem uma estrofe de glorificação do líder. Este culto foi estimulado por informadores ansiosos de estar nasboas graças do líder. Alguns deles viriam, mais tarde, a passar-se parao lado governamental.
O Savimbi da etapa intermédia também começou a abandonar qualquer ideia de liderança colectiva para o movimento. O destacado secretário para os Assuntos Externos, Orneias Sangumba, foi morto por ser alegadamente um agente da CIA. Apesar das ligações estreitas que acabou por estabelecer com americanos e sul-africanos, Savimbi nutria uma grande desconfiança em relação à CIA. Nessa altura, o então chefe do Estado Maior, Waldemar Chindondo, militar distinto que foi um dos primeiros oficiais negros do Exército português, foi igualmente morto devido a acusações infundadas. Kashaka Va-kulukuta, anteriormente um colaborador muito próximo de Savimbi, foi metido numa prisão e acabou por morrer de doença. Segundo a direcção do movimento - a qual toda a gente tinha de aceitar - figuras como Sangumba estavam numa qualquer região remota do território controlado pela UNITA. Mas era uma grande mentira.
A mentira, especialmente aos órgãos de informação internacionais, era possível porque Savimbi tinha o controlo completo do movimento. Tudo o que os seus seguidores faziam devia depender do facto de serem ou não leais à sua causa. A UNITA não tardou a desenvolver uma intrincada rede de informadores que reportavam sempre ao líder. Ele sabia tudo - pelo menos era isso o que as pessoas pensavam.
Em 1990, Savimbi entrou em litígio com Tito Chingunji, o seu secretário para Assuntos Externos, um homem igualmente brilhante, acusando-o de se ter tornado demasiado próximo dos americanos. Apesar de todas as suas qualidades, é difícil perdoar Savimbi pelo modo como se vingou da família de Chingunji: os outros três irmãos de Tito e os seus filhos foram executados.
Savimbi devia pensar que ia ganhar as eleições de 1992 e realizar o sonho da sua vida de ser Presidente de Angola, e que todos aqueles que ele tinha matado seriam esquecidos. Mas não foi isso o que aconteceu. A UNITA perdeu as eleições, disse que os resultados tinham sido fraudulentos e Savimbi e os seus colegas voltaram a pegar nas armas. Este período, desde 1992 até à sua morte, marca o Savimbi da etapa final.
Savimbi devia pensar que ia ganhar as eleições de 1992 e realizar o sonho da sua vida de ser Presidente de Angola, e que todos aqueles que ele tinha matado seriam esquecidos. Mas não foi isso o que aconteceu. A UNITA perdeu as eleições, disse que os resultados tinham sido fraudulentos e Savimbi e os seus colegas voltaram a pegar nas armas. Este período, desde 1992 até à sua morte, marca o Savimbi da etapa final.
O Savimbi da etapa final nunca se poderia ter adaptado a uma sociedade digna e com regras. Tratava-se de um Savimbi cuja única motivação era o poder e o controlo absoluto. Este Savimbi tinha pouco respeito ou consideração por aqueles que lhe estavam próximos - incluindo as suas mulheres e amantes. É um segredo por todos conhecido que Savimbi tinha uma intrincada vida doméstica. Os filhos tinham de lutar entre si para atrair a atenção paternal. Oficialmente tinha uma mulher, Ana Paulino, mas também uma série de amantes; estas teriam sortes diversas, tais como os membros do seu gabinete ou do alto comando. O círculo íntimo de Savimbi era como uma corte medieval: os cortesãos disputavam entre si influência e poder (principalmente para serem ouvidos pelo «rei») através de intrigas.
O Savimbi da etapa final também sabia lançar as famílias mais influentes umas contra as outras, através do seu sistema clientelar. Jonas Savimbi nunca se interessava pelo dinheiro em si. Isto talvez derivasse da sua educação de protestante. Contudo, estava mais interessado no poder do que naquilo que o dinheiro poderia dar a alguém. Um dos fracassos da UNITA foi o de ser um movimento cujo líder tinha ilusões de vir a governar um Estado.
Ainda me recordo dos tempos em que os líderes da UNITA diziam que esta tinha tanto dinheiro que dava para envergonhar o tesouro de muitos países africanos. O próprio Savimbi gabou-se um dia numa entrevista que havia africanos que vinham ter com ele para lhe pedirem lições de economia. (Quem recusaria tais lições se, no fim, lhes era entregue um envelope com alguns diamantes?).
O Savimbi da segunda fase, a do apogeu, era carismática, eficiente e amado pelos mais próximos Claro que ninguém se atrevia a dizer que este tipo de comportamento não era digno de um líder. (Alguns dos comandantes mais jovens de Savimbi começaram a imitá-lo e acabaram por ter uma série de mulheres e filhos, alguns dos quais vivem agora em condições terríveis nos campos de refugiados na Zâmbia). É chocante como estes jovens comandantes começaram a imitar Savimbi em todos os aspectos - incluindo o modo como ele andava, falava ou dançava. Era estranho, por exemplo, ver um grupo de homens na casa dos vinte anos, todos calçando botas mexicanas iguais porque era assim que o líder gostava. Também começaram a copiar a sua inflexibilidade e tendência para personalizar todos os problemas.
É verdade que, depois de 1992, o Governo angolano tratou mal os apoiantesda UNITA em Luanda tendo sido assassinadas pessoas inocentes das etnias ovimbundo e kinkongo, apenas em consequência das suas origens. Contudo, depois de ambos os lados terem aceite, no acordo de Lusaka, que o caminho para a frente era a reconciliação, a importância que estava a ser dada ao estatuto do Dr. Savimbi fez passar para segundo plano o verdadeiro problema. Houve então momentos em que pareceu que a UNITA tinha estado no mato unicamente para dar um posto importante a Jonas Savimbi em Angola.
O Savimbi da etapa final era impiedoso e estava pronto a sacrificar centenas de vidas pela sua causa.Savimbi queria, acima de tudo, estar no comando - e este desejo de um controlo total tinha atingido proporções patológicas. Era também altamente caprichoso - e, face a diversos reveses militares, começou a assacar todas as culpas aos seus comandantes.
O Savimbi da etapa final também sabia lançar as famílias mais influentes umas contra as outras, através do seu sistema clientelar. Jonas Savimbi nunca se interessava pelo dinheiro em si. Isto talvez derivasse da sua educação de protestante. Contudo, estava mais interessado no poder do que naquilo que o dinheiro poderia dar a alguém. Um dos fracassos da UNITA foi o de ser um movimento cujo líder tinha ilusões de vir a governar um Estado.
Ainda me recordo dos tempos em que os líderes da UNITA diziam que esta tinha tanto dinheiro que dava para envergonhar o tesouro de muitos países africanos. O próprio Savimbi gabou-se um dia numa entrevista que havia africanos que vinham ter com ele para lhe pedirem lições de economia. (Quem recusaria tais lições se, no fim, lhes era entregue um envelope com alguns diamantes?).
O Savimbi da segunda fase, a do apogeu, era carismática, eficiente e amado pelos mais próximos Claro que ninguém se atrevia a dizer que este tipo de comportamento não era digno de um líder. (Alguns dos comandantes mais jovens de Savimbi começaram a imitá-lo e acabaram por ter uma série de mulheres e filhos, alguns dos quais vivem agora em condições terríveis nos campos de refugiados na Zâmbia). É chocante como estes jovens comandantes começaram a imitar Savimbi em todos os aspectos - incluindo o modo como ele andava, falava ou dançava. Era estranho, por exemplo, ver um grupo de homens na casa dos vinte anos, todos calçando botas mexicanas iguais porque era assim que o líder gostava. Também começaram a copiar a sua inflexibilidade e tendência para personalizar todos os problemas.
É verdade que, depois de 1992, o Governo angolano tratou mal os apoiantesda UNITA em Luanda tendo sido assassinadas pessoas inocentes das etnias ovimbundo e kinkongo, apenas em consequência das suas origens. Contudo, depois de ambos os lados terem aceite, no acordo de Lusaka, que o caminho para a frente era a reconciliação, a importância que estava a ser dada ao estatuto do Dr. Savimbi fez passar para segundo plano o verdadeiro problema. Houve então momentos em que pareceu que a UNITA tinha estado no mato unicamente para dar um posto importante a Jonas Savimbi em Angola.
O Savimbi da etapa final era impiedoso e estava pronto a sacrificar centenas de vidas pela sua causa.Savimbi queria, acima de tudo, estar no comando - e este desejo de um controlo total tinha atingido proporções patológicas. Era também altamente caprichoso - e, face a diversos reveses militares, começou a assacar todas as culpas aos seus comandantes.
Cientes do futuro que lhes estava reservado, muitos deles acabaram por desertar para as fileiras do Governo, onde eram devidamente recompensados compostos aliciantes. Muitas famílias importantes da etnia ovimbundo, a maior de Angola, confiavam em Savimbi e entregavam-lhe os seus filhos. Por ocasião da sua morte, muitos destes falaram mal dele. Muitos perceberam que Savimbi queria implantar um estado totalitário em Angola. Não foi o Governo angolano enquanto tal que destruiu o falecido líder da UNITA; Jonas Savimbi foi o pior inimigo de si próprio. Isto explica a estranha apreensão da elite governamental de Angola na sequência da morte de Savimbi: agora que o papão nacional desapareceu eles terão de provar do que são capazes. Por exemplo, será que vão continuar a desviar a riquezada nação para contas em bancos estrangeiros, será que vai haver uma verdadeira democracia nos assuntos do Estado?
O Savimbi da última fase nunca poderia ter-se adaptado a uma sociedade digna e com regras Mascomo é que Savimbi, o nacionalista empenhado, se transformou num potencial ditador africano? Há muitos anos que, como ovimbundo que sou, me interrogo como foi possível que uma pessoa que eu tanto admirei se tivesse transformado numa de quem me envergonho de dizer que fui colaborador.
Ninguém duvida de que era um homem extremamente inteligente, cuja capacidade de trabalho e boa memória o colocaram acima dos outros. Trabalhei durante pouco tempo como tradutor no gabinete de Savimbi - e não hesito em dizer que ele foi uma das pessoas mais brilhantes que conheci. Foi também muito corajoso até ao fim. Foi isto, inevitavelmente, que levou muitas pessoas - especialmente da etnia ovimbundo, a maior de Angola - a segui-lo. Contudo, ultimamente, muitos ovimbundos começaram a perder a fé nele. Isto não significa que tenham agora começado a aceitar a cleptocracia de Luanda - . com as suas passagens de modelos e sumptuosas mansões em Palm Beach contrastando comtanta miséria. O que acontece é que tinham seguido um líder com muitos defeitos e que lhes estava a sair demasiado caro.
Jonas Savimbi tinha profetizado em diversas ocasiões a sua morte. Num discurso na Jamba, então o quartel-general da UNITA no leste de Angola, disse que iria morrer de morte violenta. Em vida, Savimbi já se tinha tornado numa lenda. Na morte, poderá, para muitos dos seus ardentes apoiantes, tornar-se no perfeito mártir. Tanto a UNITA como o MPLA têm heróis - alguns são uma pura criação dos departamentos de propaganda - que disseram terem posto o interesse colectivo acima dos seus interesses individuais. No entanto, todos concordam que Savimbi se manteve fiel aos seus princípios - ou seja, a conquista do poder - até ao último momento. Não parou de disparar mesmo depois de sete balas se terem alojado no seu corpo.
O Savimbi da última fase nunca poderia ter-se adaptado a uma sociedade digna e com regras Mascomo é que Savimbi, o nacionalista empenhado, se transformou num potencial ditador africano? Há muitos anos que, como ovimbundo que sou, me interrogo como foi possível que uma pessoa que eu tanto admirei se tivesse transformado numa de quem me envergonho de dizer que fui colaborador.
Ninguém duvida de que era um homem extremamente inteligente, cuja capacidade de trabalho e boa memória o colocaram acima dos outros. Trabalhei durante pouco tempo como tradutor no gabinete de Savimbi - e não hesito em dizer que ele foi uma das pessoas mais brilhantes que conheci. Foi também muito corajoso até ao fim. Foi isto, inevitavelmente, que levou muitas pessoas - especialmente da etnia ovimbundo, a maior de Angola - a segui-lo. Contudo, ultimamente, muitos ovimbundos começaram a perder a fé nele. Isto não significa que tenham agora começado a aceitar a cleptocracia de Luanda - . com as suas passagens de modelos e sumptuosas mansões em Palm Beach contrastando comtanta miséria. O que acontece é que tinham seguido um líder com muitos defeitos e que lhes estava a sair demasiado caro.
Jonas Savimbi tinha profetizado em diversas ocasiões a sua morte. Num discurso na Jamba, então o quartel-general da UNITA no leste de Angola, disse que iria morrer de morte violenta. Em vida, Savimbi já se tinha tornado numa lenda. Na morte, poderá, para muitos dos seus ardentes apoiantes, tornar-se no perfeito mártir. Tanto a UNITA como o MPLA têm heróis - alguns são uma pura criação dos departamentos de propaganda - que disseram terem posto o interesse colectivo acima dos seus interesses individuais. No entanto, todos concordam que Savimbi se manteve fiel aos seus princípios - ou seja, a conquista do poder - até ao último momento. Não parou de disparar mesmo depois de sete balas se terem alojado no seu corpo.
Fonte: "Jonas Savimbi foi o pior inimigo de si próprio", por Sousa Jamba* escritor angolano
Ver também : A saga dos Chingunji
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
Cultura angolana na fase final época colonial angolana: Os irmãos Eleutério Sanches e Lily Tchumba
Os irmãos Eleutério Sanches ( Pintor, Poeta, Compositor e Interprete),
e Lily Tchiumba (cantora)
Videos com canções de Eleutério e Lily :http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=PDpuPMK5ob0
http://videos.sapo.tl/93sfUGmNKE7vnVhyiulp
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=UdG-ymA6HKM
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=_Iz3MPYORRM
Independência de Angola, a expulsão dos brancos e o afastamento e liquidação de quadros angolanos em 1977
"...Angola tinha, de facto, uma enorme falta de quadros. Compreende-se
porquê. Em 1974, pronunciando-se sobre a presença branca em Angola,
Agostinho Neto declarava ter «dúvidas sobre se, neste momento, os mesmos
indivíduos que têm sido privilegiados durante o regime colonial terão o
direito de continuar no país». E em vésperas da independência,
aparentemente esquecido de que a maioria dos portugueses eram simples
trabalhadores, afirmava na rádio que tinham de sair de Angola antes do
11 de Novembro.
O coronel Melo Antunes, um dos homens do 25 de Abril, afirmou que a principal responsabilidade pela saída dos portugueses dos novos países foi dos movimentos de libertação porque, «contrariamente à letra e ao espírito dos acordos», se gerara «um clima de total repúdio da permanência de portugueses, um clima muitas vezes de perseguição, de insegurança de tal modo intolerável, que culminou num pânico generalizado».
Em Angola, engenheiros e quadros técnicos, médicos e professores, gestores e trabalhadores qualificados eram, na esmagadora maioria, brancos. Sem eles, a economia e as empresas, as escolas e os hospitais ou funcionariam mal ou deixariam mesmo de funcionar. Ora, depois da expulsão dos brancos, mataram-se, prenderam-se e afastaram-se dezenas de quadros angolanos, a pretexto de que estavam metidos na conjura nitista.
De modo que, muitos dos poucos quadros de que Angola dispunha foram liquidados ou afastados, sendo substituídos por gente sem qualificação. Quem acabou por pagar por tudo isso? A resposta é simples: o país e os angolanos.
Em Portugal, alguns antigos colonos aparecem a dizer que a expulsão foi inspirada pelos comunistas, pelos russos. Acusação totalmente falsa. Os teóricos da revolução davam indicações no sentido de cuidar, «como das meninas dos olhos, de cada especialista que trabalhe conscientemente, com conhecimento do seu trabalho e amor por ele». Por isso o general russo Valentim Varennikov, que cumpriu duas missões de serviço em Angola, sublinhou os enormes problemas criados pelo facto de terem sido «expulsos impensadamente todos os portugueses, que constituíam a principal força na economia, na direcção dos serviços municipais e na organização da gestão do país…».
Parte de um texto retirado do Blog "Recordações da Casa Amarela" :
O coronel Melo Antunes, um dos homens do 25 de Abril, afirmou que a principal responsabilidade pela saída dos portugueses dos novos países foi dos movimentos de libertação porque, «contrariamente à letra e ao espírito dos acordos», se gerara «um clima de total repúdio da permanência de portugueses, um clima muitas vezes de perseguição, de insegurança de tal modo intolerável, que culminou num pânico generalizado».
Em Angola, engenheiros e quadros técnicos, médicos e professores, gestores e trabalhadores qualificados eram, na esmagadora maioria, brancos. Sem eles, a economia e as empresas, as escolas e os hospitais ou funcionariam mal ou deixariam mesmo de funcionar. Ora, depois da expulsão dos brancos, mataram-se, prenderam-se e afastaram-se dezenas de quadros angolanos, a pretexto de que estavam metidos na conjura nitista.
De modo que, muitos dos poucos quadros de que Angola dispunha foram liquidados ou afastados, sendo substituídos por gente sem qualificação. Quem acabou por pagar por tudo isso? A resposta é simples: o país e os angolanos.
Em Portugal, alguns antigos colonos aparecem a dizer que a expulsão foi inspirada pelos comunistas, pelos russos. Acusação totalmente falsa. Os teóricos da revolução davam indicações no sentido de cuidar, «como das meninas dos olhos, de cada especialista que trabalhe conscientemente, com conhecimento do seu trabalho e amor por ele». Por isso o general russo Valentim Varennikov, que cumpriu duas missões de serviço em Angola, sublinhou os enormes problemas criados pelo facto de terem sido «expulsos impensadamente todos os portugueses, que constituíam a principal força na economia, na direcção dos serviços municipais e na organização da gestão do país…».
Parte de um texto retirado do Blog "Recordações da Casa Amarela" :
entrevista para o Novo Jornal de 27-05-2011 a Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus sobre o 27 de Maio de 1977, a "Purga em Angola".
Para consultar o texto integral, clicar AQUI
Angola, o meu grito... o meu apelo! Contra a indiferença...
Sexta-feira, 27 de Fevereiro de 2009
Escrevo sobre Angola, país que me viu nascer, já lá vão 57 anos.
Porque decidi uma vez por todas na minha vida sobrepor ao “politicamente
correcto” o “humanamente correcto” e porque já não aguento assistir à
tragédia da grande maioria dos angolanos, e porque o meu silêncio se
tornou ensurdecedor perante a minha consciência, quero lançar aqui um
grito de dor e de protesto assim como um veemente apelo em nome de um
povo heróico, mártir e esquecido: o povo angolano, o meu povo irmão. Na
tragédia em curso há décadas, só e apenas ele é merecedor de carinho,
respeito e admiração porque só e apenas ele está isento de culpas.
Culpados foram e são, porque se deixaram moldar pelas teias da política internacional e pela corrupção, uma boa parte dos seus dirigentes, passados ou presentes, no governo ou na oposição, a comunidade internacional com as suas gananciosas interferências e os seus planos de (des)ajustamento estrutural e certos governantes portugueses perfeitamente ignorantes da História e das gentes (tão merecedoras de carinho, respeito e admiração) de África em geral e de Angola em particular. A todos eles acuso de serem os responsáveis directos do genocídio passado e do sofrimento ainda em curso, em Angola. Nenhuma dessas entidades pode, nem poderá nunca furtar-se, em consciência, das enormes responsabilidades que teve e tem no germinar, no eclodir e no arrastar do indizível sofrimento e morticínio que esmagou e continua a esmagar o povo angolano. Activa ou passivamente, embora em diversos graus, todos incentivaram (ou cinicamente fingiram que não era nada com eles) o desentendimento e a desconfiança mortais, a corrupção escandalosa, o armamento desenfreado, a ganância sem limites, a indiferença assassina, a cobardia irresponsável... Em suma, o desgoverno total que engendrou uma Angola, sofrida e mutilada por várias gerações, onde coexistem um punhado de multimilionários cleptopatas e milhões de miseráveis que deambulam perdidos e deslocados, na esperança muitas vezes vã de encontrarem uma instituição que lhes acuda com um pouco de arroz, alguns medicamentos e um agasalho, ou, na sua falta, uns restos num contentor de lixo, com que enganar a fome e morrerem silenciosamente...ignorados!
Conseguiram assim, transformar um grande e riquíssimo país (talvez por isso mesmo!), embora hoje em fase de recuperação, sobretudo em Luanda e nas capitais provinciais, num dos países com maior grau de destruição, com maior número de amputados e de minas antipessoais e com menor índice de desenvolvimento do Mundo: a nefasta sinergia da corrupção, da incompetência, da cobiça e indiferença internacional perante o sofrimento alheio, assim como a mortífera intolerância entre os angolanos fizeram de Angola, com as suas fabulosas potencialidades humanas, agrícolas, pecuárias, piscatórias, mineiras (diamantiferas, petrolíferas e muito mais), cinegéticas, turísticas ... um amontoado de miséria que deveria comover o mais insensível e empedernido dos homens fosse ele angolano ou estrangeiro, simples cidadão ou governante. Pelos vistos, os responsáveis directos por todo esse descalabro ainda não se comoveram... a matança dos inocentes continua! Anonimamente…
Angola tem hoje, finda a guerra civil mortífera em 2002 que para os responsáveis directos tudo parecia explicar e justificar..., a derradeira ocasião de se reencontrar. Essa ocasião não pode ser desperdiçada: acabaram os subterfúgios, as mentiras e as desculpas descabidas. Os angolanos, e essencialmente eles, com particular responsabilidade para os seus dirigentes, têm o dever e a possibilidade de reporem Angola no mapa do Mundo, tornando-a num exemplo para toda a África. Tal só acontecerá se os governantes e a sociedade civil angolana agarrarem com unhas e dentes os poucos trunfos de que Angola dispõe, nomeadamente o seu povo, os seus minérios, as suas enormes potencialidades agropecuárias, piscatórias, turísticas e o petróleo. Desde já lanço um alerta aos dirigentes africanos mais clarividentes e responsáveis: em certos círculos geopolíticos anglosaxonicos já se ousa falar e escrever da necessidade, como sempre em nome do bem dos povos, de se começar a pensar na eventualidade da utilidade de uma nova recolonização...noutros moldes... evidentemente... CUIDADO! Tal não pode acontecer mas só não acontecerá se, de uma vez por todas, os dirigentes interiorizarem que o maior património dos seus países é o seu povo, sendo por isso fundamental investir na educação, na saúde e numa agricultura diversificada, em vez de se iludirem com o agastado discurso do país “Grande” e “Rico”; se fizerem as leituras correctas, com as implicações decorrentes, do que está a acontecer na perversa e nada ética revolução mundial em curso, e se pugnarem verdadeiramente pela tolerância e concórdia nacional (estou a pensar especificamente em Cabinda, atropelada pela História da descolonização e sempre sofredora) e implementarem a Democracia e uma Boa Governação que, como é óbvio, não se coaduna de modo nenhum com a tentacular corrupção que foi e é, quanto a mim, a maior responsável do estado em que Angola e África estão, com nefastos e devastadores efeitos equiparados, ou até superiores, aos da guerra. É tempo de se assumir esta verdade!
Só assim, acredito, é o meu sonho!, o povo angolano alicerçado no seu sofrimento e sustentado pela sua sociedade civil, embora ainda fraca e dispersa mas cada vez mais sensibilizada, organizada, interveniente e exigente poderá enfim construir uma sociedade democrática e encontrar o caminho da Paz, da Concórdia e da Responsabilidade que o conduzirá ao amanhã radioso com que há tanto sonha e ao qual tem direito, como todos os povos. É da mais elementar justiça e não lhe resta outra alternativa para sobreviver!
Não posso terminar sem fazer um último apelo: que o povo português nunca esqueça, apoiando-os, os povos irmãos angolano e cabinda com o qual partilha tantos laços de sangue e de História. Eles merecem.
Fernando José de La Vieter Ribeiro Nobre
ORIGEM
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Terça-feira, 25 de Maio de 2010
Hoje comemora-se o Dia de África.
Hoje, não vos falar em números, vou falar-vos de sonhos…
Como disse o meu querido amigo José Manuel Barata Feyo num brilhante artigo que escreveu na revista Grande Reportagem sobre “O fim das ilusões”, “Os números são sempre enfadonhos. Em África, são cruéis”.
Esses números aterradores (avanço dos desertos, guerras civis, máfias diversas, tráfico de armas, mortes infantis, malária, tuberculose, fome, corrupção, prostituição infantil, pobreza, refugiados, etc.) sobejamente conhecidos de todos, são autênticas explosões que só não acordam as consciências mais indiferentes ou em coma. Quanto aos homens e mulheres ainda vivos só lhes resta darem as mãos e fazerem frente pois o grito da revolta pela justiça nunca morrerá.
Tenho o sonho de que o Homem seja protegido e acarinhado como o mais precioso dos “monumentos” pois qualquer Homem, como ser vivo, é sem dúvida a obra-prima mais perfeita e única que jamais surgiu no nosso planeta.
Sonho em fortalecer o movimento humanitário para que, actuando no terreno e sensibilizando a nossa opinião pública e os nossos governantes, consigamos construir um mundo onde o sofrimento e a miséria deixem de insultar a nossa consciência quantas vezes adormecida. Se assim não for, tornar-nos-emos em breve todos uns desumanos e o próprio conceito de Humanidade será posto em causa.
Sonho em construir um mundo melhor, onde os nossos filhos e netos possam viver em paz e harmonia, onde todos possam satisfazer as necessidades básicas vitais e onde a (re)distribuição da riqueza e do conhecimento seja mais equitativa, mais justa.
É pois com saudável esperança que observo, participo e incentivo o despertar da sociedade civil que quer a valorização do Homem como centro das estratégias e preocupações políticas. Esta orientação, fundamental para o futuro da Humanidade, é espontânea e mundial, e traduz-se na criação massiva de ONG (Organizações Não governamentais) em todos os países.
A emergência forte e global da sociedade civil organizada à volta de temas dominantes como a solidariedade, a participação, o combate à pobreza, a tolerância, a ecologia, os direitos humanos, o humanitário é quanto a mim a maior esperança, para não dizer única, de um mundo melhor para os nossos filhos.
Utopia? Penso sinceramente que não, ainda que não seja por Humanidade mas por simples pragmatismo e sobrevivência da espécie. Estou convicto que os governos muitas vezes pressionados pelas suas sociedades civis cada vez mais informadas e exigentes (ainda bem!) vão ter que entender que mais importante que o mercado-rei é a política, mais importante que a política é o social, e que mais importante que o social são a moral e a ética humanas. Para a quadratura do círculo em que a minha geração está entalada não há outra alternativa. Só esta mudança radical de comportamento, de mentalidades e de visão nos conduzirá a um mundo melhor. Possam os governantes do mundo ter ousadia, rasgo, vontade política para que, como verdadeiros estadistas, deixem de viver a curto prazo ao sabor das ondas bolsistas e olhem para o infinito sem esquecerem o amanhã.
Temos todos um longo caminho a percorrer. Estou consciente que morrerei sem ter alcançado a meta tão desejada mas considero ainda assim que, todos juntos, temos obrigação de não desistir para que outros a venham a alcançar. É essa a nossa única obrigação como seres livres e humanos: tentar lá chegar sem esmorecer mesmo se perdidas algumas ilusões e alguns sonhos.
Continuarei a gritar a favor do Homem, a favor de África e contra o absurdo cinismo internacional que permite tanto sofrimento.
Fernando José de La Vieter Ribeiro Nobre
ORIGEM
Culpados foram e são, porque se deixaram moldar pelas teias da política internacional e pela corrupção, uma boa parte dos seus dirigentes, passados ou presentes, no governo ou na oposição, a comunidade internacional com as suas gananciosas interferências e os seus planos de (des)ajustamento estrutural e certos governantes portugueses perfeitamente ignorantes da História e das gentes (tão merecedoras de carinho, respeito e admiração) de África em geral e de Angola em particular. A todos eles acuso de serem os responsáveis directos do genocídio passado e do sofrimento ainda em curso, em Angola. Nenhuma dessas entidades pode, nem poderá nunca furtar-se, em consciência, das enormes responsabilidades que teve e tem no germinar, no eclodir e no arrastar do indizível sofrimento e morticínio que esmagou e continua a esmagar o povo angolano. Activa ou passivamente, embora em diversos graus, todos incentivaram (ou cinicamente fingiram que não era nada com eles) o desentendimento e a desconfiança mortais, a corrupção escandalosa, o armamento desenfreado, a ganância sem limites, a indiferença assassina, a cobardia irresponsável... Em suma, o desgoverno total que engendrou uma Angola, sofrida e mutilada por várias gerações, onde coexistem um punhado de multimilionários cleptopatas e milhões de miseráveis que deambulam perdidos e deslocados, na esperança muitas vezes vã de encontrarem uma instituição que lhes acuda com um pouco de arroz, alguns medicamentos e um agasalho, ou, na sua falta, uns restos num contentor de lixo, com que enganar a fome e morrerem silenciosamente...ignorados!
Conseguiram assim, transformar um grande e riquíssimo país (talvez por isso mesmo!), embora hoje em fase de recuperação, sobretudo em Luanda e nas capitais provinciais, num dos países com maior grau de destruição, com maior número de amputados e de minas antipessoais e com menor índice de desenvolvimento do Mundo: a nefasta sinergia da corrupção, da incompetência, da cobiça e indiferença internacional perante o sofrimento alheio, assim como a mortífera intolerância entre os angolanos fizeram de Angola, com as suas fabulosas potencialidades humanas, agrícolas, pecuárias, piscatórias, mineiras (diamantiferas, petrolíferas e muito mais), cinegéticas, turísticas ... um amontoado de miséria que deveria comover o mais insensível e empedernido dos homens fosse ele angolano ou estrangeiro, simples cidadão ou governante. Pelos vistos, os responsáveis directos por todo esse descalabro ainda não se comoveram... a matança dos inocentes continua! Anonimamente…
Angola tem hoje, finda a guerra civil mortífera em 2002 que para os responsáveis directos tudo parecia explicar e justificar..., a derradeira ocasião de se reencontrar. Essa ocasião não pode ser desperdiçada: acabaram os subterfúgios, as mentiras e as desculpas descabidas. Os angolanos, e essencialmente eles, com particular responsabilidade para os seus dirigentes, têm o dever e a possibilidade de reporem Angola no mapa do Mundo, tornando-a num exemplo para toda a África. Tal só acontecerá se os governantes e a sociedade civil angolana agarrarem com unhas e dentes os poucos trunfos de que Angola dispõe, nomeadamente o seu povo, os seus minérios, as suas enormes potencialidades agropecuárias, piscatórias, turísticas e o petróleo. Desde já lanço um alerta aos dirigentes africanos mais clarividentes e responsáveis: em certos círculos geopolíticos anglosaxonicos já se ousa falar e escrever da necessidade, como sempre em nome do bem dos povos, de se começar a pensar na eventualidade da utilidade de uma nova recolonização...noutros moldes... evidentemente... CUIDADO! Tal não pode acontecer mas só não acontecerá se, de uma vez por todas, os dirigentes interiorizarem que o maior património dos seus países é o seu povo, sendo por isso fundamental investir na educação, na saúde e numa agricultura diversificada, em vez de se iludirem com o agastado discurso do país “Grande” e “Rico”; se fizerem as leituras correctas, com as implicações decorrentes, do que está a acontecer na perversa e nada ética revolução mundial em curso, e se pugnarem verdadeiramente pela tolerância e concórdia nacional (estou a pensar especificamente em Cabinda, atropelada pela História da descolonização e sempre sofredora) e implementarem a Democracia e uma Boa Governação que, como é óbvio, não se coaduna de modo nenhum com a tentacular corrupção que foi e é, quanto a mim, a maior responsável do estado em que Angola e África estão, com nefastos e devastadores efeitos equiparados, ou até superiores, aos da guerra. É tempo de se assumir esta verdade!
Só assim, acredito, é o meu sonho!, o povo angolano alicerçado no seu sofrimento e sustentado pela sua sociedade civil, embora ainda fraca e dispersa mas cada vez mais sensibilizada, organizada, interveniente e exigente poderá enfim construir uma sociedade democrática e encontrar o caminho da Paz, da Concórdia e da Responsabilidade que o conduzirá ao amanhã radioso com que há tanto sonha e ao qual tem direito, como todos os povos. É da mais elementar justiça e não lhe resta outra alternativa para sobreviver!
Não posso terminar sem fazer um último apelo: que o povo português nunca esqueça, apoiando-os, os povos irmãos angolano e cabinda com o qual partilha tantos laços de sangue e de História. Eles merecem.
Fernando José de La Vieter Ribeiro Nobre
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Terça-feira, 25 de Maio de 2010
Hoje comemora-se o Dia de África.
Hoje, não vos falar em números, vou falar-vos de sonhos…
Como disse o meu querido amigo José Manuel Barata Feyo num brilhante artigo que escreveu na revista Grande Reportagem sobre “O fim das ilusões”, “Os números são sempre enfadonhos. Em África, são cruéis”.
Esses números aterradores (avanço dos desertos, guerras civis, máfias diversas, tráfico de armas, mortes infantis, malária, tuberculose, fome, corrupção, prostituição infantil, pobreza, refugiados, etc.) sobejamente conhecidos de todos, são autênticas explosões que só não acordam as consciências mais indiferentes ou em coma. Quanto aos homens e mulheres ainda vivos só lhes resta darem as mãos e fazerem frente pois o grito da revolta pela justiça nunca morrerá.
Tenho o sonho de que o Homem seja protegido e acarinhado como o mais precioso dos “monumentos” pois qualquer Homem, como ser vivo, é sem dúvida a obra-prima mais perfeita e única que jamais surgiu no nosso planeta.
Sonho em fortalecer o movimento humanitário para que, actuando no terreno e sensibilizando a nossa opinião pública e os nossos governantes, consigamos construir um mundo onde o sofrimento e a miséria deixem de insultar a nossa consciência quantas vezes adormecida. Se assim não for, tornar-nos-emos em breve todos uns desumanos e o próprio conceito de Humanidade será posto em causa.
Sonho em construir um mundo melhor, onde os nossos filhos e netos possam viver em paz e harmonia, onde todos possam satisfazer as necessidades básicas vitais e onde a (re)distribuição da riqueza e do conhecimento seja mais equitativa, mais justa.
É pois com saudável esperança que observo, participo e incentivo o despertar da sociedade civil que quer a valorização do Homem como centro das estratégias e preocupações políticas. Esta orientação, fundamental para o futuro da Humanidade, é espontânea e mundial, e traduz-se na criação massiva de ONG (Organizações Não governamentais) em todos os países.
A emergência forte e global da sociedade civil organizada à volta de temas dominantes como a solidariedade, a participação, o combate à pobreza, a tolerância, a ecologia, os direitos humanos, o humanitário é quanto a mim a maior esperança, para não dizer única, de um mundo melhor para os nossos filhos.
Utopia? Penso sinceramente que não, ainda que não seja por Humanidade mas por simples pragmatismo e sobrevivência da espécie. Estou convicto que os governos muitas vezes pressionados pelas suas sociedades civis cada vez mais informadas e exigentes (ainda bem!) vão ter que entender que mais importante que o mercado-rei é a política, mais importante que a política é o social, e que mais importante que o social são a moral e a ética humanas. Para a quadratura do círculo em que a minha geração está entalada não há outra alternativa. Só esta mudança radical de comportamento, de mentalidades e de visão nos conduzirá a um mundo melhor. Possam os governantes do mundo ter ousadia, rasgo, vontade política para que, como verdadeiros estadistas, deixem de viver a curto prazo ao sabor das ondas bolsistas e olhem para o infinito sem esquecerem o amanhã.
Temos todos um longo caminho a percorrer. Estou consciente que morrerei sem ter alcançado a meta tão desejada mas considero ainda assim que, todos juntos, temos obrigação de não desistir para que outros a venham a alcançar. É essa a nossa única obrigação como seres livres e humanos: tentar lá chegar sem esmorecer mesmo se perdidas algumas ilusões e alguns sonhos.
Continuarei a gritar a favor do Homem, a favor de África e contra o absurdo cinismo internacional que permite tanto sofrimento.
Fernando José de La Vieter Ribeiro Nobre
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Em Portugal, cada ex-combatente que morre é uma biblioteca que se queima: O POVO QUIÔCO - CONVERSAS COM SÁ MOÇO
Aqueles que leram o meu trabalho, Tchicapa, o final da viagem, certamente deram conta de algumas críticas e comentários.
Independentemente do juízo feito, procurei ser justo, e evitei a ficção.
Neste segundo trabalho, Conversas, com Sá Moço, elas vão voltar a aparecer, aqui e acolá, sempre sem intenções políticas ou de rancor.
As reflexões, deixo-as a outros mais doutos.
Como
no primeiro trabalho, apresento-me tal como sou, com defeitos e a
virtude de ser sincero e interessado com quanto se passou na nossa
passagem por África, por vezes com desgraçados dias.
Os
meus próximos textos, evitando a fixação psico-traumática, vão abordar a
singeleza da vida, não esquecendo que sou, somente, um dos muitos
militares milicianos que passaram por Angola e que a tais memórias
dedica um olhar calmo e enternecido.
Em consequência, tratarei, a partir de hoje, de rebuscar recordações e conversas com um homem natural da região do Tchicapa, para, ao mesmo tempo que as partilho, lhes devolver alguma da antiga e perdida clareza.
Nas minhas muitas vidas (não de nascimento), entre sonhadas e verdadeiras, nos distantes anos da década de 1970, encontrei o Sá Moço, um homem katchokwe (quiôco) com cerca de 40 anos de idade. Um ser humano, auto-suficiente, que tinha falta de tudo, mas não sentia falta de nada
Recordo-o com admiração.
Sem
o ser, era engenheiro, médico, psicólogo, pisteiro, e… na maior das
calmas e com muita inocência lá ia dizendo que o IN (inimigo) também
precisava de ajuda, quando aparecia na aldeia.
Quem,
algum dia, foi militar, costuma ser um pródigo contador de histórias,
umas ligadas à guerrilha e outras, de coisas mais singelas, no entanto,
nos textos que se seguem, vou escrever sobre a vida de um povo que foi
importante na minha formação e me transformou num eterno enamorado da
natureza e das coisas belas e boas que ela nos proporciona.
Enfim, vou escrever sobre, as minhas vivências com o Sá Moço, a vida no quimbo,
as festas, os modos de vida e de figuras típicas que por lá encontrei,
das muitas pessoas, boas e interessantes que conheci, e ainda, só um
pouco, dos seres francamente racistas, grosseiros, brutos e porcos, que
também os havia, e… que hoje, em 2009, à sombra da democracia e
aproveitando a ingenuidade de muitos, aparecem, ora disfarçados de
rambos ora de defensores da verdade, que lhes convém.
Termino com a seguinte frase: Em Portugal, cada ex-combatente que morre é uma biblioteca que se queima.
Carlos Alberto Santos
Capítulos:
1.-Coisas e sensações do leste de Angola
2.-Formação do povo Quiôco
3.-Contador de histórias
4.-Batuque do Samunge
5.-Mulheres de fogo
6.-Batuque dos Muquixes
7.-Medos e feitiços
8.-A doença
9.-A Mahamba
10.-A morte
11.-O fim do luto
12.-As núpcias
-A iniciação das raparigas
13.-O nascimento
14.-A poligamia
15.-Adultério
16.-A mulher quiôca
17.-A alimentação
18.-Afrodisíacos
19.-O homem
-A iniciação dos rapazes
20.-O Pensador
21.-Notas soltas
22.-Sá Moço
CONTINUA.... (CLICAR AQUI)
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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
Angola, entre o mito e a realidade...

"Tenho lido com alguma frequencia que Angola era uma terra cheia de
oportunidades, o que realmente é verdade, não deixa contudo de ser puro
engano dizer-se que bastava alguém ser bom trabalhador para enriquecer.
Li recentemente um livro cujo autor diz ter vivido alguns anos em Angola
e espanta-me que também ele ajude a passar esta idéia enganadora.
Embora seja um romance e por isso à partida classificado de pura ficção,
não deixa contudo de cair neste erro. Lê-se ali que um casal chegado a
Luanda, em pouco tempo já tinha negócios espalhados por toda a cidade e
logo a seguir pelas principais cidades de Angola, isto sem falar da
compra de uma "casa" na Vila Alice. Não espantava se esse casal fosse
endinheirado e procurasse Angola para investir, o que não é o caso. Por
vezes parece que existem duas Angolas diferentes, aquela que eu e a
maioria conhecemos e uma outra, onde se chegava e se encontrava
prontamente uma "àrvore das patacas" e se enriquecia duma hora para a
outra. Eu nasci em Angola e embora houvesse diferenças de classes como
na maioria dos países, a verdade é que era necessário muito trabalho
para se viver com algum desafogo e a maioria pode atestar que também não
dava para se fazerem muitas "avarias". Assim, das duas uma, ou eu e
muitos outros fomos pouco inteligentes e nunca soubemos ver os "grandes
negócios", ou simplesmente nunca encontramos a tal " árvore das
patacas". É bom que se diga a verdade, era uma linda terra, um povo
hospitaleiro e humilde, mas quem começasse do nada como o meu pai e
muitos outros que ali chegaram na década de 50, mesmo com muito
trabalho, nunca chegaram a ter essa tal vida faustosa que se encontram
ilustradas nalguns romances. Lá como cá, se houvesse respeito pelo
"próximo", creio que as oportunidades eram iguais! "
By Facra
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terça-feira, 17 de janeiro de 2012
“Contra os Bretões marchar, marchar!”

Manuel Luciano da Silva,
Médico
Nós
podemos medir o nível de carácter dum povo pelas verdades históricas
que os responsáveis pela educação nacional ensinam à sua juventude.
O exemplo mais flagrante que temos em Portugal é a composição lírica do Hino Nacional a chamada “A Portuguesa!”
”Contra os canhões, marchar, marchar!” Este verso significa: “Darmos o nosso corpo aos canhões!”Que declaração estúpida e p’ra mais no Hino Nacional!...
Porque é que se não ensina a verdade: “Contra os Bretões, marchar, marchar!” Que quer dizer: “Contra os ingleses, marchar, marchar”!
É curioso que presentemente em Portugal só no Mirandês é que se ensina a verdade: “Contra ls Bretones caminar, caminar!”

No
dia 11 de Janeiro de 1890, a Inglaterra mandou um Ultimato a Portugal
exigindo que se retirasse do domínio dos territórios africanos
localizados entre Angola e Moçambique, os quais no seu conjunto
constituíam o chamado “Mapa Cor de Rosa”.

Esta exigência britânica, tão ofensiva para Portugal, despertou uma onda de revolta no povo português de tal maneira que um grupo de patriotas portugueses incitaram o compositor musical Afredo Keil, português de descendência alemã, a escrever um hino musical a exaltar os portugueses a defender a Pátria e pediu ao poeta Henriques Lopes de Mendonça para escrever os versos a protestar veementemente contra os Bretões.

Foi este Hino que serviu de inspiração para a Revolução de 31 de Janeiro de 1891,na Cidade do Porto, iniciada pelo Movimento Republicano, que acabou por ser sufocadapelas forças leais ao Rei D. Carlos I.
Porém 20 anos depois, em 1911, este mesmo Hino passou a ser chamado “A Portuguesa”e tem funcionado como Hino Nacional da República Portuguesa há mais de cem anos!
Não sei quem é que trocou, em 1911, o último verso que dizia com convicção:
“Contra os Bretões, marchar, marchar!” e o substituiu por este verso HIPÓCRICA e ESTÚPIDO:
”Contra os canhões, marchar, marchar!”
Mesmo hoje, se a Assembleia Nacional Portuguesa tivesse testículos, iria aprovar uma Lei para substituir “canhões” por “LADRÕES” e assim incluiria os ingleses e os outros ladrões de Portugal!

Ladrões Ingleses
Desde o princípio da Aliança em 1385 entre o Rei D. João I com a Inglaterra os ingleses têm sido os maiores ladrões de Portugal!
Depois
do casamento da Princesa Catarina de Bragança com o Rei Carlos II da
Inglaterra, em 1663, os ingleses obtiveram licença para entrar
gratuitamente em todos portos marítimos do Império Português e desde
essa altura começaram a açambarcar cada vez mais as propriedades
portuguesas para poder desenvolver o Império Britânico!
Todas
as vezes que os ingleses vieram para Portugal para nos defender contra
os espanhóis ou contra as tropas de Napoleão, aproveitaram sempre a
oportunidade para nos roubar!
Eu
tinha apenas oito anos quando fui morar para Leixões com a minha mãe e
meu irmão. Foi nesta altura que vi pela primeira vez um automóvel, mas
confesso que o que mais me impressionou foram os carros eléctricos. Vim a
saber que pertenciam a uma companhia inglesa. Que os telefones também
eram controlados pelos ingleses e que o Vinho do Porto a maior parte
pertencia igualmente aos ingleses!
Quando em 1946 emigrei para Brooklyn, New York, verifiquei que os americanos não gostavam nada dos ingleses, por serem peneirentos, lordóticos e megalomaníacos, disse para comigo, "até que enfim, encontrei alguém que concorda comigo!"
A maior velhacaria dos ingleses foi aquela que o Primeiro-ministro inglês, Chamberlain cometeu em 30 de Setembro de 1938 (appeasement = apaziguamento) quando visitou Hitler em Munique e lhe disse, se a Alemanha precisava de terreno para expandir a população alemã que tomasse conta da Angola porque Portugal não iria oferecer resistência nenhuma! Hitler disse-lhe que não iria fazer uma coisa dessas.
Salazar
veio a saber mais tarde deste segredo político e foi por isso que ele
também nunca engraçou muito com os ingleses… e apesar de ser aliando da
Inglaterra nunca quis que Portugal entrasse na II Guerra Mundial. Bem
bom!
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