segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O PLANO CAETANISTA PARA A DECLARAÇÃO UNILATERAL DE INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA E MOÇAMBIQUE.



O PLANO CAETANISTA PARA A DECLARAÇÃOPLANO  UNILATERAL DE INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA E MOÇAMBIQUE. E O" GRANDE TRAIDOR"... l976 - JULHO...
REVELAÇÕES HISTÓRICAS NUM ENCONTRO, EM CURITIBA, BRASIL, COM O PROBO EX-VICE PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE LUANDA, O ANGOLANO DO MPLA/REVOLTA ATIVA ABÍLIO AUGUSTO FERREIRA DE LEMOS. PROCLAMAÇÃO UNILATERAL DE INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA E MOÇAMBIQUE - UM PLANO DE MARCELO CAETANO QUE FRACASSOU PORQUE TERÁ SIDO TRAÍDO POR UM DOS SEUS MAIS "CONFIÁVEIS" CONFIDENTES...



Corria o segundo semestre de 1976. Tínhamos desembarcado no Rio de Janeiro, vindos de Lisboa, no dia 4 de Julho, já adentrado na casa dos 50 e tendo, pela terceira vez na nossa vida, de procurar, sem ajudas, nem capital nos bolsos ou contas bancárias, um novo rumo para a nossa vida. Depois de várias desilusões e falsas ilusões, somente uma mão generosa nos foi estendida, a de José Manuel Pereira da Costa, distinto jornalista e leal amigo, ex-subdiretor do Diário de Luanda que então estava chefiando a redação de um semanário da comunidade portuguesa na cidade de São Paulo e viria a acabar seus dias, anos mais tarde, na capital portuguesa, vitimado por um ataque cardíaco, como diretor do jornal O DIA. Era ele um jornalista de grande mérito que realizara no Estado da Índia, um extraordinário trabalho de reportagem, nos nebulosos dias que precederam e acompanharam a vergonhosa queda daquela antiga possessão portuguesa situada na península hindustânica.
Ao chegarmos ao Rio, não nos ocorrera que ainda poderia estar viva a nossa grande amiga Condessa Pereira Carneiro, Diretora-Presidente do importante JORNAL DO BRASIL, de quem fôramos colaborador e se correspondia assiduamente connôsco, isso porque se tratava de uma anciã que já ultrapassara os oitenta anos de idade e por outro lado, apesar de termos sido colaborador da revista MANCHETE, a convite de Luci Bloch, devendo-se-nos o texto e as legendas do suplemento especial, a cores, PORTUGAL HOJE - ANGOLA 68, para cuja feitura integráramos uma equipa de reportagem de que faziam parte também o pernambucano Luís Câmara Cascudo, então responsável pelas edições internacionais, e Gil Pinheiro, repórter fotográfico, nossa maneira de ser, avessa a protecionismos e nepotismos, não nos moveu a buscar emprego nesta última organização jornalística, ao contrário do que fizera o diretor de um diário de Lourenço Marques (hoje, Maputo) que nela conseguiu colocação. Não foram tempos fáceis para nós, esses que estamos evocando... Pelo contrário. Mas, as duras realidades que enfrentámos em nossos primeiros meses na Diáspora, foram-nos proveitosas, constituíram lições utilitárias que nos habituaram a uma nova "maneira de estar no mundo" (como escreveria... Adriano Moreira).
Pereira da Costa, ao saber da nossa presença em São Paulo (onde tencionávamos demorar apenas alguns dias a fim de continuarmos viagem para Caracas, Venezuela, onde tínhamos, a convite de um compatriota ali residente - que nem conheciamos senão por via epistolar - , lugar como professor num colégio português, para filhos de imigrantes, denominado Colégio Santa Isabel que ignoramos se ainda existe por lá) mesmo sem lhe termos solicitado ajuda, apressou-se a procurar uma solução par o nosso caso. Em São Paulo, um ex-deputado federal brasileiro que tivera seu mandato cassado pela chamada ditadura militar, não pelo que ele dizia ser o motivo mas sim devido ao seu comporatemento social reprovável em Luanda, numa das várias visitas que, a convite do MNE português ali fizera, prometia a angolanos empregos e mordomias que não se concretizavam porque estava apenas namorando as simpatias e votos da numerosa colônia portuguesa, namorando votos para um seu parente próximo. Pessoal angolano não faltava então na capital do Estado de São Paulo (até existia um esboço de associação de angolanos na Diáspora) Habitualmente reuniam, com regularidade, num jantar de confraternização que tinha lugar no restaurante GUARACIABA, na avenida visconde do Rio Branco, pertencente a um ex-major do QSAM, afilhado do ex-GG Rebocho Vaz, que fora acusado de peculato no exército e conseguira, em Luanda, evadir-se do cárcere onde estivera detido, passando a fronteira setentrional angolana e virando (como o digno e honrado tenente-coronel Gilberto Santos e Castro, nosso amigo e conterrâneo angolano, ex-governador do distrito do Kuanza Norte) mercenário no ELNA de Holden Roberto, só o deixando quando aquele foi traiçoeiramente desintegrado com a aperente conivência do exército português, a mando do inescrupuloso filo-comunista Almirante Vermelho, de triste memória, Alto Comissário em Angola, acolitado pelo avermelhado capitão Pez...Co, que era ( a par de mais alguns "capitães dos cravos vermelhos") um " pangaré" de Agostinho Neto e seus "muchachos", antes da partida dos contingentes lusos. Isto só ocorreu depois de desembarcados, de cargueiros com pavilhão não cubano da marinha mercante, sob disfarces civis, em faixas desertas dos litorais de Kabinda e do Kuanza Sul, os contingentes cubanos de mercenários a soldo de Moscou, a fim de assegurarem ao MPLA, com o escandaloso respaldo da JSN e do governo de Lisboa que violou os ACORDOS DO ALVOR, o domínio militar da situação, mediante a destruição dos revoltosos mplaístas de Daniel Chipenda (que, na verdade, derrotara Agostinho Neto na eleição para presidente do MPLA, em Lusaka, mas, devido a uma manobra suja do Lúcio Lara e do Agostinho Neto, não lograra tomar posse do lugar), sediados numa moradia à rua El-Rei D.Diniz, em Luanda, e da delegação da FNLA, na Avenida Brasil, a cargo do vaidoso (e fútil e inútil) hoje "ministro" da CS do JES - Hendrik Val Neto, mulato escuro, então "caninamente" fiel ao presidente da FNLA Holden Roberto ou... José Gilmore, ou Roberto Holden, conforme preferirem, personagem este, sem dúvida, muito chegado ao American Committee on Africa presidido pela sra. Eleanora Roosevelt, viúva do falecido presidente Franklin Delano Roosevelt, cuja ... ONG financiava as actividades (e não só estas...) daquele agrupamento político angolano e, indiscutivelmente, à CIA, segundo apostavam seus detractores.
Esse ex-major, que alugara alguns tractores de sua propriedade aos Instituto do Algodão de Angola anos antes, confidenciou-nos descaradmente, em São Paulo, no seu restaurante, que pudera abrir aquele negócio porque, à partida de Kinshasa, HR lhe mostrara um baú que continha pacotes de notas de 50 e 100 dólares, dizendo-lhe que pegasse o que necessitasse e partisse para o Brasil; se mais tarde a situação viesse a melhorar, ele o chmaria de novo para orientar as actividades militares das suas tropas, então desmanteladas e dispersas.
Como dissemos, generosamente Pereira da Costa quis ajudar-nos em São Paulo, arranjando-nos, na capital paranaense, emprego num jornal de bairros de que era proprietário um simpático - como viríamos a verificar - deputado estadual; para esse efeito encaminhou-nos a Curitiba onde fomos carinhosamente recebido e instalado num bom hotel, gratuitamente, pelo amigo Júlio, do Barracuda de Luanda, que o estava gerenciando. Recusou-se a cobrar-nos pela hospedagem qualquer quantia, nos dois dias que ali passámos. Fôra ele co-proprietário do referido restaurante na ponta da restinga de Luanda, a que impropriamente chamavam de "ilha" (ao que parece, hoje o inesquecível Júlio está estabelecido em Cascais) ; proporcionou-nos uma surpresa, um almoço a três com o brilhante e honestíssimo compatriota euro-africano, distinto angolano e velho amigo (apesar de pertencer ao MPLA-Revolta Activa, dos irmãos Mário e Joaquim Pinto de Andrade (gente, como ele, decente, preparada e que não fôra "pé de musseque"...). Esse almoço seria para nós memorável porque nele, Abílio Ferreira de Lemos (categorizado funcionário do Banco de Angola em Luanda, analista econômico responsável pela feitura dos primorosos e badalados relatórios anuais - e não só - daquele banco central angolano, emissor de moeda, nosso Par na Assembléia Legislativa do Estado de Angola e vice-presidente, a convite do governador-geral, engº agrônomo Fernando Santos e Castro, da Câmara Municipal de Luanda, de que era então presidente, último do "ancien regime", o ex-comandante de Falange da Mocidade Portuguesa e nosso colega de curso superior no ICSP/UTL, Dr José Manuel Marques Palmeirim, atualmente alto funcionário da administração portuguesa, afilhado do ex-Ministro do Interior e ex-Director do Centro de Instrução da Milícia da Mocidade Portuguesa no Batalhão de Caçadores Nº 5, general Arnaldo Schultz,) iria desenvolver-nos uma revelação que apenas, em parte, havia aflorado aos nossos ouvidos porque o nosso amigo e distinto advogado Dr Joaquim Mendes, nosso Par na Assembléia Legislativa, de que era também 1º vice-presidente, com freqüência no exercício da presidência (a qual, por inerência, na efectividade, cabia ao governador-geral), nosso companheiro, outrossim, como presidente da mesa da assembléia geral, nos corpos sociais da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Luandenses - Cruz Verde, de que éramos presidente da direção, já no-lo havia segredado mas não com o detalhe que Abílio Augusto Ferreira de Lemos, amigo e companheiro de infância de Santos e Castro, também angolano (que connosco e outros, inclusive os irmãos Ferreira de Lemos, Sampaio Nunes, Emílio Leite Velho, Ângelo Vidigal Dias - que viria a ser assassinado em condições muito misteriosas, quando estava detido, nos anos 50, pelo " embrião "da PIDE em Luanda, os irmãos Azancout de Meneses e outros, fundara a Casa dos Estudantes de Angola e a Casa dos Estudantes do Império em Lisboa, da qual foi o primeiro vice-presidente, com Alberto Marques Mano Lemos de Mesquita como presidente, na década de 40) que participara de um "segredo de estado" emanado de Marcelo Caetano, seu idealizador, e somente do conhecimento de meia dúzia dos seus colaboradores mais directos em quem depositava a maior confiança (mas dos quais, um se revelaria clone de JUDAS).
Tratava-se de um plano para proclamação unilateral da independência de Angola, de cujo acto solene nós, que o ignorávamos ao tempo, também participaríamos, como parlamentar angolano, num acto histórico que se realizaria na histórica Fortaleza de MASSANGANO...
Infelizmente, meses depois do nosso encontro na capital do Paraná, o solteirão Abílio Augusto Ferreira de Lemos faleceu subitamente, de ataque cardíaco, no seu posto de trabalho, desempenhando funções de analista econômico numa renomada empresa de Curitiba, para a qual entrara por mérito próprio. Finaram-se no Brasil dois angolanos de rara têmpera: Abílio Augusto Ferreira de Lemos e Artur Lemos Pereira, outro distinto euro-africano que, universitário ao tempo, também foi um dos fundadores da CEA e da CEI, mais tarde combativo e incansável Vereador da Câmara Municipal de Luanda, onde ficaram a dever-se-lhe notáveis realizações culturais (e que o diga o ELOS CLUBE DO BRASIL) e turísticas de grande vulto, acabararm seus dias esquecidos e voluntariamente exilados na nossa Diáspora: o Artur, sempre bem disposto e prazenteiro, em Campinas, Estado de São Paulo, onde vivia sózinho, gerenciando um estabelecimento hoteleiro e uma confeitaria contígua ao mesmo, vitimado também por morte súbita.
Voltaremos ao assunto, para escalpelizar o que aconteceria na Fortaleza de MASSANGANO, às margens do grande rio Kuanza, se, conforme soubemos em Pretória em Agosto ou Setembro de 74 e mais tarde nos foi confirmado por um amigo "böer" bem informado, uma personalidade portuguesa de elevada patente militar, cujo foro íntimo era inequivocamente criptocomunista, e o fôra sempre, subrepticiamente, ao longo de toda a sua carreira, até ao "estrelato", íntimo de Marcelo Caetano, que depositava nessa figura a mais alta confiança, não se tivesse esgueirado, às pressas, acompanhado da esposa, em férias, rumo a Moscou, onde, segundo informações, que nos foram reveladas por uma proeminente figura, já abordada acima, da Intelligence sul-africana, o distinto fito-geneticista e ferrenho partidário do regime "boer" sul-africano, Doutor Harold Müller, o qual há bem poucos anos trabalhava na Bahia, para onde viera proveniente da Costa Rica, onde trabalhara, em melhoramentos de plantas, para uma multinacional francesa, se teria apresentado ao Burô Político do Comité Central do Partido Comunista da URSS, patrão do MPLA, da FRELIMO, do PAIGC e do PCP e PC do B, para denunciar o plano marcelista e sugerir sua colaboração activa visando, a partir de um problema ridículo - o do ingresso de oficiais milicianos "combatentes" no quadro permanente em condições que os já profissionais oriundos da Academia Militar classificavam de prejudiciais aos seus interesses - antecipar, com oportunismo mobilizador, um movimento dos fardados. Seria esse o único leitmotiv para derrubar o regime que impropriamente todos os oponentes carimbavam como ditatorial e fascista: o salazarismo do humilde ex-clérigo de Santa Comba Dão... António de Oliveira Salazar, o ex-padre ditador, que desde 1970 repousava numa campa de cemitério, após 71 anos de trabalhosa existência, em que defendera obsessivamente, sem respaldo brasileiro na maior parte da sua "cruzada" lusófona, a fomação de uma grande comunidade luso-afro-brasileira, mas constituindo um grande espaço político-cultural-econômico-militar estratégico e com domínio do Atlântico Sul, ideía essa que agora está sendo, pelo menos no plano cultural e da cooperação econômica, reerguida, sem que eles o confessem para que não se fale de identidade com o "velho ditador", como bandeira política sobretudo pelas duas mais relevantes figuras do mundo político lusófono. Fanfarronicamente tratam o assunto como "coisa nova", que não o é, pois, além do falecido ditador da Calçada da Ajuda, também o lúcido, genial e impoluto Leopold Sedar Senghor (corruptela da palavra SENHOR, porque ele,o presidente senegalense que chegou a ministro num dos governos de Charles de Gaulle, era de ascendência portuguesa, da Guiné-Bissau... embora aparentemente fosse um melanoderme puro, um negro) defendia essa idéia com entusiasmo esperançoso e serena argumentação. Voltaremos a este assunto em breve, para contar o resto desta história inédita que tem jazido esquecida no fundo do baú lusófono...

Carlos Mário Alexandrino da Silva

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