terça-feira, 23 de março de 2010

MULHERES ANGOLANAS HISTÓRICAS: D. Ana Joaquina dos Santos e Silva



 
 O Palácio antes de ter sido demolido


O palácio de novo construido
 
 
MULHERES ANGOLANAS HISTÓRICAS
Dona Ana Joaquina



O Palácio de Dona Ana Joaquina era um edifício típico dos séculos XVII e XVIII. A casa burguesa desta época é constituída por dois pisos principais: tradicionalmente o 1º andar servia de habitação e o térreo era destinado a armazém. Por cima destes dois pisos encontra-se geralmente um «sobradinho», um pavilhão ao centro da fachada. Este modelo de construção predominava em Luanda e a sua principal característica era a perfeita simetria das formas. Durante muitos anos no Palácio D. Ana Joaquina funcionou um colégio particular e após a Independência tornou-se refúgio dos sem-abrigo, até ser demolido.Reconstruído com materiais modernos, nele funciona actualmente o Tribunal Provincial D. Ana Joaquina. Quem diria?
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D. Ana Joaquina dos Santos e Silva foi uma comerciante capitalista de Luanda, Senhora que se tornou uma figura emblemática da sociedade crioula luandense do século XIX: mestiça rica, educada, conviva de governadores, em cujo palacete reunia a fina flor da burguesia, num tempo ainda em que os negros e os mestiços ricos e educados de Luanda conviviam descomplexadamente com os seus "iguais" brancos, como eles comerciantes, funcionários públicos, proprietários, mercadores de escravos e armadores de navios negreiros, com bens e interesses repartidos por Angola e Brasil. «O palacete de Dona Ana Joaquina dos Santos Silva, a "rica-dona de Luanda" - como lhe chamou o historiador Júlio de Castro Lopo - valia como um símbolo desse tempo em que a escravatura ainda era defendida por alguns notáveis, porque - no dizer do historiador brasileiro Pedro Calmon - "a moral do comércio era diferente do conceito filosófico do século XIX: louvava-se no costume e na tradição", embora na segunda metade deste século, a que pertencia Dona Ana Joaquina, o tráfico, a que ela se dedicava clandestinamente, como outros comerciantes, já estivesse abolido desde a legislação de 1836 do marquês de Sá da Bandeira.

D. Ana Joaquina mantinha linhas marítimas para Montevideu, Lisboa e as principais cidades costeiras brasileiras.

texto retirado daqui


Ainda sobre  Dona Ana Joaquina, transcreve-se um texto publicado in "Apontamentos d'uma viagem de Lisboa á China e da China a Lisboa, Volumes 1-2 By Carlos José Caldeira", 1852:

"...Visitei uma senhora de muita nomeada em Loanda, D. Anna Joaquina dos Santos Silva, a mais rica negociante e proprietária de Angola, á qual muitos chamam a baroneza de Loanda, porque já esteve para lhe ser dado este titulo, e os negros a appellidam Angana Dembo, espécie de soberana. E senhora idosa e que outr'ora possuiu fortuna de uns poucos de milhões de cruzados, e que ainda hoje muito avulta: dizem que tem 2:000 contos em dividas n'esta província. Possue uns mil escravos, e quasi outros tantos lhe andam fugidos. Já esteve no Rio de Janeiro onde ostentou extraordinário fausto, e dispendeu em seis mezes uns 40 contos do paiz, ou mais de 20 de Portugal. E' viuva por segunda vez, e tem uma filha única, casada no reino com um cavalheiro da casa dos Guedes Garridos, da Bouça, nas proximidades de Coimbra. "
D. Ana Joaquina casou-se em primeiras núpcias com o Coronel João Rodrigues, com quem teve a sua única filha, D. Thereza Luíza. Com o falecimento do primeiro marido, ela contraiu segundo matrimônio, desta vez com o português Joaquim Ferreira dos Santos Silva, um próspero negociante em Luanda durante a segunda metade do século XIX. O casal realizava transações comerciais em conjunto, particularmente no Brasil e ao longo do Rio Zaire. O português Francisco Travassos Valdez esteve em Angola na década de 1850, quando visitou uma das fazendas de D. Ana Joaquina. Na ocasião ele foi informado pelo feitor que o estabelecimento contava com cerca de 1400 escravos. Apesar do número de escravos parecer exagerado para um único estabelecimento, ela era sem dúvida uma mulher de muitas posses. Em Angola, D. Ana Joaquina possuía investimentos em Luanda, Moçâmedes, Golungo Alto, Dande e Icolo e Bengo, tais como engenhos para produção de açúcar, plantações de café, feijão e mandioca, escravos, casas para aluguel além do sobrado onde vivia no Bungo. Ela também possuía embarcações que faziam viagens para Benguela, Lisboa, Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia e Rio Zaire, estendendo seus negócios através do Atlântico. Pelo menos duas de suas embarcações eram utilizadas para transporte de escravos, Maria Segunda e Conceição Maria. Seus lucros também advinham da concessão de empréstimos a juros à população local. Assinatura D. Ana Joaquina - Divulgação Assinatura D. Ana Joaquina – Divulgação D. Ana Joaquina assinava seu próprio nome em documentos oficiais, o que indica que a ela deve ter sido alfabetizada em Angola ou no exterior. Em 1859, ela veio a falecer a caminho de Lisboa para onde seguia em busca de tratamento

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Em Angola, D. Ana Joaquina possuía investimentos em Luanda, Moçâmedes, Golungo Alto, Dande e Icolo e Bengo, tais como engenhos para produção de açúcar, plantações de café, feijão e mandioca, escravos, casas para aluguel além do sobrado onde vivia no Bungo. Ela também possuía embarcações que faziam viagens para Benguela, Lisboa, Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia e Rio Zaire, estendendo seus negócios através do Atlântico. Pelo menos duas de suas embarcações eram utilizadas para transporte de escravos, Maria Segunda e Conceição Maria. Seus lucros também advinham da concessão de empréstimos a juros à população local.

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2 comentários:

Anónimo disse...

Seria bom destacar o papel de Ana Joaquina na escravatura de seus conterrâneos.

wal_direne2010 disse...

meu nome e valdirene joaquina sera que sou descedente dela?