sexta-feira, 29 de julho de 2011

A festa da Independência e o "Corte do Bolo": entrevista com Entrevista com Ovídio de Almeida Melo

  


Entrevista com Ovídio de Almeida Melo

 O corte do bolo


JA - Que momentos eufóricos ainda guarda do povo angolano na festa da independência?

OM - A festa foi linda, com toda a pobreza do momento, e atropelada pela proximidade da guerra ao norte e ao sul de Luanda, uma cidade assediada e que estava desprovida de comida, de água, de tudo. O banho que eu tomei no dia da independência foi com uma garrafinha de água mineral, porque não havia água no hotel Trópico. A água tinha sido cortada pelas lutas havidas em Caxito. Quando eu declarei que o Brasil havia reconhecido Angola, na primeira hora, no primeiro segundo da independência, a multidão silenciou pasma, pois não podia estar à espera que o Brasil, que era na época uma ditadura de extrema-direita, reconhecesse um país socialista. Esse foi um dos episódios. O outro foi o do bolo, na festa que houvera no palácio. Era um bolo enorme, de quase um metro de diâmetro, com o mapa de Angola feito em açúcar. Deram a faca a Agostinho Neto e ele disse: ‘como é que eu vou cortar Angola se eu passei a vida inteira lutando pela unidade de Angola? Eu não posso cortar Angola’. Todos ficamos à espera que ele encontrasse uma solução de como cortar o bolo. Mas quando ele ia meter a faca no bolo, um jornalista jugoslavo, que estava ao meu lado, perguntou num português muito bom: "Presidente, se você cortar Angola quero a província de Cabinda, que é rica em petróleo". Mas Agostinho Neto encontrou uma solução melhor. Não deu a província de Cabinda para o jugoslavo. Ele cortou o bolo na horizontal, sem tocar no mapa de Angola que cobria o bolo. A parada da independência também foi uma coisa interessantíssima. A Polícia e as FAPLA estavam uniformizadas com uniforme novo que tinha chegado do Brasil. As armas todas que tinham servido a luta naquele ano inteiro, bazucas e tanques velhos, parecia que iam ao ferro velho. Embora o mundo dissesse que o MPLA estava a ser apoiado por forças comunistas, como a União Soviética, na verdade, a maior parte do tempo, até à intervenção cubana, a luta se fez com armas antiquadas, velhas. E isso foi ainda mais heróico da parte de Angola.

texto integral AQUI

Sem comentários: