sábado, 6 de agosto de 2011

ANGOLA E OS PORTUGUESES I : “COLONIALISMO” ? OU “COLONIZAÇÃO” ?



A minha fotografia


                                                                         ( MEMÓRIA 1989 )

É costume dizer-se que os portugueses estiveram em África  5 séculos. ...É verdade, mas durante 4 desses séculos só estiveram nas costas de África. ...De inicio tudo o que lá tínhamos eram pequenas feitorias, que apoiavam caravelas e naus em demanda das Indias. A riqueza, em potencial, de Angola não nos interessava:  ...Ao tempo não se falava em petróleo! ...E muito menos em urânio. ...E já em pleno século XIX construíamos casas na baixa de Luanda, ou em Benguela, empregando madeira ... levada do Brasil.   ...Para além de Massangano, conheciamos tão pouco o interior, que nem a madeira aproveitávamos.
...A verdadeira colonização de Angola só começou depois da Conferência de Berlin (1885). ...Podemos portanto dizer que Angola só foi colonizada pelos portugueses durante 90 anos, até à sua independência em 1975. É facto que ao tempo das feitorias já se fazia um pequeno comercio, de permuta, com os nativos: Um pouco de ouro e algum marfim, contra missangas, facas de aço e tecidos, tudo em muito reduzida escala. ...Fazia-se entretanto um outro comércio, esse de infeliz memória, mas que era uma prática natural e costumeira daquelas épocas: a “escravatura”. ...E está agora em grande moda vilipendiar a expansão europeia pelas Áfricas, com ataques perversamente dirigidos ao“colonialismo” e à “escravatura”. Claro que esses são aspectos que nunca poderemos tentar embelezar. ...Mas podemos é passar a olhá-los com uma atitude diferente, ...sem vergonha, nem remorso.            A escravatura era, desde os tempos mais remotos, uma prática instituída entre todos os povos  africanos.                                            
As tribos maiores e mais poderosas apressavam e escravizavam as outras ( Quando ás vezes não acontecia pior ).  No comércio esclavagista para “fóra”, para as Américas, era sempre um negreiro africano que fazia a venda a um europeu.  …E podemos dizer que tiveram muita sorte os escravos que atravessavam o Atlântico porque, passado o martírio da viagem, tudo nas Américas era incontestávelmente melhor do que o destino que lhes estava reservado em África.        …Para eles, e sobretudo para as gerações deles descendentes.       A maioria das pessoas não tem a menor noção do que era a vida em África antes da chegada dos europeus.  ( Tudo o que lá me foi possível estudar, durante quarenta anos, me leva a concluir que a vida era “um completo horror”:    O nomadismo da eterna corrida atrás da caça, porque a caça corria atrás da chuva.   …e quando não a apanhavam, as grandes fomes cíclicas que tinham que levar à antropofagia.  Eram caçadores- recolectores.  Nunca fizeram um mínimo em agricultura.  A mandioca,  o milho e a batata só para lá foram levadas, pelos portugueses, já em pleno século XVIII.  Antes disso tudo o que comiam eram algumas raízes,  e raros frutos, de que nem gostavam.   Não sabiam pescar, nem de rede, nem de anzol, e os seus arpões não tinham barbela.                            A par disso, os constantes sacrifícios humanos, de feitiçaria ou religião, muitas vezes de crianças e raparigas, eram de um horror indescritível.  Ou as execuções por supostas razões criminais.         
E ainda as terríveis “cirurgias” praticadas a quando da puberdade das raparigas, que muitas vezes as vinha a matar com infecções.
Não, não nos venham falar do Mito duma “vida cor de rosa em África” antes da chegada dos europeus.                     
                                                    ____________
“Colonialismo” seria obrigar o colonizado a trabalhar para o colonizador sem que este ultimo tivesse que o fazer. Mas isso era o que faziam alguns portugueses daqui da Metrópole, ao beneficiarem das “divisas” obtidas por Angola, sem precisarem de trabalhar em África. ...O que se fazia lá era outra coisa: Era “colonização”. Era o branco a trabalhar ao lado do africano, e em muitos casos mais 2 ou 3 horas por dia do que aquele. ...E a colonização não continha só aspectos negativos. E nem sequer era propriamente degradante ou aviltante, como agora se quer fazer crer. Os antepassados dos portugueses tambem foram colonizados. ...Seiscentos anos só pelos romanos, que até nos ensinaram a ler e a escrever, que até nos civilizaram! ...E mais tarde, uns 4 séculos pelos árabes, com quem também muito aprendemos.
...Afinal como é que toda a Europa foi civilizada? Exactamente pelos mesmos romanos, com séculos e séculos de colonização. ...E mais tarde, pelo menos os Paises do Sul, pelos muçulmanos, árabes e moiros, que lhe trouxeram o conhecimento da agricultura (P. além do trigo), da arquitectura (d’arcos e ogivas), da medicina e da farmácia, da filosofia (Pela tradução dos clássicos gregos) e até da música (Alaúde, que deu origem à guitarra).    E também da matemática, incluindo os "Al-garismos" e o conceito de “Zero”, que originou a “Álgebra”, seja a  diferenciação positiva-negativa,  expressa por algarismos  e letras.     …E por fim, o “Sistema Decimal”.
A colonização da África ( A Sul do Sahra ), essa foi feita pelos europeus, ...mas só a partir da Conferência de Berlim, que, por proposta portuguesa, teve lugar em 1885. ...Tendo portanto tido muito curta duração: Cerca de 60 anos no caso do Congo Belga, ou da Guiné Francêsa. ...85 anos em Angola, a mais longa, ...não falando da África do Sul, ...que teve uma descolonização “por dentro”, pois que a potência colonizadora era Pretória.
...E, embora de certo modo intensiva e dinâmica, foi afinal branda e benigna, e de  curtíssima duração,  se a  compararmos com os mil anos de colonização romana na Europa.
Pela colonização os europeus conseguiram, em menos de 100 anos, arrancar milhões de africanos da Idade da Pedra e guindá-    los para o Século XX. Doutro modo esses africanos teriam sido obrigados a percorrer milénios para fazer o mesmo percurso!
....Também se fala agora muito de “escravatura”. Em realidade foi muito triste a escravatura! ...Mas não teremos nós memória?  Na verdade os africanos (alguns) foram escravos dos portugueses, por cerca de 200 anos. Mas os avós dos portugueses, como todos os europeus ( Como todos os povos do mundo) foram escravos por milhares e milhares de anos. Já não nos lembramos que os nossos antepassados remaram nas galés e morreram nos circos de Roma? ...Custa a compreender porque é que nunca houve pressões sobre os árabes do norte de África, que também são estrangeiros naquelas terras, e esses sim, ainda hoje são esclavagistas, ...e foram escorraçar-nos, a nós portugueses, que tão dolorosa falta fazemos lá em baixo,...e que estávamos de tal modo interligados com os africanos que poderíamos ter passado juntos à independência, sem atrito de maior. Angola, pela sua cultura Luso-Africana,  neo-crioula,  que a tornava diferente de qualquer outro país do Continente Negro,  parecia pouco vulnerável aos ataques das grandes potências. ...Afinal as super-potências conseguiram subverter Angola ...E nós fugimos de lá, deixando-a com 4 facções em guerra, e os angolanos em grave risco dum regresso à sua desgraça milenar:   Doença do Sono, Paludismo, Cólera, Lutas Tribais.    ...E por fim ao Retorno da            Escravatura”, pois que, antes da chegada dos europeus à África,  os povos  negros eram todos escravos uns dos outros.                      E  agora bem pior, porque eles já não sabem sobreviver na selva, como “quando corriam atrás da caça, quando a caça corria atrás da chuva”,   mas também ainda não tinham aprendido a viver nesta nossa perigosa e traiçoeira  “civilização”.                                     O outro risco é cairem em poder de uma das tais super-potências, a quem só interessa o petróleo e determinados  minérios, sem perderem um minuto com a promoção da agricultura e, de um modo geral, sem o menor interesse pela promoção civilizacional dos angolanos.
                                                                                                               
ANGOLA E OS PORTUGUESES - II
Portugal sempre viveu dos seus sucessivos  Ultramares.              Mal tínhamos empurrado os moiros das praias algarvias e já corríamos para Ceuta.    E depois pelas Áfricas  todas, pelas Indias, ...pelos Brasis. Parece que sempre soubemos que isto aqui não chegava para nos sustentar! ...E éramos poucos mais do que um milhão naqueles tempos. ...E assim foi a epopeia nacional! Mas depois fomos perdendo as Indias ( Seja: o seu comércio) ...os Brasis, ...e por fim só nos restavam as Áfricas. ...E das Áfricas conseguimos viver grande parte dos séculos XIX e XX.
...Mas, sobretudo a partir da ultima Guerra Mundial, foi Angola que nos manteve.
(Angola, que já nos anos 30, através do contrato entre a Diamang e a Anglo-American, tinha págo metade da escandalosa divida da 1ª República ao estrangeiro.   …A outra metade foi pága por Moçambique, pelo prémio-ouro dos mineiros,  contratados pela África do Sul).                                                                                                      
E que, sobretudo após 1942, passando a exportar, em grande escala, o sisal, para os USA, para material de guerra, e depois os diamantes, o café, as madeiras, o algodão, etc, para toda a parte, se converteu num potencial “gerador de divisas”, que foi sustentando a Metrópole, até que começou a exploração do petróleo.
...E daí para a frente a Metrópole deixou de ser sustentada,  para passar a ser enriquecida por Angola. ...É dificil compreender como neste País a maioria das pessoas não tem a minima noção de que Portugal viveu o meio século, até 1975, quase que exclusivamente à custa de Angola, ...dos angolanos... e dos portugueses que lá estavam.
(Claro que à época isso não se podia confessar, porque era... “colonialismo” !)    Poderemos mesmo afirmar que as “divisas” ( dólares, libras, marcos ...e o ouro ) obtidas por Angola ainda nos sustentaram até recebermos as primeiras “ajudas” da Comunidade Económica Europeia.
Vejamos: Em 1973 Portugal foi internacionalmente reconhecido como “O milagre Económico Europeu”.   Esta afirmação é muito fácil de confirmar nos jornais da época. Ora nesse ano a maior receita em “divisas”obtida pelo Portugal metropolitano foi a dos magros 20 milhões de contos das pensões dos emigrantes. Seguida de 10 milhões do turismo (Record). As exportações ( Vinho, cortiça, pasta de tomate, tecidos, sapatos, etc.) não chegavam a ter expressão. Ainda por cima mais de metade dessas exportações destinavam-se exactamente a Angola e às outras colónias, que eram obrigadas a comprá-las, pelo que vinha tudo a dar na mesma.
Os portugueses de raça europeia de Angola eram só 600.000 ( 50% crioulos,  50% metropolitanos ) e, mesmo com a importante colaboração dos angolanos, não conseguiam explorar mais de 10% da riqueza em potencial da colónia, dizia-se. ...Porem esses 10% da riqueza angolana seriam o décuplo de tudo aquilo que a metrópole conseguia produzir.    Difícil de confirmar. Talvez um pouco menos, ...ou até muito mais. As contas eram secretas. Só o valor do petróleo já ultrapassava em muito tudo o que cá se produzia. Mas depois era o ferro para o Japão, o ouro, o urânio, o cobre e o manganês, outros metais, e os diamantes e outras pedras. O café, o algodão, o sisal, o açúcar, a soja, o girassol, o peixe e a sua farinha, o marisco. etc, etc, etc.
...E foi com tudo isso que conseguimos ser “O Milagre Económico Europeu de 1973”
...Angola pagava as 3 guerras africanas e ainda sustentava a Metrópole!
Angola era a “Usina” que sustentava Portugal! Era a portentosa e frutuosa “Usina” que mandava para cá os dollares, os marcos e as libras de que os portugueses viviam, ...sem saber!
...Mas quem fazia funcionar uma tal “Usina”? ...Eram os portugueses que lá estavam, evidentemente! ...E seus colaboradores angolanos. ...Que, trabalhando em climas doentios com temperaturas de 40 graus, muitas vezes em regiões infestadas pela mosca do sono e a malária, arriscando-se, depois de 1961, ao perigo constante ( 60% dos europeus vivia no interior ou diariamente o atravessava ), pois que, enquanto a tropa se deslocava em companhias ou pelotões, eles viajavam sozinhos e praticamente desarmados.
Os Portugueses de Angola, esses sim, é que eram colonizados e escravizados por Portugal!
ANGOLA E OS PORTUGUESES - III
Os Portugueses de Angola...que Portugal escravizava, ...porque embora fossem eles a ganhar os dólares, os marcos e as libras, pelas suas exportações, ...Portugal não lhos entregava!
O Fundo Cambial sugava a Moeda Forte e dava aos colonos “angolares”, que eram uma espécie de “vale” do escudo, mas com o cambio mais baixo e que só tinham valor lá na colónia.
Mais tarde inventou-se o escudo de Angola, com um valor ainda mais baixo que o antigo angolar. E era pagando nessa moeda que Portugal escravizava os seus colonos. Anos e anos a trabalhar e, no fim, o dinheiro não valia nada, pois que, para o trocarem, chegavam a descontar às vezes 50% ...e, mais tarde ainda pior....E por fim o seu valor era ZERO!
E desse modo, mesmo aqueles que, com muitos anos de África, queriam voltar, iam sempre ficando. E isso até à morte. ( Note-se que a média de vida em Angola era de uns bons 10 anos mais curta do que aqui na Metrópole ).
...É tambem verdade que 80 a 90% dos colonos de Angola não chegavam a ter esse problema, pois o que ganhavam só daria à recta para o seu dia-a-dia.
Mas, a pesar de tudo, os portugueses gostavam de lá viver. Modestamente, é verdade. Em Luanda não havia sequer uma residência de prestigio, como aqui em Portugal. As melhores casas, na Rua do Miramar, eram pertença de estrangeiros. Não existiam talvez nem 6 piscinas. Os automóveis eram conservados por 8 ou 10 anos,  e usavam-se pneus recauchutados. ...Mas os portugueses iam suportando tudo e mais alguma coisa   ( Até mesmo os massacres de 1961, quando 2 milhares  foram mortos, em 3 dias e a soldo estrangeiro, cortados em postas à catanada. No Kénia  o  mao-mao  tinha assassinado 85 ingleses em 5 anos e foi um escândalo mundial, mas 2.000 portugueses. em Angola, foi coisa sem importância nenhuma.)
...E, quando vinham de férias à Pátria ( Há uns tempos atrás a licença graciosa era de 5 em 5 anos), sentiam a maior satisfação ao ver as estradas, as pontes, as barragens, os hospitais e as escolas que aqui se iam construindo com os dolares e os marcos que eles lá iam ganhando.            ...E foi a esses portugueses, tão generosos e sacrificados, que, a troco dos tais angolares ou, muitas vezes, a troco de nada, sustentaram Portugal praticamente durante meio século, que a Pátria, sob o desvario dum momento até hoje inexplicável, ...traiu. ...Traiu quando lhes prometeu defender as suas vidas; ...traiu quando lhes garantiu salvaguardar os seus bens ...E traiu, por fim, quando o exército português lhes arrancou as armas ( de caça ou de defesa ) de que alguns dispunham, para as entregar ao tal “poder popular”, que os próprios partidos africanos diziam nem conhecer, e que era afinal formado por uma corja de bandidos e assassinos!
...E foi assim que se arquitectou a “trágica debandada”!
Recorde-se que em 1961, quando dos grandes massacres, a tropa branca reduzida aos 85 dragões do agora coronel José Maria Mendonça Junior, que salvou Luanda e ainda foi libertar os fazendeiros sitiados em Nambuangongo, e com a população completamente desarmada, ...ninguém arredou pé. E assim se mantiveram até ganhar a guerra em 1968 e a entregar Angola em 1975.        ...E o mais triste é que (14 anos depois) todo aquele descalabro se veio a desencadear, uns meses antes da independência, e ainda ao tempo da Soberania Portuguesa!
Foi a esses portugueses que, quando aqui chegaram, muitos deles feridos por espancamentos, com as roupas em farrapos e a angustia nos corações, até porque, em muitos casos, se haviam perdido das próprias famílias, que nem sabiam se mortas se vivas, ...que os seus gratos, reconhecidos irmãos da Metrópole olharam com desconfiança e baptizaram de “Retornados”.
...E ainda foi a esses que, mais tarde, quando se percebeu que todas as garantias que a Pátria lhes havia dado eram “pura conversa fiada” e que estavam reduzidos, de almas, corpos e haveres, a completos frangalhos, os seus compreensivos compatriotas de Aquém-Mar crismaram, espirituosamente, de “Espoliados”.
ANGOLA E OS PORTUGUESES - IV
Esta nossa democracia tem vantagens e desvantagens. ...O Voto, por exemplo, não será propriamente uma vantagem. O Voto é vulnerável, porque é influenciável ...e até manipulável. ...Pelo Voto ganha sempre a “Quantidade”. ...Nunca ganha a “Qualidade”.
Mas o “Deputado”, esse é uma vantagem, com certeza. É uma maravilha termos um Deputado que vai à Assembleia da República defender os nossos interesses, o Nada que ainda é nosso.
...Mas quando se pergunta a um português “Quem é o teu Deputado?” ...A resposta é infalível: “Sei lá! ...Não faço a menor ideia”.
Os tais “Espoliados” esperaram 25 anos para que um Deputado tivesse a coragem e a generosidade de ir à Assembleia da República explicar e defender a sua causa, que muita gente, “desonestamente”, quer esquecer. ...E quando, por milagre, apareceu esse Deputado, ( Um Homem, que afinal ainda havia ), com honestidade, inteligência e coragem para tentar a tal “missão ingrata”, e os Espoliados, depois de horas à chuva, se dispunham a entrar na “Casa de Todos Nós”, para assistir à defesa duma causa que só a eles dizia respeito, ...a Policia, ou quem mandava nela, ...impediu-lhes a entrada! ( Esse deputado foi o dr. Paulo Portas.)
...Isto deve, realmente, ser caso único na história das democracias! ...Mas foi verdade!.
...É tão vergonhoso que nem se suporta falar mais sobre o assunto! ...Adiante!
Para não nos espraiarmos muito mais, parece-nos que, pela série de razões atrás expostas, os portugueses de Angola, como de resto os de Moçambique, Guiné ou qualquer outra das “saudosas Provincias Ultramarinas”, têm que ser merecedores de todo o nosso respeito e consideração. ...E até mesmo da nossa gratidão, por tudo aquilo que sempre foram proporcionando a Portugal, enquanto lhes foi possivel.
...Em vez disso, só têm recebido incompreensão, antipatia e até troças.
Como foi possivel levar à televisão uma palhaçada em que se escarnecia dos espoliados? (Dela fez parte o jornalista Miguel Sousa Tavares, o que lamento). Até se chegou à conclusão de que eram os novos países ( Independentes ) que deviam pagar as indemnizações aos espoliados.  ...Então os grandes países europeus foram todos uns tansos quando indemnizaram os seus colonos?  Portugal assinou o Tratado de Versailles.  Esse tratado foi firmado após a 1ª Grande Guerra, claro, mas das suas cláusulas emanaram Leis que continuam, em muitos exemplos, a ser respeitadas e seguidas. ...E naturalmente até a vigorarem. É favor ler com atenção o seu Artigo nº 297, que define exactamente a responsabilidade nos casos de descolonização por guerra.  E o mal não foi a descolonização.  Não é dela que os retornados se queixam.   …Inconcebível e estúpido é o modo como foi feita, e a desastrosa espoliação que consentiu ou que, até mesmo, encorajou. ...De resto não reconheceu o Estado Português essa responsabilidade ( E essa divida ) quando foi criado o “Gabinete dos Espoliados” ? ...Possivelmente já dissiparam as verbas com que esta sagrada e escandalosa divida deveria ter sido paga.     Mas o problema é de tal modo grave que, agora sim, se justifica recorrer à Banca Estrangeira! ...Ou, em ultimo caso, que se pague em Titulos do Tesouro do Estado, ou em quaisquer outros Valores Nacionais. Desse modo não teriam que ser desembolsa-dos a pronto os montantes da divida. Iriam pagando os juros respectivos e resgatando parceladamente esses Titulos....Seriam assim repostas a justiça e a legalidade, ao mesmo tempo que decerto se garantiria, pela mão competente dos retornados, uma aplicação honesta e inteligente desses capitais, ...em vez do costumeiro desperdício!
J. SÁ-CARNEIRO                  

Sem comentários: