segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Demonstração geografica e politica do territorio portuguez na Guiné inferior: Joaquim Antonio Menezes.1848


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Demonstração geografica e politica do territorio portuguez na Guiné inferior que abrange o reino de Angola, Benguella e suas dependencias ; causas da sua decadencia e atrasamento, suas conhecidas producções e os meios que se podem applicar para o seu melhoramento e utilidade geral da nação (Google eBook)


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Em 1834 escrevi e publiquei em Lisboa uma Memoria relativa á Provincia de Angola e suas dependencias, levado unicamente do desejo de chamar a attençao de todos os Portuguezes , quer collocados no poder , quer na classe dos capitalistas e commerciantes, sobre as vantagens e recursos que a Metropole poderia recolher dos importantissimos productos que offerece aquelle vasto e rico territorio, empregando os meios que me occorreram e apontei.

   Toda a Nação parecia então animada de um só desejo, de um só sentir: o espirito de associação dominava todas as cabeças, os capitães afuiam sem a menor difficuldade para todas as emprezas agricolas e industriaes. O mau fado porém, que em quasi todas as épocas (depois da administração vigorosa e civilisadora do grande Pombal) fora guiado os destinos do malfadado Portugal, em pouco espaço destruiu as beneficas disposições, que se haviam apresentado de tornar florecentes as Provincias d'além mar, e, se ellas então mal estavam, peor ficaram, agravando-se progressivamente a sua decadencia.

Em 1842, dezesseis annos depois da minha ultima estada em Angola, voltei pela segunda vez ao paiz que me vio nascer essa penivel viagem na escuna de guerra Amelia naufragamos miseravelmente na baía de Mossamedes, e percorrendo alguns pontos da costa até Loanda, capital da Provincia, esta mesma apresentava já os symptomas de uma vida quasi extincta! Azares da fortuna, ou antes, uma guerra desleal e iniqua, cuja relação pertence a outro lugar, me reconduziu á Lisboa em 1845.

  Apezar de atrozmente perseguido, tal era a minha boa fé, tal era o conceito que formava da administração, que me pareceu poder ainda prestar algum serviço a Nação a que pertenço, mas a minha illusão foi de pouca duração! Nas duas primeiras entrevistas, que tive com o Ministro Joaquim José Falcao, de todo me convenci que jamais o poderia conseguir. As conveniencias da cruzada, que devasta a infeliz Provincia de Angola, tinham mais imperio no seu animo do que o bom nome, do que a honra e do que o engrandecimento da Monarchia: os factos o provam de sobejo....

  Esta dolorosa convicção longe de me enfraquecer  o espirito, produziu um effeito contrario. O meu ardor pela prosperidade da patria, e pela gloria da coroa portuguesa tomou o primeiro lugar. Olhei com desprezo para todos os damnos que se me poderiam seguir reimprimindo a historia da devastada Angola com mais algumas observações filhas da experiencia, e com todas as occurrencias recentes, não para conseguir remedio immediato, mas para preparar o futuro, bem persuadido que um governo illustrado, e verdadeiramente patriotico apparecerá um dia em Portugal, que aproveite a riqueza de suas vastas possessões; e estava a ponto de a publicar em Lisboa, quando uma nova perfidia me privou totalmente de a dar á luz.

Agora, posto que longe do theatro onde mais interessa esperar a acção do tempo tem grande imperio sobre as cousas e sobre os homens, e a integridade guerreada pela corrupção e immoralidade reassumirá , talvez em breve, o lugar que lhe compele. No entanto estou intimamente convencido, que a vil intriga e a calumnia, armas favoritas da tyrannia colonial, disparar-se-hao novamente contra mim; mas se dentre os — Cruzados — ha cavalheiros como se tem querido inculcar, espero não ser ferido pelas costas, como succedeu sempre que em Lisboa me apresentei por este modo, e pelos meus discursos no Parlamento.  A imprensa offerece campo vasto e legal para uma refutação, compromettendo-me desde já, e em toda a parte do mundo onde a sorte me conduzir, a retirar qualquer allusão injusta, e a declarar-me vencido, se osjgeus combatentes poderem conseguir no todo ou em parte a destruição da minha demonstração o conhecimento dos factos, que em seguido se acham exarados. Não creia alguem que por uma vez tenho desapparecido da scenna, não, a ella voltarei quando menos se esperar... A acção do tempo tem um grande império sobre as cousas e sobre os homens, e a integridade guerreada pela corrupção e pela immoralidade reassumirá. telvez em breve, o lugar que lhe compete.
Nunca aspirei ás honras de escriptor, nunca tive pretençoes de politico; tenho as minhas convicções sem ter sido nunca conspirador. Desejo sinceramente o bem da Nação a que pertenço, emitto as minhas opiniões, ou as minhas idéas como as tenho concebido, c apresento os factos como elles sào, uns por mim observados, alguns colhidos de fragmentos historicos e outros transmittidos pela voz publica, e coordenados sem os ornatos da eloquencia, que só se encontra nos grandes talentos. Depois desta ingenua confissão conto, que o leitor instruido e benevolo desculpará os defeitos ou faltas que encontrar nesta pequena obra , que teria sido mais circumstanciada se não fossem tão crescidas nesta Corte as despezas da impressão.
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s.n., 1848 - Nature - 206 pages
  

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