domingo, 2 de outubro de 2011

Nova História da Expansão Portuguesa: O Império Africano 1890-1930. Direcção de Joel Serrão e Oliveira Marques



"Vi então Angola das vascas d'agonia
erguer-se esplendorosa, à luz d'um novo dia
Porém, quando acordei, a negra realidade
mostrou-se bem crua!
Numa era a Igualdade
utopia o Direito e Zero a Liverdade!

Lourenço do Carmo Ferreira
Luz e Crença, 1902/03


UM EXCELENTE LIVRO QUE NOS AJUDA A COMPREENDER UMA REALIDADE QUE O PORTUGAL DE SALAZAR PROCUROU APAGAR, ALIÁS, COMO TODO O SÉCULO XIX

Liberdade, Igualdade, Justiça, Razão, Progresso e Instução foram temas essenciais de reflexão da geração de 90, empolgada pelos princípios liberais que do contexto Europeu tinham extravasado para o Brasil e dalí para Angola.

A utopia social arrebatava, entre outros, um dos mais considerados intelectuais angolenses, Silvério Ferreira que escreveu por volta de 1902:

"A humanidade desagrilhoada pode já caminhar para o progresso sem preconceitos de raça, sem dogmas de religião....Terá um credo: o saber, sobre os altares por-se-há a efígie dos grandes lutadores pelo desenvolvimento intelectual... Desaparecerão as tabernas e abrir-se-ão oficinas; as cadeiras cederão lugar às escolas e por toda a parte ver-se-á um novo estandarte com um só lema: Ciência e Paz".(1)

Ideais republicanos divulgados por grandes lutadores como, entre outros, o grande Guerra Junqueiro. Gente ansiosa pela instauração de uma sociedade mais justa, pela criação de escolas e em particular do ensino profissional, a eliminação do trabalho forçado, a defesa do estatuto do cidadão e a denúncia do ódio de raça, esperançosos de que Angola progrediria "ao lado dos países mais avançados, na vanguarda da civilização" (2)

Paixão Franco atingia alvos muito precisos quando alertava:

"os homens das emboscadas na noite da ignorância para que se convençam uma vez para sempre que o rebanho de carneiros vai desaparecendo. Ou cidadãos ou capachos." (3)

uma elite intelectual que, ante a frustação face à discriminação e afastamento que lhes eram imposto pela Metrópole, se auto-reconheceram como dotados de uma identidade própria, uns por puro idealismo, outros na defesa de seus interesses em nome de uma civilização superior europeia a implantar nas colónias de África.

Ser angolense pressupunha uma clara apropriação do estatudo de "civilizado" que distanciava do "gentio" ou do "indígena" numa altura em que a luta em defesa da cultura africana começava a ganhar raízes em manifesto ressentimento pelo menosprezo com que alguns "filhos do paíz" votavam a idiomas dos seus amtepassados africanos.


(1) In Carlos Everdosa, Roteiro..., Sobre as questões de identidade e cidadania, ver artigo essencial de J.Dias, "Um questão de identidade...", pp.61-93.
(2)  Ver editorial de Catro Francina em Muen'Exi, n.1, 2.06.1889.
(3)  Citado por C Everdosa, Roteiro..., p. 16.

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