domingo, 8 de março de 2009

- "DESCOLONIZAÇÃO EXEMPLAR"

---------- "DESCOLONIZAÇÃO EXEMPLAR" ----------

..."Spínola classificou a Descolonização exemplar de "criminosa" em 4.1994,repetindo o que dissera várias vezes nos vinte anos anteriores, esquecendo ao mesmo tempo a sua responsabilidade no processo.E também a sua incurável ingenuidade : num apelo "aos líderes responsáveis do Mundo Livre, datado de 9.10.1975, exortou a ONU, a Cruz Vermelha Internacional, a Caritas e outras "organizações afins de carácter humanitário" para..."para que a população de Angola que deseje abandonar o território seja evacuada na sua totalidade antes de 11 de Novembro (dia da independência de Angola), a fim de evitar que seja praticado um dos mais bárbaros e hediondos genocídios da história contemporânea" (SPÍNOLA, António de -- Ao serviço de Portugal,p. 311). Punha de lado o interesse em travar o avanço do MPLA e dos cubanos, para se concentrar em dar facilidades para quem quizesse fugir."
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..."Recorde-se, a propósito, que Freitas do Amaral opôs-se na altura ao julgamento da descolonização pelos tribunais, o que é natural, se recordarmos o papel que desempenhou na elaboração da Lei Nº 7/74. Mário Soares justificou a sua actuação na "descolonização exemplar" nos seguinters termos : "O 25 de Abril fez-se, em grandíssima parte, para pôr termo às guerras coloniais (...) Ministro dos Negócios Estrangeiros dos primeiros três Governos Provisórios", saídos do 25 de Abril, procurei, acima de tudo, criar condições para assegurar o cessar-fogo nas várias frentes de combate. Tratava-se de salvar vidas e de evitar desastres maiores. Foi o ponto de partida para uma política de descolonização, que julgava urgente e indispensável (...) era esse o sentimento da larga maioria da nação, abertamente expresso"...
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..."Vinte anos depois do 25 de Abril, a "descolonização exemplar" passou a ser "descolonização possível"; Mário Soares assim o afirmou numa longa entrevista :"Eu direi que a descolonização foi a possível, com o atrazo com que foi feita, perante uma situação que estava terrivelmente degradada, e perante uma relação de forças em Portugal que, na altura, era altamente favorável ao Partido Comunista e às suas teses" (Diário de Notícias,24.4.1984,pg.11). O mesmo, no prefácio do seu livro Intervenções 8(1994), afirmou que a descolonização foi "feita nas condições possíveis, com 15 anos de atraso relativamente às outras potências", tema que foi repetido por diversas vezes pelos grandes do novo regime, insinuando com maior ou menor descaramento que a culpa da a de descolonização caberia a Salazar".
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..."É paradoxal ver oficiais superiores portugueses que tinham combatido a Frelimo, chegarem, hoje, a uma quase perfeita colabaração com o antigo inimigo.Assim, o Coronel Meneses, homem de grande ascendente militar, Chefe do Estado Maior do Alto Comissário, que combateu durante anos a "subversão" nacionalista, disse-me, há dias, que se sentia feliz nesta nova tarefa". Se este oficial disse, realmente, "estou disposto a dar toda a minha modesta colaboração à Frelimo, legítima representante do povo moçambicano"(Expresso,26.10.1974,p.6), então o Portugal de Abril bem pode orgulhar-se da descolonização exemplar."
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..."Entretanto, o MPLA reforçou a sua autoridade sobre o país; todas as estações de rádio foram nacionalizadas em 22.2.1976, e o jornal O Lobito, que lhe desagradava, foi suspenso. Ao mesmo tempo, a africanização e comunização de Angola prosseguia com uma mudança radical de nomes : em Luanda, por exemplo, o Liceu Salvador Correia mudou o nome para Liceu Mutu Ya KevelA, e os cinemas da capital passaram a chamar-se Karl Marx, Primeiro de Maio, Kilumba, etc,As unidades de guerrilha foram transformadas num exército regular, as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), com a ajuda de instrutores soviéticos, cubanos e alguns portugueses, como o Coronel Varela Gomes. A guerra civil fez cerca de um milhão de mortos; houve várias tentativas de conciliação entre as partes combatentes, sendo a mais importante o Acordo de Bicesse, assinado em 31.5.1991, mas a guerra só veio a terminar oficialmente em 1996, na sequência do Acordo de Lusaka. Todavia as hostilidades continuam;"...

--(De : JOHN ANDRADE - em : "DICIONÁRIO DO 25 DE ABRIL" - pg. 117 - 118 - 253 ----- (Setº 2002) --
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FONTE http://angola-brasil.blogspot.com/2007/08/poema-pico-vol-i-e-vol-ii.html

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